Fanfic: Pode beijar a noiva(adaptada) | Tema: Vondy

Dulce levantou a cabeça e arregalou os olhos. Era evidente que de todas as perguntas que ele poderia ter feito, aquela era a menos bem-vinda.

– Como foi que descobriu? – ela indagou, atônita.

Christopher fitou-a com olhar severo.

– Ora, Dulce, Faires é uma pequena aldeia. Minha única surpresa é haver demorado tanto para alguém me contar o caso. – Sorriu, animador. – A questão agora é o que faremos a respeito disso?

Dulce sacudiu um pouco a cabeça e os cachos longos roçaram-lhe os ombros.

– Faremos? – Ela repetiu com voz fraca.

– Sim. É ridícula essa cláusula que você deve casar-se para receber a... herança. Se você me permitir, eu gostaria de consultar um amigo em Londres que resolve tais pendências diante da corte da Câmara do Tesouro. Acredito que temos uma boa chance de vencer um apelo da decisão absurda do juiz Reardon.

– Não quero ir – Dulce retorquiu em voz baixa, mas enfática. James sorriu com tolerância.

– Emma, não haverá nenhum problema. Bem, quase nenhum. Pedirei a meu advogado que impetre um recurso e você será chamada para comparecer diante... – Ela sacudia a cabeça com tanta energia que ele pôde sentir um aroma de lavanda vindo do lado de Dulce. Ele se interrompeu, surpreso. – Dulce, francamente! Por que é tão resistente à ideia? Você não quer o dinheiro?

– É claro que eu quero o dinheiro! – Ela parou de balançar a cabeça e o olhou como se ele fosse um retardado. – Mas não posso deixar Faires para me apresentar em uma corte.

– Não pode deixar... – Christopher estava confuso. – Mas Dulce...

De repente Dulce não suportou mais. Estivera sentada no banco por mais de duas horas, esperando que aquilo ocorresse. Agora que acontecera, não podia permanecer no mesmo lugar por nem mais um minuto. Ficou em pé e deixou o calor incandescente da lareira para andar no escuro do quarto da frente da cabana.

Oh, Deus, o que ela faria agora? Exatamente o que rezara para não acontecer acontecera. Christopher ficara sabendo a respeito do dinheiro. Christopher descobrira a verdade sobre Alfonso – bem, a maior parte, de qualquer forma – e já sabia do dinheiro. Oh, Deus, a má sorte dela nunca diminuiria?

– Dulce. – Christopher também se levantou do banco e apoiou um cotovelo no encosto, observando-a caminhar furiosamente de um lado a outro da cabana. – Dulce, você precisa ser racional a respeito disso. Sei que deve ser aborrecido tocar no assunto, mas são dez mil libras. Você pode viver confortavelmente para o resto da vida com esse dinheiro...

– Sei disso – Dulce disse olhando para a pia antes de se virar e andar em direção oposta. – Acha que sou alguma tola?

James sacudiu a cabeça.

– Então por que não quer apelar da decisão de Reardon? Certamente você não acha justo ele insistir que é preciso casarse para pegar o dinheiro...

– Não, não acho. – Ela continuou a caminhada incessante e enlaçou os braços na altura do peito como para livrar-se do frio.

Christopher tornou a balançar a cabeça.

– Dulce, seja razoável. Isso é muito mais dinheiro do que você provavelmente verá a vida inteira. Não acredito que Alfonso tenha lhe deixado alguma coisa...

– Ele deixou – ela parou e fitou-o com olhar brilhante de indignação. – Estamos dentro dela.

– Muito bem. Então ele deixou esta cabana, e foi só. Dulce, Alfonso morreu tão pobre como no dia em que se casou com você e Deus sabe que sua família não a ajudará...

– Ah, sim. – Dulce recomeçou a andar e a longa saia ondulava nos tornozelos quando ela se virara em um calcanhar. – Milorde sabe de tudo, não é?

Christopher ignorou o comentário e falou com toda calma e bondade.

– Dulce, você não tem recursos. Você não quer aceitar o convite para morar com minha mãe em Londres. O salário que você ganha naquela escola não é suficiente para...

– Eu me arranjarei – Dulce disse, sem o fitar.

– Ah, é? E como é que pretende fazer isso?

Irritado com o caminhar de Dulce, Christopher se adiantou e bloqueou-lhe a passagem no circuito de volta à pia.

– Dulce, existe alguma coisa que você não quer me contar? – Christopher viu a confusão estampada no rosto de Dulce. Ainda assim, teve de perguntar. – É possível que haja alguém...

Os olhos castanhos estavam arregalados, tão sem malícia quanto há um ano quando ela lhe confiou a intenção de casar-se com Alfonso.

– Alguém? – ela ecoou.

– Sim. – Christopher pigarreou. – Alguém talvez com quem você pretenda se casar para conseguir o dinheiro? É o camarada Cletus?

Dulce revirou os olhos com desgosto, tentou passar por Christopher, mas ele segurou-a pelo braço.

– Então? – ele indagou. – Se não é ele, é algum outro? Existe alguém? Existe?

– Claro que não! – Dulce desvencilhou-se e alisou a manga franzida que ele amassara, e tentou, sem muito sucesso, arrumar o coque no alto da cabeça.

– Honestamente, lorde Denham. Meu marido morreu há pouco menos de seis meses. Por quem o senhor me toma?

Christopher soltou a respiração devagar. Sentiu como se um peso imenso houvesse sido tirado de suas costas. Não percebera quanto temia a resposta. No entanto, não demonstrou o alívio que sentia.

– Perdoe-me, Dulce, mas admita que a pergunta é natural. Por qual motivo mais você seria tão resistente à ideia de apelar da decisão do juiz Reardon?

– Eu já lhe disse – Dulce alegou. – Apelos como esse a que se refere podem levar anos. Eu não posso deixar Faires por tanto tempo.

Christopher franziu a testa.

– Em nome de Deus, Emma, por que não?

Ela o fitou como se ele fosse inteiramente obtuso.

– As crianças.

– Crianças? – ele repetiu. Então se lembrou da conversa que tivera com o juiz Reardon e compreendeu. – Ah... seus alunos.

– Meus alunos. – Dulce passou por ele e pegou um xale de lã que estava pendurado em um gancho ao lado da lareira. Pôs o agasalho sobre os ombros e encarou Christopher de queixo erguido. – Não posso deixá-los.

– Por que não? Você dirige um orfanato ou uma escola? Eles não têm pais?