Fanfic: Pode beijar a noiva(adaptada) | Tema: Vondy

thaymarino: Postadoo Gatenha!! 

– Nem todos. Alguns perderam os entes amados na epidemia de tifo. A escola, a minha escola, é o único lugar da ilha onde muitos deles se sentem valorizados... se sentem seguros. Não posso sair daqui e perder meu tempo diante das cortes londrinas, exigindo que me deem um dinheiro que não faço questão, nem mereço, quando sou extremamente mais útil em outro lugar.

– Sim, mas Dulce... – Christopher percebeu a mudança na voz dela, mas não entendeu o motivo. – Emma, não é seu dever ensinar as crianças da aldeia de Faires a ler.

– Ah, não é? – Dulce segurou o xale e levou-o para mais próximo do colarinho de renda do vestido. – Então de quem é?

– Não sei – Christopher admitiu. – Do ministro, suponho. Deixe-o fazer isso. – Christopher encontrara o ministro e duvidava que ele se importasse com o bem-estar espiritual dos irmãos menos favorecidos. Isso teria sido dever do cura, se ele ainda tivesse um. O reverendo Peck aparentemente não conseguira um novo cura do continente, depois da notícia sobre o último ter certamente se espalhado pelos seminários.

– Dulce, essa não é uma obrigação sua – Christopher argumentou com firmeza. – Você não deveria se envolver.

– Ah, isso é típico de milorde. – Dulce protestou com amargura. – Nunca nada é sua obrigação, não é, lorde Denham? Milorde jamais se importou com pessoas que têm a infeliz ideia de nascer pobres. Tendo todo o dinheiro do mundo, muito mais do que o necessário, não sei quem mais poderia fazer algo por eles.

Christopher deu um suspiro cansado. Não era exatamente como ele imaginara o progresso da noite. Ah, ele soube que Dulce seria resistente à ideia de discutir sua estranha e difícil situação.

Ele teria preferido que a conversa deles não descesse, como acontecia no momento, ao nível das antigas discussões.

Observando-a na meia-luz das chamas, Christopher achou difícil acreditar que essa jovem mulher de aparência angelical pudesse ter um comportamento tão irritante; mas, apesar das penúrias físicas que enfrentara no ano anterior, Dulce Saviñon Herrera continuava bela. Não havia uma mulher que Christopher conhecesse em Londres que não invejasse os cabelos gloriosos e o castanho dos olhos de Dulce, mas era ela como um todo que despertava a maior admiração.

Seria um brilho advindo de algum tipo de satisfação espiritual? Christopher se perguntou, ligeiramente consternado com o próprio sentimentalismo, mas, ainda assim, incapaz de deixar de considerar esse novo pensamento.

Santo Deus, ele tinha de ir embora da Escócia. Estava se tornando muito romântico.

– Muito bem, Dulce – ele disse finalmente, cruzando os braços na altura do peito. Escolheu as palavras com cuidado, consciente de que ela o observava com a mesma desconfiança do gato que vira esgueirando-se para dentro e para fora das sombras da cabana. – Pelo que pude inferir, esse é um tema sobre o qual você não mudará de opinião.

Era imaginação dele ou ela pareceu aliviada? Em todo caso, o queixo abaixara um pouquinho.

– É, milorde – Dulce respondeu com gravidade.

Então era isso. Eles estavam em um impasse nesse assunto. Mas havia outro... um a que Christopher odiava referir-se, mas que se sentia obrigado a mencionar. Na verdade, ele não tinha outra escolha.

– Emma, a respeito de Alfonso.

Ela o fitou com curiosidade.

– Sim? O que sobre Alfonso? – Nisso sua expressão tornou-se defensiva. – Honestamente, milorde, eu já lhe disse tudo que eu..

– Não – ele levantou a mão para interrompê-la. – Não é sobre a morte dele. Quero saber sobre o enterro.

Os olhos de Dulce ficaram redondos.

– Enterro?

– Sim. Sua sepultura. Fui falar com o reverendo Peck e ele foi incapaz de dizer-me onde Alfonso foi enterrado. E eu estava pensando...

– Porque o reverendo Peck não sabe – Dulce disse depressa. Depressa demais. – Havia muitas outras pessoas morrendo ao mesmo tempo em que Alfonso faleceu. O reverendo Peck não teve como oficiar seu funeral. Eu nem pude...

– Enterrá-lo no pátio da igreja – Christopher terminou por ela. – Eu sei, Dulce. E eu lhe sou grato que não o tenha feito. Um enterro coletivo teria sido imperdoável. Não estou com raiva que não o tenha levado para um solo não consagrado, como deve ter acontecido. Isso não importa nem um pouco, pois eu penso que, e você concordará comigo, ele ficará mais feliz na Abadia Denham.

Dulce franziu a testa.

– Na abadia? Sobre o que está falando?

– Quero dizer que eu gostaria de trasladar o corpo de Alfonso.

Dulce juntou as sobrancelhas sobre o nariz.

– Trasladar Alfonso? Como assim?

– Quero desenterrá-lo e transferi-lo para o mausoléu da família na Abadia Denham. – Christopher explicou. – Aquele, Dulce, é o único lugar apropriado para ele. Alfonso deve ser levado para descansar com seus parentes. Eles haveriam de querer...

– Não!

Foi mais um grito sufocado do que uma palavra, mas Christopher escutou bem e viu a palidez súbita no rosto de Dulce.

– Dulce – ele a chamou, chocado com sua aparência. – Você não está bem? Quer que eu lhe dê algo? Pegue um pouco de vinho...

Dulce agarrou-se, com os nós brancos dos dedos, nas costas de uma cadeira e pareceu não escutá-lo.

– Milorde não pode fazer uma coisa dessas – ela disse, sacudindo a cabeça e os cachos. – Não pode. Não e não.

– Dulce...

– Não permitirei isso – Dulce afirmou, categórica. Christopher estava certo de que era para parecer mais autoritária do que era. Ele pensou que deveria ser muito difícil para alguém parecer dominadora quando estava à beira de um colapso, como temia que ela estivesse. – Escutou bem? Não permitirei.

– Dulce, você está nervosa. Sente-se, por favor. Deixe-me dar-lhe um pouco de vinho...

– Não quero me sentar – Dulce respondeu e Christopher ficou aliviado ao ver um pouco de cor voltando a seu rosto. – Não quero vinho. Ninguém vai desenterrá-lo, escutou, Christopher? Entendeu? Ele tem de ficar onde está.

– Dulce...

– Ele é meu marido – Dulce afirmou em voz vibrante.

– Dulce, não estou discutindo isso. Estou apenas dizendo que há espaço reservado para Alfonso, onde ele ficará com o restante da família, onde sua sepultura será cuidada para...

– Ele vai ficar aqui – Dulce afrontou-o. – Comigo, aqui em Faires. Milorde não tocará nele. Entendeu? Milorde não tocará nele.