Fanfic: Pode beijar a noiva(adaptada) | Tema: Vondy

– Espere aí – ele disse, sem jeito. – Dê-me isso. – Adiantou-se e tirou o atiçador da mão de Dulce. Ela o olhou com surpresa. Christopher fez um esforço para ignorá-la – de perto a camisola era ainda mais transparente – e começou a reacender o fogo. – Volte para a cama ou contrairá uma doença grave.

– Oh, não – Dulce retrucou, alegre. – Nunca estive doente. Tenho ótima resistência.

– Dulce. – Ele a fuzilou com o olhar. – Faça o que estou dizendo.

 Algo no tom dele deve tê-la persuadido de que ele falava sério, pois ela disse com voz submissa:

– Sim, milorde. – Deu as costas e desapareceu em seu quarto.

Christopher, finalmente sozinho, virou a cabeça para olhar o animal a seu lado. Embora não fosse bem familiarizado com espécies bovinas, supôs que, como as demais vacas, Louise fosse cordial. De início, quando a vira, ela tremia muito, mas no momento parecia ter se aquecido um pouco. Ela o fitava passivamente com olhos marrons límpidos e os beiços rosados se moviam ritmicamente enquanto ruminava.

– Não vamos fazer disso um hábito, não é, Louise? – Christopher falou com suavidade.

– Perdão. – Dulce saiu do quarto esforçando-se para enfiar o braço pela manga larga de um roupão marrom de cetim, segurando o punho de renda da camisola para não subir. – Está falando comigo, milorde?

– Não. – Christopher olhou o robe com atenção. – Dulce, isso não era de Alfonso?

Ela espiou para baixo enquanto amarrava a faixa na cintura com um laço.

– É, sim, óbvio – ela respondeu.

Christopher estreitou os olhos.

– Pensei tê-la ouvido dizer que havia doado as coisas de Alfonso.

Ela o fitou rapidamente e um leve corado tingiu-lhe as faces.

– Eu... bem, não todas.

– Não. – Christopher estava mais magoado do que tinha o direito de estar. – Aparentemente não. – Ele não pôde impedir o comentário. – Dulce, você sabe que isso não pode continuar.

– O que não pode? – Ela piscou.

– Você. Morar aqui. Sozinha. Suponha que não houvesse sido Louise e sim MacCreigh batendo na sua porta.

Dulce riu... sem muita convicção.

– Oh, ele nunca faria...

– Não? – Christopher sacudiu a cabeça. – Ouvi conversas na aldeia, Dulce. Dizem que ele matou a noiva...

– Ah, mas ele não fez isso – Dulce disse e calou-se depressa demais.

Christopher a fitou com estranheza.

– Você parece muito categórica. Dizem que a mulher desapareceu sem deixar vestígios. Como pode ter tanta certeza de que MacCreigh não tem nada que ver com isso?

Dulce ficou nervosa de novo.

– Porque eu... ora, conheço lorde MacCreigh e ele nunca...

– Nunca o quê? – Christopher indagou. – Tentaria submeter uma mulher à força? Não era isso o que ele estava fazendo hoje quando eu os encontrei no farol?

– Ah, aquilo. Ele estava tentando levar-me para falar com o juiz Reardon. Isso está muito longe de pretender matar-me.

– Contudo, há uma mulher desaparecida e dizem que o barão a matou.

– Sinceramente, lorde Denham, o barão não tem nada que ver com o desaparecimento de Clara. Ela fugiu com o criado de lorde MacCreigh.

– Como é que você sabe? – Christopher estava curioso. – Todos dizem que ele a matou.

– Sim. – Dulce olhou para os próprios pés descalços. – Sei que eles fugiram, mas não posso fazer nada. Só digo o que sei, e Clara fugiu para casar-se com o homem a quem amava. O pai dela jamais teria aprovado e ela achou que não teria outra escolha...

– Bastante parecido com alguém que conheço – Christopher retrucou com secura e voltou o atiçador para o lugar.

– Sim – Dulce condescendeu, corando um pouco. – Mas pelo menos eu não era comprometida com outro na época, como aconteceu com Clara.

– Não, não era. – Depois Christopher continuou, como se uma confissão houvesse sido arrancada dele. – Apenas fiz o que achei melhor para vocês dois. Alfonso não estava em situação de casar-se. Ele não havia se estabelecido em seu trabalho e não tinha dinheiro.

Dulce o fitou com a passividade de Louise, mas Louise não corava.

– Ele disse que não precisávamos de dinheiro – Dulce salientou com a voz um pouco embargada pela emoção. – Ele afirmava que só precisávamos de amor.

– Bastante romântico... a primeira colocação e tudo o mais. A quem importava se isso acontecesse nos ermos do norte da Escócia e que as condições de vida não eram exatamente as mesmas a que o casal estava acostumado? Vocês tinham um ao outro.