Fanfic: Pode beijar a noiva(adaptada) | Tema: Vondy

– Reardon está certo – Christopher falou depressa com sua voz grave. Por causa da proximidade, Dulce pôde ver o estrago que o barão fizera no rosto de Christopher: um corte em uma das sobrancelhas escuras e um lado do queixo já estava ficando roxo. Seria esse o homem que, em Londres, recusara uma sopa por ela não estar quente a seu gosto?

– Dulce, a situação é intolerável. Mas há uma solução perfeita para o caso, eu já deveria ter pensado nisso. Se você concordar, deixará todos satisfeitos.

Emma abriu a boca para retrucar que não satisfaria a ela. Contudo, ela não admitiria tanto para Christopher – a última coisa que ela o deixaria saber era que ele estivera certo ao tentar impedi-la de casar com Alfonso, que o casamento fora um desastre desde o início –, ela pretendia responder que já fora casada uma vez e que era o suficiente, muito obrigada.

Mas ela não teve chance de dizer nada, pois Christopher continuou.

– Pense nisso, Dulce – ele falou em voz baixa e insistente. – Você ficará com o dinheiro e depois poderá fazer o que quiser com ele. Doe tudo aos órfãos e às sociedades missionárias que você ajuda. Só lhe peço para ficar com o suficiente para viver. Se desejar, posso investir uma parte para você. É possível manter-se com os lucros. Pelo menos dessa maneira o dinheiro não irá para o telhado de um lar ancestral de alguém.

Nesse exato momento, o trinco da porta chocalhou e a voz de lorde MacCreigh chamou do outro lado do grosso artefato de madeira.

– Dulce, você está...

Em segundos, Christopher voltou o ferrolho ao lugar.

– O que... – a voz veio do outro lado. – Quem trancou isso? – Lorde MacCreigh gritou. – Denham! Abra a porta.

Dulce, entretanto, olhava fixamente para Christopher, atônita. Achou que o ouvira direito, mas não podia acreditar em seus ouvidos.

– Milorde – ela falou, preocupada. – O senhor... está sugerindo...

– Será que não enxerga, Dulce? – O olhar ambarino de Christopher apelava. – O dinheiro a deixará em boa situação por muitos anos, mesmo que doe metade dele, como sei que o fará. Mas se você casar com um deles – ele fitou a porta, onde o barão, aparentemente junto com Cletus, batia com energia –, eles usarão o dinheiro para propósitos particulares. Comigo você não terá de se preocupar, pois não preciso do dinheiro.

Então Dulce teve certeza de que entendera bem. Mas ela não podia, por sua vida, acreditar naquilo. O conde de Denham, primo de seu marido, pedia para ela casar-se com ele?

O espanto de Dulce deve ter transparecido em sua expressão, pois o conde tratou de completar:

– Se você quiser, podemos dissolver o casamento assim que o dinheiro estiver em seu poder. Não haverá nenhum problema.

Agora Dulce escutara tudo.

– Divórcio? – Ela não estava certa sobre o que a chocara mais: se o fato de lorde Denham pedi-la em casamento ou o oferecimento imediato para divorciar-se.

– Não se trata de divórcio, Dulce – ele explicou. – Uma anulação com base no fato de o casamento nunca ter sido consumado. Nós só apelaremos para isso quando você houver recebido o dinheiro.

A explanação somente serviu para deixar Dulce ainda mais espantada. E não apenas porque o conde parecia querer deixar seu bom nome – do qual ele tinha todos os motivos para se orgulhar – e sua bela reputação enodoados com a mácula de um casamento malsucedido. Era a maneira casual, descuidada com que ele parecia considerar o arranjo todo, como se fosse outro de seus negócios!

Não, devia haver um motivo para ele imaginar esse plano, Dulce pensou. Ela por certo não tinha a ilusão de que o conde de Denham a amasse. Christopher nunca, nem em milhões de anos, estaria romanticamente interessado em uma jovem como ela – uma órfã pobre cujas lágrimas ele limpara quando ela era pequena; uma joão-ninguém sem título que dependeria por toda vida da bondade de parentes ricos para se manter. O conde de Denham somente se alinhava com as beldades mais finas e ricas de Londres. E todas, Dulce notara no ano de 1832, tinham cabelos lisos e brilhantes, nunca cacheados.

E certamente ele jamais se envolveria, em sã consciência e romanticamente com a viúva empobrecida do próprio primo. Jamais!

Mas se ele não a amava, então...

– Por quê? – Ela estava tão pasma que não foi capaz de elaborar uma sentença completa.

– Por que o quê? – Christopher indagou.

– Por que... – Dulce estava consciente, como na véspera, da proximidade de Christopher e de sua masculinidade. Ele era um homem grande, muito mais do que Alfonso fora, e perto dele ela se sentia insignificante e irritada. Mesmo assim, reuniu coragem para perguntar. – Por que milorde faria isso?