Fanfic: Pode beijar a noiva(adaptada) | Tema: Vondy

Christopher, diante do juiz Reardon, presidente do Supremo Tribunal de Justiça, não podia acreditar no que estava acontecendo... nem no que acontecera havia meia hora. Parecia – realmente parecia – que ele pedira Dulce em casamento.

E que, por mais inacreditável que fosse, ela aceitara.

E a prova estava à sua frente, ou melhor, a seu lado. Dulce se encontrava ali, muito séria no vestido cinza de punhos de renda puídos, concentrada no juiz Reardon que realizava a cerimônia do casamento civil.

Dulce não se mostrava ciente, como Christopher, da presença de lorde MacCreigh e de sua irmã, em pé, em um dos lados da grande lareira acesa e parecendo desgostosos. Ela também não demonstrava notar que a sra.MacTavish, do outro lado da lareira, enxugava os olhos com as palavras impessoais que o juiz dizia. Ao lado dela, o filho Sean, que fora chamado como testemunha da cerimônia, dava ares de aborrecimento, assim como o sr. Murphy.

Ao lado dos dois, Cletus MacEwan dava a impressão de que estava prestes a chorar. Christopher nunca vira um homem com expressão tão deprimida.

E por que não? Christopher não duvidava que Cletus idolatrava Dulce e que se não fosse um bom marido para ela, pelo menos seria muito devotado.

Ao lado de Cletus estava Roberts, o criado de Christopher. Roberts exibia a expressão usual de serena complacência. Cirurgião em um duelo ou testemunha do casamento, Roberts servia Christopher lealmente e sem comentários, aceitando a decisão súbita de seu senhor de casar-se sem se perturbar.

Como Christopher invejava a calma de seu criado, calma essa que ele estava certo de nunca chegar a sentir. E como poderia? Estava se casando com Dulce. Dulce Saviñon, a sensação da temporada de 1832, a jovem que seu primo Alfonso, contra todas as razões plausíveis, conquistara e com quem se casara.

Agora, Dulce era sua.

Por enquanto pelo menos. Ainda se censurava por ter mencionado a palavra anulação. Mas estivera certo, olhando seu rosto, que ela não teria aceitado seu plano de outra forma. Porque a proposta parecera extraordinária. Ele mesmo ficara espantado.

Logo que o juiz Reardon fizera a sugestão nada ortodoxa, Christopher entendera que ali estava sua oportunidade. As palavras do juiz “Casando-se com um deles, é evidente” vibraram em suas veias! Assim que as ouvira, soube o que teria de fazer. Era provável que ele soubesse desde o princípio. Talvez por isso estivera tão determinado a passar a noite na cabana de Dulce.

Aquela seria finalmente sua oportunidade de provar a Dulce que não era mais o homem egoísta de coração duro de antes. Dulce mudara tudo no dia em que fugira para casar-se com Alfonso. Ela lhe ensinara que todo dinheiro do mundo não podia comprar o que ele realmente queria e não era capaz de impedir o que ele mais temia que ocorresse. Essa era a ocasião de reparar o mal que causara a ela, embora ainda acreditasse que se casar com Alfonso não fora o passo mais inteligente de Dulce.

Lamentava que houvesse verbalizado essa crença para ela, pois entendera logo depois que essa atitude despertaria a compaixão de uma jovem como Dulce: pobre Alfonso... Nem mesmo sua família queria vê-lo feliz!

Mas Christopher estava contente que Dulce teimara em não seguir seu conselho há um ano. Na época, ela jamais teria aceitado casar-se com ele, nem ele teria feito o pedido. Como estivera cego diante de seus sentimentos e dos que o rodeavam! Agora via claramente. Ele fora tudo o que uma jovem idealista como Dulce desprezava: um homem de negócios rico e egoísta, sem outras aspirações a não ser acumular mais dinheiro e procurar apenas a satisfação pessoal.

Agora ele mudara. Um ano de angústia pelo seu mau julgamento o transformara naquela criatura que se curvava diante de um juiz, um homem disposto a fazer o que fosse necessário não apenas para corrigir o comportamento do passado, mas também para mostrar a Dulce que ele se transformara.

Estava bem lembrado da promessa de anular o casamento. Falara sério. Se Dulce quisesse uma anulação, ele providenciaria tudo.

No entanto, obter uma anulação era um processo longo e árduo. Alguns percalços podiam acontecer ao longo do caminho.

Por exemplo, a esposa apaixonar-se pelo marido.

Tratava-se de um jogo. E arriscado. No entanto, toda vez que espiava na direção de Dulce e via os olhos castanhos luminosos circundados pelos cílios grossos, achava que valia a pena arriscar. Valia muito.

De repente o juiz Reardon disse:

– Vamos, milorde. Entendo que tudo isso foi muito precipitado e que um homem pode desejar mais tempo para considerar suas opções, mas eu deixei um almoço delicioso por conta da situação e, pessoalmente, eu gostaria de retomar o assunto em outra hora dessa semana. Agora, milorde, quer ou não?

Christopher entendeu a importância daquela pergunta.

– Quero – ele disse rapidamente, fitou Dulce de viés e notou que ela o olhava com curiosidade.

Depois da resposta mal audível de Dulce à pergunta de praxe, o juiz Reardon proclamou-os, pelo poder de que era investido, marido e mulher. Christopher ficou paralisado, maravilhado com a mudança rápida da sorte de uma pessoa – na véspera jamais se permitiria sequer a fantasia de casar-se com Dulce, para descobrir-se, naquele momento, como seu marido legal.

– Denham? – o juiz berrou. – Vai ficar aí parado? Não vai beijar a noiva?

Christopher, espantado, virou-se para Dulce que recuara diante da pergunta do juiz.

– Isso não é necessário – ela salientou.

A Sra. MacTavish, sentindo-se lesada por seu filho não se ter casado com a viúva do cura, não permitiria ser novamente lesada, caso não presenciasse o primeiro beijo dos noivos, sem saber que seria provavelmente o primeiro e o único.

Pensando nisso, pôs as duas mãos nos ombros de Dulcee empurrou-a na direção de Christopher.

– Oh, não recue – a mulher disse com determinação. – É preciso selar o acordo.