Fanfic: Pode beijar a noiva(adaptada) | Tema: Vondy

E a outra era sua irmã, que não acreditava que Christopher pudesse amar outra que não fosse ela.

A honorável Srta. Natália Bain conhecera o conde de Denham havia um dia, mas ela mesma se proclamava como a beldade reinante de Faires. A única concorrente ao título tinha sido a noiva do irmão, que felizmente já se fora (que bons ventos a levem) e Dulce, uma velha viúva murcha, que ninguém com olhos enxergava. Natália estava certa de levar o título da Mulher Mais Bela de Faires. Não fazia sentido que um personagem tão ilustre – e tão bem-apessoado – como o conde de Denham pudesse não se apaixonar por ela.

Foi com ira que Natália escutou a história de Mary sobre amantes separados e depois reunidos, e não acreditou. Ela estivera no casamento e presenciara a relutância de Dulce – jovem idiota como Natália sempre acreditara – em casar-se com o conde. Natália não esperara a vida inteira que um homem como Christopher Uckermann viesse bater na sua porta? Seu coração não disparara quando o vira naquela manhã? Como ela planejara nos primeiros momentos, o futuro deles poderia ser feliz e bem longe da região miserável onde nascera e que passara a odiar.

Ela fechou a capa com ressentimento e amarrou as fitas do chapéu quase com selvageria, depois de ouvir de Mary os comentários de todos. Dulce Herrera – então lady Denham – sempre parecera estranha e voluntariosa. Pois a Sra. Herrera não escolhera Clara McLellen, em vez de Natália, como sua melhor amiga logo depois de chegar a Faires? Ou melhor, Clara escolhera Dulce e Dulce não a evitara, como Natália sempre tentara fazer. Clara fora noiva de seu irmão, mas não possuía uma gota de sangue azul, como Natália verificara nos ancestrais até 1400.

Mas isso fizera Dulce Herrera interessar-se por Natália? Nem um pouco. Natália não surpreendera as duas cochichando em vários locais do castelo? Quantas vezes não as encontrara conversando e andando lado a lado, Dulce de cabeça baixa escutando o que Clara dizia? Talvez Clara se queixasse de como era maltratada no castelo e como odiava Natália.

Era culpa de Natália que ela conhecesse seu próprio lugar, mesmo que o irmão não soubesse? Afinal, o pai de Clara era apenas um comerciante.

Natália seria capaz de apostar que Dulce sabia perfeitamente o que acontecera com Clara na noite em que ela desaparecera. Era provável que Dulce soubesse para onde Clara tinha ido. E, dois para um, que Dulce até encorajara a namoradeira a fugir com Stevens, criado de Geoffrey. Como se a própria Natália não estivesse de olho nele. Ah, ele era um plebeu, era certo. Mas que olhos negros brilhantes ele tinha! Natália não podia culpar Clara por apaixonar-se por ele, embora a traição houvesse machucado muito Geoffrey.

Claro que Natália nunca seria tão estúpida a ponto de atirar-se sobre um criado. Não, ela esperava um homem como lorde Denham.

E naquela altura, graças a Dulce, sua única chance de um bom casamento estava em ruínas... assim como Dulce destruíra, ao tornar-se confidente de Clara em vez de Natália, a única oportunidade de Natália ter uma amizade verdadeira. Desde que chegara a Faires, Dulce nada fizera a não ser tornar a vida mais difícil para Natália.

E também havia aquelas mulheres estúpidas – a Sra. MacTavish e até a Sra. Peck que elogiavam Dulce: como a Sra. Herrera fora incansável durante a epidemia de tifo, cuidando de tantas pessoas, mesmo depois de perder o marido. Como a Sra. Herrera era boa com as crianças. Como se podia sempre contar com a Sra. Herrera para um desabafo. E por aí seguiam as virtudes de Dulce.

Natália certamente nunca contara com a Sra. Herrera para um desabafo. Não que ela alguma vez houvesse pedido isso, mas sendo Natália a única nobre no distrito, Dulce poderia ter feito um esforço para conhecê-la melhor. Clara acusara Natália de ser esquiva, mas não era verdade. Natália era apenas naturalmente tímida. Homens gostavam de modéstia em uma dama.

Apropriar-se de lorde Denham bem debaixo de seu nariz fora a gota d’água. Daquela vez Dulce fora longe demais e Natália pretendia que Dulce soubesse disso. A respeito de Christopher Uckermann nada havia para fazer. Ela o perdera para sempre. Mas poderia humilhar Dulce. Ah, se poderia.

Natália não se incomodou de sair ao entardecer em direção ao farol. Seu irmão teria de esperar pelo jantar, a menos que quisesse comer sozinho. Ele ficaria nervoso, mas quando ele não se irritava, desde que Clara o deixara? Como se ele não estivesse rabujento como nunca... Por que mais ela saíra do castelo e fora para a estalagem, senão para escapar da ira do irmão por haver perdido a única coisa que nos últimos meses adquirira significado para todos, ou seja, as dez mil libras da viúva Herrera?

Natália não culpava o irmão por estar irado. Por direito, aquele dinheiro – e a viúva Herrera – pertenciam a ele. Assim como o belo e afável Christopher Uckermann lhe pertencia.

Era o que Natália pretendia dizer a Dulce, literalmente.

Natália pensava em encontrar, ao cruzar a soleira da escola, Dulce radiante de felicidade, o que foi um engano. Dulce, sentada ao lado de sua pilha de ardósias, olhava as janelas altas, embora fosse improvável que ela estivesse vendo as cores róseas do pôr do sol que ali brilhava. A expressão de seu belo rosto – a que Natália se referia como murcho – era a de miserável infortúnio. A Srta. Bain deliciou-se.

– Olá, Sra. Herrera – Natália disse em voz alta, fechando a porta com um baque. – Ou talvez seja melhor dizer lady Denham. Todos estão falando a seu respeito. Por acaso não lhe interessa saber do que se trata?

Dulce virou-se para a moça mais nova. Seus olhos, sempre alegres, mostravam-se apreensivos.

– Não, mas tenho a impressão que a senhorita vai falar de qualquer maneira.

Natália deu risada.

– Correto. Se eu fosse milady, daria adeus a esta sua pequena escola. Não acredito que lhe permitam continuar a lecionar aqui por muito tempo. Não depois do escândalo de hoje.

Dulce, para desapontamento de Natália, nem ao menos piscou. Olhou ao redor, viu os bancos e as lousas e pareceu pouco surpresa.

– Não. Suponho que esteja certa.

Natália que nunca morrera de amores por Dulce – qualquer mulher que se casasse por vontade própria com um homem que pretendia morar em um lugar como Faires, e ainda sendo um cura, tinha de ter algo de errado – sentiu que estava tudo às avessas. Dulce deveria mostrar-se triunfante e superior. Afinal, ela vencera: escaparia desse maldito lugar muito antes que Natália o fizesse.

No entanto ela parecia tão... frágil. Frágil e ansiosa.

Natália, horrorizada que pudesse sentir pena – pena! – de sua inimiga jurada, tornou-se ainda mais mordaz.