Fanfic: Pode beijar a noiva(adaptada) | Tema: Vondy

– Então qual o problema? – ela perguntou. – Não vai me dizer que na verdade lhe importa o que a Sra. MacTavish e o restante das velhas faladeiras da cidade estão dizendo?

Dulce abaixou a cabeça e falou em voz baixa, mas desesperada:

– O que foi que eu fiz?                                      

Aquilo era insatisfatório. Como Natália faria Dulce sentir-se mal se ela já estava péssima? E por que estaria tão depressiva? Ela estava casada com o homem mais bonito e rico que Natália conhecia!

O que Natália ignorava – e Dulce nada diria – era que esse casamento não passava de um acordo de negócios em que Dulce ficaria com a herança e Christopher Uckermann atenuaria a culpa pelo que fizera com o primo.

Dulce não poderia mencionar o fato ou Natália iria direto contar para o juiz Reardon sobre a planejada anulação... e Dulce tinha a intuição de que a artimanha não agradaria nem um pouco ao juiz. Se ele descobrisse, não liberaria o dinheiro com tanta presteza.

E Dulce precisava do dinheiro. Em vias de se apropriar dele, ocorreram-lhe tantas boas coisas que poderia fazer. Mandar John McAddams para a faculdade. Construir uma escola completa e contratar uma professora de verdade para as crianças de Faires. E havia também Fergus com sua pouca visão e que certamente nunca fora examinado por um bom médico. Quem poderia saber se havia uma cura para o mal que o afligia?

Dulce sabia muito bem que toda cidade falava dela e duvidava que lhe permitiriam dar aulas para as crianças por mais tempo. Como se não fosse suficiente, havia a lembrança vergonhosa de seu comportamento naquela manhã, quando lorde Denham a beijara. Teria uma mulher decente reagido a um beijo com tanta licenciosidade? Ela achava que não. Agira como uma devassa, uma verdadeira Maria Madalena. O que Christopher estaria pensando dela? Ela, uma viúva de apenas seis meses... e do primo dele... e de um cura!

Natália Bain estava alheia às apreensões de Dulce. Tudo o que Natália sabia era que as dez mil libras de Dulce Herrera, em vez de irem para seu irmão, que poderia emprestar-lhe uma pequena parte para comprar um ou dois chapéus, iriam para um homem que não tinha a mínima necessidade do dinheiro, que compraria novos chapéus e leques para Dulce durante décadas, enquanto Natália não tinha uma fita de cabelo nova havia anos.

Natália abriu a boca para dizer outra frase mordaz sobre o desalento de Dulce: – Você poderia ter esperado o corpo esfriar – ou algo parecido.

No entanto, foi interrompida pela porta do farol sendo aberta e uma rajada de ar salino entrando.

As palavras morreram nos lábios de Natália quando ela se virou. Era o conde em pessoa, tomando todo o espaço da entrada com seus ombros largos, tão atraente como o vira havia oito horas.

– Srta. Bain – ele cumprimentou Natália com um aceno de cabeça e voz suave. Depois desviou o olhar – como se Natália não fosse a moça mais bonita da sala, e ela sabia que era – e voltou-se para Dulce.

– Dulce, se você já terminou, vamos para casa.

Com que energia masculina as palavras ecoaram! Elas percorreram a espinha de Natália com um frêmito! Como ela gostaria que algum homem alto e bonito entrasse na sala dela e a informasse que estava ali para levá-la para casa! Certamente ela não reagiria como Dulce, que ficara muito corada.

– Ainda não terminei – Dulce disse em tom distante, mas cortês, que ocultava o tormento que segundos antes se refletia em sua face e sua voz – de verificar as provas das crianças.

Lorde Denham, em vez de derrubar a fileira de bancos da frente, como Natália tinha certeza de que qualquer dos homens locais faria ao ser tratado daquela forma, fechou a porta, encostou-se nela e cruzou os braços na altura do peito.

– Então eu esperarei – ele disse, com uma leve sugestão de divertimento – até que esteja pronta.

Dulce, em vez de deixar as ardósias de lado e jogar-se nos braços do conde como Natália teria feito, pegou a próxima lousa e começou a analisá-la.

Aquilo para Natália foi demais. Ela sempre considerara Dulce uma tola por ter-se casado com Alfonso Herrera. Alfonso, apesar de bem-apessoado, falava muito sobre teologia para o gosto de Natália. Além de ter sido um simples cura. Que mulher em seu juízo perfeito se casaria com um cura? Até mesmo o reverendo Peck esperara até ter um ministério próprio antes de casar-se com a espinhosa, porém recatada, Sra. Peck.

Naquela altura dos acontecimentos, Dulce tivera a sorte de casar-se com um homem magnífico, nobre e que parecia desinteressado por religião. Dulce, se não quisesse, não teria mais de bordar nenhuma almofada para o bazar da igreja!

E como Dulce se comportava? Como se o marido fosse pior do que um monstro! Era quase como se os boatos espalhados por Mary fossem verdadeiros. Eles se conheciam de outra época. Mas não como amantes e sim como...

Inimigos.

Mas Natália sabia que isso era ridículo. Porque só era possível sentir adoração pelo conde de Denham, um homem que vestia maravilhosos calções claros, que mantinha os colarinhos altos, que não falava com sotaque escocês – como Natália desprezava o próprio, passara muitas horas diante do espelho tentando corrigir-se – mas sim com a inflexão profunda de um verdadeiro inglês.

Natália não podia mais observar aquela cena injusta. Seu coração se partia. Que desperdício! Dulce – que tivera a absurda temeridade de preferir a companhia de Clara McLellen à dela durante os passeios pela região, Natália lembrou-se com amargura – não deveria prosseguir com isso. Se houvesse alguma justiça no mundo, ela não o faria.

– Bem – Natália disse, tornando a fechar a capa. – Boa noite, lorde e lady Denham. – As últimas palavras foram ditas com malícia.

Lorde Denham abriu a porta para ela. Natália passou por ele e saiu do farol com uma ponta de pesar, pois, quando passou pelo conde, sentiu o leve cheiro de sabonete.

Oh, céus, ela pensou, ele até toma banho!

E sua inveja de Dulce Saviñon Herrera Uckermann não teria fim.