Fanfic: Pode beijar a noiva(adaptada) | Tema: Vondy

– União – Christopher terminou com calma. – Entendo seu ponto de vista. A alegria dela ao saber que finalmente me casei será extraordinária. E ela sempre gostou muito de você...

Dulce piscou para afastar as lágrimas, sem saber por que chorava. Ela adorava a mãe de Christopher. Lady Denham, a quem Dulce conhecia desde pequena, tinha grande coração e natureza generosa...

Mas seria benévola o suficiente para perdoar a nora pelo crime que cometera havia seis meses?

Dulce limpou furtivamente as lágrimas que se acumulavam no canto dos olhos. Esperava que Christopher não notasse esse súbito brotar de emoção e tomasse isso como um sinal de fraqueza feminina e falta de autossuficiência.

 – Talvez se não contássemos a ela sobre... o casamento. Eu não gostaria de enganá-la... sua mãe é uma dama admirável. Não me agradaria que ela pensasse mal de mim. – Mais do que ela já tem direito, Dulce pensou.

– Como queira. – Christopher anuiu com um gesto de cabeça, quando Dulce não fez mais objeções. – Então está resolvido. Partiremos para Londres amanhã cedo.

Christopher, com naturalidade, serviu mais vinho do decantador para Dulce.

Aturdida, ela fitou Roberts de viés. O criado se ocupava em guardar o que sobrara das batatas gratinadas. Roberts dava a impressão de não achar os acontecimentos das últimas doze horas extraordinários... como se seu senhor se casasse todos os dias com uma viúva pobre.

Como Dulce invejava o sangue frio de Roberts! Se ela ao menos pudesse manter um semblante de serenidade. Impossível. Ora, na véspera, sua maior preocupação tinha sido evitar que seu galo fugisse. Então, como de costume, a corrente de má sorte se intensificara a ponto de sua vida ficar lotada com uma miríade de problemas difíceis de resolver. O fato de ir para Londres era a menor de suas preocupações.

Passar a noite de núpcias era a principal urgência do momento.

Já era tarde e Christopher não mostrava sinais de preparar o retorno para a estalagem. O mais surpreendente era Dulce não se lembrar se ele pedira para o Sr. Murphy esperar. Se fosse o caso, o Sr. Murphy já estaria adormecido. Era imperdoável da parte deles não tê-lo convidado para tomar chá.

E o que queria dizer o fato de que ele não estivesse esperando?

– Não deveríamos – Dulce disse com animação forçada – chamar o Sr. Murphy para tomar uma xícara de chá antes de levá-los para a estalagem?

Dulce congratulou-se com a sutileza da pergunta.

A resposta, contudo, fez o coração de Dulce disparar.

– Mandei o Sr. Murphy jantar com a Sra. MacEwan. – Lorde Denham tirou um cachimbo do bolso do colete e começou a enchê-lo com fumo de uma bolsinha. – Pelo menos enquanto Roberts estiver aqui. Depois Roberts irá para lá e os dois voltarão para a cidade.

Dulce, alarmada, fitou o criado, depois Christopher e vice-versa, com olhar arregalado.

– Não está pensando em passar a noite aqui, não é, Christopher?

Christopher recostou-se na cadeira e, calmamente, acendeu o cachimbo.

– Você não esperava que eu ficasse na estalagem esta noite em particular, não é, Dulce? – ele perguntou, divertido. – O juiz Reardon, que tem um quarto lá, poderia achar estranho os noivos passarem separados a noite de núpcias, não acha? Você não se importa que eu fume, não é?

Dulce negou com um gesto de cabeça, com a mente em um torvelinho. Christopher passando outra noite na cabana? Mas certamente ele não pensava... ele não podia acreditar que...

Mas ao olhar para o físico longo e masculino estirado na poltrona estreita de Alfonso de modo não muito confortável – Alfonso tinha estrutura mais delgada que a de Christopher – Dulce achou-se ridícula. Claro que Christopher pretendia dormir de novo no banco estofado. Ele não podia ter outra intenção em mente. A união deles fora apenas nominal. Não fora ele quem sugerira a anulação no mesmo instante em que propusera casamento?

Claro que ele pretendia ficar no banco.

Ao mesmo tempo em que Dulce se tranquilizava, a lembrança daquele beijo maldito voltava à perturbá-la. Supondo que ele quisesse dar um beijo de boa-noite? Ela lhe ofereceria a face. Supondo ainda que ele desprezasse a oferta e a beijasse na boca? Poderia acontecer. E se tivesse novamente aquela reação? Se o beijo a deixasse novamente insensata? E se produzisse nela o mesmo desejo selvagem e imprudente de...

Dulce não estava bem certa pelo que ansiara quando Christopher a beijara. Ou melhor, ela sabia, mas envergonhava-se de admitir. Aquilo provava o que Alfonso sempre dissera a seu respeito: que ela era muito devassa e que deveria pensar em coisas mais elevadas do que o prazer físico.

Era muito assustador que o beijo de um homem – ainda mais um como Christopher Uckermann – despertasse nela uma reação física tão intensa.

Nisso ocorreu-lhe que deveria retirar-se antes que Roberts saísse. Na presença de Roberts, haveria lugar apenas para um beijo casto de boa-noite. Certamente ela não reagiria como acontecera no castelo... não duas vezes no mesmo dia.

Dulce levantou-se rapidamente e por pouco não derrubou o cálice de vinho que Roberts apressou-se em segurar.

– Amanhã será um longo dia e eu gostaria de ir para a cama agora. Boa-noite, milorde. – Ela estendeu a mão direita na direção do conde que, espantado, ficou em pé.

– Ainda é cedo – Christopher ponderou, achando graça.

– Sim – Emma concordou –, mas no campo nós nos levantamos com as galinhas. – Ou pelo menos ela tentava, quando o galo não fugia. – Boa noite, milorde. Muito obrigada pela refeição deliciosa. E por... casar-se comigo.

As palavras soaram estranhas até para Dulce. E, no entanto, ela fora sincera. Fora muito bom lorde Denham ter-se casado com ela e era preciso que ele soubesse quanto ela apreciara o gesto... enquanto, ao mesmo tempo, era preciso manter certa distância. De outra forma, essa nova e surpreendente atração que sentia pelo conde poderia tornar-se difícil de controlar. Por que ela não podia voltar a mente para coisas mais elevadas, como Alfonso fazia facilmente?

Christopher, intrigado, segurou a mão estendida, mas, em vez de apertá-la, beijou-lhe os dedos. Dulce não pôde deixar de refletir como o gesto era romântico, enquanto seu pulso vacilava e recomeçava a bater ao sentir os lábios quentes em sua pele. Lábios de um homem notável por usar a razão e nunca o coração.

– Boa noite, Dulce.

Sob a luz das chamas, o rosto de Christopher parecia ainda mais atraente do que o normal. Era como se algo acontecera para suavizar aquelas feições, para emprestar uma nova juventude para aquela boca que fora tão dura e intransigente, e ternura para aquele olhar que antes fora tão calculista.

Todavia, no momento não havia traço de qualquer emoção na fisionomia do conde, a não ser um interesse sincero – a única palavra que Dulce poderia usar para descrevê-lo – em seu bem-estar.

– Bom descanso – Christopher falou e sua respiração fez cócegas nos nós dos dedos de Dulce. Os olhos cor de âmbar dele, sob a luminosidade das chamas, pareciam os de um gato. Não, os de um tigre.

Dulce vira um tigre certa vez, em um zoológico particular onde Christopher a levara e que ele comentara ser tedioso. Mas Dulce não achou nada disso... como agora estava longe de achar enfadonho o toque de Christopher.

Ela desvencilhou rapidamente os dedos, despediu-se com voz rouca e deixou o recinto que de repente ficara quente demais.

Dulce esperava encontrar paz e isolamento em seu quarto, mas estava redondamente enganada. Paz, sim, mas isolamento?

No centro de sua cama estava deitada a cadela Una, que balançou o rabo grosso ao ver Dulce. E era porque o animal estava ansioso para mostrar seus oito minúsculos filhotes que se contorciam, com alguns minutos de nascidos, ainda brilhantes pela jornada através do canal do parto... pelo qual também tinham sido eliminados os líquidos que ensopavam a roupa de cama e o colchão de Dulce.

Dulce, longe de sentir a alegria de tal ocasião, olhou a sujeira, fechou a boca com a mão e imaginou, com mal-estar, onde dormiria.