Fanfic: Pode beijar a noiva(adaptada) | Tema: Vondy

– Mamãe...

– Afinal – lady Denham prosseguiu, alegre – quem visse a maneira como vocês dois brigavam, como cão e gato, na temporada do ano passado, saberia que seriam destinados para o altar algum dia...

– Mamãe!

Dulce notou um tom avermelhado no belo rosto de Christopher. Ou talvez fosse a luz da primavera que se refletia pelas janelas altas por detrás de sua poltrona. Por que ele tinha de corar?

Lady Denham abanou a mão com pouco caso.

– Eu costumava ver a maneira como os dois se olhavam no salão de baile...

Dulce desejou que o chão se abrisse para a engolir. De fato Christopher e ela brigavam com frequência no passado, mas Dulce não sabia que alguém além de Alfonso – em especial a nova sogra – houvesse notado as discussões às vezes acaloradas. E elas não tinham sido, como lady Denham as interpretara, nada além de polêmicas entre duas pessoas diferentes querendo impor os próprios pontos de vista. Não houvera, pelo que Dulce soubesse, olhares ansiosos nos salões de baile... pelo menos de sua parte.

Dulce também jamais vira qualquer sinal na atitude de Christopher que não fosse uma tolerância fraterna...

... até recentemente.

Dulce creditava a si mesma a culpa. Ela iniciara tudo com um beijo de boa-noite que deveria ter sido um simples beijo. E como era uma criatura muito lasciva para não ceder a seus instintos básicos, naquela noite o que ela mais desejara era ver o que estava sob o roupão de cetim de Christopher.

Dulce descobrira, e não era de admirar que ele mal a olhasse. O que ele deveria pensar dela!

– Então deixamos o baú aqui, milorde? – Burroughs perguntou, esperando uma resposta positiva.

Que veio, para descrença de Dulce.

– Claro – Christopher disse sem olhar para Dulce. – Agora devo providenciar a consulta de Fergus com o dr. Stoneletter...

Dito isso, Christopher saiu do quarto.

Oh, céus, aquilo não podia estar acontecendo. Chocado ou não pelo comportamento de Dulce, Christopher teria de falar com ela. Eles não poderiam deixar as coisas como estavam.

Dulce levantou-se da cadeira.

– Perdão, milady, tenho de sair por um momento. – Ela correu atrás de Christopher sem se importar com o espanto dos criados.

Christopher ouviu o barulho dos saltos no parquete do corredor, parou no alto da escada, virou-se, viu-a e assumiu uma expressão de severa autoridade.

– Escute, Dulce – ele começou.

Dulce não quis saber de nada. Ela o segurou pelo braço e empurrou-o, com toda sua força, para o quarto mais próximo, que era a sala íntima de lady Denham. Ela fechou a porta, antes de se virar para Christopher.

– Agora me escute, Christopher – ela sibilou, mantendo a voz baixa com esforço. – Não podemos ignorar isso. Temos de conversar sobre o assunto. Sei que milorde não me aprovou e Deus sabe que também não estou contente comigo mesma, mas não o deixarei sair deste quarto até decidirmos o que fazer.

Christopher cruzou os braços na altura do peito, como quem se divertia. Dulce, como viúva de um cura, procurou não notar como isso fazia os músculos dos ombros se aglomerarem de maneira atrativa, mesmo o dono dos músculos sendo seu marido.

– E o que você acha que fez que eu não aprovei, Dulce? – Christopher usou um tom sarcástico.

Dulce, mortificada, sentiu o rosto em fogo.

– Vai querer que eu diga? – ela sussurrou. – Milorde sabe muito bem. Admito que foi minha culpa. Eu não deveria tê-lo beijado, mas milorde correspondeu e tem parte da culpa.

– Dulce, eu não a estou culpando de nada – James afirmou no mesmo tom seco. – Muito pelo contrário.

Confusa, Dulce não entendeu, sacudiu a cabeça e perguntou.

– O que propõe que façamos agora, Christopher?

Ele arqueou uma sobrancelha.

– Não tenho a menor ideia. O que você propõe, Dulce?

O queixo de Dulce caiu por um momento e ela tratou de fechar a boca depressa.

– O que eu proponho? – ela tornou a sibilar. – O plano foi seu desde o início. Qual a sua proposta?

– Proponho – Christopher descruzou os braços, tirou um relógio do bolso do colete e observou a hora – que tomemos chá. Estou com fome. E depois do chá, podemos descansar um pouco. Sua família virá mais tarde para jantar e comemorar nossas núpcias felizes.

Dulce bateu o pé e vários enfeites de vidro de uma prateleira retiniram de maneira sinistra.

– Como pode brincar com isso, Christopher? – ela gritou. – Será que não percebe que o juiz Reardon arruinou tudo? O casamento era para ser mantido em segredo, e agora sua mãe sabe!

– Sim – Christopher admitiu, guardou o relógio e coçou o queixo.  – Ela sabe, não é?

Mas ele não parecia incomodado com a revelação como Dulce.

– Christopher, como conseguiremos uma anulação agora? Sua mãe está contando para todo mundo, vibrando de felicidade.

Ela me pediu para chamá-la de Alexandra! E chegou a falar em netos!