Fanfic: Pode beijar a noiva(adaptada) | Tema: Vondy

– Não vejo por que preciso de um torcicolo por dormir a noite toda em uma cadeira – ele afirmou – se há uma cama confortável por perto. – Era um jogo continuar desse jeito, mas um homem tinha de lutar pelo que queria. – Além disso, que diferença faz isso agora? Já cometemos o pecado uma vez. Algumas vezes a mais não nos jogará no fogo do inferno.

Dulce não riu. Era como se estivesse exausta de tanto forçar uma expressão de noiva feliz para a família, de tagarelar alegremente sobre conhecidos mútuos e de manter, durante todo o jantar e sobremesa, um ar de alegria frívola.

Christopher supôs que tal demonstração fosse necessária, considerando que a última vez em que Dulce vira Arthur e Regina Saviñon fora na biblioteca da família onde o tio a advertira dos perigos de um casamento insensato e a tia ficara irritada por não saber o que o conde de Denham pensaria dela por ter confiado a ele um plano tão ridículo. Os tios de Dulce não teriam dito isso se soubessem da ironia de, um ano mais tarde, a sobrinha obstinada estar casada com o conde. Eles se mostravam muito cordiais... embora Christopher não se enganasse e soubesse que Dulce também não se enganaria. Se ela voltasse para Londres simplesmente como viúva de Alfonso e não como esposa do conde de Denham, a recepção de sua família seria bem diversa.

O excesso de efusão de boas-vindas foi um pouco cansativa para Dulce. Isso, associado ao árduo trajeto desde a Escócia, a deixou exausta. Christopher podia ver os leves traços violeta sob os olhos. Fora um dia longo e agitado.

Ainda assim, ela não parecia disposta e recuar da luta.

– Está errado, Christopher, e sabemos disso. – Mas se pensa de outro modo, ficarei nas poltronas.

Dulce foi até a cama e pegou a colcha de seda.

Christopher observou-a improvisando uma cama entre as duas cadeiras.

– Você está sendo ridícula, Dulce. Como dois adultos, podemos ser perfeitamente capazes de dormir na mesma cama sem que nada impróprio aconteça.

– Ah! Onde foi que ouvi essas palavras? – perguntou Dulce.

– Foi você quem começou isso – Christopher não pôde deixar de dizer e teve a satisfação de vê-la corar sob a luz da lareira.

– Não se preocupe, isso não acontecerá de novo. – Recatada, embrulhou-se com a colcha na cama pequena e desconfortável que fizera. – Ficarei bem longe esta noite.

– Sua preocupação por minha alma imortal é muito apreciada – Christopher salientou. – Mas acho que é muito tarde. O dano já foi feito. Nada disso importa, se vou queimar no inferno de qualquer maneira; tanto faz se pecamos uma vez ou mil vezes.

Dulce cobriu a cabeça com a colcha e não respondeu, pondo fim à conversa.

– Bem, acho que você tem razão. – Christopher deu de ombros e entrou debaixo dos lençóis frios.

Novamente não houve resposta. Christopher, divertido, cruzou os braços atrás da cabeça e olhou o dossel azul sobre ele.

– Afinal, chances há, se continuarmos dessa maneira como você disse, é mais provável que sejamos apanhados. A prole seria uma prova irrefutável de nosso pecado.

Debaixo da colcha veio um som, mas Christopher não soube definir onde estava a cabeça de Dulce.

– O que foi aquilo, meu amor?

Ela tirou a colcha do rosto. O fogo fez seus cachos vermelhos formar um halo – que ela não notou – ao redor de sua cabeça.

– Aquilo nada teve que ver com isso – ela disse com aspereza.

– Tem certeza? – ele arqueou a sobrancelha.

– Absoluta.

– Está bem. – Christopher se divertia mais do que deveria. Havia algo na indignação de Dulce – e ela ficava indignada com frequência com ele – que era muito interessante e diverso das bajulações das jovens como Natália Bain e Maite Saviñon.

– Suponho que haja certa nobreza a respeito de seu sentimento. Mas sempre há a possibilidade de que o fato já esteja concretizado e devo dizer que dormir em uma cadeira pode não ser bom para ele.

Dulce franziu a sobrancelha.

– Bom para quem?

– Para meu filho e herdeiro – Christopher respondeu. – Você sabe, Dulce, que já pode estar grávida.

Dulce enrubesceu, mas sua expressão – uma que indicava claramente que ela fazia pouco caso dele – não mudou.

– Sua preocupação é notável, mas, se eu fosse capaz de gerar filhos, não acha que eu já os teria? Afinal, sou uma viúva.

– Mas você esteve com Alfonso por pouco tempo – Christopher retorquiu um pouco surpreso.

Algo no tom da voz de Dulce o advertira que, nesse território, ele teria de ir com cuidado. Maite, ele percebeu, também dissera algo sobre filhos na sala de jantar. Depois de ver Fergus, a prima de Dulce riu.

– Bem, esse não pode ser seu, não é, Dulce? Ele é muito velho.

Dulce, que rira muito – embora não de modo convincente – durante a noite, não achou graça no comentário.

Christopher sentiu que aquele não seria um assunto que agradava a Dulce, mas continuou.

– Vocês dois ficaram meio ano juntos. Não sou versado nesses assuntos, por ter sido solteiro. Mas no meu entendimento não é incomum para algumas mulheres engravidarem com apenas... duas vezes.

– Mais um motivo – foi a resposta formal de Dulce – para eu continuar na poltrona, bem afastada de sua cama.

Christopher entendeu com atraso que, em seus esforços de conceder um bálsamo para uma ferida que só agora ficara sabendo que existia, talvez houvesse causado um pânico adicional. Deitado na semiescuridão escutou o silvo brando do fogo diante do qual Dulce estava encolhida e não pôde evitar que sua mente seguisse um caminho perigoso, perto do qual ele mal ousara se aventurar doze meses atrás. Passou a imaginar o que, precisamente, havia ocorrido com Dulce e Alfonso no quarto.

Naquela altura ele sabia muito bem que Dulce não era uma amante passiva e parecia ter um apetite saudável para o pecado.

E Alfonso? Christopher não podia pensar o mesmo dele. Nem era capaz de imaginar os dois juntos, e não porque não queria, embora de fato não quisesse. Ele simplesmente não conseguia visualizar Alfonso e Dulce... daquela maneira. Sabendo o grande interesse de Dulce nessa área e conhecendo Alfoso como conhecia, Christopher não podia crer que a união deles houvesse sido um sucesso ou feliz.

Contudo, ele não podia culpar Dulce por sentir-se atraída por Alfonso. Ela não tivera meios de saber o que a esperava naquela direção. Na época, ela mal saíra do colégio, ignorava asartes maritais como a maioria das jovens de sua idade e posição. Seus tios estavam encarregados de protegê-la de uma união insensata. E eles, apesar dos esforços de Christopher, haviam falhado na missão.