Fanfic: Pode beijar a noiva(adaptada) | Tema: Vondy

Além disso, condes precisavam de herdeiros. E procriar era algo em que Dulce provara ser inútil. Ela percebia que Christopher tentara fazê-la sentir-se melhor nesse aspecto, mas não adiantava. Dulce sabia que a anulação teria de acontecer. De outra forma, não seria justo com Christopher.

 – Espere – Maite disse, ainda na janela. – Aquilo não é uma entrega. É... ah, eu não sei o que é.

 – Saia da janela, amor – a tia de Dulce chamou a filha. – Você está na friagem e não vai querer apanhar outra de suas dores de garganta, para depois não poder ir ao baile.

 – Dulce – Maite falou, no mesmo lugar. – Deve ser um dos seus conhecidos. Você sempre colecionou pessoas estranhas. Esse é grande, ruivo, que usa kilt e uma longa capa preta.

 Dulce, que enfiava o vestido cinza de renda puída, parou com metade do braço para dentro e a outra metade para fora da manga.

– O quê?

 – Você conhece alguém assim? Ele acabou de descer da carruagem com uma jovem também ruiva e um menino bastante maltrapilho. Eles vão tocar a campainha.

Ao longe, a campainha tocou e a mãe de Christopher gritou:

 – Deus do céu! Dulce, eles são seus amigos? Devemos mandá-los entrar?

 – Milady não pode impedir que entrem – Maite gritou com um pouco de seu antigo humor que vigorava antes de Dulce cometer o pecado de casar-se antes dela. – Nunca vi um homem de kilt que pareça saber como usá-lo. Estou muito in-teressada em conhecer esse. – Entretanto, o kilt de lorde MacCreigh não era a razão do interesse de Maite em conhecê-lo. O fato de ele ser alto e parecer pesar quase setenta quilos era tudo o que importava para ela. Maite sabia que a idade madura de vinte e um anos não lhe permitia discriminar nenhum marido em potencial. – Deixe-o entrar, lady Denham. Isso deve ser muito divertido.

 Dulce não achou qualquer graça. Em nome de Deus, o que lorde MacCreigh fazia em Londres? Na certa viera procurar problemas. E Dulce não precisava de mais nenhum.

 A viúva, observando a expressão de angústia de Dulce, acariciou-lhe a face.

 – Ah, querida. Eu acho...

 Nesse momento, Burroughs abriu a porta e anunciou o barão de MacCreigh e a irmã, a honorável srta. Natália Bain. Maite adiantou-se e informou-o que elas adorariam receber os Bain e pediu a Burroughs que pedisse aos dois para esperar na sala de estar, para aonde as damas iriam assim que Dulce se vestisse.

 Nada mais a ser feito. Dulce não poderia recusar-se a ver os Bain, pois eles já sabiam que ela estava em casa.

 Era estranho ver seus antigos conhecidos – ousaria chamá-los de amigos? – e Dulce não estava preparada para o encontro, ainda mais quando viu, em um canto, com o boné nas mãos e uma expressão muito nervosa, John McAddams, seu melhor aluno e por quem alimentava a esperança de um dia vê-lo admitido em um colégio.

 Depois dos cumprimentos bombásticos e confusos, veio a explicação do motivo da presença do rapaz na sala de estar do conde de Denham.

 – Ordens de lorde Denham, madame – John disse, envergonhado. – Eu deveria dizer milady. Ele mandou avisar que conseguiu para mim uma entrevista em Oxford e pagou minha passagem.

 Dulce mal teve tempo de registrar aquela informação incrível antes de Natália explicar com sua voz mais suave.– E nós, é evidente, não podíamos deixar o menino viajar sozinho, por isso viemos com ele. Faz muito tempo que estivemos em Londres pela última vez. – Natália observou com os olhos azuis as paredes empapeladas com bom gosto e as cortinas pesadas de veludo. Dulce não tinha a menor dúvida que aquela era a maior sala em que Natália já estivera, embora a jovem jamais revelasse isso, como também não diria a verdadeira razão de sua visita. Dulce sabia que era Christopher quem atraíra Natália para Londres, assim como fora Dulce que arrastara lorde MacCreigh até ali.

 Ah, como os Bain eram cansativos! Dulce imaginou o que o barão empenhara para pagar a passagem deles. Sem dúvida, alguma herança familiar. E tudo com a esperança de encontrar em frangalhos o casamento dela com o conde. Assim o casal de irmãos aproveitaria para apanhar as sobras.

 Contudo os Bain não admitiriam tal esperança.

 – Viemos fazer umas compras – Natália afirmou casualmente. Dulce acreditou nisso tanto quanto acreditava em homens na lua, mas não sentia rancor de Natália. Só pensava em John McAddams e como ele viera parar em Park Lane. Christopher fizera aquilo. Christopher arranjara tudo. Ela não se lembrava de ter dito uma palavra sequer sobre o garoto. Como ele soubera?

 O mais importante era o porquê daquela atitude. Dulce sentiu um afluxo peculiar de carinho pelo marido, um homem de quem antes suspeitava ter um ábaco no lugar do coração. Nunca vira uma pessoa mudar tanto como Christopher.

 Dulce chegou a supor se era possível – até mesmo a menor das possibilidades – que ele houvesse feito isso por ela.

 Contudo seus pensamentos foram interrompidos por Natália.

– De certo também viemos ver como a vida de casada está se harmonizando com a nova lady Denham.

 Dulce ficou um tanto confusa para responder.

 – Como estou casada há menos de uma semana, não serei boa em julgar o assunto.

 – Pois eu posso lhe dizer – lady Denham afirmou, com sua habitual loquacidade e simpatia. – Os recém-casados estão caídos um pelo outro. Nunca vi duas pessoas tão apaixonadas. Lorde MacCreigh, posso oferecer-lhe um cálice de xerez?

 Geoffrey Bain, que provavelmente nunca bebera xerez na vida, parecia tão atônito quanto Dulce se sentia, mas por motivos diversos. A viúva nunca vira duas pessoas tão apaixonadas! Certamente lady Denham estava vendo apenas o que desejava ver... ou era uma tentativa de fazer que os visitantes de Dulce se sentissem à vontade. Era um sentimento compreensível, pois lorde MacCreigh e sua irmã – sem mencionar o pobre John McAddams – pareciam inteiramente deslocados.

 Christopher? Apaixonado por ela? Claro que não. Claro que não. No entanto, como explicar o caso de Fergus? E o de John? Isso sem mencionar o casamento que certamente não fora no melhor dos interesses de Christopher.

 – Você ainda pensa em uma anulação?