Fanfic: Pode beijar a noiva(adaptada) | Tema: Vondy

Dulce levantou-se, permitiu que o marido pusesse em seus ombros a peça guarnecida de peles e os dedos dele roçaram a pele nua. Seria uma expressão de amor?, ela perguntou-se. Aquilo não lhe parecia familiar. O que sentira por Alfonso não se assemelhava àquele doce tormento. Houve vezes em que ela se afastava para evitar os beijos que Alfonso raramente concedia. No momento estava certa de que andaria descalça sobre o fogo só para sentir mais uma vez os lábios de Christopher sobre os seus.

 – Adorável! – a viúva gritou, tirando Dulce de seus devaneios enquanto Christopher a conduzia escada abaixo onde sua mãe os esperava. – Minha querida, você é uma recém-casada lindíssima. Christopher não poderia ter encontrado uma esposa mais bonita em toda Londres.

 – Não – Christopher retrucou com a secura costumeira. – Tive de ir até as Hébridas para encontrá-la.

 A viúva lady Denham teve um acesso de riso e seu bom humor a fez rir de tudo e para todos. Riu para o lacaio que deu um passo em falso e quase a fez cair em uma poça enquanto a ajudava a sentar no coche puxado por quatro cavalos. Riu para a criada dos Cartwright que acidentalmente tropeçou na barra de seu vestido enquanto a ajudava a tirar o véu. Riu para Dulce que, ainda corada, não precisou ir ao reservado das damas e beliscar as bochechas para deixá-las vermelhas como faziam Maite e a honorável srta. Natália Bain que haviam chegado ao mesmo tempo. A viúva riu para o filho ao ver as jovens aparecer em meio ao aperto do salão de baile dos Cartwright e por ele não ter braços suficientes para as duas.

 Felizmente Natália Bain, em um vestido branco simples que, apesar de fora de moda, realçava seus cabelos ruivos e a excelente aparência, foi tirada para dançar quase de imediato e por ninguém menos que o estimado herdeiro do duque de Rutherford. Natália, talvez para seu próprio bem, não tinha ideia da linhagem de seu parceiro de dança. Embora mostrasse certo aborrecimento por ser afastada de Christopher tão depressa, era uma excitação para ela estar sob um teto alto e deslumbrante, sem

nenhuma goteira, um contraste com a vida no castelo MacCreigh.

 Por sua vez, assim que pisou no salão de baile, Maite Saviñon foi requisitada por Geoffrey Bain, que, apesar de observar Dulce enciumado, não era tão imprudente a ponto de perder tempo com uma mulher cuja mão e fortuna pareciam tão firmes na posse de outro, apesar de seus esforços para reverter a situação.

Dulce observava os casais girando diante dela sem vê-los. Sua mente ainda estava enevoada por tudo o que ouvira e entendera horas antes. Sentia as mãos que seguravam as suas em cumprimentos e sorria como um autômato em resposta a cada voto de felicidade. Ela não podia concentrar-se em nada além de Christopher que estava a seu lado e a quem todos também apertavam a mão. Ela imaginou o que Christopher pensava daquilo tudo. Se as afirmativas de Fergus fossem verdadeiras, Christopher deveria escutar com amargura as felicitações, pensando na anulação iminente que tornaria cáustica a alegria conjugal.

 Pior, se ele não a amava, como pareceriam ridículas todas as bênçãos calorosas!

 A despeito de Dulce não estar se divertindo e de ela achar que Christopher não estava tão à vontade como demonstrava, a viúva estava. Dulce nunca vira a mãe de Christopher com olhos mais brilhantes ou com um sorriso mais expansivo. Ela apertava as mãos dos convidados dos Cartwright, que se alinhavam em fila, e se mostrava cada vez mais efusiva nas respostas aos que lhe desejavam boa sorte.

 – Christopher não podia estar mais satisfeito – era a frase que Dulce ouvia lady Denham repetir para descrever o filho.

Ele não poderia estar mais satisfeito, Dulce imaginou, por finalmente estar casado com a mulher que amava? Ou não poderia estar mais feliz porque era a impressão que queria dar à sua mãe? Christopher estava representando muito bem o papel de recém-casado feliz, segurando Dulce pela cintura e sorrindo mais do que nunca.

 A única vez que Dulce viu o sorriso diminuir um pouco foi quando a viúva respondeu a uma pergunta sobre como acontecera o encontro do casal feliz.

 – Foi a coisa mais estranha! – a viúva proclamou. – Eu mesma tive uma grande surpresa. – Christopher foi para a Escócia buscar Alfonso e voltou com uma noiva. Certamente um fato triste, mas com um final feliz. – De repente, a viúva virou-se para Christopher e Dulce. – Meus queridos, para quando esperamos Alfonso? Roberts está providenciando isso?

 Dulce sentiu um aperto na garganta, fitou a viúva e empalideceu.

 – Mamãe – ela ouviu Christopher murmurar. – Agora não.

 A viúva, de alto astral, não parecia entender que trouxera à baila um assunto que causaria certo embaraço entre o filho e a nora.

 – Fiz que Billings seguisse adiante com a lápide. Será pequena, mas significativa.

 De repente Dulce teve a impressão de que o salão de baile se inclinava como o convés de um navio. Ela piscou imaginando como todos se mantinham eretos e só ela parecia cair.

– Mamãe – dessa vez Christopher não murmurou. – Chega.

 Lady Denham, que era só bondade, não imaginara que poderia estar causando sofrimento para alguém. Olhou para o filho e a nora e parou de sorrir.

 – Oh, querida. Sinto muito. Não podia imaginar que isso não devesse ser dito em um salão de baile. Somente me parece errado Alfonso estar tão longe. Sei que ele ficaria muito feliz em saber que vocês dois, a quem ele mais amava no mundo, encontraram a felicidade juntos. E ele gostaria de estar por perto, não é?

 Se a viúva pensava em consolar Dulce, falhara em seu empenho. De repente, não apenas o salão se inclinava, Dulce encontrava também dificuldade em respirar. Lágrimas brilharam em seus olhos, embora ela fizesse o possível para escondê-las.

 Christopher percebeu. Seria difícil não enxergar. A onda de convidados diminuíra. As pessoas tinham ido para o salão de baile ou se amontoavam ao redor das mesas de comidas e bebidas. Ele tivera apenas de abaixar o olhar, ver a face pálida e os olhos azuis com uma névoa avermelhada nada atraente, segundo Dulce pensou.

 – Dulce – Christopher abraçou-a com mais força pela cintura. Ele não podia entender. Dulce sabia o que Christopher imaginava.

 Que ela estava chorando por causa de Alfonso... que ela ainda o amava e que qualquer menção a ele ou à sua sepultura trazia tanta tristeza que a fazia chorar.

 Se ele ao menos soubesse a verdade! Uma verdade que ela não ousaria revelar a Christopher.

 – Preciso ir ao reservado das damas – Dulce expressou-se com a maior vivacidade que conseguiu reunir, com esperança de que as lágrimas não despencassem. – Meu sapato desamarrou.

 Então ela conseguiu escapar, graças a um convidado que chegava atrasado. Ele era um sócio de Christopher em negócios e apressou-se para cumprimentá-lo. Christopher distraiu-se por tempo suficiente para Dulce soltar-se de seu braço, passar pela viúva e ir para o hall, onde encontrou apenas carpetes grossos e vasos com plantas.

 Sentou-se no primeiro banco que viu, cobriu o rosto com as mãos, rezando para que o chão parasse de oscilar e que, ao afastar as mãos, estivesse de volta ao lar... em Faires, onde, é verdade, fora a mais infeliz das criaturas, mas pelo menos não teria de confessar qualquer coisa ao homem que amava.