Fanfics Brasil - O começo do fim As Novas Histórias de uma Nova Chapéu

Fanfic: As Novas Histórias de uma Nova Chapéu | Tema: Chapeuzinho Vermelho


Capítulo: O começo do fim

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Tudo o que todos desejam é a felicidade. O mocinho busca ser feliz com a mocinha, o vilão busca ser feliz na morte da mesma e o leitor deseja a felicidade através da história. E ai se inicia um grande problema, pois a felicidade é como um livro que muda de titulo de leitor para leitor. Ninguém é feliz do mesmo jeito que todos e quando as felicidades se cruzam, os conflitos urgem e se mostram necessários: eu preciso ser feliz, custe o que custar.


            Naquele ano, naquele verão e naquele lugarejo, as minhas concepções de felicidade eram extremamente simples, e eu ainda não havia percebido o quão isso era uma benção. Hoje eu percebo que a grande maioria das pessoas busca a sua felicidade ganhando muito dinheiro (ou tentando), tendo um carro do ano ou uma casa nova, e algumas meninas da minha idade até creditavam o resultado da busca de uma vida inteira a um menino especial. Eu também o fazia não que o Leodat, o meu cachorro, fosse especial da mesma forma.


            Ao meu apartamento, que ficava na Rua Vinte e Quatro, tinha um determinado ar monótono e era realmente interessante observá-la do ponto em que eu estava. O Por do Sol deixava as nuvens em um tom alaranjado que dava uma sensação de preguiça e melancolia no fim daquela tarde quente de sol. Como a minha mãe já devia estar preocupada com o iminente anoitecer, achei melhor vestir minha jaqueta e começar a pedalar de volta. Apesar de a minha cidade ser pequena, as ruas ficavam mais perigosas com o avançar da noite. 


            Minha mãe ainda estava na floricultura que ficava no terraço do nosso prédio, que era dela “depois de uma vida inteira de esforço” como a própria costumava dizer, quando queria repreender-me. Ela não era durona, mas eu sabia que a vida tinha dado golpes duros nela, então o mais natural era que ela tentasse revidar e a forma que ela achou era se tornando um pouco fria, o que não condizia com uma florista. Algumas pessoas, inclusive alguns clientes, evitavam-na pelo seu rosto amargo e suas constantes vestes pretas, mas ela era somente uma pessoa boa a quem coisas ruins tinham acontecido.


            Eu também sabia que uma dessas coisas ruins era meu pai. A memória mais antiga que eu tenho, provavelmente, é de quando eu era muito pequena e em meio a uma tempestade assustadoramente violenta eu vi-o saindo pela porta com uma mala quase aberta numa mão e a chave do carro em outra. Nem mesmo os trovões conseguiram abafar o choro convulsivo da minha mãe. Aquela foi a última vez que eu vi meu pai, não que eu desse por falta, alguém que me abandonou não merece sentimento como saudade ou qualquer outro sentimento porque deve ser esquecido.  Eu tinha uma boa relação com ela porem não conversávamos muito em função dos horários que nunca se cruzavam. Eu cuidava da floricultura na parte da noite enquanto trabalhava durante a manhã. As oportunidades de emprego na minha cidade tinham se expandido em função de uma empresa de mineração que tinha ali. Quando eu percebi os impactos ambientais que isso causava no ambiente aquático da cidade, resolvi escrever um artigo que pelo mais puro acaso acabou parando nas mãos do editor-chefe do jornal. Em menos de um mês, já estava contratada e feliz com o meu estágio. Era um ensaio geral para o que eu realmente queria fazer, não que outras áreas do conhecimento me desinteressassem, mas os livros sempre foram um subterfúgio para as vidas das quais eu sempre desejei ter, os lugares que eu sempre desejei visitar e das experiências que eu sempre ansiei em sentir.  Os livros, para mim, eram a materialização da felicidade máxima, tanto que uma pilha deles, dos quais já li todos, estavam me esperando na porta de entrada.


  - Eu já estava preocupada! – Exclamou dona Elisabeth


 - Mãe, o sol nem se pôs ainda, não estamos numa guerra.


 - Mas mesmo assim, ninguém nunca espera que vai ser vitima desses marginais, até que vai lá e acontece.


 - Tudo bem, o Leodat tá no quarto?


 - Aham, está um pouco triste, eu acho.


- Ele está doente?


 - Não sei, pode ser só uma fase.


O Leodat era o meu cachorro, e ser paciente e calmo nunca foi um dos seus melhores dons, exceto depois das refeições. Geralmente quando ele ficava cabisbaixo tinha algum motivo por trás, mas ele não apresentava nenhum sinal de nada muito grave, então deixei que ele dormisse. Peguei meu celular e vi que tinha uma chamada perdida do meu chefe. Retornei.


 - Alo?


 - Alo, quem fala?


 - Alo, aqui é o senhor Bolsone, e eu gostaria de falar com a senhorita Anabelle. Ela está?


Fiquei aliviada por finalmente saber de quem era a voz grave e impositiva com a qual estava falando.


 - É com ela que fala, senhor Bolsone – Disse eu, dando risadinhas.


 - Devo admitir que sua voz fica um pouco diferente ao telefone, Ana.


 - Digo o mesmo senhor Bolsone. A que devo a ligação?


 - Na realidade, eu gostaria de dizer que quero falar com você agora, pessoalmente, e em caráter de urgência.


 Minha voz embargou na hora.


 - Alguma coisa grave, senhor Bolsone?


 - Na realidade, para ser franco tem sim.


Apesar de obviamente não ter dito isso para ele ou qualquer outra pessoa, o hábito de começar quase toda frase com “Na realidade” era muito irritante, mas depois de algum tempo convivendo com ele, percebi que ele só fazia aquilo quando estava abatido.


 - Estarei ai em 10 minutos.


- Ótimo, quanto mais rápido melhor.


Ouvi o bip que indicava o fim da ligação.


Apesar do jeito bronco que geralmente apresentava o senhor Bolsone, ele era um homem muito afetuoso, mas que tinha intimidade com poucas pessoas e tinha um escritório separado do resto da repartição dos redatores, pois gostava de silêncio e tinha um gênio forte. A voz dele ecoava na cabeça de qualquer um, mas naquele momento eu só conseguia lembrar-me dele, a algumas semanas atrás, me dizendo que “uma noticia ruim tem que ser dada aos poucos e pessoalmente”.


            Vesti minha jaqueta e, por precaução, peguei minha pasta com os papéis do trabalho porque me parecia errado ir até a redação sem eles. Minha mãe estava sentada na sala enquanto eu passei por ela em direção a porta do apartamento.


 - Aonde você vai?


 - O senhor Bolsone me ligou. Quer que eu vá até a redação.


 - Não tem como esperar até de manhã?


 - Ele disse que é urgente.


Minha mãe olhou com olhar de reprovação.


 - Deixa que eu te levo.


 - Mas mãe, você...


 - Sem “mãe”, está frio, escuro e não vou deixar você andando por ai, vou pegar as chaves do carro.


Nunca via grandes vantagens em contrariar minha mãe, porque ambas somos muito teimosas, então uma discussão demoraria horas a fio, fora que se eu ganhasse, ela ficaria brava comigo e não valeria o esforço.


Quando ela voltou do quarto com as chaves na mão, tratou de descer as escadas rapidamente, provavelmente para não perder mais um capitulo da novela. O Mercedes Sport 75, alguns minutos depois, estava rodando para duas quadras dali, onde o prédio do jornal Frente & verso, onde eu trabalhava, estava localizado. Era uma edificação grande para os padrões rurais da cidadela onde eu morava, porem era bastante simples por dentro. O térreo era composto pelos estagiários e os entregadores, que só vinham durante a manhã para buscar o material final e distribuir para os assinantes comuns e para as bancas de jornal e estabelecimentos de pequeno porte do gênero. O segundo andar era de fato reservado parte a uma midiateca na qual nós lanchávamos nos intervalos, o mais longe possível dos cubículos com computadores, documentos importantes e projetos de projetos de colunas e ensaios jornalísticos. O último andar era reservado a gráfica de fato. Lá ficava a titânica maquina de impressão ocupando quase todo o andar. Toda documentação legal incluindo os faturamentos do jornal, por sua importância, iam para casa do Sr. Bolsone.


Justamente pelo fato de o meu estágio ter sido concedido diretamente pelo chefe do jornal, eu tinha um cubículo no segundo andar, o que fazia com que todos, no mínimo, me olhassem com cara feia ou ignorassem a minha presença. Segundo ouvi dizer “se acha boa demais para ser uma estagiaria” e claramente não boa o suficiente para ser efetiva.


O Frente & Verso era um jornal de esquerda que prosperou na capital quando a ditadura fechou todos os meios de comunicação e o povo precisou de uma voz. O funcionamento do jornal era secreto, o nome dos colunistas nunca era revelado e qualquer anunciante de esquerda publicava nele como uma forma tímida de protesto, o que dava crédito para que ele funcionasse. O governo da época só finalmente desfez o esquema quando foi feito um cadastro dos assinantes e muitos foram exemplarmente punidos, o que fez com que as pessoas voltassem ao jornal de direita de sempre. Nessa época a ditadura já estava no fim e o dono dele já estava tão rico que saiu do país para não sofrer repressão. Pouco tempo depois o jornal voltou com uma das maiores tiragens do país. Esse “boom” fez com que cidades menores acabassem tendo uma das filiais, o que foi o caso da minha.


Quando eu saí do carro, outra coisa me chamou atenção alem do obvio frio invernal para o qual o meu casaco fino de algodão não tinha sido feito. Tinha uma espécie maldita de gangue do outro lado da estrada caracterizada pelos urros e risadas em tons exageradamente altos, o cheiro de bebida que conseguia passear a metros da boca de seus remetentes mandavam o recado-base “somos perigosos, inconseqüentes e bêbados, saia daqui”. Dei uma olhadela para minha mãe e vi que ela tinha recostado a cabeça no banco traseiro, improvisando uma cama prevendo minha demora.


Abri a porta e subi a escada rapidamente, já que queria que a minha passagem fosse rápida. No segundo andar, um faxineiro que eu nunca tinha visto encerava o chão. Encaminhei-me diretamente para a sala do SR. Bolsone sem rodeios. De tão compenetrada a leitura na qual estava embebido, ele só percebeu minha presença quando o sino da porta tocou anunciando a minha entrada. 


 - Ana! Pensei que acabaria não vindo.


 - O senhor me disse uma vez, longinquamente, que caráter de emergência pede medidas drásticas, não é?


 - Não me lembro de ter dito isso, mas é do meu feitio, pois reflete o que eu penso.   


 - Então me diga, o que fez com que o senhor me chamasse aqui e agora?  


Respirou de forma pesarosa.


 - Bom, Ana, nós sabemos que durante o seu estágio aqui, você escreveu matérias de destaque mesmo entre os funcionários efetivos e busca suas próprias pautas, o que é admirável.


 A duvida era mais que incômoda, era corrosiva. Analisando melhor a expressão do homenzarrão na minha frente, vi que ele estava preocupado e um pouco triste. Leve taquicardia, suor excessivo nas mãos, estar mexendo excessivamente no zíper da minha jaqueta, todos esses sinais não davam margem de dúvida: eu estava nervosa.


- Senhor Bolsone, eu realmente odeio parecer mal educada, mas agradeceria se o senhor fosse direto ao ponto.


            Ele demonstrou espanto pela minha impaciência.


- Tudo bem, vamos lá.


Respirei fundo.


 - Como você sabe, a matriz do jornal fica na capital, e também sabe que a tiragem local não anda muito bem.


Era verdade. As pessoas daquele lugar subdesenvolvido acreditavam que informação era desnecessária e assinavam o jornal por puro costume ou porque gostavam da parte humorística do jornal, que retratava os políticos locais de uma forma não muito honrosa.


- Na realidade, eu também tenho chefes. Foram eles que fizeram uma remodelagem nos padrões do jornal e no quadro de funcionários também.


Engoli em seco.


 - E o que isso significa?


 - Na remodelagem original, você não mais fazia parte dele. Você seria demitida.


Só depois de segundos mórbidos que eu percebi o uso do futuro do pretérito.


 - Eu conversei com os meus chefes e pedi para restituírem você. 


 - E qual foi o resultado? – perguntei com um esboço de sorriso.


 - Você continua não trabalhando mais aqui.


Por um segundo eu senti um frio terrível. Aquele emprego era importante para mim, era horrível perde-lo. Era como eu ficasse momentaneamente sem rumo.


- Meus chefes são benevolentes, no entanto. Eles disseram que se você quiser um emprego na matriz, ele é seu.


- Mas...


- Eu sei, mas eles leram um artigo seu, gostaram do jeito reflexivo que você aborda os problemas políticos, das criticas subliminares. Talvez queiram uma colunista que não grite suas idéias como fazem os demais. A questão é que se você quiser, é oficialmente uma roteirista da matriz do Frente & Verso.


Eu ainda não tinha tido tempo para absolver a situação, entender o problema.


- E então, você aceita?


 


 


 


     

 

 


 


             



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Autor(a): Escritor Secreto

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