Fanfic: Meu mal necessário | Tema: Bruxo, Romance, Bissexual, Assassino, Investigação, Mistério
"Dizem que quando você está morrendo, as piores lembranças da sua vida passam pelos seus olhos, e eu bem posso imaginar o tão horrível isso pode ser, mas há também uma situação que pode ser tão pior quanto. A de ver quem você ama morrer bem diante dos seus olhos e não poder fazer nada, enquanto todos os momentos felizes que vocês tiveram passam por seus olhos, indo embora, junto com aquela pessoa.
Era noite, eu sabia que aquilo era um sonho, já tinha revivido aquilo incontáveis vezes, e eu juro que mil noites no inferno pareciam um convite pro baile de formatura em vista de reviver aquela maldita noite outra vez na minha mente. Mas era tudo tão vivido, a dor, o calor da enorme fogueira, a sensação de morte em volta de todos nós...
--- Pai!?--- Meu grito cortou aquele pequeno fundo de pasto que era da nossa fazenda. Meu rosto era uma confusão de cortes e hematomas, sem contar as lágrimas que já escorriam há horas. Três homens tipicamente fortes me seguravam e por mais que eu lutasse eu não conseguia me libertar.
Em volta de nós, havia uma enorme plantação de ARYO SHIRIMY - uma planta branca de polpa laranja- que eu sempre gostei desde criança, até entender o mal que elas me causavam, o mal que elas faziam com pessoas como eu, e eu juro que eu nunca as odiei tanto quanto aquela noite, pois eu não pude fazer nada para salvar ELE...
Ouvi passos atrás de mim e vi meu pai surgir praticamente do nada, arrastando um daqueles garfos enormes que se usa para manusear o feno, e tudo o que eu consegui dizer foi um "Não" em forma de murmúrio. Eu tinha escondido aquela maldita merda, não tinha como ele ter achado... Mas infelizmente os fatos esmagavam os meus desejos.
Eu sabia que não adiantaria de nada, mas tudo o que eu podia fazer era gritar, e foi o que eu fiz, e eu posso dizer que, de um jeito um tanto desesperado.
--- Pai!? Não !!!--- As lágrimas escorriam enquanto eu me debatia contra aqueles caras, e foi aí que eu reuni coragem para olhar novamente aquele corpo todo surrado e tão intoxicado pela flor que nem conseguia levantar, haviam dado a ele uma dose letal.
Meu pai se aproximou dele, e mesmo àquela distância, eu pude ver como aquilo o corroía por dentro, tanto quanto eu, mas eu sabia que isso não seria o suficiente para fazer com que ele parasse com tudo aquilo.
--- Malakai, você assassinou dezoito pessoas, entre elas o meu filho, por isso eu --- eu não aguentei ouvir aquela coisa toda, ele estava mentindo, e descaradamente. Meu irmão estava vivo, e pior do que participar daquela grande loucura, era saber que estava acontecendo e não estar nem um pouco preocupado. Malakai além de tudo, era nosso primo.
--- Pai! Não faça isso, por favor. Não importa o que você pensa, precisa fazer o que é certo! Kai!!!--- Eu berrei incontrolavelmente até um daqueles três me jogar no chão e enfiar um punhado daquelas malditas flores garganta à dentro. Senti a vertigem me dominar e eles já não se importavam mais em me segurar.
Meu pai olhou para mim como se para checar se o que tinham me dado não era tão forte ao ponto de me matar, e eu ouvi a voz dele. E foi como se eu soubesse que o mundo estava no fim, que nada mais valia a pena depois daqueles dolorosos minutos.
--- Ele vai odiar você --- houve um pouco de tosse, e eu percebi a dor que ele sentia até mesmo por simplesmente respirar --- e eu espero, que por toda a vida.
Eu nunca ouvi ele falando com tanto ódio, mas o que ele disse não era mentira, por que para mim, o meu pai iria morrer junto com ele naquela noite.
--- Eu estou contando com isso ! --- Eu já estava tão drogado àquela altura, que eu esperava pelo menos não sentir nada, mas a dor que eu senti, eu tinha certeza que jamais iria embora.
O garfo desceu no ar, em um arco perfeito, e a última memória que eu tenho do meu namorado, é a dele arquejando, enquanto sangue preenchia suas vias respiratórias e o sufocava abrindo três buracos abertos no seu peito. "
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Theo apertou ainda mais as pernas contra o peito e mordeu de leve o joelho direito.
Estava sentando dessa forma por duas horas, e de longe, não era a posição mais confortável para ficar, ainda mais quando se tinha um divã para se esticar as pernas e relaxar, o que afinal, era o intuito daquela sessão, mas ele nunca conseguia falar sobre aquilo sem ficar tenso. Malakai nunca iria desaparecer de sua mente.
--- Você havia parado de falar sobre isso há dois meses, não tocou mais nesse assunto, e eu achei que havíamos feito progresso quanto a isso. --- A Dra. Julie retirou os óculos e cruzou as pernas, como forma de ganhar tempo e organizar como iria falar aquilo.
--- Hoje, é o aniversário dele. --- Murmurou Theo, suspirando e descendo as pernas para o chão. --- Sinceramente Theo, já estamos nisso por quase dois anos e você ainda se recusa a mudar o que houve naquela noite. Seu pai é uma figura pública, um pastor conhecido por todos da cidade, não pode simplesmente esperar que um homem daqueles é capaz de assinar seu próprio sobrinho. E além disso, há o fato de sempre mencionar essa questão de ser um bruxo. Acho que chegou a hora de realmente falar o porque matou seu primo.
--- Calada --- murmurou Theo ; já fazia alguns meses que ninguém o afrontava daquele jeito em relação ao ocorrido naquela noite.
--- Malakai está morto Theo, e sinto muito dizer, que tudo indica que foi você. --- A Dra. Julie não se precipitou no que disse e manteve o mesmo tom de voz calmo e controlado.
--- Cale essa maldita boca ! --- Theo não tinha a intenção, mas quando viu já estava em pé, gritando e apontando o dedo na cara da doutora e uma quantidade considerável de sangue saiu do nariz dela, e ele se conteve. Por mais que estivesse banido e sendo punido sem a magia, sempre sentia mais para o final do mês, a força dentro de sim se restaurando, isso indicava que não iria demorar para ver o irmão novamente. Viria trazer uma poção feita com ARYO SHIRIMY. Essa era a punição, viver isolado e sem magia, afinal até mesmo os mais velhos dentre os três clãs da cidade achavam no culpado. Para eles, e para sua própria família, ele havia feito o que era de mais terrível para um bruxo. Matar alguém do seu próprio Coven.
A Dra. Julie limpou o sangue com lenço umedecido e olhou espantada, deu para perceber o que toda a situação aparentava ser em sua cabeça, e ela relutante arrastava aquela história digna de Harry Potter para o fundo da mente, e se concentrar no que estava em sua frente. Theo era apenas um menino um pouco magrelo, de cabelos castanhos claros, tanto quanto bagunçados em cachos até bonitos, mesmo estando descuidados. E seus olhos pretos capaz de refletir até as mais obscuras coisas. É evidente que sofria de algum distúrbio de leve a moderado que só precisa de um tratamento adequado, mas no mais, era apenas isso. Alguém que precisava de ajuda.
--- Estou um pouco cansada , acho que pelo calor acabei estourando uma veia do meu nariz. Você pode ir --- ela disse, se levantando e indo arrumar algo atrás de sua mesa de madeira maciça.
Theo suspirou fundo e se encaminhou para a porta, mas antes que pudesse sair daquele maldito consultório que lhe causava até mesmo náusea, ouviu as palavras que mudariam tudo a partir daquele ponto.
--- Theo, eu disse aquilo para confrontá-lo , eu não acho que tenha matado o Malakai, para mim é evidente que você o amava, mas não resta dúvidas que você estava envolvido com quem o fez, e não vou descansar até achar quem foi.
--- Você está errada, eu não o AMAVA. --- Ele a fuzilou com o olhar e fechou a porta atrás de si. Saiu para os corredores daquela enorme academia e se permitiu ouvir a própria voz,confirmando algo que provavelmente nunca mudaria, não se importando quem pudesse ouvi-lo.
--- Eu ainda o amo.
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Autor(a): marusi96
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