Fanfic: Um Lindo Homem (vondy)

Seus ouvidos desligaram qualquer som da cidade e seu coração voltou a habitar sua audição...Aquele barulho grave e pesado, aquele ritmo regular que lhe atingia a mente de uma forma extraordinária.Dirigiu sem rumo por mais de 2 horas, dirigiu com aquele som em seu interior, com aquelas pessoas em câmera lenta passando em sua frente repletas de vida e de “Qualidade de Vida”

O homem com o cachorro em sua caminhada.

A velhinha com o menino que naturalmente seria seu neto.

A menina com seu grupo de amigas...

O homem com a mulher, o namorado com a namorada, o marido com a esposa que seria insuportavelmente amada pelo jeito carinhoso e único que ele a mirava e se preocupava em a proteger dos carros enquanto atravessavam a avenida.

Seus olhos passaram por cada cena novamente e sua cabeça se virou para acompanhar o abraço apertado que o “marido e a esposa insuportavelmente amada” davam no meio da calçada mais movimentada da cidade. Ela sorria, sorria com alegria, carinho e saúde...Sorria com a vida e o amor a trasbordar de seus olhos, sorria porque se sentia amada por aquele homem que agora lhe beijava os olhos, ajoelhava-se na calçada e beijava seu ventre em um lugar público e lotado de diversas pessoas...

A mulher riu o alisando nos cabelos e Dulce, pode ver perfeitamente que os lábios dela diziam que o amava. E ele...ele dizia o mesmo, beijando mais uma vez o ventre que na certa esperava o segundo ou o primeiro filho do casal.

O barulho de buzina despertou Dulce deixando que um palavrão dos feios escapasse de seus lábios, bateu com força no volante e meteu o pé no acelerador.

Dul – Não se pode nem viajar nessa porcaria de cidade? INFERNO! Está com pressa passa por cima idiota, mata logo, uns meses a mais outros a menos não faz a porcaria de nenhuma merda de diferença! IMBECIL, FILHO DE UMA...- socou novamente o volante, e outra vez, e mais uma vez até que seu punho não tivesse mais força, até que seus cabelos estivessem jogados contra o rosto e sua respiração se encontrasse tão ofegante que se ousasse cometer a merda do deslize de chorar, morreria sufocada.

Ótimo! Atropelada, sufocada...a lista estava crescendo.

Um soluço escapou de sua garganta e em uma rua menos movimentada estacionou o carro, abrindo os vidros com pressa, implorando para que o ar voltasse a percorrer seus pulmões.

Apoiou a cabeça contra o volante e começou uma guerra violenta contra as lágrimas, jurando vencer como vencia uma batalha contra o concorrente, como vencia uma batalha contra uma merda de um espião na empresa, como vencia uma batalha financeira ou uma secretária desatenciosa, ou como vencia...

Santo Deus, concorrente? Espião? Finanças, secretárias?

Ela estava falando sobre uma vida, sobre a sua maldita e rica vida!

Deu outro soco no volante e abriu a porta, deixando o carro...

Pela primeira vez não se importou em pegar a bolsa Prada que estava jogada no banco do acompanhante com sua carteira e documentos, não se importou em colocar o óculos, em fechar o carro, em ativar o alarme.

Estranhamente deixou tudo ali, inclusive a porta da Ferrari completamente aberta.

Na calçada se desequilibrou sobre os saltos em uma atitude impensada arrancou os mesmos dos pés o jogando em um canto qualquer, começou a caminhar.

O colar de pérolas começou a lhe sufocar e o arrancou do pescoço sem nenhum cuidado e a fina corrente que segurava, juntando as pérolas se rompeu, fazendo com que aquelas dezenas de bolinhas caíssem livres do pescoço de Dulce até o mesmo chão da calçada.Colocou a mão sobre os olhos não se importando se com aquele gesto iria borrar a maquiagem perfeitamente produzida para uma manha de serviço.E seu coração continuava ali, batendo, com aquele som agora sufocante a lhe causar arrepios no corpo inteiro.

Os brincos de pérolas pareceu lhe queimar as orelhas, os arrancou e novamente deixou que os mesmos se perdessem na calçada...Olhou para trás, observando seu carro lá abandonado e aberto, o rastro de seus sapatos e suas pérolas deixados ao chão...

Para quem visse era cômico, para ela era cômico estar fazendo aquele tipo de cena.