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Capítulo: 13? Capítulo

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Capítulo 12



  Christopher estudava as manchas escuras no piso da garagem com uma espécie de fascinação perversa. Tirar o fluido dos freios e provocar um acidente de carro era um artifício nada original, algo que se espera que aconteça, de tempos em tempos, em um programa de aventura e ação respeitado. Parece que te­lespectadores e leitores desenvolveram certo gosto por histórias velhas e confiáveis, tanto quanto apreciavam argumentos novos e originais. Se bem que era diferente quando isso se tornava pes­soal. O carro descendo em disparada, e sem controle, a íngreme estrada era algo tão velho quanto um Ford bigode.


Ele próprio usara essa história, assim como usara o caso do presente anônimo. E também o artifício do telegrama com uma mensagem falsa, pensou Christopher, com uma idéia surgindo. Na temporada passada de Logan`s, uma das heroínas da semana fora trancada em um porão — abandonada no escuro depois de verificar uma janela que batia por causa do vento. Era clássico demais! Todos os truques usados contra ele e Dulce foram roubados de uma das histórias criadas por ele. Herrera lhe falara isso, ainda que brincando. Não parecia muito engraçado.


Christopher se amaldiçoou, sabendo que deveria ter percebido esse padrão antes. Talvez ele não tivesse prestado atenção antes justamente porque era um modelo simples demais, trivial demais para os padrões de Hollywood. Acidental ou planejado, o fato é que Christopher decidiu que não queria cair nessa história. Da pró­xima vez, ele agiria usando uma página de um romance policial clássico. Caminhando até a casa, pegou o telefone e começou a estruturar seu roteiro.


Ele acabara de dar o último telefonema quando Dulce o chamou do quarto.


— Christopher, você tem que fazer alguma coisa com Glaucia.
Ele se apoiou no corrimão, olhando para Dulce. Ela parecia maravilhosa — descansada, saudável e irritada.


— Não é hora do seu cochilo da tarde?


 — É exatamente disso que estou falando. — A testa dela se enrugou ainda mais, o que o deixou feliz. — Eu não preciso de uma soneca à tarde. Já faz quase uma semana que aconteceu o acidente. — Dulce puxou uma tira de couro do cabelo e começou a passar os dedos nele. — Eu fui ao médico e ele disse que estou bem.


 — Eu achei que ele disse algo como "Você é uma cabeça-dura".


Dulce estreitou os olhos.


 — Ele estava bravo porque eu me curei perfeitamente sem a ajuda dele. O fato é que estou curada, mas Glaucia continua resmungando e insistindo que vou ter um colapso. — Isso soou como uma declaração quando Dulce ficou em pé diante dele, o nariz empinado, parecendo que jamais ficara doente por um só dia na vida.


 — O que você gostaria que eu fizesse?


 — Ela vai ouvir você. Por alguma razão, ela acha que você é infalível. O senhor Uckermann isto, o senhor Uckermann aquilo. — Ela batia com a tira de couro na palma da mão. — Tudo o que ouvi na última semana foi que você é charmoso, lindo e forte. Foi um milagre eu ter me recuperado.


Christopher torceu a boca, mas entendeu que os elogios de Glaucia não arruinariam o progresso que ele alcançara.


— A mulher sabe ver as coisas. Mas... — Ele impediu que
Dulce retrucasse levantando a mão. — Como eu nunca recuso
um pedido seu... — quando Dulce bufou, Christopher a ignorou e como ela está me deixando louco querendo cuidar do meu pulso, vou dar um jeito nisso. Dulce tombou a cabeça. — Como?


— Glaucia vai ficar ocupada demais nos próximos dias para
nos importunar. Ela vai ter que se preocupar com um jantar.


— Que jantar?


— O jantar que ofereceremos na próxima semana para todos
os nossos familiares.


Ela olhou para o telefone, lembrando-se de que Christopher o estava usando enquanto ela descia.


 — O que você estava fazendo?


 — Só montando uma cena, prima. — Ele deu meia-volta, já imaginando. — Acho que vou pedir para Glaucia usar a melhor porcelana, ainda que eu duvide que tenhamos tempo de usá-la.


— Christopher! — Dulce não queria parecer covarde, mas
o acidente lhe ensinara algo sobre ter cuidado e se preservar.
— Não estaremos apenas convidando parentes. Um deles tentou nos matar.


— E falhou. — Christopher levantou o queixo dela com as mãos. — Você não acha que ele vai tentar novamente, Dulce? De novo e de novo? A polícia não pode vigiar a mansão para sempre. E — acrescentou, prendendo-a mais forte com as mãos — eu não quero que o passado seja esquecido. — Christopher olhou para a cicatriz na testa dela, coberta pelos cabelos. O médico disse que desapareceria, mas a memória de Christopher jamais esqueceria aquilo. — Nós vamos resolver isso, do meu modo.


— Eu não gosto disso.


— Dulce. — Christopher deu um sorriso encantador, e beliscou-
lhe a face. — Confie em mim.


O fato de ela confiar só a deixava ainda mais nervosa. Suspi­rando, Dulce pegou na mão dele.


— Vamos dizer a Glaucia para ela matar o bezerro mais
gordo.


 


Assim que o primeiro carro chegou, Dulce teve a certeza de que mais ninguém viria. Ela sentou-se para discutir o plano de Christopher, brigou, discordou, admirou-se e, por fim, desistiu. Tudo era teatro, concluiu. Mas havia algo de Martim nela que fazia com que Dulce ansiasse por um show, especialmente quando ela era uma das protagonistas. E, nessa ocasião, Dulce seria, como se dizia no meio artístico, a parceira fria e calculista.


Para o papel que lhe cabia, ela vestiu um elegante vestido preto, com os ombros à mostra. Por instinto, acrescentou um colar de prata reluzente que fizera num arroubo de vaidade. Brincos que combinavam com o colar pendiam até quase a altura do queixo. Se Christopher queria drama, quem era ela para dizer não? Até a noite do jantar, Dulce ficou cada vez mais determinada.


Ao vê-la no alto da escada, Christopher ficou sem saber o que dizer. Ele já estava mesmo convencido, durante todos aqueles anos, que Dulce era mesmo bonita. Naquele momento, enfeitiçada, arrogante e autoconfiante, Dulce transformara todas as outras mulheres com as quais Christopher estivera numa sombra. Se lhe dissesse isso, ela não acreditaria. Por isso Christopher apenas concordou com um movimento de cabeça e se virou.


— Perfeito — declarou a Dulce enquanto ela descia as escadas. Na base, de terno preto, Christopher parecia invencível e corajoso. — A heroína sofisticada. — Ele pegou sua mão. — Linda e sexy Hitchcock teria transformado você numa estrela.


— Não se esqueça do que aconteceu com Janet Leigh. Ele riu e mexeu em um dos brincos de Dulce.


 — Nervosa?


— Não tanto quanto achei que ficaria. Se isso não der
certo...


 — Não estaremos em pior situação do que agora. Você sabe o que fazer.


 — Nós ensaiamos isso meia dúzia de vezes. Eu ainda tenho os arranhões.


Christopher se inclinou para beijar os ombros nus de Dulce.


— Eu sempre pensei que você era imbecil. Quando isso tudo acabar, teremos nossa própria cena final para encenar. Não, não fuja — ele pediu quando Dulce tentou. — É tarde demais para fugir. — Eles se aproximaram, suas bocas quase encostando uma
na outra. — Já faz muito tempo.


O nervosismo que Dulce conseguiu dominar voltou a se agitar dentro dela, mas não tinha nada a ver com a história e o plano.


— Você está sendo dramático.


Concordando, Christopher mergulhou os dedos nos cabelos dela.


 — O meu senso de drama, sua praticidade. Uma combinação interessante.


 — Uma combinação difícil.


 — Como se a vida fosse fácil demais — disse Christopher. — Pare­ce que nosso primeiro convidado chegou — murmurou, ao ouvir o barulho de um carro. Ele a beijou apressadamente. — Quebre a perna.


Dulce franziu a testa para as costas dele.


— É disso que eu tenho medo.


Em meia hora, todos que estiveram presentes na leitura do testamento, exceto Franco, estavam reunidos mais uma vez na biblioteca. Nenhum deles parecia tão relaxado quanto há quase seis meses. Martim olhava para eles do retrato na parede. De vez em quando, Dulce olhava para o quadro do tio, quase esperando que ele piscasse para ela. Para dar a todos o que eles tinha ido buscar, Dulce e Christopher continuaram brigando sobre qualquer assunto que surgisse. Era hora de o jogo começar, ela decidiu.


Bustamante estava de pé, ao lado da mulher, próximo à estante de livros. Ele parecia de mau humor e impaciente, e não foi re­ceptivo quando Dulce o abordou.


 — Tio Bustamante, estou tão feliz por você ter vindo. Nós não nos vemos muito.


 — Não me venha com esta. — Ele remexeu seu uísque, mas não o bebeu. — Se você acha que pode me convencer a desistir de invalidar esse testamento absurdo, está enganada.


 — Eu não imaginaria isso. Até porque Franco me disse que você não tem nenhuma chance. — Ela sorriu, linda. — Mas eu tenho de concordar que o testamento é absurdo, especialmente depois de ser obrigada a conviver na mesma casa com Christopher todos estes meses. — Dulce passou os dedos por um dos longos e achatados pingentes do seu colar. — Vou lhe dizer, tio Bustamante, que houve momentos em que pensei mesmo em desistir. Ele fez de tudo para tornar esses seis meses insuportáveis. Uma vez fingiu que a mãe estava doente e teve de ir para a Califórnia. Em seguida, fiquei presa no porão. Coisa de criança — murmurou, olhando para Christopher com desgosto. Fora do seu raio de visão, Bustamante deu um gole nervoso e rápido no uísque. — Bem, a pena está para acabar. — Dulce voltou-se para ele, com um sorriso renovado. — Eu estou feliz por podermos ter esta pequena cele­bração. Christopher, finalmente, vai abrir a garrafa de champanhe que está guardada desde o Natal.


Dulce viu a mulher de Bustamante deixar cair o copo no tapete turco.


 — Puxa! — disse Dulce, gentilmente. — Vamos ter que pegar alguma coisa para limpar isso. Quer que eu pegue outra bebida?


 — Não, ela está bem. — Bustamante olhou para sua esposa por cima do ombro. — Com licença.


Enquanto eles se afastavam, Dulce sentiu um leve tremor de entusiasmo. Então, foi Bustamante.


— Eu parei de fumar há quase seis meses — disse Christopher a Xavier e sua esposa, recebendo por isso uma saudável aprovação.


— Você jamais se arrependerá — disse Xavier a seu modo, lento e deliberado. — Você é responsável pelo seu próprio corpo.


 — Eu tenho pensado muito nisso ultimamente — disse Christopher, seco. — Mas morar com Dulce nos últimos meses não foi nada fácil. Ela transformou o inverno numa tortura. Até fez com que alguém me mandasse um telegrama falso para que eu fosse até a Califórnia, sob a alegação de que minha mãe estava doente. — Christopher olhou para trás e fez uma cara feia para as costas de Dulce.


 — Se você conseguiu passar seis meses sem fumar... — disse Raquel, voltando a falar sobre a saúde de Christopher.


 — É um milagre ter vivido com aquela mulher. Mas está quase terminando. — Ele riu para Xavier. — Vamos tomar champanhe em vez de suco de cenoura no jantar. Estou guardando esta gar­rafa desde o Natal, apenas esperando pela ocasião certa.


Christopher viu que os dedos de Xavier se afrouxaram ao redor da taça de água Perrier e que Raquel perdeu a cor.


 — Nós não... — Xavier olhou para Raquel, sem saber o que fazer. — Nós não bebemos álcool.


 — Champanhe não é bebida alcoólica — disse Christopher, ale­gremente. — É uma celebração. Com licença. — Ele andou até o bar para se servir de mais bebida e esperar que Dulce se juntasse a ele. — É o Xavier.


 — Não. — Ela acrescentou um pouco de vermute em seu copo. — É o Bustamante. — Seguindo o roteiro, Dulce olhou para Christopher. — Você é um chato infeliz, Christopher. Conviver com você não vale nenhum dinheiro.


 — Esnobe intelectualóide. — Christopher brindou com ela. — Es­tou contando os dias.


Girando sobre os calcanhares, Dulce foi até Angelique.


 — Não sei como consegui suportar aquele homem. Angelique se maquiara usando um lindo pó prateado.


 — Eu sempre o achei lindinho.


— Você não morou com ele. Nós estávamos convivendo por apenas uma semana quando ele invadiu minha oficina e quebrou tudo. E, então, tentou fingir que tudo tinha sido obra de um vagabundo.


Angelique franziu a testa e retocou, com um pouco de pó, o nariz.


— Para mim não parece algo que ele faria. Eu disse... — Ela se interrompeu e olhou para Dulce com um sorriso vago. — Que brincos lindos!


Christopher se pôs a escutar a opinião sucinta de Fagundes sobre o mercado de ações. Assim que encontrou uma brecha, ele en­trou.


 — Quando tudo estiver acabado, vou procurar seus conselhos. Estive pensando em me tornar mais envolvido com uma das indústrias de produtos químicos de Martim. Há muito dinheiro investido em fertilizantes... e pesticidas. — Christopher viu que Ninel agitava as mãos, incapaz de se controlar diante do olhar de Fagundes.


 — Programas de computadores — disse Fagundes, apressada­mente.


Christopher apenas sorriu.


— Vou pensar nisso.


Dulce tentou sem sucesso tirar alguma coisa de Angelique. Aquela conversa de cinco minutos a deixou cheia de suspeitas, confusa e com um princípio de enxaqueca. Ela achou melhor tentar a sorte com Guillermo.


— Você está bonito. — Dulce sorriu para ele e cumprimentou, com a cabeça, sua esposa.


— Você parece um pouco pálida, prima.


— Os últimos seis meses não foram nenhum piquenique. — Ela olhou para Christopher. — Claro que você sempre o odiou.


— Claro — disse Guillermo, amável.


— Anda tenho de descobriu o que tio Martim viu nele. Além de chato, Christopher tem certa predileção por brincadeiras de mau gosto. Ele se divertiu para valer me trancando no porão.


Guillermo sorriu para o copo.


— Ele nunca teve sua classe.


Dulce mordeu a língua, e então concordou.


— Sabe, ele até me ligou uma noite, disfarçando a voz. Tentou me assustar dizendo que alguém estava tentando me matar.


Guillermo franziu a testa, encarando Dulce nos olhos.


 — Estranho.


 — Bem, agora está quase terminado. Aliás, você gostou do champanhe que lhe  enviei?


Os dedos de Guillermo se congelaram ao redor do copo.


 — Champanhe?


 — Logo depois do Natal.


 — Ah, sim. — Ele ergueu o copo novamente, olhando para Dulce cuidadosamente, enquanto bebia. — Então foi você.


— Eu tive a idéia quando alguém mandou para Christopher uma garrafa como presente de Natal. Ele prometeu finalmente abri-la hoje à noite. Com licença, preciso verificar o jantar.


Seus olhos se encontraram com os de Christopher rapidamente enquanto ela saía da sala. A cena estava montada, pensou. Ago­ra Dulce precisava dar prosseguimento à ação. Na cozinha, Glaucia estava terminando de preparar a refeição.


— Se eles estiverem com fome — disse Glaucia — , terão de esperar só dez minutos.


— Glaucia, é hora de desligar a chave geral da casa.


A cozinheira foi instruída para, quando Dulce desse um sinal, descer até o porão e desligar a energia na mansão. Então, esperar exatamente um minuto e ligá-la novamente. Glaucia estava cética quanto ao plano de Christopher e Dulce, mas final­mente concordou em participar. Limpando as mãos no avental, ela se dirigiu à porta do porão. Dulce respirou fundo e voltou à biblioteca.


Christopher já estava posicionado próximo à mesa. Quando Dulce entrou, ele fez um sinal imperceptível com a cabeça.


 — O jantar estará pronto em dez minutos — ela anunciou radiante, depois de atravessar a biblioteca.


 — Isso nos dá tempo suficiente.


Christopher assumiu o palco e não conseguiu resistir a usar uma fala já consumada. Ele não precisou olhar para Dulce para saber que ela estava no lugar marcado.


— Todos vocês devem estar se perguntando por que nós os convidamos. — Ele ergueu a taça e estudou as expressões, uma a uma. — Um de vocês é um assassino.


Diante desta deixa, as luzes se apagaram e o pandemônio tomou conta da biblioteca. Taças se quebravam, mulheres grita­vam e até uma mesa foi virada. Quando as luzes se acenderam novamente, todos ficaram paralisados. Deitada sob a mesa, de bruços, estava Dulce. Ao lado dela estava um abridor de cartas com cabo decorado e sangue na lâmina. Imediatamente Christopher se pôs ao lado dela, erguendo-a nos braços antes que qualquer um tivesse oportunidade de reagir. Em silêncio, ele a carregou para fora da biblioteca. Vários minutos se passaram antes que Christopher voltasse, sozinho. Ele olhou, com fúria, para todos os rostos na sala.


— Um assassino — repetiu. — Ela está morta.


— Como assim, ela está morta? — perguntou Bustamante, dando um passo à frente. —  Que tipo de jogo é este? Vamos vê-la.


— Ninguém vai tocar nela. — Christopher bloqueou o caminho.


— Ninguém toca em nada nem sai desta biblioteca até que a polícia chegue.


— Polícia? — Pálido e trêmulo, Bustamante olhou em volta.


— Não queremos isso. Vamos ter que cuidar disso nós mesmos.
Ela só desmaiou.


— Tem sangue dela por todo lado — disse Christopher, apontando para o abridor de cartas sujo de sangue.


— Não! — Raquel forçou a passagem pela multidão que estava ao redor da mesa. — Não era para ninguém sair ferido. Só assustado. Não era para ser assim, Xavier. — Ela procurou pelo marido, e então escondeu o rosto no peito dele.


 — Nós só iríamos pregar algumas peças — ele murmurou.


 — Homicídio doloso não é uma piada.


 — Nós nunca... — Xavier olhava para Christopher, chocado. — Não em homicídio — conseguiu dizer, abraçando Raquel tão forte quanto ela o abraçava.


 — Você também não quis beber o champanhe, não é, Xavier?


 — Foi neste momento que eu quis parar. — Ainda soluçando, Raquel se virou nos braços do marido. — Eu até liguei para ela e tentei alertá-la. Eu achei que tudo isso era errado, só uma piada perversa, mas nós precisávamos do dinheiro. A academia de gi­nástica consumiu todas as nossas economias. Nós achamos que se conseguíssemos deixar vocês dois com raiva um do outro, vocês não cumpririam as exigências do testamento. Mas isso é tudo. Xavier e eu ficamos na cabana, esperando. Ele foi até a oficina de Dulce e virou tudo de pernas para o ar. Se ela pensasse que você tinha feito aquilo...


 — Eu nunca achei que ela pensaria — soltou Angelique. Duas lágrimas rolaram pelo rosto dela. — Mesmo, tudo parecia ingê­nuo e... excitante.


Christopher olhou para sua linda e chorona prima.


 — Então você fazia parte disso.


 — Bem, na verdade eu não fiz nada. Mas quando tia Ninel me explicou...


 — Ninel? — Havia modelos e modelos. Um novo tipo emergira.


— Fagundes merece a parte dele. — A velha mulher estalou os dedos e olhou para todos os cantos da biblioteca, menos para o abridor de cartas sujo de sangue. Ela pensava que tinha feito a coisa certa. Tudo parecia bem simples. — Nós achamos que podíamos fazer com que um de vocês deixasse a casa. Então tudo sairia como o esperado.


— Telegrama— disse Fagundes, soltando uma baforada de charu­to. — Não assassinato. — Ele se virou para Bustamante. — Idéia sua.


— Isso é absurdo. — Bustamante limpava a testa com um lenço branco de seda. — Os advogados são uns incompetentes. Eles não conseguiram nada. Eu estava apenas protegendo os meus direitos.


— Com um assassinato.


 — Não seja ridículo, — Ele quase parecia calmo e arrogante novamente. — O plano era tirá-lo da casa. Eu não fiz nada além de trancá-la no porão. Quando ouvi sobre o champanhe, tive algumas dúvidas, mas já que não era letal...


 — Ouviu falar do champanhe? — Era por isso que Christopher estivera esperando. — De quem?


 — Guillermo— disse Raquel. — Guillermo montou todo o esquema, prome­tendo que nada daria errado.


 — Só o mentor. — Guillermo analisou as probabilidades e então deu de ombros. — Está certo, primo. Todos aqui nesta sala têm as mãos sujas. — Ele levantou a própria mão, estudando-a. — Mas na minha não há sangue. Eu voto em você. — Guillermo lançou um olhar frio para Christopher. — Afinal, não é segredo que vocês não se suportavam.


— Você planejou tudo. — Christopher se aproximou. — Tem ainda o caso da sabotagem no meu carro.


Guillermo deu de ombros mais uma vez, mas Christopher viu que uma camada de suor surgira sobre os lábios dele.


 — Todos nesta biblioteca fizeram parte disso. Alguém quer se denunciar? — Guillermo respirava mais rápido, e deu um passo para trás. — Um deles entrou em pânico e fez isso. Você não vai achar minhas impressões digitais naquele abridor de cartas.


 — Quando alguém tenta matar uma vez — disse Christopher, calmamente — , fica fácil provar que tentou de novo.


— Você não vai provar nada. Qualquer um de nós pode ter tirado o óleo de freio do seu carro. Você não pode provar que fui eu.


— Eu não preciso provar isso. — Num gesto rápido, Christopher deu um soco na mandíbula de Guillermo, que o deixou tonto. Antes que ele caísse, Christopher o segurou pelo colarinho. — Eu nunca disse nada sobre o fluido do freio.


Sentindo que caíra numa armadinha, Guillermo começou a brigar cegamente. Com socos para todos os lados, eles rolaram pelo chão. Uma luminária Tiffany se quebrou em milhares de cacos coloridos. Eles rolaram, presos um ao outro, até uma mesa Belker se sacudir com o impacto. Chocados e incapazes de agir, o res­tante deu um passo para trás, abrindo espaço.


— Christopher, chega. — Dulce entrou na sala, os cabelos bagunçados e a roupa desgrenhada. — Temos companhia.


Arquejando, Christopher levantou Guillermo. Seu pulso doía um pouco, mas ele achava que aquilo era um prazer. Pascoal, digno em seu melhor terno, abriu as portas da biblioteca.


— O jantar está servido.


Duas horas mais tarde, Dulce e Christopher dividiam um pe­queno banquete na biblioteca.


 — Eu nunca achei que daria certo — disse Dulce, com a boca cheia de presunto.


— Não era para dar.


 — Quanto mais previsíveis os movimentos, mais previsível o final.


 — O tenente Herrera não parecia tão feliz.


 — Ele queria fazer do jeito dele. — Christopher deu de ombros.


— Como ele já havia descoberto que Guillermo visitara os outros membros da família e estava ligando para eles, o tenente está prestes
a descobrir alguma coisa.


— O modo mais simples. — Dulce coçou a nuca. — Você sabe como é desconfortável interpretar uma morta?


— Você esteve ótima. — Christopher inclinou-se para beijá-la.


— Uma estrela.


 — O abridor de cartas com sangue cenográfico foi uma boa idéia. Mesmo assim, se eles estavam todos juntos...


 — Nós já sabíamos que um deles estava fraquejando por causa do telefonema de advertência que você recebeu. O que aconteceu é que Raquel estava cansada.


 — Estive pensando em investir na academia deles.


 — Não faria mal.


 — O que você acha que vai acontecer?


— Ah, Bustamante está em apuros mais ou menos como os outros, exceto Guillermo. Eu não acho que devíamos nos preocupar em ir para o tribunal por causa do testamento. E quanto ao nosso querido primo... — Christopher ergueu a taça de champanhe — ele vai res­ponder pela acusação de tentativa de agressão ou arrombamento. Talvez eu nunca mais consiga minha televisão de volta, mas ele não vai vestir aqueles ternos da Brooks Brothers por um tempo. Só o uniforme azul da prisão.


 — Você o deixou com o olho roxo mais uma vez — disse Dulce.


 — É. — Rindo, Christopher bebeu o champanhe. — Agora eu e você temos apenas que agüentar as próximas duas semanas.


 — Então, tudo estará acabado.


 — Não. — Ele segurou a mão de Dulce antes que ela pudesse se levantar. — Será apenas o começo. — Ele trocou a taça de mão e a empurrou de encontro às almofadas. — Há quanto tempo?


Dulce se esforçava para não demonstrar a tensão.


 — Há quanto tempo o quê?


 — Você está apaixonada por mim?


Ela o empurrou, mas ficou frustrada quando Christopher a pren­deu novamente.


 — Eu não vou ficar sentada aqui alimentando seu ego.


 — Tudo bem. Então eu começo. — Ele se inclinou para trás, amigavelmente, e a abraçou. — Eu acho que me apaixonei por você quando voltou das ilhas Canárias e entrou por aquela porta com suas longas pernas. E você me esnobou. Eu nunca mais fui o mesmo.


 — Já cansei de brincadeiras, Christopher — disse Dulce, rígida.


 — Eu também. — Ele passou um dedo no rosto dela. — Você disse que me amava, Dulce.


 — Sob pressão.


 — Então você só precisa se manter sob pressão, porque não vou deixá-la escapar agora. Por que nós não nos casamos aqui mesmo?


Dulce começou a empurrá-lo com força, mas manteve suas mãos no peito dele.


 — O quê?


 — Aqui mesmo, na biblioteca. — Christopher olhou em volta, ignorando a mesa virada e a porcelana quebrada. — Seria uma boa idéia.


 — Não sei do que você está falando.


 — É muito simples. Aqui está o resumo. Você me ama e eu amo você.


 — Não é tão simples assim — ela conseguiu dizer. — Eu só fui acessível. Assim que Você voltar para as suas dançarinas louras e suas atrizes peitudas, vai...


 — Que dançarinas louras? Eu não suporto dançarinas lou­ras.


 — Christopher, isso não é para ser levado na brincadeira.


 — Só espere. Você compra um lindo vestido branco, talvez um véu. Um véu combinaria com você. Nós contratamos um padre ou pastor, um monte de flores e teremos uma cerimônia tradicional de casamento. Depois disso, ficamos na mansão Revertti, cada um lutando por suas respectivas carreiras. Em um ano, no máximo dois, damos um bebê para Pascoal e Glaucia se manterem ocupados. Viu? — Ele beijou o lóbulo da orelha dela.


 — A vida das pessoas não é como nos roteiros — disse Dulce.


 — Eu sou louco por você, Dulce. Olhe para mim. — Christopher pegou o queixo dela e o segurou, para que seus rostos ficassem colados. — Como uma artista, você tem que ser capaz de ver. Isso deveria ser fácil, já que você sempre me disse que eu sou superficial.


 — Eu estava errada. — Dulce queria acreditar. E seu cora­ção já acreditava. — Christopher, se você está tentando me irritar, vou matá-lo.


 — A brincadeira acabou. Eu amo você. É simples assim.


 — Simples — murmurou Dulce, surpresa por conseguir falar. — Você quer se casar?


— Viver junto é fácil demais.


Ela ficou ainda mais surpresa por ser capaz de rir.


— Fácil?


— Exatamente. — Christopher a virou até que ela estivesse totalmente deitada no sofá. O beijo que lhe deu não era paciente ou carinhoso, e tudo o que Christopher achava e sentia foi transmitido naquele único contato. Como Dulce raramente fazia e Christopher raramente pedia, ela foi dócil e maleável. Seus braços o envolveram. Talvez fosse mesmo fácil.


 — Eu amo você, Christopher.


 — Vamos nos casar.


 — Parece que sim.


Ao erguer a cabeça, os olhos de Christopher eram intensos.


— Eu vou tornar sua vida dura, Dulce. Só para compensar o fato de você ser a esposa mais irritante do mundo. Estamos entendidos?


Ela abriu um sorriso lentamente.


— Acho que sempre estivemos.


Christopher beijou-lhe a testa, a ponta do nariz e, então, seus lábios.


— Ele nos entendeu.


Dulce seguiu o olhar dele para o retrato a óleo de Martim.


— O bode velho e maluco conseguiu que ficássemos exatamente onde ele queria. Eu imagino que ele esteja dando uma boa gargalhada. — Dulce passou o rosto de encontro ao rosto de Christopher. — Eu só queria que ele estivesse aqui para o nosso
casamento.


Christopher franziu a testa.


 — E quem disse que ele não estará? Ele se levantou, pegando as duas taças.


 — Um brinde para Maximillian Martim Saviñon.


— Para tio Martim. — Dulce tocou sua taça na de Christopher. — A nós.



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Autor(a): dullinylarebeldevondy

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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 400



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  • natyvondy Postado em 29/10/2009 - 21:45:00

    lindo!!!

  • natyvondy Postado em 29/10/2009 - 21:44:58

    lindo!!!

  • natyvondy Postado em 29/10/2009 - 21:44:56

    lindo!!!

  • natyvondy Postado em 29/10/2009 - 21:44:09

    lindo!!!

  • natyvondy Postado em 29/10/2009 - 21:43:44

    lindo!!!

  • natyvondy Postado em 29/10/2009 - 21:43:39

    lindo!!!

  • natyvondy Postado em 29/10/2009 - 21:42:53

    lindo!!!

  • natyvondy Postado em 29/10/2009 - 21:42:47

    lindo!!!

  • natyvondy Postado em 29/10/2009 - 21:42:36

    lindo!!!

  • natyvondy Postado em 29/10/2009 - 21:42:30

    lindo!!!


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