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Capítulo: 2? Capítulo

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Dedicado a Bellarbd!


Capítulo 2



       Foi uma prazerosa viagem de Manhattan até Catskills pelo rio Hudson. Dulce sempre gostara da viagem. O percurso lhe dava tempo para clarear os pensamentos e relaxar. Se bem que ela sempre aproveitava o tempo para os seus próprios capri­chos, ao seu ritmo e de acordo com sua conveniência. Dulce habituou-se a fazer tudo desse modo. Desta vez, porém, havia mais coisas envolvidas além das suas vontades e desejos. Tio Martim a limitara.


Ele sabia que Dulce teria de cumprir os termos do testamen­to. Não pelo dinheiro. Tio Martim era esperto demais para pensar que ela poderia ser atraída para dentro dessa armadilha ridícula Por dinheiro. Mas a casa, os laços que Dulce estabelecera com o lugar e sua necessidade de dar uma continuidade à família. Tio Martim sabia que tudo isso a fisgaria.


Agora ela tinha de deixar Manhattan para trás durante seis meses. Ah, ela estivera em Catskills durante algumas horas uma vez ou outra, mas não era a mesma coisa que morar no centro dos acontecimentos. Dulce sempre gostara disso — estar no olho do furacão, cercada por movimento, capaz de observar e se deixar envolver quanto gostasse. Do mesmo jeito, ela sempre gostara dos longos fins de semana na solidão da mansão Revertti de Martim.


Dulce foi criada assim: para aproveitar e tirar o máximo proveito de qualquer ambiente em que se encontrasse. Seus pais eram ciganos. Riqueza significava que eles podiam viajar de pri­meira classe, e não em vagões superlotados. Se houvesse acam­pamentos ao redor de uma fogueira, teria de haver sempre um empregado para juntar a lenha, mas o espírito era o mesmo.


Antes de completar 15 anos, Dulce já visitara mais de trinta países. Ela comera sushi em Tóquio, vagara pelos pântanos de Cornwall e pechinchara nos mercados da Turquia. Uma suces­são de tutores os acompanhava nas viagens. Assim, pelos seus cálculos, Dulce passou menos de dois anos dentro de uma sala de aula antes de ir para a faculdade.


A infância exótica, nômade, criou em Dulce o gosto pela diversidade — de pessoas, comidas e estilos. Estranhamente, porém, essa exposição à imensa diferença de culturas e tradições fizeram nascer em Dulce um desejo inabalável por um lar e pela sensação de pertencer a um lugar.


Embora seus pais gostassem de serpentear por países, regis­trando tudo por escrito e em vídeo, Dulce sentia falta de algo crucial. Onde era sua casa? Este ano no México, no próximo, em Atenas. Seus pais fizeram fama com livros e artigos sobre as coisas incomuns, mas Dulce queria algo comum: criar raízes. E descobriu que teria de fazer isso por conta própria.


Dulce escolheu Nova York e, em sua busca por raízes, tio Martim.


Agora, já que seu tio e a casa dele se transformaram naquele ponto crucial de que ela sentia falta, Dulce concordava em pas­sar seis meses morando com um homem que mal podia tolerar, a fim de herdar uma fortuna que não precisava ou queria. Há muito tempo ela descobriu que a vida nunca era uma linha reta.


A melhor piada de Martim Saviñon, pensou Dulce enquanto avançava pelo longo trajeto até a mansão Revertti. Bem, ele podia forçá-los a conviver, mas não a se apegarem um ao outro.


Ainda assim, Dulce se sentiria melhor se tivesse certeza quanto a Christopher. O que o levaria a Catskills: a promessa de milhões de dólares ou o afeto por um velho? Ela sabia que a série que Christopher escrevia, Logan`s Run, estava no quarto ano de sucesso, e que ele desenvolvia outras atividades lucrativas na televisão. Mas o dinheiro era algo muito sedutor. Afinal, seu tio Bustamante tinha mais do que era capaz de gastar e mesmo assim já estava tomando as providências para contestar o testamento.


Isso não a preocupava. Tio Martim acreditava ter contratado o melhor. Se Franco revisara o testamento, ele era incontestável. O que a preocupava era Christopher Uckermann.


Por causa da armadilha em que se meteu, Dulce se pegou pensando nele com mais intensidade nos últimos dois dias. Aliado ou inimigo, ela ainda não sabia ao certo. De qualquer modo, ela teria de viver com Christopher. Ou próximo dele. Dulce esperava que a casa fosse grande o suficiente.


Ao chegar a Catskills, Dulce estava cansada da viagem e abatida por causa da gripe persistente. Embora seus equipamen­tos e materiais tivessem sido enviados no dia anterior, Dulce ainda tinha três malas no carro. Decidida a pegar uma por vez, ela bateu o porta-malas e olhou para a mansão Revertti de Martim.


Ele a construiu quando estava com 40 anos, por isso a casa já tinha mais de meio século de vida. Ela se estendia em todas as direções ao mesmo tempo, como se Martim jamais tivesse con­seguido decidir por onde queria começar e onde queria que a casa terminasse. Sobre Martim, Dulce era obrigada a admitir, a verdade é que ele nunca queria que algo terminasse. Um pro­jeto, jogo ou quebra-cabeça, tudo era sempre mais interessante para ele antes que as últimas peças estivessem montadas.


Sem as alas laterais, a mansão poderia ter sido uma construção sóbria e pacata, típica do final do século XIX. Mas, com aquelas alas, a casa era uma confusão de paredes e cantos, para cima e para os lados. Não havia simetria. Para Dulce, contudo, a casa sempre parecera tão forte quanto as pedras usadas em sua construção.


Algumas das janelas eram altas, outras, compridas, algumas delas eram decoradas, outras, simples. Martim tivera uma idéia depois mudou de opinião enquanto construía a casa.


As pedras vieram de uma de suas minas, a madeira de um de seus depósitos. Quando decidiu construir a casa, Martim fundou sua própria construtora. A Saviñon Construtora Ltda. era uma das cinco maiores empresas do país.


De repente, Dulce se deu conta de que era dona de metade das ações de Martim na empresa e ficou tonta ao pensar quantas empresas mais possuía. Agora ela tinha participação em empresas que fabricavam óleos para bebês, em metalúrgicas, na constru­ção de motores para foguetes e misturas para bolos. Dulce ergueu a mala e rangeu os dentes. Por que ela se permitiu entrar naquilo?


Das janelas do andar superior, Christopher a observava. A ja­queta que ela vestia era grande e frouxa, tingida com três cores berrantes: azul, amarelo e rosa. O vento entrava pelas frestas da jaqueta e a estufava das coxas ao quadril. Dulce já não parecia mais ter os olhos tão vermelhos de chorar. Ela parecia austera e resignada. Melhor assim. Ele esteve tentado a consolá-la du­rante o funeral de tio Martim. O simples fato de reconhecer que demonstrar tanto afeto assim por uma mulher como Dulce era fatal serviu para refreá-lo.


Christopher a conhecia desde criança e já naquele tempo pensava nela como uma garotinha mimada. Embora Dulce com fre­qüência se ausentasse por longos meses, durante um dos safáris jornalísticos de seus pais, eles viram o suficiente um do outro para alimentar uma antipatia mútua. Só mesmo o fato de ela ter dado atenção a tio Martim fazia com que Christopher a tolerasse. Isso e também o fato — ele tinha de admitir — de Dulce ser mais honesta e humana do que qualquer outro de seus parentes.


Houve um tempo, lembrou-se Christopher, um tempo curto, no fim da adolescência, em que ele sentira certa... Atração por ela. Christopher tinha certeza de que tinha sido um desejo apenas super­ficial, físico e puramente juvenil. Dulce sempre teve um rosto fascinante; sua expressão podia ser impiedosamente calma num momento e grave, noutro. E quando ela chegou à puberdade... Bem, aquilo foi uma reação natural. E ela passara sem qualquer incidente. Christopher agora preferia mulheres com mais delicadeza, beleza e feminidade — e caninos mais curtos.


O que quer que preferisse, Christopher largou a arrumação do seu escritório para perambular pelo andar de baixo.


— Pascoal, minha mudança já chegou? — Dulce tirou suas


luvas de couro e as jogou sobre uma mesinha redonda no hall de entrada. Ela ficou um pouco feliz por Christopher já ter chegado, pois Pascoal, o antigo mordomo que servira tio Martim antes mesmo que Dulce nascesse, estava lá.


— Tudo chegou esta manhã, senhorita. — O velho teria pegado a mala de Dulce se ela não o tivesse impedido.


 — Não, nem pense nisso. Onde você mandou que eles colo­cassem tudo?


 — No jardim de inverno da ala leste, como a senhorita me instruiu.


Ela retribuiu com um sorriso e um beliscão leve na bochecha de Pascoal, que gostou das duas coisas. Seu rosto quadrado de buldogue ficou ligeiramente rosado.


— Eu sabia que podia contar com você. Eu não lhe disse antes como fiquei feliz por você e Glaucia permanecerem na casa. Este lugar não seria o mesmo sem você servindo chá e Glaucia assando bolos.


Pascoal tratou de manter-se um pouco mais ereto.


— Nós não nos imaginaríamos indo para outro lugar, madame.
O patrão queria que nós ficássemos.


Mas tio Martim fez o possível para que eles fossem embora, pensou Dulce. Para cada um deles, o velho deixou milhares de dólares por ano de serviços prestados. Pascoal trabalhava para Martim desde que a casa fora construída, e Glaucia chegou dez anos depois. A herança era mais do que o suficiente para que eles se aposentassem. Dulce sorriu. Algumas pessoas não tinham nascido para se aposentarem um dia.


 — Pascoal, eu adoraria tomar um chá — começou, sabendo que se não o distraísse o mordomo insistiria em carregar suas malas pela longa escada.


 — Na sala de estar, madame?


 — Perfeito. E se Glaucia tiver feito daqueles bolinhos...


 — Ela ficou cozinhando a manhã toda.


Com apenas um pequeno rangido, Pascoal seguiu seu caminho até a cozinha.


Dulce pensou na cobertura cheia de açúcar dos bolinhos.


 — Fico me perguntando quanto peso uma pessoa pode ganhar em seis meses.


 — Uma dieta à base de bolinhos de Glaucia não vai fazer mal a você — disse Christopher atrás dela. — Homens geralmente se sentem mais atraídos por carnes do que por ossos.


Dulce procurou em volta, e teve que levantar estranhamente o pescoço para poder ver Christopher no topo da escada.


 — Atrair homens não é a preocupação central da minha vida.


 — Eu seria o último a discordar disso.


Christopher parecia bastante à vontade, pensou Dulce, sentin­do as primeiras agitações da indignação. E, despudoradamente, arrogantemente atraente. Alguns metros acima da cabeça dela, Christopher se inclinou contra o corrimão e olhou para baixo como se fosse o mestre. Dulce logo pôs um fim naquilo. O testamento de tio Martim era bem claro. Compartilhado em partes iguais.


— Já que você está instalado, pode me ajudar com o restante das minhas malas.


Christopher não se mexeu.


— Sempre achei que o único assunto sobre o qual sempre concordamos foi o feminismo.


Dulce se deteve na porta para lançar-lhe um olhar sobre os ombros.


— Opiniões sociais e políticas à parte, se você não me ajudar com as malas antes que Pascoal volte, ele insistirá em fazer isso. Ele é velho demais para esta tarefa e orgulhoso demais para admitir que não pode fazê-la. — Ela saiu novamente e não se surpre­endeu ao escutar, atrás de si, os passos de Christopher no cascalho.


Dulce respirou fundo o ar fresco do outono. Acima de tudo, estava um dia lindo.


 — Resolveu chegar mais cedo?


 — Na verdade, cheguei ontem de madrugada. Ela se virou para o porta-malas aberto do carro.


— Tão ansioso assim para começar o jogo, Christopher?


Se não estivesse tão determinado a se relacionar com ela pa­cificamente, Christopher teria se ofendido pelo tom de voz e pelo olhar de Dulce. Mas ele preferiu não se aborrecer.


 — Eu queria instalar meu escritório ainda hoje. Eu estava terminando de arrumá-lo quando você chegou.


 — Trabalho, trabalho, trabalho — disse Dulce com um longo suspiro. — Você deve precisar de muitas horas de trabalho árduo para criar uma hora de cenas de perseguição e brigas por semana.


Paz já não era tão importante. Enquanto Dulce pegava sua mala de mão, Christopher a agarrou com força pelo pulso. Mais tarde ele pensou que aquele pulso era fino e macio. Mas agora ele só pensava no quanto desejava que Dulce fosse um homem, para que pudesse bater nela.


— O quanto eu trabalho e o que eu produzo não é da sua conta.


Estranhamente, naquele momento, Dulce se deu conta do quanto gostava de vê-lo prestes a perder o controle. Todos os outros parentes dela eram aparentemente tão gentis, tão civili­zados! Christopher sempre fora o oposto e, por isso mesmo, mais interessante. Sorrindo, Dulce se soltou.


— Eu fiz parecer que era da minha conta? Nada, eu lhe garanto, pode ser mais enganoso. Vamos pegar estas coisas e tomar
um chá? Está bem frio.


Relutantemente, Christopher admitira que sempre admirara o modo como ela, delicadamente, passava a agir como se fosse uma mulher extremamente educada. Como um roteirista que escrevia para atores e telespectadores, ele apreciava o talento natural de Dulce. Ele também sabia como preparar uma cena a fim de obter o máximo de efeito.


 — Chá é uma ótima idéia. — Ele carregou uma mala e deixou a segunda com Dulce. — Vamos estabelecer algumas regras.


 — Vamos? — Ela tirou a mala e fechou a porta do carro cal­mamente. Sem dizer mais nada, Dulce voltou para dentro da casa e manteve a porta da frente aberta para Christopher. Depois, passou pela mala que abandonou no corredor. Sabendo que Christopher era apegado a Pascoal, Dulce tinha certeza de que ele pegaria aquela mala e a seguiria.


O quarto que Dulce sempre usava ficava no segundo an­dar, na ala leste. Martim deixara que ela mesma o decorasse, e Dulce escolheu usar branco sobre branco, com uns poucos e berrantes vestígios de cores. Verde-limão e azul-escuro em almofadas, uma comprida pintura horizontal a óleo, exibindo um pôr-do-sol em cores dissonantes, um vaso vermelho médio, cheio de plumas de avestruz.


Dulce jogou-se na cama. Notando, com alegria, que havia fogo na pequena lareira de mármore, ela pôs sua jaqueta sobre uma cadeira.


— Eu sempre me sinto como se estivesse entrando numa edição da revista Melhores Casas — comentou Christopher ao deixar as malas no chão.


Ela olhou para as malas rapidamente, depois para Christopher.


— Tenho certeza de que você se sentirá mais à vontade no seu próprio quarto. É mais... revista Caça e Pesca. Espero que o chá esteja servido.


Christopher a estudou intensamente durante algum tempo. A jaqueta que Dulce estava usando escondera um bem acabado suéter de caxemira preso por dentro da cintura fina de sua cal­ça. Diante daquela visão, Christopher se lembrou forçadamente do que exatamente começara a atraí-lo quando eram adolescentes. Pela segunda vez ele se pegou desejando que Dulce fosse um homem.


Embora descessem lado a lado as escadas, não se falavam. Na sala de estar, em meio à opulência da decoração árabe que Martim usara no ambiente, Pascoal estava servindo o chá.


— Ah, você acendeu a lareira. Que gentil. — Dulce se


aproximou e começou a aquecer as mãos. Ela queria ficar um momento sozinha, só um momento, porque por um instante no quarto Dulce pensou ter visto algo nos olhos de Christopher. E ela achava que tinha sentido esse mesmo "algo". — Eu me sirvo, Pascoal. Estou certa de que eu e Christopher não precisaremos de mais nada até o jantar.


Sem querer, ela olhou em volta na sala, para as cortinas vo­lumosas, os sofás decorados com brocados, as almofadas fofas e os vasos de metal.


 — Sabe, esta sempre foi uma das minhas salas prediletas. — Indo até o aparelho de chá, Dulce começou a botar chá nas xícaras. — Eu tinha apenas 12 anos quando visitamos a Turquia, mas esta sala sempre me traz lembranças vividas. Até mesmo dos cheiros dos mercados. Açúcar?


 — Não.


Christopher pegou a xícara das mãos dela, cortou uma fatia gene­rosa de bolo e pôs num prato, e depois escolheu um lugar para se sentar. Ele preferia o pequeno gabinete ao lado, com seu jeito de arrumado, típico do interior da Inglaterra. Era o começo, pensou Christopher, com o velho mordomo e a gorda cozinheira por testemunhas. Seis meses a partir de hoje. Eles assinaram um documento afirmando que os termos do testamento de tio Martim seriam seguidos até o fim. O que o preocupava eram os dias até este fim.


— Regra número 1 — começou Christopher, sem preâmbulos.
— Estamos os dois na ala leste porque assim fica mais fácil para Pascoal e Glaucia. Mas... — ele se interrompeu, querendo enfatizar o argumento — nós dois respeitaremos o território um do outro.


Com toda a certeza. — Dulce cruzou as pernas e bebeu chá.


— Novamente, por causa dos serviçais, parece certo que façamos as refeições na mesma hora. Apesar disso, e para nos mantermos vivos, vamos evitar conversas sobre assuntos profissionais.


Dulce sorriu para ele e mordiscou o bolo.


 — Ah, sim, vamos nos ater às coisas pessoais.


 — Você é mesmo uma mulherzinha sórdida...


 — Viu? Nós já começamos bem. Regra número 2. Nenhum de nós, não importa o quão entediados ou cansados estivermos, perturbará o outro durante seu horário de trabalho. Eu costumo trabalhar das lOh às 13h, e depois novamente das 15h às 18h.


 — Regra número 3. Se um de nós estiver se divertindo, o outro vai se manter afastado.


Por um breve momento, Dulce cerrou os olhos.


— Ah, e eu quero muito conhecer sua dançarina. Regra núme­ro 4. O andar de baixo é território neutro e deverá ser comparti­lhado igualmente, a não ser que concordemos no contrário. — Ela firmou um dedo no braço da cadeira. — Se nós dois jogarmos limpo, conseguiremos.


— Eu não tenho nenhum problema em jogar limpo. Até onde
me lembro, é você quem trapaceia.


Ela disse numa voz muito tranqüila, num tom polido:


 — Não sei do que você está falando.


 — Canastra, pôquer, buraco.


 — Isso é um absurdo e você não tem prova alguma. — Levantando-se, Dulce se serviu de mais uma xícara de chá. — Além do mais, no jogo a coisa é totalmente diferente. — Aquecida pelo fogo e sentindo-se leve por causa do chá, Dulce sorriu para Christopher. Até onde ele podia se lembrar, aquele sorriso específico era letal. E impressionante. — Você ainda está bravo por causa daqueles 500 dólares que ganhei de você?


 — Não estaria se você os tivesse ganhado honestamente.


 — Eu ganhei — ela contra-atacou. — É o que importa. Se eu trapaceei e você não percebeu, isso quer dizer que eu trapaceei bem o suficiente a ponto de se tornar válido.


— Sua lógica sempre foi torta. — Christopher também se levantou e se aproximou. Dulce tinha de admirar o modo como ele se movia. Não era muito afetado, porque ele não se esforçava. Mas chegava perto disso. — Se jogarmos novamente, o que quer que joguemos, você não vai trapacear.


Cheia de confiança, Dulce sorriu para ele.


— Christopher, nós nos conhecemos há tempo suficiente para você conseguir me intimidar.


Dulce estendeu a mão para dar um tapinha no rosto dele, mas Christopher segurou seu pulso pela segunda vez. E pela segunda vez ela viu e sentiu aquele perigoso "sentimento" que experi­mentara no quarto.


Não havia mais nenhum tio Martim para protegê-los um do outro. Talvez ambos tivessem começado a perceber exatamente isso. Não importava o que os fizesse rosnar e ferir um ao outro. Eles teriam um longo e gelado inverno pela frente para deixar aflorar o que havia entre eles.


Talvez nenhum dos dois quisesse encarar esse fato, mas ambos eram teimosos demais para recuar.


— Talvez estejamos apenas começando a nos conhecer melhor — murmurou Christopher.


Dulce acreditava nisso. E não gostava. Christopher não era um idiota metido como Guillermo, nem um fortão inofensivo como Xavier. Ele podia ser apenas um primo sem laços sangüíneos, mas o sangue que corria neles sempre fora quente. Havia violência em Christopher. Às vezes, isso se revelava pelo olhar e pelo modo como ele se continha. Como se, incapaz de dar o primeiro soco, Christopher contra-atacasse. Dulce reconhecia esses sinais porque havia uma violência nela também. Talvez por isso mesmo ela sempre se sentia encorajada a bombardeá-lo, apenas para ver quantas bombas Christopher era capaz de jogar de volta para ela.


Eles ficaram imóveis por um momento, medindo um ao outro, avaliando-se. A atitude mais sábia era reconhecer o golpe do outro e desviar. Dulce levantou o queixo. Christopher se preparou para a pancada.


 — Nós vamos para o ringue outra hora, Christopher. Agora estou um pouco cansada da viagem. Se você me der licença...


 — Regra número 5 — disse Christopher, sem lhe conceder a licença para sair. — Se um de nós agredir gratuitamente o outro, vai ter de agüentar as conseqüências. — Ao liberar o braço de Dulce, Christopher voltou para sua xícara de chá. — Vejo você no jantar, prima.


 


Dulce levantou logo depois do nascer do sol, totalmente desperta, descansada e exalando energia. Talvez por causa do ar das montanhas, ou por causa das seis horas de sono profundo, o fato é que ela estava preparada e ansiosa para trabalhar. Enquanto tomava banho e se vestia, Dulce decidiu que o café-da-manhã podia esperar. Ela saiu para o jardim de inverno a fim de organizar seu equipamento e começar a trabalhar.


A casa estava totalmente em silêncio e ainda escura quando Dulce desceu. Os empregados dormiriam por mais uma ou duas horas, pensou, enquanto, na copa, pegava um bolinho. Até onde se lembrava, Christopher poderia dormir até o meio-dia.


Eles haviam passado pelo jantar sem maiores incidentes. Tal­vez tivessem sido educados por causa da presença de Pascoal e Glaucia ou talvez porque ambos estavam cansados demais para brigar. Dulce não sabia ao certo o porquê.


Ela e Christopher jantaram sob a agradável luz de um grande lustre e conversaram, muito pouco, sobre o tempo e a comida.


Às 21 h cada qual seguiu seu caminho separadamente. Dulce foi ler até que seus olhos se fechassem e Christopher foi trabalhar. Pelo menos foi o que ele disse.


Lá fora o ar estava bem frio para fazer com que a pele de Dulce se arrepiasse. Ela levantou a gola da jaqueta e começou a cruzar o quintal. Dulce triturava a geada leve com os pés. Ela gostava daquilo: a solidão absoluta, a leveza do ar, o incrível cheiro da montanha e do rio.


No Tibete, certa vez, Dulce quase morrera congelada porque não conseguiu resistir à neve que caía em flocos grossos e pesados como pedra. Ela não achava que o inverno em Catskills, bem me­nos intenso, fosse menos fascinante. Dulce sempre achou que o inverno era a melhor época, quando a neve se acumulava sobre suas botas, e junto com sua voz saíam baforadas de vapor.


O inverno nas montanhas era uma época para as coisas es­senciais. Comida, aquecimento, trabalho. Havia épocas em que Dulce queria apenas o essencial. Havia momentos em Nova York em que ela era capaz de discutir horas sobre sindicatos, política e direitos civis porque, verdade seja dita, Dulce ado­rava discutir. Ela queria se sentir estimulada por uma opinião divergente sobre assuntos amplos ou mesquinhos. Dulce queria o desafio, o calor e o exercício para seu cérebro. Mas...


Havia momentos em que ela não queria nada além de uma aurora silenciosa sobre a terra coberta de geada e a promessa de uma bebida quente perto de uma lareira. E havia momentos (embora ela raramente admitisse isso até para si mesma) em que Dulce queria um ombro para se aconchegar e uma mão para segurar a sua. Ela fora criada para ver a independência como uma obrigação, não como uma escolha. Seus pais tinham o mais equilibrado dos relacionamentos: direitos e deveres iguais para cada um. Dulce os via como raridade num mundo onde tudo mudava de rumo com muita freqüência. Aos 18 anos, ela se convenceu de que jamais aceitaria menos do que uma parceria plena. Aos 20 anos, Dulce afirmava que o casamento não era para ela. Em vez de se casar, Dulce aplicara toda a sua paixão, sua energia e sua imaginação no trabalho.


Essa dedicação extrema cobrou seu preço. Dulce era uma mulher de sucesso, proeminente e criativamente realizada. Isso era mais do que muitas pessoas jamais conquistariam na vida.


Agora ela abria a porta do jardim-de-inverno. Era uma cons­trução quadrada e grande, tão comprida quanto um celeiro típico, com o piso em madeira e paredes acolchoadas. Apertando o interruptor, Dulce inundou o ambiente com luz.


Seguindo sua orientação, as caixas e os engradados que enviara tinham sido empilhados ao longo de uma parede. As estantes onde tio Martim mantinha suas ferramentas de jardinagem durante sua breve e animada fase de jardineiro foram removidas. A parte hidráulica era boa, com uma pia de aço inoxidável grande e uma pequena banheira com chuveiro cercada nos fundos. Dulce contou cinco bancadas de trabalho. A luz e a ventilação eram excelentes.


Ela percebeu que não demoraria muito para transformar o jardim-de-inverno num ambiente de trabalho devidamente or­ganizado e produtivo. Demorou três horas nessa tarefa.


Em uma das estantes estavam as caixas com contas de vá­rios tamanhos: azeviche, ametista, ouro, madeira polida, coral, marfim. Ela tinha um estojo cheio de pedras preciosas e semipreciosas, cortadas retas, em forma de diamantes, lágrimas e em lascas. Em Nova York, essas pedras eram mantidas num cofre. Ali, Dulce jamais cogitara tal coisa. Havia ouro, prata, bronze e cobre. Brocas sólidas e ocas, martelos, pinças, alicates, limas e grampos. Alguém poderia até pensar que Dulce fazia carpintaria. Havia ainda marcadores e um prato de metal que servia para alongar os fios, garrafas e produtos químicos, e quilômetros de barbantes e fibras.


Dulce consumira todo o dinheiro que ganhara de herança de sua avó investindo nesses materiais, e mais um bocado das economias que guardara trabalhando como aprendiz. Valeu a pena. Ela pegou uma lima na palma da mão. Ah, se valeu!


Ela podia forjar ouro e prata, derreter e fundir metais e criar desenhos incrivelmente complexos usando umas poucas pedras e filamentos. Os metais podiam ser transformados em fios finos como teias ou pedaços largos e grandes. Dulce podia fazer o que quisesse, com ferramentas muito parecidas com aquelas usadas por artistas há duzentos anos.


A idéia de continuidade e a variedade infinita sempre a atraíram. Dulce jamais produzira duas peças iguais. Para ela, isso seria fabricar, em vez de criar. Às vezes, as peças que Dulce fazia eram elegantemente simples, com um desenho clássico. Essas peças vendiam bem e permitiam que ela tivesse um pouco de liberdade artística. Às vezes, contudo, suas peças eram pesadas, frágeis e exageradas. O humor guiava Dulce, não as tendências do mercado. Raramente, muito raramente, ela concordaria em criar uma jóia seguindo uma linha pré-especificada. Só se essas linhas, ou o cliente, tivessem algum interesse para Dulce.


Ela recusou uma encomenda de um presidente porque achou que as idéias dele eram muito vulgares, mas fez um anel para um homem que acabara de ser pai porque a idéia era única. Dulce ouviu dizer que a mulher que ganhara o anel quando teve seu primeiro filho jamais tirava o conjunto de ouro anelado do dedo. Eram três anéis, um para cada base do triângulo que formava a família.


Naquele instante, Dulce acabara de completar o esboço do projeto de um colar com três fios, encomendado pelo marido de uma famosa cantora. Esmeralda. Este era o nome da cantora, e uma única exigência fora feita a Dulce. O homem queria muitas esmeraldas. E ele pagaria, imaginou, pela dúzia de pedras que Dulce escolhera antes de sair de Nova York. Eram peças retas, de três quilates cada, e daquele verde intenso que conferia às esmeraldas seu valor.


Dulce sabia que aquela era sua grande oportunidade, pro­fissionalmente e, mais importante, artisticamente. Se o colar fosse um sucesso, não haveria apenas críticas ao seu portfolio, mas aceitação. Ela seria mais livre para fazer o que quisesse, sem se comprometer.


O segredo seria moldar a corrente de modo que ela fosse forte como aço, mas parecesse delicada como uma teia de aranha. As pedras seriam penduradas em cada um dos fios como se brotas­sem deles.


Pelas duas horas seguintes, Dulce trabalhou com ouro.


Com o calor dos dois aquecedores nas extremidades do jardim de inverno e da chama de suas ferramentas, o ar se tornou sufo­cante. Sob sua blusa escorria suor, mas Dulce não se importava. Na verdade, ela mal percebeu isso, enquanto o ouro em suas mãos se tornava mais maleável. Seguidas vezes, ela passou o fio pelo torno, suavizando os contornos e sutilmente, lentamente alterou a forma e o tamanho. Quando o fio de ouro parecia o cabelo de um anjo, Dulce começou a trabalhar nele com seus dedos, girando e trançando até que alcançasse o desenho que imaginara e registrara no papel.


Seria simples — elegante e ricamente simples. As esmeraldas adicionariam sua própria luz quando Dulce as prendesse no colar.


O tempo passou. Depois de usar cuidadosa e meticulosamen­te o torno, o maçarico e suas próprias mãos, o primeiro e fino cordão de ouro foi feito.


Dulce tinha acabado o trabalho e começava a alongar seus músculos das costas quando a porta do jardim-de-inverno se abriu, deixando que o ar gelado entrasse. Com o rosto reluzindo de suor e concentração, ela olhou para Christopher.


 — Que droga você acha que está fazendo?


 — Cumprindo ordens. — Ele tinha as mãos dentro dos bolsos para mantê-las aquecidas, mas a jaqueta não estava fechada. Dulce notou que Christopher também não se importou em se barbear. — Este lugar está cheirando a queimado.


 — Eu estou trabalhando. — Ela levantou a parte da frente do grande avental que usava e com ele limpou a testa. Dulce notou que estava irritada por ter sido interrompida. Não porque ele entrou e a encontrou parecendo um metalúrgico. — Lembra-se da regra número 3?


 — Diga isso à Glaucia. — Deixando a porta entreaberta, Christopher começou a perambular pelo jardim-de-inverno. — Ela disse que tinha sido ruim o suficiente você ter desprezado o café-da-manhã, mas você não se livraria do almoço. — Curioso, ele pôs um dedo sobre uma bandeja que continha pedras coloridas e brilhantes. — Eu tenho ordens de levá-la de volta.


 — Eu não terminei ainda.


Ele pegou uma pequena safira e a segurou contra a luz.


— Eu tive de impedi-la de que ela mesma viesse aqui. Se eu voltar sozinho, ela virá atrás de você. A artrite a está atacando novamente.


Baixinho, Dulce praguejou.


 — Largue já isso — Ordenou. Então, tirou o avental de uma só vez.


 — Esta coisa parece verdadeira — comentou Christopher. Em­bora tivesse largado a safira, ele pegou um diamante redondo e cintilante.


 — Estas coisas são verdadeiras. — Dulce se agachou para desligar um dos aquecedores.


O diamante estava em suas mãos quando Christopher olhou zangado para a cabeça dela.


— Por que diabos você os guarda deste jeito, como se fossem
doces? Isso deveria, estar trancado num cofre.


Dulce ajustava o outro aquecedor.


 — Por quê?


 — Não seja estúpida. Alguém pode roubar isso.


 — Alguém? — Pondo-se de pé, ela sorriu para Christopher. — Não há muitas pessoas por perto. Eu não acho que Pascoal ou Glaucia sejam um problema, mas talvez eu devesse me pre­ocupar com você.


Ele a xingou e guardou novamente o diamante.


— Já o coloquei de volta na sua caixa de mágicas, prima, mas
se eu tivesse milhares de dólares largados por aí, podendo ir parar
no bolso de alguém, teria mais cuidado.


Embora na maioria das circunstâncias Dulce concordasse inteiramente com Christopher, ela mal pegou sua jaqueta. Afinal, eles não estavam em Manhattan, e sim a quilômetros de qualquer pes­soa e qualquer coisa. Se ela trancasse tudo num cofre, teria de des­trancar tudo novamente todas as vezes que quisesse trabalhar.


 — Esta é só mais uma das diferenças entre nós, Christopher. Acho que é porque você escreve sobre tantos trambiqueiros sujos.


 — Eu também escrevo sobre a natureza humana.


Christopher pegou o esboço do colar de esmeraldas que Dulce desenhara. Tinha um senso de proporção de fazer inveja a um arquiteto e uma luz e uma fluência que atrairia um artista.


 — Já que você gosta tanto de fazer bugigangas e badulaques, porque não usa nada disso?


 — Quando estou trabalhando, jóias me atrapalham. Se você escreve sobre a natureza humana, por que os bandidos são presos todas as semanas?


 — Porque eu escrevo para o povo, e o povo precisa de heróis.


Dulce abriu a boca para discutir, mas percebeu que concor­dava com a essência da afirmação.


— Humm. — Foi tudo o que ela conseguiu dizer enquanto
desligava as luzes e saía à frente de Christopher.


 — Pelo menos tranque a porta — disse ele.


 — Não tenho a chave.


 — Então providenciaremos uma.


 Nós não precisamos de uma chave. Ele bateu a porta com força.


 Você precisa.


Dulce apenas deu de ombros enquanto começava a cruzar o quintal.


— Christopher, eu disse que você está mais rabugento do que o
normal?


Ele tirou uma bala do bolso e a jogou na boca.


— Estou deixando de fumar.


Era uma bala de limão. Dulce sentiu o cheiro.


— Percebi. Há quanto tempo?


Christopher olhou com raiva para algumas folhas que cobriam a superfície do jardim. Eram marrons e secas e, a seu modo, pareciam vivas.


— Duas semanas. Estou ficando louco.


Dulce riu, solidária, antes de enganchar seu braço no dele.


— Você sobreviverá, querido. O primeiro mês é o mais difícil.


Agora ele olhava com raiva para ela.


Como você poderia saber? Você nunca fumou.


— O primeiro mês de qualquer coisa é o mais difícil. Você só precisa manter sua mente ocupada. Exercite-se. Nós vamos correr um pouco depois do almoço. — Nós?


— E podemos jogar canastra depois do jantar.


Christopher bufou, mas então tirou os cabelos que caíam sobre o rosto de Dulce.


 — Você vai trapacear.


 — Viu, sua mente já está ocupada.


Rindo, Dulce dirigiu o olhar para Christopher. Ele parecia um pouco rude, mas nele, estranhamente, isso era atraente. Aparên­cias plácidas, de bons mocinhos, sempre a entediaram.


 — Isso não vai atrapalhá-lo em nada na tarefa de abandonar um de seus vícios, Christopher. Você tem tantos.


 — Eu gosto dos meus vícios — resmungou, virando a cabeça para olhar para Dulce. Ela estava exibindo seu sorriso mais leve e amigável, daqueles raramente dirigidos a ele. Aquele sorriso sempre o fazia se esquecer de todos os problemas que Dulce lhe causara. Aquele sorriso o fazia esquecer de que não se sen­tia atraído por mulheres excessivamente boêmias, com cabelos vermelhíssimos e magras. — Uma mulher com a sua aparência também deve ter vários vícios.


Com um tom solene e um olhar perverso, Dulce disse:


— Eu sou ocupada demais. Vícios exigem muito tempo.


— Quando Dulce abriu sua caixa, surgiram os vícios.
Ela parou na escada dos fundos.


— Vícios, além de outros mistérios. Acho que é por isso que
eu tenho tanto cuidado quando se trata de abrir caixas.


Christopher passou um dedo pelo rosto dela. Foi um tipo de ação com a qual, ele percebeu, poderia se acostumar facilmente. Dulce estava certa, ele já tinha sua mente ocupada.


— Cedo ou tarde, você tem de abrir a tampa.


Ela não se afastou, apesar de sentir um lampejo de tensão atração ou desejo. Dulce não gostava de recuar e sim de avan­çar, passando por cima de tudo.


— Algumas coisas são melhores quando fechadas com cadeado.


Ele concordava. Christopher não queria que Dulce liberasse o que havia em sua caixa particular mais do que ela desejasse.


— Algumas trancas não são tão fortes quanto deveriam ser.
Eles estavam próximos, com o vento passando suavemente


entre seus corpos. Dulce sentiu o sol nas suas costas e o ar gelado no rosto. Se desse um passo para a frente, haveria calor. Ela nunca duvidou disso, mas sempre evitou esse calor. Christopher usaria o que estivesse à sua disposição para enganá-la, lembrou-se. Naquele momento, o que Christopher tinha à disposição era Dulce. Ela deixou que sua respiração se acalmasse um pouco antes de abrir a porta.


— É melhor não deixarmos Glaucia esperando.



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Autor(a): dullinylarebeldevondy

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Cap. Para naty e jessica! Capítulo 3         As ruas estavam quase desertas. Um carro virou numa esquina e desapareceu. Garoava. As luzes de néon iluminavam as poças d`água. Parecia espalhafatoso, não festivo. Aquela parte da cidade tinha um ar cinzento e triste. Passagens estreitas, boa­tes decadentes, ...


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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 400



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  • natyvondy Postado em 29/10/2009 - 21:45:00

    lindo!!!

  • natyvondy Postado em 29/10/2009 - 21:44:58

    lindo!!!

  • natyvondy Postado em 29/10/2009 - 21:44:56

    lindo!!!

  • natyvondy Postado em 29/10/2009 - 21:44:09

    lindo!!!

  • natyvondy Postado em 29/10/2009 - 21:43:44

    lindo!!!

  • natyvondy Postado em 29/10/2009 - 21:43:39

    lindo!!!

  • natyvondy Postado em 29/10/2009 - 21:42:53

    lindo!!!

  • natyvondy Postado em 29/10/2009 - 21:42:47

    lindo!!!

  • natyvondy Postado em 29/10/2009 - 21:42:36

    lindo!!!

  • natyvondy Postado em 29/10/2009 - 21:42:30

    lindo!!!


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