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Capítulo: 6? Capítulo

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Capítulo 6


    Dulce estava, dormindo profundamente, foi acordada às 7h, quando Christopher se jogou em sua cama. O colchão balançou. Ele ajeitou a cabeça no travesseiro ao lado dela e fechou os olhos.


— Filho-da-mãe! — grunhiu.


Ela se sentou. Lembrando-se que estava nua, agarrou os lençóis.


— Christopher, você devia estar na Califórnia! O que está fazendo na minha cama?


— Ficando na horizontal pela primeira vez em 24 horas.


— Bem, então faça isso na sua própria cama — Ordenou, só então vendo os sinais de esforço e cansaço. — Sua mãe. — Dulce pegou na mão dele. — Ah, Christopher, sua mãe...


— Está jogando bridge. — Com a mão livre, Christopher acariciou o rosto dela. Até mesmo para ele o rosto de Dulce parecia áspero e abatido. — Eu atravessei o país como se fosse uma sardinha enlatada para descobrir que ela estava bebericando xerez e ganhando do adversário no jogo de cartas.


— Então ela está melhor?


 — Ela sempre esteve melhor. O telegrama foi um trote. — Christopher bocejou, espreguiçou-se e se ajeitou. — Deus, que noite.


 — Você está querendo dizer... — Dulce cobriu-se com o lençol, furiosa. — Bem, os ratos.


 — Sim, eu pensei em várias formas de vingança enquanto estava esperando por um vôo em Cleveland. Talvez seu amigo que arrombou a oficina tenha achado que era minha vez. Agora cada um de nós foi pego uma vez.


— Eu fui pega duas vezes.


Dulce se recostou contra a cabeceira, com os lençóis pre­sos sob os braços. Seu cabelo caía sobre seus ombros nus, bem sexy.


— Na noite passada, enquanto você estava fora, na sua caçada
inútil, fui trancada no porão.


Christopher prestava atenção apenas ao fino lençol que mal a cobria.


— Trancada? Como assim?


Colocando uma perna sobre a outra, Dulce lhe contou o que acontecera desde que as luzes se apagaram.


— Subiu em caixas? Até aquela janelinha? Mas são quase 4 metros!


— Sim, acredito que, na hora, nem percebi isso. —Christopher fechou a cara para ela. A raiva que estava sentindo


por ter passado a noite em claro dobrara. Ele podia muito bem imaginá-la procurando por uma saída daquele porão úmido. Pior, Christopher podia vê-la claramente subindo nas caixas e engradados vacilantes.


— Você podia ter quebrado o pescoço.


— Mas não quebrei. O que eu fiz foi rasgar minha calça favorita, arranhar os dois joelhos e o meu ombro.


 


Christopher conseguiu conter sua fúria. Prometeu a si mesmo que daria vazão a ela quando fosse a hora.


— Podia ter sido pior — disse baixinho, pensando no que faria
a quem quer que a tivesse trancado no porão.


— Foi pior — soltou Dulce, ofendida. — Enquanto você estava bebendo uísque escocês a 10 mil metros de altitude, eu fui presa num porão escuro e úmido, com ratos e aranhas.


— Acho que devemos pensar em chamar a polícia.


 — E fazer o quê? Não podemos provar nada. Nós nem mesmo sabemos contra quem devemos reclamar.


 — Regra nova — decidiu Christopher. — Vamos ficar juntos. Ninguém vai sair da casa durante a noite sem o outro. Pelo me­nos até descobrirmos qual dos nossos devotados parentes está aprontando.


Dulce começou a reclamar, mas então se lembrou de como tinha ficado assustada e, antes do porão, antes do medo, como se sentira sozinha.


 — Concordo. Agora... — Com uma das mãos sobre o lençol, ela se virou para Christopher. — Neste caso, eu voto em tio Bustamante. Afinal, ele conhece a casa melhor do que qualquer outra pessoa. Ele morou aqui.


 — É um palpite tão bom quanto qualquer um. Mas é apenas um palpite. — Christopher ficou olhando para o teto. — Eu quero saber. Guillermo ficou aqui por seis meses durante um verão, quando éramos crianças.


 — É verdade. — Dulce também ficou olhando, de mau hu­mor, para o teto. O espelho do outro lado do quarto os refletia deitados sociavelmente, ombro a ombro. — Tinha me esquecido disso. Eu odiei.


 — Ele nunca teve senso de humor.


 — É mesmo. E pelo que me lembro, ele não gostava de você.


— Provavelmente, porque eu o deixei com o olho roxo. — Dulce olhou para ele, intrigada.


— Você não seria capaz. — Mas, então, a imagem de Guillermo com um olho roxo não parecia tão absurda assim, ela acrescentou: — Por que você fez aquilo? Você nunca me contou.


— Lembra dos sapos na sua penteadeira? — Ela fungou, alisando os lençóis.


 — Claro que me lembro. Aquilo foi bem imaturo da sua parte.


 — Minha, não. De Guillermo.


 — Guillermo?


Atordoada, Dulce se virou para Christopher novamente.


 — Quer dizer que o pestinha colocou os sapos no meio das minhas calcinhas? — O que pensou em seguida a deixou surpreen­dentemente feliz. — E você deu um soco nele por causa disso.


 — Não foi difícil.


 — Por que você não negou quando eu o acusei?


 — Era mais prazeroso bater em Guillermo. De qualquer modo, ele conhece muito bem a casa. E eu imagino que se investigarmos vamos descobrir que a maior parte da sua família feliz já ficou aqui, pelo menos durante alguns dias. Descobrir onde fica a caixa de luz no porão não exige muita astúcia. Pense bem, Dulce. Eles são seis, sete com uma esposa. Multiplique 150 milhões por sete e terá como resultado uma infinidade de motivos. Cada um deles tem uma razão para querer que não cumpramos os termos do testamento. E nenhum deles, até onde sei, é incapaz de pôr um pouco de pressão para nos ajudar a fazer isso.


 — Eis outra razão por que o dinheiro nunca me atraiu — re­fletiu Dulce. — Eles não fizeram nada além de vandalizar e nos irritar, mas, caramba, Christopher, eu quero fazê-los pagar por isso.


 — A vingança definitiva acontecerá em apenas cinco me­ses. — Sem pensar, Christopher pôs o braço em volta dos ombros dela. Sem pensar, Dulce se aconchegou ao corpo dele. Um leve cheiro se apegou à pele dela. — Você é capaz de imaginar a cara de tio Bustamante quando o testamento for cumprido por completo e ele não ganhar nada além de uma varinha mágica e uma cartola?


O ombro de Christopher era mais forte do que ela imaginava.


— E Guillermo, com três pacotes de caixas de fósforos — Confortavelmente instalada, ela gargalhou. — Tio Martim ainda vai rir por último.


— E nós riremos com ele em poucos meses.


— É um compromisso. E você, tire seus sapatos dos meus lençóis.


 — Desculpe. — Com dois gestos comedidos, Christopher ficou descalço.


 — Não foi isso o que eu quis dizer. Você por acaso não quer voltar para seu quarto agora?


 — Não exatamente. Sua cama é mais gostosa do que a minha. Você sempre dorme nua?


 — Não.


 — A sorte deve estar ao meu lado, então. — Christopher se vi­rou para pressionar seus lábios contra o arranhão no ombro de Dulce. — Dói?


Ela fez que não e rezou para que Christopher entendesse isso como um sinal de indiferença.


 — Um pouco.


 — Pobre Pandorinha. E pensar que eu sempre achei que você fosse durona.


 — Eu sou...


 — Macia — ele a interrompeu, deslizando seus dedos pelo braço dela. — Muito macia. Mais algum arranhão? — Christopher passou os lábios pelo pescoço de Dulce. Os dois sentiram um rápido e involuntário estremecimento.


 — Nenhum que você não tenha notado.


 — Eu sou muito observador. — Ele se aproximou devagari­nho, de modo que seu corpo encostasse com mais intimidade no dela, enquanto olhava para o restante do corpo de Dulce. Christopher estava cansado. Sim, ele estava cansado e mais do que tonto por causa da diferença de fusos, mas Christopher não se es­quecera que a desejava. E mesmo se tivesse esquecido, o modo como o corpo dela se entregava, seu rosto rosado e amassado pelo sono, teria reavivado sua memória. — Por que eu mesmo não procuro? — Christopher correu os dedos para baixo, para a excitante parte onde o lençol limpo e impecável cobria o seio dela.


Dulce prendeu a respiração, incrivelmente atingida pelo mais leve dos toques de Christopher. Mas ela não podia demonstrar... Podia? Dulce não podia ansiar por algo que era apenas uma fantasia. Christopher não era normal. Não era real. Ele só estava ali agora porque não havia mais ninguém. Por que era tão difícil se lembrar disso?


O rosto de Christopher estava próximo, preenchendo todo o campo de visão de Dulce. Ela viu as pequenas coisas que ten­tara não notar ao longo dos anos. O modo como um anel fino, acinzentado, delineava sua íris, a linha reta, quase aristocrática, do nariz de Christopher, que milagrosamente permanecia intacta, depois de tantas brigas. A forma macia, esculpida, até poética da boca. A boca, lembrou-se, que era quente, forte e criativa quando a tocava.


— Christopher...


O fato de ela ter hesitado e se afastado pouco antes de se abaixar para tirar as mãos dele o deixou ao mesmo tempo feliz e com raiva. Dulce não era tão fria e contida como sempre quisera demonstrar. E, por isso, Christopher podia seduzi-la. Mas talvez fosse incapaz de escapar da sedução tão facilmente.


Seja prática, Dulce disse a si mesma. Seja realista.


— Christopher, nós temos quase cinco meses ainda para fazer
isso.


— Bem pensado.


Ele precisava de afeto. Ele precisava de uma mulher. Talvez fosse a hora de arriscar. Christopher abaixou a cabeça e mordiscou-lhe a boca.


— Por que desperdiçar este momento?


Dulce se permitiu aproveitar. Só por um instante, ela se prometeu. Só por um instante. Christopher era caloroso e suas mãos, macias. A noite havia sido longa, fria e assustadora. Não importava o quanto Dulce odiava ter de admitir, mas a ver­dade é que precisava dele. Agora, a luz do sol entrava pelo vidro quadriculado da janela, e atingia com força e brilho a cama; Dulce tinha Christopher. Perto, seguro, consolador.


Seus lábios se abriram de encontro aos dele.


Ao entrar no quarto de Dulce, Christopher não tinha nada planejado. Ele fora simplesmente atraído por ela; ele queria se deixar ficar ao lado dela e conversar. Christopher não fora guiado pela paixão. O desejo não o pressionara. Era apenas a vontade básica de estar em casa, em casa e com ela. Quando Dulce se aconchegou ainda mais, com os cabelos todos emaranhados, o olhar pesado, era algo tão natural que a ansiedade lhe escapou. Christopher não queria nada além de ficar onde estava, abraçado a Dulce, aquecendo-se lentamente.


Para ela, a paixão não borbulhava loucamente, e sim com calma, como um caldo que fora colocado para ferver por todo o dia, enquanto pedacinhos de temperos eram acrescentados. Um tipo, depois outro, e o sabor mudava, ficava mais elaborado e profundo. Com Christopher, os sabores eram apenas sugeridos, um aroma para se recolher e apreciar. Dulce podia continuar por horas e horas, até que ele estivesse no ponto. Ela queria se entregar ao desejo, à beira da cobiça. Mas, se fizesse isso, tudo mudaria. Era uma mudança que Dulce não era capaz de pre­ver, de ver claramente; podia apenas antecipar. Por isso resistiu ao que ela e Christopher queriam e o que poderia ter acontecido entre eles.


— Christopher... — Mas ela deixou que seus dedos acariciassem
os cabelos dele por mais um minuto. — Isso não é inteligente.


Christopher beijava os olhos dela, fechados. Era algo que ninguém jamais havia feito.


— É a coisa mais inteligente que nós dois fizemos em anos.
Dulce queria concordar com ele, e se sentiu prestes a fazer


justamente isso.


— Christopher, as coisas já são bastante complicadas. Se nos tor­narmos amantes e as coisas derem errado, como conseguiremos continuar a viver aqui juntos? Nós nos comprometemos com tio Martim.


— O testamento não tem nada a ver com você e eu aqui nesta
cama.


Como Dulce foi capaz de esquecer como Christopher parecia tão intenso quando estava disposto a alguma coisa? Por que ela nunca tinha percebido como isso fazia dele um homem atraente? Dulce tinha de opor-se agora ou se entregar de uma vez.


 — O testamento tem tudo a ver com você e eu aqui nesta casa. Se nós formos para a cama e nossa relação mudar, teremos de lidar com todos os problemas e complicações que se seguirão a isso.


 — Cite algumas.


 — Não ria, Christopher.


 — Rir de você não era o que eu pretendia. — Christopher gostava da aparência dela com a cabeça no travesseiro: os cabelos espa­lhados como uma fogueira ensandecida, as bochechas rosadas, a boca quase fazendo biquinho. O estranho era que ele jamais a vira daquele jeito antes. E não era preciso pensar muito para saber que Christopher a veria naquela posição mais vezes. — Eu a quero, Dulce. E não há nada de engraçado nisso.


Não, isso não era algo sobre o qual ela podia rir ou achar divertido, não quando as palavras eram ditas com tanta inten­sidade e faziam seus músculos amolecerem. Christopher não estava falando sério. Ele não podia estar falando sério. Mas Dulce queria acreditar nele. Se não era para ela rir daquilo, precisava fechar a guarda e bloquear.


 — Nos tornarmos amantes é algo que exige muita reflexão. Se vamos discutir isso...


 — Eu não quero discutir isso. — Christopher a beijou até sentir que Dulce estava mais relaxada. — Não estamos fazendo uma fusão de empresas, Dulce. Estamos fazendo amor.


 — Chega.


Ela mandou para longe uma avalanche de desejo. Seja prática. Esta regra guiava suas ações.


— Nós somos sócios. Pior, somos sócios em assuntos de família. Pelo menos pelos próximos meses. Se mudarmos isso agora, podemos...


— Se — interrompeu Christopher. — Podemos. Você sempre precisa de certezas?


Dulce franziu mais a testa, à medida que a raiva brigava com o desejo.


 — É uma questão de bom senso olhar por todos os ângulos.


 — Acho que você exige que todo amante em potencial preencha uma ficha de inscrição.


A voz de Dulce tremeu. Aquilo era, de um jeito torto, quase verdade.


— Não seja grosseiro, Christopher.


Levado até o limite, ele olhou para todo o corpo dela.


 — Prefiro ser cruel a ter o seu bom senso.


 — Você nunca teve bom senso — esbravejou ela. — Do con­trário, por que toda e qualquer loura peituda que você leva para a cama se tornaria de conhecimento público? Você não tem nem mesmo a decência de ser discreto.


 — Então é isso. — Virando-se, Christopher a pôs sentada. Não havia mais uma entrega doce agora. Dulce o encarava com fogo nos olhos. — Não se esqueça das morenas e das ruivas.


Dulce não se esquecera. E prometera a si mesma que jamais se esqueceria.


 — Não quero falar disso.


 — Você tocou no assunto, e nós vamos terminá-lo. Eu fui para a cama com mulheres. Tudo bem. Traga as algemas. Eu até gostei disso.


Ela jogou os cabelos para trás.


 — Tenho certeza de que gostou.


 — E eu não tive que debater nada com elas nas preliminares. Algumas mulheres preferem o romance e o prazer mútuo.


 — Romance? — Dulce franziu ainda mais a testa sob seus cabelos desgrenhados. — Eu sempre usei outra palavra para descrever isso.


 — Você não seria capaz de reconhecer uma coisa romântica nem se ela fosse esfregada em seu rosto. Você acha que é discreto ter amantes e fingir que não? Exigir fidelidade total de uma pes­soa enquanto olha para outra? O que você chama de discrição eu chamo de hipocrisia. Eu não tenho vergonha de nenhuma das mulheres que conheci, na cama ou fora dela.


— Não estou interessada em saber do que você se envergonha ou não. Eu não vou ser seu próximo "prazer mútuo". Gaste todo O seu desejo com suas dançarinas, atrizes e cantoras de coral.


— Você é tão esnobe quanto todas elas.


Isso a atingiu a ponto de deixar seus ombros tensos.


— Não é verdade. Eu simplesmente não tenho a intenção de
ser mais uma na multidão.


 — Sinto-me lisonjeado, prima.


 — Há outra palavra para isso também.


— Pense nisso. — Christopher a balançou forte, mais forte do que pretendia. — Eu jamais fiz amor com uma mulher com quem não me importasse e respeitasse. — Antes de perder a paciência e fazer mais do que simplesmente sacudi-la, ele se levantou e foi
até a porta, deixando-a no meio da cama, apertando os lençóis e parecendo furiosa.


— Parece que você respeita qualquer uma.
Christopher se virou para examiná-la cuidadosamente.


— Não — disse, bem devagar. — Mas eu não exijo que as pessoas passem por uma provação para ganharem meu respeito.


 


Uma guerra fria podia não ser tão estimulante como uma batalha de verdade, mas, com os participantes certos, podia ser tão destrutiva quanto. Por dias Dulce e Christopher ficaram se estudando. Se um fazia um comentário sarcástico, o outro pro­curava no estoque e usava o mesmo sarcasmo. Nenhum dos dois levantou a bandeira vermelha do ataque total. Em vez disso, eles se beliscavam e cutucavam enquanto os empregados olhavam com desaprovação e aguardavam a carnificina.


— Tolice — declarou Glaucia enquanto abria com um rolo
a massa para duas tortas de maçã. — Tolice pura.


Ela era uma mulher robusta, de rosto avermelhado, tão gorda quanto Pascoal era magro. Com seu modo pragmático e sem absur­dos, Glaucia se casara e enviuvara duas vezes, e então entrou no mundo da culinária. Sua cozinha era sempre limpa e bem cuidada, sempre com o aroma da pecaminosa comida que fazia.


 — Criançadas mimadas — ela comentou com Pascoal. — É isso o que eles são. Crianças mimadas que precisam de uma palmada.


 — Eles ainda têm mais quatro meses pela frente. — Pascoal sentou-se tristemente na mesa da cozinha, curvado sobre uma xícara de chá. — Eles nunca vão conseguir.


 — Hah! — Glaucia bateu com o rolo sobre a bola de massa fresca. — Vão conseguir, sim. São teimosos demais para desistir. Mas isso não basta.


 — O patrão queria que eles ficassem com a casa. Contanto que consigam isso, nós não a perderemos.


 — E o que ficaremos fazendo nesta mansão vazia quando os dois voltarem para a cidade? Com que freqüência eles nos visitarão agora que o patrão morreu? — Glaucia virou a massa numa fôrma e a ajeitou como uma especialista. — É verdade que o patrão queria que eles herdassem a casa. E ele queria também que ficassem um com o outro. Esta casa precisa de uma família. Nós é que devemos trabalhar para que isso aconteça.


 — Você não os ouviu durante o café-da-manhã. — Pascoal bebericava seu chá e observava Glaucia despejar uma mistura úmida de maçãs sobre a massa da torta.


 — Isso não quer dizer nada. Eu vi o modo como eles se olham quando acham que o outro não está percebendo. Tudo o que eles precisam é de um empurrãozinho.


Com movimentos rápidos e contidos, ela recheou a outra massa.


 — E nós vamos dar o empurrão. Pascoal alongou as pernas.


 — Estamos velhos demais para dar um empurrão nos jovens.


Glaucia grunhiu, virando-se. Suas mãos eram grossas, e ela as pôs na cintura.


 — O segredo é justamente ser velho. Você está se sentindo muito mal ultimamente.


 — Não. Para falar a verdade, eu estou me sentindo muito melhor esta semana.


 — Você está se sentindo mal — repetiu Glaucia, piscando para ele. — Sua querida Dulce está chegando para o almoço. Apenas me acompanhe. E faça de conta que está abatido.


Nevara durante a noite, em grandes e grossos flocos que se acumularam no solo e no alto dos pinheiros. Enquanto cami­nhava, Dulce chutava a neve, divertindo-se. Seu trabalho não podia estar se desenvolvendo melhor. Os brincos que finalmente criara eram únicos, tão especiais que ela desenhara um colar para formar um conjunto. Era um colar grosso e exagerado, com formas geométricas em ouro e cobre. Nem toda mulher poderia usá-lo, mas aquela que o usasse não passaria despercebida.


Para Dulce, o conjunto indicava uma mulher forte e deci­dida. Ela se sentia tão feliz com os imensos brincos que estava fazendo que usara neles contas de azeviche e prata. Elas foram meticulosamente presas, e quando os brincos estivessem prontos, seriam elegantemente sedutores. Outro aspecto da mulher que usasse aqueles brincos. Se mantivesse este ritmo de produção, teria uma boa coleção para mandar para a loja da qual era for­necedora. Em tempo para os presentes de Natal, lembrou-se, convencida.


Ao abrir a porta da cozinha, Dulce estava morta de forme e no melhor do seu humor.


 — ... se você estiver se sentindo melhor em um ou dois dias — dizia Glaucia energicamente, e então virou-se, como se tivesse sido surpreendida por ver Dulce ali. — Ah, devo ter perdido a hora. Já é hora do almoço e eu estou terminando as tortas.


 — Tortas de maçã?


Rindo, Dulce se aproximou. Mas Glaucia viu, contente, que ela já estava examinando Pascoal.


— Sobrou algum recheio? — perguntando, começando a
mergulhar seus dedos na tigela.


Glaucia deu um tapa ligeiro na mão dela.


— Você estava trabalhando com estas mãos. Lave-as na pia e
poderá comer seu almoço assim que eu o tiver preparado.


Obedientemente, Dulce abriu a torneira. Protegida pelo barulho da água, sussurrou para Glaucia:


— Pascoal não está se sentindo bem?


— A bursite está atacando. O frio é um problema. E ser velho já é um problema por si só. — Glaucia pôs uma das mãos nas costas como se estivesse com dor. — Acho que nós dois estamos um pouco doentes. Dores e mais dores — suspirou, olhando longamente para Dulce. — Faz parte do envelhecimento.


— Besteira.


Preocupada, Dulce esfregou as mãos com força. Ela dizia a si mesma que deveria manter os olhos em Pascoal.


— Você tenta fazer coisas demais.


 — Com as festas de fim de ano se aproximando... — Glaucia deixou a frase morrer e se pôs a falar enquanto cuidava da deco­ração da torta. — Bem, decorar a casa é muito trabalhoso, mas vale a pena. Pascoal e eu vamos pegar as caixas no sótão hoje à tarde.


 — Não seja boba. — Dulce desligou a torneira e procurou por uma toalha. — Eu vou pegar a decoração.


 — Não, madame. Há muitas caixas e a maioria delas é pesada demais para uma menininha como você. Isso é tarefa para nós. Não é mesmo, Pascoal?


Pensando em subir as escadas do sótão uma boa meia dúzia de vezes, Pascoal começou a suspirar. Um olhar de Glaucia o deteve.


 — Não se preocupe, senhorita Saviñon. Glaucia e eu daremos um jeito isso.


 — Você certamente não. — Dulce pendurou a toalha em um gancho. — Eu e Christopher desceremos tudo hoje à tarde, e Ponto final. Agora vou chamá-lo para almoçar.


Glaucia esperou a porta se fechar atrás de Dulce antes de rir.


Lá em cima, Dulce bateu duas vezes na porta do escritório de Christopher, e então entrou. Ele continuou batendo à máquina. Deixando seu orgulho de lado, Dulce foi até a escrivaninha dele e cruzou os braços.


 — Preciso falar com você.


 — Volte mais tarde. Estou ocupado.


Ela quase o insultou. Lembrando-se da voz cansada de Glaucia, porém, Dulce se conteve.


— É importante. — A palavra estava na ponta da língua, mas acabou dizendo. — Por favor.


Surpreso, Christopher parou de datilografar no meio de uma palavra.


 — O quê? Alguém da família aprontou novamente?


 — Não, não é nada disso, Christopher. Nós temos que decorar a casa para o Natal.


Ele a encarou por um momento, praguejando e voltando à máquina de escrever.


 — Eu tenho um menino de 12 anos seqüestrado e mantido no cativeiro em troca de um resgate de 1 milhão de dólares aqui. Isso é importante.


 — Christopher, pode abandonar sua terra da fantasia por um instante? Aqui é a realidade.


 — Esta história também. Pergunte ao meu produtor.


 — Christopher! — Antes que ele pudesse impedi-la, ela puxou a folha da máquina de escrever. Em retaliação, Christopher quase pulou da cadeira. — É por causa de Glaucia e de Pascoal.


Isso o deteve, embora Christopher tivesse arrancado o papel das mãos dela.


 — O que há com eles?


 — A bursite de Pascoal está atacando de novo, e eu tenho certeza de que Glaucia não está se sentindo bem. Ela parece tão... bem, velha.


 — Ela é velha. — Mas Christopher largou o papel sobre a escri­vaninha. — Acha que devemos chamar um médico?


— Não. Eles ficariam furiosos. - Ela ficou ao lado da escrivaninha dele, tentando fingir que não estava lendo parte do roteiro. — Eu prefiro só prestar atenção neles por alguns dias e ter certeza de que não trabalhem demais. É aí que entra a decoração de Natal.


 — Achei que você desse conta disso. Olha, se você quer decorar os corredores, vá em frente. Eu não tenho tempo para brincar disso hoje.


 — Nem eu. — Ela cruzou os braços de um jeito que Christopher achou engraçado. — Glaucia e Pascoal puseram na cabeça que isso tem de ser feito. A não ser que nós queiramos que eles se arrastem para cima e para baixo na escada do sótão, teremos de cuidar disso.


 — Anda faltam três semanas para o Natal.


 — Eu sei. — Frustrada, ela andou a passos pesados até a janela e voltou. — Eles são velhos e estou cansada disso. Você sabe que tio Martim teria decorado a casa no dia seguinte ao Dia de Ação de Graças. É a tradição.


— Tudo bem, tudo bem. — Encurralado, Christopher se levantou. — Vamos começar.


— Logo depois do almoço. — Feliz por tê-lo convencido,
Dulce saiu correndo do escritório.


Quarenta e cinco minutos depois, ela e Christopher estavam abrindo a porta do sótão. Aquele lugar era, para fazer jus à tra­dição de tio Martim, bastante grande para abrigar uma família de cinco pessoas.


— Ah, eu tinha me esquecido de como este lugar é maravilhoso.


Distraída, Dulce agarrou a mão de Christopher e o puxou para dentro.


— Veja esta mesa. Não é horrível?


Era. Velha e decorada com arabescos e cupidos, ela fora joga­da num canto, onde sustentava outras parafernálias que Martim descartara.


 — E a gaiola feita com palitos de pirulito? Tio Martim disse que ele levou seis meses para terminá-la. E, então, não teve coragem para colocar um pássaro nela.


 — Sorte do pássaro — resmungou Christopher, percebendo-se contudo, e como sempre, mergulhado no charme poeirento do lugar. — Galochas — ele disse, erguendo um par delas de uma caixa. — Consegue imaginar tio Martim com elas?


 — E este chapéu. — Dulce encontrara um grande, trançado semicircular com um jardim de flores em toda a aba. — De tia Katie. Eu sempre quis conhecê-la. Meu pai dizia que ela era tão divertida quanto tio Martim.


Christopher observou Dulce examinando de perto a borda do chapéu.


 — Se este chapéu pertenceu a ela, acredito no que seu pai dizia. E quanto a isso? — Ele achou um chapéu-coco preto e o virou despreocupadamente.


 — É você — disse-lhe Dulce, com a primeira gargalhada fácil em dias. — Tudo o que você precisa é de um colarinho branco alto e uma bengala. Veja. — Ela o empurrou para a frente de um espelho de corpo inteiro que já estava precisando de uma nova camada de prata. Juntos, eles ficaram se olhando.


 — Um casal elegante — concluiu Christopher, embora seu suéter estivesse sobrando na cintura e Dulce estivesse já com poeira no nariz. — Tudo o que você precisa é de uma daquelas finas saias brancas que arrastam pelo chão e de uma blusa rendada com ombreiras.


 — E um camafeu com um laço — acrescentou, tentando se imaginar. — Não, eu provavelmente usaria pantalonas e partici­paria de passeatas pelos direitos das mulheres.


 — O chapéu ainda combina com você. — Christopher virou-se para ajustá-lo só um pouco. — Especialmente com seus cabelos compridos e soltos. Eu sempre gostei deles compridos, ainda que você parecesse sedutoramente perdida e com olhos enormes quando os cortou curtinhos.


 — Eu tinha 15 anos.


E tinha acabado de chegar das ilhas Canárias com as mais compridas e bronzeadas pernas que eu jamais vira na minha vida. Eu quase mordi o prato quando a vi entrando na sala.


— Você estava na faculdade, e tinha alguma líder de torcida agarrada a você. Christopher riu.


— Você tinha pernas mais bonitas.


Dulce fingiu não estar muito interessada. Ela se lembrava da visita perfeitamente, mas estava surpresa, e feliz, porque Christopher também se lembrava.


— Não acredito que você notou e se lembrou.


— Eu lhe disse que era um bom observador.


Ela reconheceu o ataque com um leve menear de cabeça. Havia momentos em que o melhor a fazer era andar cuidadosamente sobre o campo minado.


— É melhor começarmos a tirar a decoração das caixas. Glaucia disse que elas estavam na esquerda, nos fundos, e claramente identificadas. — Sem esperar que Christopher concordasse, ela se virou e começou a procurar. — Ah, que tristeza. — Ela parou novamente, ao ver as pilhas de caixas. Vinte, talvez 25 delas. Christopher ficou cm pé ao lado dela, com as mãos nos bolsos.


— Acha que podemos contratar alguns carregadores?


Em algumas viagens, eles conseguiram descer com duas ou três caixas por vez. Noutras, foi preciso a força dos dois para carregar uma única caixa. Em determinado momento do trabalho, eles simplesmente pararam de discutir. Era cansativo demais.


Suados e sujos, eles levaram as últimas caixas até a sala de estar. Ignorando a poeira que cobria sua calça, Dulce desabou na cadeira mais próxima.


— Não vai ser divertido carregá-las lá para cima novamente depois do Ano-Novo?


— Não podíamos nos contentar com apenas um Papai Noel de plástico?


— Seria ótimo.


Recuperando a energia, Dulce se ajoelhou no chão e abriu a primeira caixa.


— Vamos começar.


Assim que começaram, entregaram-se ao trabalho como que por desforra. As caixas eram abertas, as guirlandas espa­lhadas e as luzes testadas. Eles discutiam alegremente sobre o que ficava melhor onde e o jeito certo de colocar as luzes nas janelas. Quando a sala de estar, o corredor principal e a esca­daria estavam prontas, Dulce ficou em pé na porta, olhando longamente.


A guirlanda era branca e prateada, serpenteando por todo o corrimão. Havia sinos vermelhos reluzentes, vistosos laços verdes e pequenas lâmpadas só esperando que escurecesse.


 — Parece bom — disse Dulce. — Muito bom. Claro que Glaucia e Pascoal vão querer decorar eles mesmos os aposentos dos empregados, e toda esta caixa vai para a sala de jantar, mas é um excelente começo.


 — Começo? — Christopher sentou-se na escada. — Não estamos participando de nenhum concurso, prima.


 — Estas coisas precisam ser feitas do jeito certo. Fico me perguntando se meus pais farão o mesmo na casa deles para o Natal. Bem... — Dulce afastou este pensamento. Seus pais sempre chamavam de casa onde quer que estivessem no mo­mento. — Eu diria que estamos prontos para a árvore. Vamos encontrar uma.


 — Você quer dirigir até a cidade agora?


 — Claro que não. — Dulce já estava tirando os casacos do armário do hall de entrada. — Nós vamos diretamente para a floresta desenterrar uma árvore.


 — Nós?


 — Claro. Eu odeio quando as pessoas derrubam árvores e depois as jogam fora depois do Ano-Novo. A floresta está cheia de pinheirinhos. Vamos desenterrar um e replantá-lo depois das festas.


 — E desde quando você é boa com uma pá?


— Não seja estraga-prazeres. — Dulce jogou o casaco em Christopher. — Além do mais, vai ser bom passar algum tempo lá fora depois de ficar naquele sótão abafado. Nós podemos beber um rum bem quente quando terminarmos.


— Voto pelo rum.


Eles pararam no armário de ferramentas para pegar as pás. Christopher pegou duas e entregou uma delas para Dulce. Ela a pegou no ar, sem hesitar, e juntos eles caminharam com neve até os tornozelos até a floresta. O ar era penetrante e o cheiro dos pinheiros era, de certo modo, mais forte na neve.


— Eu adoro quando o tempo está assim.


Dulce equilibrava a pá no ombro e avançava pela floresta.


— É tão calmo. Tão... isolado. Sabe, às vezes penso que pre-
feria viver aqui e visitar a cidade do que o contrário.


Christopher pensava a mesma coisa, mas estava surpreso por ouvir aquilo de Dulce.


 — Sempre achei que você gostasse do brilho das luzes e da confusão.


 — Eu gosto. Mas também gosto disso. Que tal este? — Ela parou bem em frente a um pinheiro. — Não, o tronco está rachado demais. — Dulce continuou andando. — Além do mais, eu me pergunto se não seria mais excitante ir à cidade por uma semana, de vez em quando, e saber que você tem um lugar como este onde pode voltar. Eu acho que trabalho melhor aqui. Que tal esta?


— Alta demais. Vai ser melhor se desenterrarmos uma árvore jovem. Isso não acabaria com sua vida social?


— O quê? — Ela examinara a árvore e foi obrigada a concordar
com Christopher. — Ah! Minha vida social não é uma prioridade,
meu trabalho é. De qualquer modo, posso me divertir aqui.


Ele a imaginava passando longos e aconchegantes fins de semana com homens metidos a artistas que liam Keats em voz alta.


— Você não precisa enfrentar uma viagem até Catskills para brincar de casinha.


Dulce apenas arqueou uma sobrancelha.


— Não, não preciso. Esta daqui parece boa. — Ela parou
novamente e estudou cuidadosamente o pinheiro de 1,50m. Atrás dela, Christopher se esforçava para manter a boca fechada


— Tamanho perfeito para a sala de estar.


— Ótimo. — Ele enfiou a pá no solo. — Ponha toda a sua
força nisso.


Enquanto Christopher estava obstinado cavando, com a pá ela pegou um bocado de neve e jogou no rosto dele.


— Ah, desculpe! — Ela sorriu e piscou os olhos. — Parece que estou sem mira. — Cavando com mais força, Dulce começou a assobiar.


Christopher deixou passar, provavelmente porque gostara da brincadeira e desejara ter pensado nisso antes. Em 15 minutos Christopher abrira o buraco.


— Olhe só. — Um pouco cansada, Dulce se apoiou na pá.


— A satisfação de um trabalho bem-feito.


— Nós só temos que carregá-la de volta até a casa, decorá-la e... Droga, precisamos de algo para embrulhar as raízes e a terra em volta dela. Tem um saco no jardim de inverno.


Eles olharam um para o outro carinhosamente.


— Tudo bem — disse Christopher, depois de algum tempo. — Eu vou pegá-lo. Mas você terá de varrer as folhas e a terra que deixarmos pelo chão.


— Fechado.


Feliz, Dulce se virou para observar um pássaro quando uma bola de neve a atingiu na nuca.


— Desculpe — disse Christopher, com um sorriso compadecido.


— A mira deve estar com defeito. — Voltando para o jardim-de-inverno, ele assobiava.


 


Dulce esperou até que ele sumisse no horizonte e então riu escandalosamente, ajoelhada para fazer mais bolas de neve. Quan­do ele voltasse, calculou, ela teria um arsenal. Christopher não teria nenhuma chance. Sem pressa, Dulce moldava e alisava cada bola de neve, transformando-as em armas sofisticadas. Segura de ter uma vantagem, ela quase caiu ao ouvir um som atrás dela. Dulce tinha uma bola de neve nas mãos e estava prestes a jogar e assobiar. Mas não havia ninguém lá. Forçando a vista, esperou. Ela não tinha percebido um movimento atrás das árvores? Era apenas Christopher, escondendo-se e tentando pegá-la desprevenida. Dulce viu o pássaro alçar vôo novamente, como se estivesse com medo, e ouviu o baque surdo da neve quando caía dos galhos.


 — Tudo bem, Christopher, não seja covarde. — Ela tinha uma bola de neve na mão esquerda, preparada para o bombardeio.


 — Está protegendo a retaguarda? — perguntou Christopher. Mas, desta vez, quando Dulce virou-se, foi atingida por trás. Ele riu e jogou o saco de algodão no colo dela.


— Mas você não estava...


Dulce interrompeu-se, procurando atrás dela mais uma vez. Como ele podia estar ali se estava lá?


— Você deu a volta?


 — Não, mas pela aparência deste monte de bolas de neve, eu deveria ter feito isso. Quer brincar de guerra?


 — É apenas uma aparato de defesa — disse, e então olhou para trás novamente. — Eu pensei ter ouvido você. Eu juraria que havia alguém exatamente atrás daquelas árvores.


 — Eu fui em linha reta até o jardim-de-inverno e voltei. — Christopher olhou por cima dela. — Você viu alguma coisa lá?


— Christopher, se você estiver brincando comigo...


— Não. — Ele a interrompeu, esticando-se para puxá-la para
cima. — Sem truques. Vamos dar uma olhada.


Dulce meneou os ombros, mas não largou a mão dele en­quanto entravam ainda mais na floresta.


 — Talvez eu tenha ficado um pouco apreensiva.


— Ou esperando que eu agisse sorrateiramente?


 — Isso também. Provavelmente, era só um coelho.


— Um coelho com um pé bem grande — ele sussurrou ao olhar para baixo, para as pegadas. Elas estavam bastante nítidas na neve. Pegadas que iam e se afastavam de um ponto a 9 metros de onde eles estavam desenterrando a árvore. — Coelhos não usam botas.


 — Quer dizer que ainda temos companhia. Eu estava come­çando a achar que eles haviam desistido da coisa toda. — Dulce mantinha a voz baixa, mas estava sentindo o incômodo de alguém que sabe que estava sendo observada. — Talvez seja hora de conversarmos com Franco, Christopher.


 — Talvez. Enquanto isso... — O som de um motor o inter­rompeu. Christopher saiu correndo, com Dulce no seu encalço. Depois de uma corrida de cinco minutos eles chegaram, sujos e sem fôlego, ao que era não mais do que uma trilha de lenhadores. Marcas de pneu sobre a neve a tinham deixado preta. — Um jipe, eu acho.


Xingando, Christopher pôs as mãos nos bolsos. Se tivesse corrido imediatamente, poderia ter alcançado alguém ou pelo menos visto de longe quem era.


Dulce deixou escapar um suspiro de raiva. Correr atrás de alguém era uma coisa. Ser passada para trás era outra.


 — Seja quem for, está apenas perdendo seu tempo.


 — Eu não gosto de ser espionado. — Christopher queria contato físico. Ansiava por isso. Frustrado, ele olhou imóvel para as mar­cas de pneus que levavam de volta à estrada principal. — Não vou ficar brincando de gato-e-rato pelos próximos quatro meses.


 — O que vamos fazer?


Ele abriu um sorriso enquanto olhava para as marcas.


— Vamos enviar a notícia, por Franco, de que estamos sendo incomodados por invasores. Considerando que há certo número de objetos valiosos no local, nós decidimos tirar da caixa uma das velhas espingardas calibre 30 de tio Martim.


 — Christopher! Eles podem ser estorvos, mas ainda são nossa família. — Indecisa, ela o examinava. — Você não atiraria em alguém de verdade.


 — Prefiro atirar em alguém da família a atirar em estranhos — ele a contrariou, depois deu de ombros. — Eles também pre­zam a própria pele. Eu não consigo pensar em nenhum deles capaz de aprontar se souberem que podem levar um tiro.


  Não gosto disso. Armas, mesmo a ameaça delas, são um problema.


 — Tem uma idéia melhor?


 — Vamos comprar um cachorro. Um cachorro bem grande e mau.


 — Ótimo, daí nós podemos deixá-lo solto e deixá-lo morder um dos nossos parentes favoritos. Eles vão gostar disso muito mais do que de um tiro.


 — Ele não precisa ser tão mau assim.


 — Eu vou me prevenir e fazer as duas coisas.


 — Christopher...


 — Vamos ligar para Franco.


 — E aceitar o que ele nos aconselhar? — perguntou Dulce.


 — Claro... se eu gostar do que ele disser.


Ela começou a reclamar, mas então riu. Aquilo tudo era tão bobo quanto uma das histórias do programa que Christopher es­crevia.


— É razoável — concluiu, enfiando um braço no dele. — Mas primeiro vamos levar a árvore para dentro.



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Autor(a): dullinylarebeldevondy

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Capítulo 7   -Eu sei que é véspera de Natal, Julia. Christopher pegou sua xícara de café, viu que estava vazia e então levantou o bule da cafeteira. Nem um pingo. Deixou escapar um suspiro. O problema da mansão Revertti era que você tinha de andar meio quilômetro para a cozinha sempre que ficava vazio. &mdas ...


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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 400



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  • natyvondy Postado em 29/10/2009 - 21:45:00

    lindo!!!

  • natyvondy Postado em 29/10/2009 - 21:44:58

    lindo!!!

  • natyvondy Postado em 29/10/2009 - 21:44:56

    lindo!!!

  • natyvondy Postado em 29/10/2009 - 21:44:09

    lindo!!!

  • natyvondy Postado em 29/10/2009 - 21:43:44

    lindo!!!

  • natyvondy Postado em 29/10/2009 - 21:43:39

    lindo!!!

  • natyvondy Postado em 29/10/2009 - 21:42:53

    lindo!!!

  • natyvondy Postado em 29/10/2009 - 21:42:47

    lindo!!!

  • natyvondy Postado em 29/10/2009 - 21:42:36

    lindo!!!

  • natyvondy Postado em 29/10/2009 - 21:42:30

    lindo!!!


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