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Capítulo: 9? Capítulo

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Capítulo 9


 


janeiro era um mês de ventos congelantes, neve farta e céu nublado. Cada dia é tão frio quanto o anterior, com o dia seguinte mais frio ainda na seqüência. Era um mês de canos congelados, canos estourados, calefação no máximo e motores enguiçados. Dulce amava isso. O gelo se acumulava na janela da sua oficina, e dentro dela a temperatura permanecia sempre amena, apesar do aquecimento ligado. Ela trabalhava até que seus dedos estivessem dormentes, e aproveitava cada momento.


Por todo o mês, a estrada até a mansão Revertti ficava pratica­mente intransitável. Dulce não se importava por não conseguir sair. Isso também significava que ninguém podia entrar. A despensa e o freezer estavam abastecidos, e havia uma pilha de lenha ensacada na porta da cozinha. Do modo como via as coisas, eles tinham tudo que precisavam. Os dias eram curtos e produtivos e as noites longas e relaxantes. Desde o caso do champanhe, estava tendo um inverno tranqüilo e sem surpresas.


Sem surpresas, pensou Dulce, não era exatamente a expressão correta. Com pancadas rápidas e cuidadosas, ela limou as arestas de um grosso bracelete de cobre. Certamente, não era como se nada tivesse acontecido. Não houve problemas provocados por pessoas de fora, mas... Problemas, como ela sempre soubera, definitivamente, eram um dos grandes talentos de Christopher Uckermann.


O que ele estava tentando conseguir deixando um monte de violetas sobre o travesseiro dela? Dulce achava que fora preciso uma varinha mágica para se produzir violetas em pleno mês de janeiro. Quando ela perguntou sobre as flores, Christopher simplesmente sorriu e lhe disse que elas não tinham espinhos Que tipo de resposta era aquela? Era o que Dulce se pergunta­va, examinando o fecho do bracelete sob a lupa. Ela estava feliz pelo modo como desenhara o fecho para ficar em harmonia com o restante da peça.


Então, houve uma hora em que ela saiu do banho e encontrou o quarto iluminado com uma dúzia de velas. Quando pergun­tou se a luz havia acabado, Christopher apenas gargalhou e a levou para a cama.


Ele fazia coisas como pegar na mão dela durante o jantar e sussurrar no seu ouvido antes do amanhecer. Certa vez, Christopher se juntou a ela no banho sem ser convidado e calou seus pro­testos lavando cada centímetro do corpo de Dulce. Ela estava certa: Christopher Uckermann não seguia regras. Ele estava certo: ele a estava conquistando.


Dulce removeu o bracelete do torno e então, distraidamente, começou o polimento. Nas últimas duas semanas, ela fizera meia dúzia de peças diferentes. Grandes e largos braceletes, alguns enfeitados com pedras demais, ou ornamentados com gravações. As peças combinavam com o humor de Dulce — atrevida, tei­mosa e um pouco boba. Ela aprendera a confiar no seu instinto, e seu instinto lhe dissera que aqueles braceletes venderiam mais rapidamente do que ela poderia fazê-los. E seriam copiados com a mesma rapidez.


Ela não se importava com as imitações. Afinal, apenas uma peça seria legítima da marca Dulce Saviñon. Cópias seriam identificadas como falsificações porque lhes faltava algo especial» aquela individualidade das coisas genuínas.


Feliz, ela virou o bracelete na mão. Ninguém confundiria qualquer um dos seus trabalhos com uma imitação. Dulce, às vezes, usava vidro no lugar de pedras preciosas ou semipreciosas porque o vidro expressava seu humor no momento. Mas cada peça que criava tinha sua marca, sua opinião e sua honestidade. Dulce jamais pensava no preço da jóia enquanto a estava criando, nem no valor de mercado. Em primeiro lugar, ela criava o que precisava, só depois seu lado prático calculava a margem de lucro. Sua arte diversificava as peças, mas nunca mentia.


Olhando para o bracelete, Dulce suspirou. Não, sua arte jamais mentia, não é mesmo? Ela podia ter mesmo certeza de que suas emoções eram tão verdadeiras quanto as jóias que fa­zia? Um sentimento podia ser imitado. Uma emoção podia ser mascarada. Quantas vezes nas últimas semanas Dulce fingira? Não fingira sentir, pensou, mas fingira não sentir. Ela era uma mulher que sempre se orgulhara da sua honestidade. Verdade e independência estavam lado a lado na sua escala de valores. Mas Dulce mentira — O tempo todo — para si mesma, a pior forma de engano.


Era tempo de parar, disse a si mesma. Era hora de encarar a verdade sobre seus sentimentos, mesmo que na privacidade do seu próprio coração e mente.


Há quanto tempo ela estava apaixonada por Christopher? Dulce precisou se levantar e andar pela oficina ao se perguntar tal coisa. Semanas? Meses? Anos? Não era algo que ela podia responder, porque Dulce nunca tivera certeza. Mas ela estava certa desse sentimento. Amava. Dulce compreendeu isso porque amou apenas poucas pessoas. E, quando amou, amou desmedidamente. Talvez este tenha sido o grande problema. Não seria uma espécie de suicídio amar Christopher desmedidamente?


Melhor aceitar isso, disse a si mesma. Nenhum problema se resolvia sozinho sem que fosse enfrentado primeiro e depois estudado. Por mais que isso fizesse dela uma boba, Dulce o amava. Ela limpou o vapor do vidro e ficou olhando para a neve lá fora. Estranho, Dulce realmente acreditava que, uma vez que aceitasse fato, se sentiria melhor. Mas isso não aconteceu.


Quais eram as suas opções? Podia contar a Christopher. E vê-lo tripudiar, pensou Dulce de mau-humor. Ele riria dela, antes de sair à caça da próxima conquista. Ela, é claro, não era boba o suficiente para pensar que Christopher estaria interessado num relacionamento de longo prazo. É óbvio que Dulce também não estava interessada nisso, foi o que disse a si mesma ao começar a guardar as ferramentas ruidosamente.


Outra opção era pôr um fim naquilo tudo e partir. Seu coração seria bem-sucedido fazendo o que os parentes não foram capazes de conseguir com malícia e travessuras. Dulce podia entrar no carro, dirigir até o aeroporto e voar para qualquer lugar. Escapar era a palavra certa. Mas, nesse caso, ela não seria apenas uma covarde, mas uma traidora. Não, Dulce não decepcionaria tio Martim; ela não fugiria. Percebeu que isso a deixava com uma alternativa apenas.


Ela continuaria como estava. Ficaria com Christopher, dormiria com Christopher, dividiria com Christopher — dividiria tudo o que estava em seu coração. Dulce aproveitaria os dois meses que ainda restavam e se prepararia para enfrentar as conseqüências sem arrependimentos.


Christopher a conquistara, admitia Dulce. Conseguira isso atingindo-a em lugares onde nenhum outro homem a tocara. Ela o amava por isso. Ela o odiava por isso. Com seu humor tão alvoroçado quanto seus pensamentos, Dulce trancou a oficina e saiu em disparada pelo jardim.


— Aí vem ela.


Prestes a lançar um novo plano, Glaucia se afastou da janela da cozinha e fez um sinal para Pascoal.


— Isso nunca vai dar certo.


— Claro que vai. Nós vamos fazer com que essas crianças
fiquem juntas para o próprio bem delas. Quaisquer namorados que brigam como eles, merecem se casar.


— Nós estamos nos metendo onde não fomos chamados.


— Que besteira! — Glaucia sentou-se no seu lugar à mesa da cozinha. — Se nós não nos metermos, quem é que vai? Eu gostaria de saber. Quem é que vai ficar discutindo nesta imensa casa vazia quando eles voltarem para a cidade, senão nós? Agora pegue logo este pano e me abane. Incline-se um pouco para a frente e pareça estar fraco.


— Eu estou fraco — resmungou Pascoal, mas pegou o pano. Quando Dulce entrou na cozinha, viu Glaucia jogada na cadeira, com os olhos fechados e Pascoal à sua frente, abanando-a com um pano de prato.


— Deus, o que aconteceu? Pascoal, ela desmaiou? — Antes que ele pudesse responder, Dulce atravessou correndo a cozinha. — Chame Christopher — mandou.


Pascoal chamou Christopher imediatamente. Ela empurrou Pascoal e se agachou.


— Glaucia, é Dulce. Você está sentindo dor?


Mal contendo um suspiro de satisfação, Glaucia deixou seus olhos se abrirem um pouco, rezando para parecer pálida.


— Ah, madame, não se preocupe. É só uma das minhas indis­posições. Às vezes, o coração começa a disparar e eu sinto que ele está saindo pela minha boca.


 — Vou chamar um médico. — Dulce deu apenas um passo quando a mão de Glaucia a agarrou com uma força surpreen­dente.


 — Não é preciso. — Glaucia fez uma voz fraca e cansada. — Eu consultei há apenas alguns meses e ele me disse que isso aconteceria de vez em quando.


 — Não acredito nisso — disse Dulce furiosamente. — Está claro que você está trabalhando demais, isso tem acabar.


Uma lágrima de culpa escorreu quando Glaucia viu que Dulce estava preocupada.


— Agora não fique triste.


— O que houve? — Christopher irrompeu pela porta da cozinha.
Glaucia? — Ele se ajoelhou ao lado dela e pegou-lhe a outra mão.


 — Ah, veja agora esta comoção toda. — Por dentro, ela estava dando pulinhos. — Não é nada, só uma indisposição. O doutor disse que eu deveria me cuidar. Uma coisa à-toa, é isso. — Glaucia olhou duro para Pascoal quando ele entrou. Por fim, ela o olhou duro o suficiente para que ele se lembrasse da deixa.


 — E você sabe o que o médico recomendou.


 — Ah, Pascoal...


 — Você precisa de dois ou três dias de repouso.


Feliz porque Pascoal se lembrara do que deveria falar, Glaucia fingiu-se ofendida.


 — Besteira, mais besteira. Vou ficar ótima em alguns minutos. Eu tenho de fazer o jantar.


 — Você não vai cozinhar coisa alguma. — De um modo que Glaucia considerara devidamente mandão, Christopher a ajudou a se levantar. — Já para a cama.


 — E quem é que vai cuidar das coisas? — perguntou Glaucia. — Eu não quero Pascoal espalhando seus germes pela minha cozinha.


Christopher estava quase fora dali com Glaucia antes que Pascoal se lembrasse do próximo passo. Ele tossiu na mão, parecendo pesaroso, e tossiu novamente.


 — Ouça isso! — Feliz, Glaucia deixou que sua cabeça tom­basse no ombro de Christopher. — Não vou ficar deitada e deixar que ele infecte minha cozinha.


 — Há quanto tempo você está com essa tosse? — perguntou Dulce. Quando Pascoal começou a murmurar alguma coisa, ela se impôs. — Basta. Vocês dois vão já para a cama. Eu e Christopher cuidaremos de tudo. — Pegando Pascoal pelo braço, ela come­çou a guiá-lo para a ala dos empregados. — Para a cama, e sem chiar. Vou fazer um chá para os dois. Christopher, veja se Pascoal está confortável. Eu vou cuidar de Glaucia.


Em meia hora, Glaucia conseguiu que eles estivessem como ela queria: juntos.


— Bem, eles estão acomodados e sem febre. — Satisfeita, Dulce se serviu de uma xícara de chá. — Acho que o que eles precisam é de alguns dias de descanso e algum mimo. Chá?


Christopher fez uma cara de reprovação e ligou a cafeteira.


— Já que não há mais atendimento médico em casa, acho que eles ficarão melhor aqui, na cama, do que se fossem levados para a cidade. Nós podemos nos revezar cuidando deles.


— A-ha. — Dulce abriu a geladeira, estudando-a demoradamente. — E quanto às refeições? Você sabe cozinhar?


 — Claro. — Christopher fez uma algazarra com as xícaras no armário. — Mal, mas sei cozinhar. Bolo de carne é minha espe­cialidade. — Ao perceber que Dulce não se entusiasmara com aquilo, ele se virou para ela. — E você?


 — Cozinhar? — Dulce abriu a tampa de um pote de plásti­co, esperançosa. — Eu sei grelhar um bife e fazer ovos mexidos. Todo o resto é arriscado.


 — A vida não é nada sem risco. — Christopher se juntou a ela em sua vistoria à geladeira. — Aqui tem quase metade de um bolo de maçã.


 — Isso não chega a ser uma refeição.


 — Será, para mim. — Ele pegou o prato e procurou uma colher. Dulce o observou se sentar à mesa e atacar. — Quer um pouco?


A princípio, Dulce recusou, mas então decidiu não exigir muito. No armário ela encontrou uma tigela.


 — E para os acamados? — perguntou, pegando um pedaço do bolo.


 — Sopa — disse Christopher, com a boca cheia. — Nada melhor do que uma sopa quente. Mas eu os deixaria descansar por enquanto.


Concordando com a cabeça, Dulce se sentou diante dele.


— Christopher... — Ela se interrompeu, brincando com a comida. Entre eles elevava-se o vapor do chá quente. Há dias Dulce estivera pensando em como tocaria no assunto. Parecia que tinha chegado a hora. — Eu estive pensando. Em dois meses, a exigência
do testamento será cumprida. Quando Franco nos escreveu na semana passada, disse que os advogados de tio Bustamante o estavam aconselhando a desistir da contestação.


— E daí?


— A casa, junto com todo o resto, será metade minha e metade sua.


— Exatamente.


Ela comeu um pedaço do bolo, depois abaixou a colher.


— Do que é que você está rindo?


— É gostoso olhar para você. Eu acho relaxante me sentar aqui na cozinha, sozinhos, em silêncio, e olhar para você.


Era esse tipo de coisa, exatamente esse tipo, que a deixava bobinha e perdida. Dulce ficou observando-o por um instante, e então deixou que seu olhar seguisse para a tigela.


— Eu queria que você não dissesse essas coisas.


 — Não, não queria. Mas então você estava pensando... — Christopher a cutucou.


 — Sim. — Dulce se permitiu um momento de reflexão, pe­gando cuidadosamente outra colherada de bolo. — Nós vamos ter a casa para nós, mas não vamos mais morar juntos aqui. Glaucia e Pascoal vão ficar sozinhos na mansão. Há algum tempo eu me preocupo com isso. Agora, depois do que aconteceu, estou mais preocupada do que nunca. Eles não podem ficar sozinhos.


— Não, acho que você tem razão. Alguma idéia?


— Já disse antes que estava cogitando em me mudar para cá, provisoriamente. — Ela notou que tinha perdido o apetite e se deteve no chá. — Eu acho que vou transformar a mudança em permanente.


Christopher sentiu nervosismo na voz dela.


 — Por causa de Pascoal e de Glaucia?


 — Em parte.


Dulce bebeu mais chá, abaixou a xícara e voltou a brincar com seu pedaço de bolo. Ela não estava acostumada a discutir suas decisões com ninguém. Embora achasse difícil fazer isso, Dulce já tinha resolvido que falar sobre assunto era uma obriga­ção. Mais, ela percebeu que precisava conversar com Christopher, que precisava, já que não conseguia em outros níveis, ser honesta.


— Eu sempre pensei na mansão Revertti como um lar, mas nunca havia percebido o quanto. Preciso disso para mim. Veja, eu nunca tive um lar. — Dulce levantou o olhar, que encontrou o dele. — Só aqui.


Dizer que as palavras dela o surpreenderam seria falar pouco. Por toda a vida Christopher a vira como uma menininha mimada, a garota de ouro, com todos os privilégios.


— Mas seus pais...


— São maravilhosos — disse Dulce rapidamente. — Eu
os amo. Não há nada neles que eu gostaria de mudar. Mas...  — Como ela poderia explicar? Como ela não poderia explicar?


 — Nós nunca tivemos uma cozinha como esta. Um lugar para onde você pode voltar dia após dia e saber que será sempre a mesma coisa. Mesmo se você trocar o papel de parede e a pintura, vai ser a mesma. Parece bobo. — Ela se mexeu impacientemente.


 — Você não entenderia.


— Talvez eu entenda. — Ele pegou sua mão antes que Dulce pudesse se levantar. — E talvez eu queira entender.


— Eu quero um lar — disse Dulce, direta. — E a mansão Revertti tem sido isso para mim. Eu quero ficar aqui depois que acabar a exigência do testamento.


Christopher mantinha a mão dela nas dele, palma contra palma.


— Por que você está me dizendo isso, Dulce?


Motivos. Muitos motivos. Ela escolheu o único que podia dar a ele com segurança.


— Dentro de dois meses a casa pertencerá tanto a mim quanto
a você. De acordo com o que diz o testamento...


Christopher praguejou, soltando a mão dela. Levantando-se, ele enfiou as mãos nos bolsos de trás e caminhou com passos pesados até a janela. Por um momento, só por um momento, ele pensou que Dulce estava prestes a lhe dar mais. Por Deus, Christopher esperava há bastante tempo por apenas um pouco mais. Havia algo na voz dela, algo terno e generoso. Talvez Christopher apenas tivesse imaginado isso, porque ele queria ouvir. Termos do testamento, pensou. Era típico de Dulce não ver nada além disso


 — O que você quer? Minha permissão? Atordoada, ela ficou na mesa.


 — Eu acho que desejo que você me compreenda e concorde.


 — Ótimo.


 — Você não precisa ser tão áspero. Afinal, você não tem ne­nhum plano de usar esta casa com freqüência.


 — Eu não fiz nenhum plano — murmurou. — Talvez seja hora de fazer.


 — Eu não quis irritá-lo.


Ele se virou lentamente, e lentamente sorriu.


— Não, não tenho essa certeza. Nunca tive dúvidas de quanto
você quis me irritar de propósito.


Havia algo de errado ali, algo que Dulce não podia identi­ficar bem. Por isso ela tateou.


— Você se importaria tanto assim se eu quisesse morar aqui?


Quando Dulce se levantou e se aproximou dele, oferecen­do a mão, Christopher ficou surpreso. Ela não fazia esse gesto com freqüência ou à toa.


 — Não, por que eu deveria me importar?


 — Ela será metade sua.


 — Nós podemos pintar uma linha divisória no meio.


 — Isso seria esquisito. Eu podia comprar sua parte.


 — Não.


Ele disse isso com tanta ênfase que Dulce se assustou.


 — Foi apenas uma oferta.


 — Esqueça.


Christopher voltou a olhar para os ingredientes da sopa. Dulce ficou atrás dele por um instante, observando suas costas, a tensão nos seus músculos.


— Christopher... — Com um suspiro, ela o abraçou pela cintura e sentiu que ele ficou imóvel, mas não percebeu que foi por causa da surpresa. — Parece que estou fazendo tudo errado. Talvez para mim tenha sido mais fácil quando brigávamos um com o outro do que quando tento ser atenciosa.


— Talvez tenha sido mais fácil para nós dois.


Christopher se virou, para envolver o rosto de Dulce com as mãos. Por um momento, eles pareciam amigos, amantes.


— Dulce... — Ele podia dizer a ela que achava impossível pensar em abandoná-la ou ela o abandonar? Será que Dulce entenderia se ele lhe dissesse que pretendia continuar morando com ela, ao seu lado? Como Dulce poderia aceitar o fato de que Christopher estava apaixonado por ela há anos se só agora ele mesmo começara a aceitar esse fato? Ele a beijou na testa. — Vamos fazer a sopa.


 


Eles não conseguiam trabalhar juntos sem atrito, mas desco­briram que podiam trabalhar juntos. Eles cozinharam, lavaram a louça, limparam os móveis enquanto os empregados estavam na cama ou sentados completamente cobertos no sofá, bebendo chá. E bem verdade que havia horas em que Glaucia se coçava e se levantava para começar a trabalhar, e de vez em quando Pascoal tinha peso na consciência, mas eles estavam convencidos de que estavam cumprindo com sua obrigação. Os dois se sentiram realizados quando viram a casa mais alegre.


Christopher não sabia se houvera outro momento em sua vida em que estivera tão feliz. Dulce estava, por assim dizer, brincando de casinha, algo para o qual jamais tivera inclinação. Christopher podia ficar escrevendo por horas, fechado em seu escritório, inventando histórias e personagens e mudanças espetaculares. Então, podia tirar uma folga e viver a realidade do cheiro da co­mida e dos móveis polidos. Christopher tinha um lar e uma mulher, e estava determinado a manter as duas coisas.


No final da tarde, ele sempre acendia a lareira na sala de estar. Depois do jantar eles tomavam café lá, às vezes em silêncio, outras vezes em meio a um jogo de cartas com brigas. Parecia simples, admitia Christopher. Era algo simples, a menos que você acrescentasse


Dulce. Ele estava justamente acendendo o fogo quando Tobby entrou na sala e virou uma mesa. Cacos saíram voando.


 — Vamos ter que mandar você para uma escola de boas ma­neiras — declarou Christopher levantando-se para limpar a bagunça Embora houvesse passado apenas um mês, Tobby quase dobrara de tamanho. E, sem dúvida nenhuma, iria crescer ainda mais. Depois de arrumar a mesa, ele viu que o cachorro estava fuçando embaixo do sofá.


 — O que é que você encontrou aí?


Apesar de grande, Tobby já ganhara a reputação de ser um ladrão habilidoso. Na véspera eles haviam perdido um grande pedaço de costela de porco.


 — Tudo bem, seu demoniozinho. Se isso for o frango de hoje à noite você vai ficar preso na solitária da garagem. — Agachando-se, Christopher procurou embaixo do sofá. Tobby não estava mordendo um frango, e sim um dos sapatos de Christopher.


 — Droga! — Ele fez um movimento para pegar o sapato, mas o cachorro o levou para longe e continuou mordendo. — Esse sapato vale cinco vezes mais do que você, seu vira-latas tamanho família. Dá para mim. — Deitando-se, Christopher se esticou todo embaixo do sofá. Tobby apenas levou o sapato para mais longe ainda, divertindo-se com a brincadeira.


 — Ah, que lindo.


Dulce entrou na sala e olhou para Christopher da cintura para baixo. Ele realmente tinha algumas qualidades que o redimiam, concluiu.


 — Você está brincando com o cachorrinho, Christopher, ou lim­pando embaixo do sofá?


 — Eu vou transformá-lo num tapete.


 — Meu querido, parece que você está mal-humorado esta noite. Tobby, venha aqui.


Carregando o sapato como se fosse um troféu, Tobby saiu se ar­rastando de debaixo do sofá e se empinou todo para Dulce.


— É isso o que você está procurando? — Ela segurava o sapato
enquanto fazia carinho no cãozinho com a outra mão. — Que inteligente da sua parte ensinar o Tobby a buscar o que você joga para ele!


Christopher se pôs de pé e então arrancou o sapato das mãos de Dulce. Infelizmente, ele estava todo babado e coberto por marcas de dentes.


— Este é o segundo sapato que ele estraga. E nem fez a gen­tileza de pegar os dois sapatos do mesmo par.


Dulce olhou para o que um dia foi um lindo sapato em couro italiano.


— De qualquer modo, você só usa tênis e botas.


Christopher bateu com o sapato contra a palma da mão. Tobby pôs a língua para fora, arreganhando os dentes para ele.


— Escola de adestramento.


Ah, Christopher, não podemos mandar nossa criança embora. — Ela afagou o focinho dele. — É só uma fase.


Essa fase me custou dois pares de sapatos, meu jantar e eu não encontrei mais aquela camisa que ele pegou.


Você não deveria deixar suas roupas jogadas por aí — disse Dulce, calmamente. — E aquela camisa já estava esfarrapada. Tenho certeza de que Tobby a confundiu com um trapo.


Ele nunca morde nada seu. Dulce sorriu.


Não, não morde, não é mesmo? -Christopher a olhou demoradamente.


E por que é que você está tão feliz?


Eu recebi um telefonema esta tarde.


Christopher viu o entusiasmo nos olhos dela e concluiu que o assunto dos sapatos podia esperar.


De Jacob Morison.


O produtor?


— O produtor — repetiu Dulce, com ênfase. Ela promete­ra a si mesma que não exageraria, mas o entusiasmo ameaçava explodir dentro dela. — Eles farão um novo filme, estrelando Jessica Wainwright.


Jessica Wainwright, pensou Christopher. A grande dama do teatro e do cinema. Excêntrica e brilhante, sua carreira abarcava duas gerações de espectadores.


— Ela se aposentou. Wainwright não faz um filme há cinco
anos.


— Ela vai fazer esse. O diretor será Billy Mitchell.
Christopher inclinou a cabeça, pensativo, enquanto examinava o rosto de Dulce. Ela o fazia pensar no gato correndo atrás do passarinho nos desenhos animados.


— Parece que eles estão usando todos os aposentados.


 — Ela fará o papel de uma condessa reclusa, meio louca, que é obrigada a voltar à realidade ao receber a visita da neta. Cass Barkley está prestes a assinar o contrato para interpretar a neta.


 — Oscar à vista. Agora você quer me contar por que Morison ligou para você?


 — Wainwright é admiradora do meu trabalho. E ela quer que eu faça todas as jóias que ela usará no filme. Todas! — Depois dessa tentativa de agir como uma mulher de negócios, Dulce riu, dando um pulinho. — Morison disse que o único modo de tirá-la da aposentadoria foi prometer a ela o melhor. Ela me quer.


Christopher a puxou para perto e a rodou. Tobby corria pela sala toda, latindo e esbarrando nas mesas.


— Vamos comemorar — disse. — Champanhe com o seu
frango frito.


Dulce ficou tensa.


 — Eu me sinto uma idiota.


 — Por quê?


 — Sempre pensei que estava, bem, além dessa coisa de adorar celebridades. Eu sou uma profissional. — Radiante de entusiasmo, ela se pendurou em Christopher. — Enquanto eu estava conversando com Morison, dizia a mim mesma que era uma grande oportu­nidade para a minha carreira, uma chance maravilhosa de me expressar num nível mais amplo. Daí eu desliguei o telefone e sóó conseguia pensar em Jessica Wainwright! Numa produção de Morison. Eu me senti tão boba quanto qualquer fã comum.


— Isso prova que você não é tão esnobe quanto acha que é.
Christopher impediu que ela replicasse com um beijo. — Estou
orgulhoso de você — sussurrou.


Isso a desconcertou. Todo o prazer que ela sentia pela tarefa foi diminuído por esta única frase. Ninguém, a não ser Martim, se orgulhara dela. Seus pais a amavam, passavam a mão na sua cabeça e lhe diziam o que Dulce quisesse. Orgulho, porém, era algo mais valioso do que afeto.


— Mesmo?


Surpreso, Christopher a puxou novamente e a beijou.


 — Claro que sim!


 — Mas você nunca valorizou meu trabalho.


 — Não, isso não é verdade. Eu nunca entendi por que as pessoas tinham a necessidade de se cobrir de penduricalhos, ou porque você parecia contente por criar algo numa escala tão pequena. Mas, do jeito que seu trabalho tem evoluído, não sou cego, Dulce. Algumas peças são lindas, outras extraordinárias e algumas incompreensíveis. Mas todas são fruto da sua criati­vidade e feitas com esmero.


 — Bem — disse Dulce, respirando fundo. — Este é um dia especial. Eu sempre pensei que você achava que eu estava brincando com pedras porque não queria encarar um emprego de verdade. Você até mesmo me disse isso certa vez.


Christopher sorriu.


— Só porque você me deixou furioso. Era maravilhoso olhar
para você quando estava com raiva.


Ela pensou sobre isso um pouco, e então deixou escapar um


 — Acho que este é o melhor momento para lhe contar. Christopher ficou tenso, mas se esforçou para perguntar, calmamente:


 — Contar o quê?


— Eu assisti ao Prêmio Emmy todas as vezes que você foi indicado.


A tensão foi liberada com uma gargalhada. Havia culpa em cada sílaba pronunciada por Dulce.


— O quê?


— Todas as vezes — ela repetiu, surpresa por sentir seu rosto pegando fogo. — Me fazia bem assistir você. E... — Dulce se deteve, limpando a garganta. — Eu assisti a uns poucos episódios de Logan`s Run.


Christopher se perguntava se Dulce percebia que estava soando como se ela estivesse confessando uma grande falha social.


— Por quê?


— Tio Martim sempre falava sobre a série. Eu até mesmo o escutei discutindo em festas. Por que eu pensei que deveria ver com meus próprios olhos? Naturalmente, por mera curiosidade intelectual.


 — Naturalmente. E? — Ela deu de ombros.


 — É assim...


Dando uma torcidinha na orelha dela, Christopher impediu que ela respondesse daquele modo.


— Algumas pessoas só dizem a verdade sob ameaça.


 — Está certo. — Num quase sorriso, Dulce se livrou dele. — É bom — gritou, quando Christopher a apertou. — Eu gostei.


 — Por quê?


 — Christopher, você está me machucando.


 — Há outros modos de fazer você falar.


 — Eu gostei porque os personagens são verdadeiros e as his­tórias são inteligentes. E... — Dulce engoliu em seco antes de dizer a última coisa — têm certo estilo.


Quando Christopher soltou a orelha dela para lhe dar um beijo barulhento, Dulce o empurrou de leve.


 — Se você contar isso para alguém, vou negar.


 — Será nosso segredinho.


Ele a beijou novamente, não tão alegremente.


Dulce estava quase acostumada à sensação de relaxar os músculos e se sentir como se seus ossos estivessem se dissolvendo. Ela se aproximou, entretida na emoção de ter seu corpo moldado de encontro ao dele. Quando o coração dele batia, Dulce sentia a pulsação dentro dela mesma. Quando Christopher deixou escapar um pequeno gemido, ela o capturou com a língua. E quando o desejo se intensificou, ela percebeu, nos olhos dele.


Dulce o beijou novamente e deixou que seu próprio desejo ditasse as regras. Haveria conseqüências. Mas ela já não tinha aceitado aquilo? Haveria sofrimento. Ela já se resignara. Ela não podia impedir o que aconteceria nas próximas semanas, mas po­dia controlar o que aconteceria hoje à noite e, talvez, amanhã. Aquilo precisava acabar. Tudo o que Dulce sentia, queria e temia, pôs naquele beijo.


Christopher ficou tonto. Dulce era cheia de uma paixão que às vezes se tornava selvagem. Ela era eroticamente exigente. Mas ele jamais sentira uma emoção tão pura da parte dela. Havia certa maciez por baixo daquela força, um pedido urgente. Christopher a trouxe mais para perto, mais carinhoso que o habitual, e deixou que Dulce tivesse o que queria.


Ela inclinou a cabeça para trás, convidando-o, seduzindo-o. Christopher a apertou mais. Seus dedos se agarravam aos cabelos de Dulce e se perdiam na abundância deles. Ele sentiu o desejo se espalhando pelo corpo, a ponto de ficar tenso diante daquela entrega tão repentina, inesperada. Dulce nunca era submissa, e até aquele momento Christopher não sabia o quanto ficaria excita­do se ela se submetesse a ele. Sem pensar no tempo e no lugar, eles se deitaram no sofá.


Christopher foi carinhoso, porque Dulce estava dócil. E porque Christopher foi carinhoso, Dulce teve paciência. De um modo que ela jamais experimentou antes, eles fizeram amor sem pressa, sem fogo, sem entrar num turbilhão. Eles se entregaram um ao outro completamente. O toque, o sabor, um pedido murmurado, uma resposta sussurrada. Atrás dele, o fogo chiava suavemente, enquanto a noite caía lá fora. Os dedos roçavam, os lábios des­lizavam, e assim eles aprenderam o poder da excitação branda Embora já fossem amantes há semanas, pela primeira vez intro­duziam amor naquela paixão.


A sala estava em silêncio, a luz, difusa. Se Dulce nunca procurara por romance, ela o encontrou ali, envolvida pelo abraço carinhoso de Christopher. Eles se tornaram mais próximos naturalmente. Eles mergulharam mais fundo, preguiçosamente. Quando se uniram, Dulce sentiu que sua autodefesa pela in­dependência se rompia, para deixá-lo entrar. Mas a esse rompi­mento não se seguiu a fraqueza que ela esperava sentir. Apenas contentamento.


E foi o contentamento que tomou conta dela durante o rápido e último espasmo de prazer.


Eles ainda estavam abraçados, quase cochilando, quando o telefone tocou. Com um resmungo, Christopher se esticou todo sobre a cabeça de Dulce para alcançar a mesa e atender.


 — Alô.


 — Gostaria de falar com Christopher Uckermann, por favor.


 — Sim, é ele.


 — Christopher, é Penny.


Ele esfregou os olhos, tentando se lembrar quem era. Penny— a lourinha do apartamento vizinho ao dele. Queria ser modelo. Christopher se lembrava vagamente de ter dado a ela o número da mansão Revertti se algo importante fosse entregue no seu apartamento.


— Oi.


Ele viu que os olhos de Dulce estavam arregalados.


 — Christopher, odeio ter de fazer isso, mas eu precisei ligar. Já liguei até para a polícia. Eles estão a caminho.


 — Polícia? — Christopher se contorceu para ficar sentado. — O que está acontecendo?


 — Você foi roubado.


 — O quê? — Ele deu um salto, quase jogando Dulce no chão. — Quando?


 — Não sei direito. Eu cheguei em casa há alguns minutos e percebi que a porta do seu apartamento não estava totalmente fechada. Pensei que talvez você tivesse voltado, por isso bati. De qualquer modo, abri um pouquinho a porta. O lugar estava de pernas para o ar. Eu vim para meu apartamento imediatamente e liguei para a polícia. Eles me pediram para entrar em contato com você e me disseram para não voltar lá.


 — Obrigado. — Várias perguntas passaram pela cabeça dele, mas não havia respostas para elas. — Vou tentar chegar aí ainda hoje à noite.


 — Tudo bem. Ei, Christopher, eu sinto muito. Mesmo.


 — Sim, a gente se vê.


 — Christopher? — Dulce agarrou a mão dele assim que Christopher desligou.


 — Alguém invadiu meu apartamento.


 — Ah, não! — Ela sabia que a paz não duraria muito. — Você acha que foi...


 — Não sei. — Christopher passou a mãos nos cabelos dela. — Tal­vez. Ou talvez tenha sido alguém que percebeu que não havia ninguém em casa já há algum tempo.


Dulce sentiu a raiva dentro dele, mas sabia que não podia aliviá-la.


— Você tem que ir.


Concordando, Christopher pegou a mão dela.


 — Venha comigo.


 — Christopher, um de nós tem que ficar aqui com Glaucia e Pascoal.


 — Não vou deixá-la sozinha.


 — Você tem que ir — repetiu. — Se foi alguém da família, talvez você possa descobrir alguma coisa para provar. De qualquer modo, você tem que resolver isso. Eu ficarei bem.


 — Do mesmo jeito que você ficou bem da última vez que eu


 


Dulce franziu a testa.


 — Eu não sou uma incompetente, Christopher.


 — Mas estará sozinha.


— Eu tenho o Tobby. Não me olhe desse jeito — Ordenou.
— Ele pode não ser muito bravo, mas certamente sabe latir. Eu
vou trancar todas as portas e janelas.


Christopher balançou a cabeça, contrariado.


 — Não basta.


 — Tudo bem, eu vou avisar a polícia. Eles têm a notificação do Franco sobre os invasores. Vou explicar que ficarei sozinha por uma noite e pedir que dêem uma olhada na casa.


 — Melhor. — Mas Christopher se levantou e começou a andar de um lado para o outro. — Se isso for uma armação...


 — Desta vez nós estamos preparados.


Ele hesitou, pensou mais um pouco, depois concordou.


— Vou ligar para a polícia.



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Autor(a): dullinylarebeldevondy

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Capítulo 10 Assim que Christopher saiu, Dulce trancou o pesado ferrolho da porta principal. Embora tenha demorado meia hora, ela ficou feliz porque Christopher insistira em examinar todas as portas e janelas com ela. A casa, com Dulce segura dentro dela, estava firmemente trancada. E estava totalmente em silêncio. Para suportar a solidão, Dulce foi a ...


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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 400



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  • natyvondy Postado em 29/10/2009 - 21:45:00

    lindo!!!

  • natyvondy Postado em 29/10/2009 - 21:44:58

    lindo!!!

  • natyvondy Postado em 29/10/2009 - 21:44:56

    lindo!!!

  • natyvondy Postado em 29/10/2009 - 21:44:09

    lindo!!!

  • natyvondy Postado em 29/10/2009 - 21:43:44

    lindo!!!

  • natyvondy Postado em 29/10/2009 - 21:43:39

    lindo!!!

  • natyvondy Postado em 29/10/2009 - 21:42:53

    lindo!!!

  • natyvondy Postado em 29/10/2009 - 21:42:47

    lindo!!!

  • natyvondy Postado em 29/10/2009 - 21:42:36

    lindo!!!

  • natyvondy Postado em 29/10/2009 - 21:42:30

    lindo!!!


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