Fanfics Brasil - ♂♀ Ilha da perdição ღ≈๑ (DyC) [Terminada]

Fanfic: ♂♀ Ilha da perdição ღ≈๑ (DyC) [Terminada]


Capítulo: 1? Capítulo

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CAPÍTULO I


 


Dulce, com uma expressão de desagrado estampada em seu rosto, reconheceu que, mais cedo ou mais tarde, teria de regressar ao hotel e encarar Simon. Naquela hora tão matutina tinha a praia inteira para ela, mas em breve chegariam os demais veranistas. Ela e Simon haviam escolhido aquela ilha de propósito, devido à sua pequena dimensão. Lá encontrariam tempo e tranqüilidade para aprofundar seu relacionamento, conforme ele dissera, mas naquele momento Dulce não se dera conta de que os planos de Simon implicavam no fato de que ela deveria compartilhar sua cama. Claro que não era nenhuma ingênua; a amizade deles poderia permanecer para sempre em um nível platônico, mas não havia fornecido a Simon a menor indicação que, pelo fato de vir passar férias com ele, desejava que se tornassem amantes. Dulce e Simon trabalhavam juntos havia um ano e meio e o que a atraiu foi a confiança que ele parecia inspirar e a ausência de qualquer insinuação erótica nos diálogos que eles mantinham. A amizade deles se havia desenvolvido lentamente e Dulce não teve receios ou dúvidas interiores quando Simon sugeriu que passassem juntos as férias de verão. Agora reconhecia que havia cometido um erro. Ficou, de fato, um pouco preocupada quando ele sugeriu a Grécia, mas dominou o medo, dizendo a si mesma que não poderia continuar recusando uma viagem àquele país tão belo, devido a algo que ficara sepultado para sempre no passado.


Dulce ergueu a cabeça, sem ter consciência do quanto estava atraente com seu short branco e curto e a camiseta de algodão. Sua pele já estava bastante bronzeada e valorizava os cabelos muito louros, que lhe desciam abaixo dos ombros. Afastou os cabelos dos olhos, num gesto simples e ao mesmo tempo gracioso. Costumava prender os cabelos, quando ia trabalhar. Talvez fosse ela a culpada pelo comportamento de Simon... Afinal de contas, a Bíblia não falava a respeito da perigosa sedução que cabelos soltos podem exercer? Isso era apenas mais um exemplo da capacidade que os homens têm de culpar as mulheres por seus erros!


Uma ou duas pessoas pararam para cumprimentá-la, enquanto ela voltava sem pressa para o hotel. Apesar de ela e Simon terem chegado na véspera, o porte gracioso de Dulce e seus traços tão atraentes faziam com que ela fosse instantaneamente reconhecida por todos. Era algo a que já estava plenamente acostumada, desde os tempos em que trabalhara para um conhecido costureiro de Paris. Não se iludia, entretanto, achando que monsieur René a empregaria agora... Era bem verdade que suas pernas e cintura continuavam tão esguias como sempre, mas a maturidade tornara os seios e as cadeiras mais cheios.


No hotel os grandes ventiladores pendurados no teto evocavam filmes da década de 1930. Era um dos mais luxuosos em que Dulce se hospedara até então. Fora Simon quem o escolhera. Quanto a ela, teria preferido algo bem mais simples, mesmo assim não protestou, concordando que a privacidade tinha um preço e era certamente o que a ilha de Thos oferecia. O hotel era o único daquela pequenina ilha do mar Egeu. A arquitetura era um primor e continha tudo o que um veranista de bom gosto poderia desejar. Não era de admirar que se tornasse cada vez mais conhecido e procurado.


Dulce ficou sem saber se telefonaria a Simon de seu próprio quarto ou se iria diretamente ao quarto dele, a fim de verificar se já estava acordado. Era uma pessoa inclinada a dizer o que pensava e a agir de acordo com isso e esperava que os outros tivessem o mesmo com­portamento. Em mais de uma ocasião descobriu que sua posição era completamente equivocada. Devia ter deixado bem claro para Simon, antes de viajarem, que aquelas férias poderiam aprofundar a amizade existente entre eles e levá-los a se conhecerem melhor, mas não signifi­cavam um convite para que ele partilhasse sua cama.


A noite anterior trouxera para ela mais de uma revelação. Simon, por exemplo, havia ficado emburrado, quando ela declarou que não se tornariam amantes.


— Você está agindo como se fosse uma virgem! — ele observou, furioso.


 Até parecia que todos os homens a quem conhecia se achavam no direito de dormir com ela, e quando bem entendessem! O jovem grego que trabalhava na recepção do hotel a encarava com indisfarçada admiração. Seus cabelos eram louros como espigas de trigo, e os olhos cor de ametista, assemelhando-se ao mar, um pouco antes do pôr-do-sol. Dulce fitou-o e reparou no modo como ele olhava para seus seios, antes que virasse rapidamente a cabeça noutra direção. Naquele momento chegou a amaldiçoar Simon!


Decidiu telefonar para ele da recepção. Não se sentia nem um pouco disposta a ouvir seus queixumes e ele certamente a acusaria de estar sendo uma criatura difícil, que desejava se valorizar ao máximo, antes de conceder o que ele queria.


Reconheceu, embora um pouco tarde, que deveria ter prestado mais atenção aos conselhos de Hilary, a garota com quem dividia um apartamento. Sua amiga havia insinuado que a sugestão de Simon continha outras implicações, mas Dulce ignorou seus comentários. Agora admitia que não queria de modo algum acreditar nela. Mais do que nunca, desejava e precisava daquelas férias. Trabalhava no setor de relações públicas na firma onde Simon era contador, e tinha certa relutância em viajar sozinha. Amargas experiências lhe haviam revelado que uma mulher desacompanhada era alvo de muitos ataques por parte dos homens, ou pelo menos daquele tipo de homem que se recusava a acreditar que uma mulher viajava sozinha exclusiva­mente pela necessidade que sentia de não ter absolutamente ninguém a seu lado. A verdade é que havia concordado em viajar com Simon porque ele representava proteção. Ignorou o comentário de Hilary, quando ela sugeriu que Simon talvez tivesse idéias muito próprias... Ela enfatizou que eles não passavam de bons amigos e ignorou as risadas irônicas da amiga. Se Hilary não estivesse tão ocupada, plane­jando todos os detalhes de seu casamento, elas poderiam ter viajado juntas. Dulce, aos vinte e três anos, começava a descobrir que a maioria de suas amigas não eram mais solteiras, ao passo que ela...


Seus dedos tremiam, enquanto discava o número do telefone de Simon. Meu Deus, o que estava acontecendo com ela? Não devia pensar mais naquilo. Havia decidido ignorar o passado, caso desejasse manter a sanidade e a paz de espírito.


O telefone de Simon não respondeu. Dulce desligou, intrigada. Quem sabe ele já tinha descido para o café da manhã? Haviam chegado na véspera, após tomarem um pequeno navio no porto do Pireu, e Simon sugeriu que fossem dormir cedo. Foi nesse momento que nasceu a discussão entre eles.


— A senhora está preocupada? Aconteceu alguma coisa? — indagou o jovem grego, solícito.


Ele era muito bonito, como só os jovens gregos costumam ser. Era baixo, esguio, tinha olhos negros e grandes, além de dentes muito alvos, que contrastavam com a pele morena.


— Parece que o sr. Simpson não está no quarto. Deve ter ido tomar o café, sem esperar por mim. Irei verificar.


Para sua grande surpresa, o rapaz acenou negativamente com a cabeça.


— O senhor partiu — declarou, e Dulce ficou atônita. — Foi embora agora cedo. Aqui está a chave dele.


Mesmo diante daquela evidência, Dulce tinha certeza de que o rapaz havia cometido um engano. Simon provavelmente tinha ido dar um passeio, como ela o fizera.


— Não é possível que ele tenha partido! Chegamos ontem. Quem sabe você não compreendeu direito...


— De modo algum — insistiu o rapaz com teimosia. — Ele acordou cedo e pediu de volta os documentos que guardávamos em um cofre. Em seguida perguntou a que horas partia o navio que vai para o Pireu. Eu o informei e ele ordenou que fossem buscar as malas em seu quarto.


Dulce sentiu um frio na boca do estômago. Quer dizer, então, que Simon havia tomado aquela atitude tão extremada por causa de uma simples discussão? Ele não lhe parecia o tipo de pessoa capaz de semelhante comportamento. Ou seria? Afinal, ela o conhecia tão bem assim? Era um homem que esperava que uma garota dormisse com ele simplesmente porque passavam as férias juntos. Ao receber uma recusa, passou o resto da noite amuado... Mesmo assim, era incon­cebível que tivesse interrompido as próprias férias!


— Pare de entrar em pânico — disse Dulce para si mesma. Deveria haver uma explicação para aquilo tudo. Simon não podia simplesmente desaparecer. Para início de conversa, o passaporte dela estava entre os documentos de Simon, bem como seus cheques de viagem. Ela começou a tremer, ao se dar conta das conseqüências da possível atitude de Simon. O jovem grego, alarmado diante de sua palidez e de seu ar de aflição, foi até o escritório e, ao voltar, estava acompanhado por um gordo senhor de meia-idade.


— Senhora, sou o gerente. Stephanos disse-me que a senhora está preocupada pelo fato do seu amigo ter partido...


— Quer dizer que ele foi embora mesmo? — perguntou Dulce, mal percebendo que estava sendo conduzida para uma pequena sala bem mobiliada.


— Lamento informá-la, mas creio que ele se foi — disse o gerente, encarando-a com curiosidade. — Por favor, sente-se. Quer beber algo? O sol aqui da ilha costuma causar efeitos negativos sobre quem não está acostumado com ele. Já tomou o café da manhã?


— Mas ele não deixou nada para mim? Um embrulho, um bilhete? — perguntou Dulce, mesmo sem esperar uma resposta afirmativa. Um sexto sentido dizia-lhe que Simon, movido por aquela amargura e despeito que o levaram a partir, tinha carregado consigo seu passaporte e os cheques de viagem.


— Com licença. Vou verificar.


Assim que o gerente voltou, Dulce percebeu que Simon não havia deixado absolutamente nada para ela, a julgar pela expressão desolada do homem. O absurdo da situação revelou-se com toda sua intensidade. Estava sem dinheiro e, o que era mais importante, sem passaporte. Oh, por que havia concordado com a sugestão de Simon, colocando suas coisas no mesmo envelope a ser guardado no cofre do hotel?


Contemplou suas mãos pousadas uma sobre a outra. Era um gesto de defesa que passara a adotar naqueles meses amargos, quando a dor que invadia seu coração era tão sensível quanto a pele tenra onde antes estivera seu anel de noivado. Era um círculo de ouro ligando dois corações e dois corpos. Pelo menos assim pensava, entregue ao romantismo, no dia em que o anel foi enfiado em seu dedo. Deveria ter aprendido uma lição naquele momento. Não valia a pena confiar em homem algum. Agora, sua própria estupidez lhe havia estendido uma armadilha. Lá estava ela, presa em uma ilhota grega, com umas dez libras na bolsa e sem passaporte. O que fazer, em semelhantes circunstâncias? Pensou vagamente em entrar em contato com o consu­lado britânico, mas pôs imediatamente a idéia de lado. Um lugar tão minúsculo como Thos, que nem sequer tinha uma agência de turismo, dificilmente possuiria algo tão importante quanto um consulado. O que fazer, então?


A atitude mais sensata seria expor a situação ao gerente, o que ela fez, sem revelar inteiramente as razões para a súbita partida de Simon com seu passaporte e os cheques de viagem. Ele, entretanto, lançou-lhe um breve olhar malicioso, que revelava ter pleno conheci­mento de que algo muito mais sério havia se passado entre os dois.


— Ele não era seu noivo? — indagou, com muita diplomacia, depois que ela terminou a narrativa.


— Não, era apenas um amigo — retrucou Dulce, com certa aspe­reza. — E pelo visto, que mau amigo!


— Um mau amigo é mais perigoso do que mil inimigos! É perfei­tamente possível a senhorita deixar a ilha sem o passaporte, mas as autoridades de Atenas não lhe darão permissão para deixar o país. Falarei com a matriz do hotel, em Atenas, para ver o que deve ser feito, e nesse meio tempo sugiro que a senhorita preencha este formu­lário, o qual deverá ser apresentado às autoridades.


O formulário era muito detalhado e a Dulce pareceu excessivo. Sabia, porém, que os gregos eram muito sensíveis a qualquer tipo de crítica e guardou seus comentários para si. Quando chegou ao item "Estado civil" hesitou um instante e escreveu "Separada".


O gerente sugeriu que ela tomasse o café da manhã, mas Dulce não sentia o menor apetite. Em vez disso, voltou para a praia, evitando os banhistas que começavam a chegar.


Somente quando chegou à extremidade da baía, a uma boa distância do hotel, ela parou e sentou-se, contemplando o mar. Recordações que a perseguiam durante dois anos subitamente ultrapassaram as barreiras que ela havia erguido em torno de si, enchendo-a de dor e angústia. Reconheceu que jamais deveria ter retornado à Grécia. Era um país que a estimulava em excesso. Claro que a ilha de Thos não podia comparar-se à de Rodes e Simon não era Chris. No entanto, quando ele tentara beijá-la na noite anterior, as lembranças voltaram, sobretudo aquelas referentes à sua última briga com Chris, quando ele praticamente tentou violentá-la, acusando-a em seguida... Dulce estremeceu, a despeito do calor do sol.


Tinha apenas vinte anos quando conheceu Chris Uckermann e era muito ingênua. Apesar de trabalhar havia três anos em Paris como modelo, levara uma vida quase tão retirada quanto a de uma noviça em um convento. Vivia com uma família conhecida de seu patrão, que a vigiava com o mesmo zelo que teriam por sua própria filha. Após desfilar e posar durante quase dez horas, o dia todo, à noite ela não tinha disposição para mais nada, a não ser tirar os sapatos e cair na cama. Isso até Chris surgir em sua vida... Desde então tudo se havia modificado. Dulce reagiu a ele como uma plantinha tenra que desabrocha sob os raios do sol. Agora se arrependia por ter tornado tudo tão fácil para Chris.


Ficou louca de alegria quando ele a pediu em casamento. Seus pais vieram a Paris para a cerimônia, que foi imponente, pois Chris era o herdeiro de uma grande fortuna, visto que sua família tinha uma frota de navios. Na ocasião, a mãe de Dulce sugeriu que talvez ela estivesse se precipitando, mas ela recusou-se a ouvi-la. Amava Chris e era amada por ele. Quão tola havia sido! Por que não havia feito uma pausa para pensar? Por que não estranhou o fato de Chris, um grego bonito e milionário, procurar uma esposa que não fosse de sua nacionalidade?


A resposta é que o amor a deixara completamente iludida. Chris, aos trinta anos, era um homem mundano e experiente, e o fato de amá-la pareceu a Dulce um milagre tão grande que ela não questionou absolutamente nada e ninguém, sobretudo àquele homem quase divino, cujos lábios sensuais submetiam os dela e cujos dedos hábeis, ao lhe acariciar o peito, despertavam-lhe tamanhas emoções que ela quase chegava a ficar obcecada. Ela, que jamais conhecera a paixão, subita­mente tornara-se sua prisioneira.


A lua-de-mel tinha sido tudo aquilo com que Dulce sempre sonhara e mais alguma coisa. Chris a transportara às alturas, ensinando seu corpo inexperiente a descobrir as sutilezas da sensualidade. Nem sequer por uma vez, durante o mês que passaram na Riviera, ela duvidou do amor daquele homem. Não questionou o fato de que, como esposa de Chris, ocupava o papel mais importante em sua vida. Que preço duro havia pago por aquelas ilusões!


— Senhorita!


Aquele mergulho no passado foi interrompido pela voz solícita de um dos garçons, que viera à sua procura.


— Queira, por gentileza, voltar para o hotel, pois o gerente deseja lhe falar.


Dulce descruzou as pernas e levantou-se. Apesar de seus traços não possuírem a regularidade de uma beleza clássica, a graciosidade de seu corpo, combinada com o azul profundo de seus olhos e o dourado de seus cabelos faziam com que as pessoas a notassem, sobretudo na Grécia, onde sua cútis alva provocava olhares de admira­ção da parte dos homens gregos.


— Você é uma ninfa do mar...


Tal era a descrição que Chris fizera dela um dia. Ela, como uma perfeita tola, havia acreditado naquela lisonja que, afinal de contas, nada queria dizer. Não lhe passava pela cabeça que aquilo não passava de uma fachada para simplesmente ocultar a verdade; uma verdade tão horrenda que até agora ela não conseguia encará-la. Nem mesmo seus pais sabiam qual o verdadeiro motivo que a havia levado a deixar Londres. Aliás, ninguém sabia. Era um segredo amargo, que ficaria trancado em seu coração até o dia de sua morte.


Enquanto seguia o garçom até o hotel, Dulce procurou pôr de lado todas suas preocupações relativas ao passado, concentrando-se na situação em que se encontrava. O gerente acolheu-a com um sorriso que dissipou seus temores e convidou-a para sentar-se.


— Felizmente um dos nossos diretores encontrava-se em nosso escritório de Atenas, quando lhe telefonei ainda há pouco. Expli­quei-lhe o que acontecia e ele prometeu que faria todos os esforços possíveis a fim de regularizar a sua situação.


Sorrindo com gratidão, Dulce levantou-se. Pelo visto, tudo termi­naria bem.


— Agora resta-lhe aproveitar as férias. Assim que tiver outras notícias, a senhorita será informada.


Tudo aquilo não deixava de ser reconfortante, mas não significava muita coisa, pensou Dulce, quando se viu a sós em seu quarto. Felizmente todas as despesas do hotel haviam sido pagas antes de ela deixar a Inglaterra e em Thos não havia tantas oportunidades de se gastar dinheiro. Mesmo assim era extremamente desagradável ver-se cm um país estrangeiro com apenas dez libras na bolsa.


Atrasou-se para o jantar e, ao entrar no restaurante, verificou que quase todas as mesas já estavam ocupadas. Um garçom sorridente colocou-a a uma mesa com um simpático casal inglês de meia-idade que, pela segunda vez, passava as férias em Thos.


— A ilha não é suficientemente grande para que se alugue um carro — observou Richard Evans, à hora do café — e felizmente não possui muitas estradas. Algumas vezes invejo esses milionários gregos que adquirem uma ilha.


A conversa prosseguiu agradavelmente e quando o gerente surgiu a seu lado, Dulce ficou surpreendida ao notar como o tempo havia passado depressa. Aqueles momentos foram tão descontraídos que quase chegara a esquecer o passaporte e os cheques roubados.


— Tem alguma notícia para mim? — indagou, na esperança de que Simon, arrependido, houvesse deixado o passaporte no aeroporto.


— A senhorita deverá ir para Atenas. Já está tudo providenciado. Um helicóptero está aqui, a fim de transportá-la, e, ao chegar à capital, haverá alguém à sua espera...


— Atenas? Mas...


— É necessário. A perda de um passaporte é coisa muito séria. A senhorita precisará preencher formulários, apresentar-se às autoridades...


Claro que ele tinha razão, pensou Dulce. Seu passaporte não tinha sido simplesmente perdido, mas roubado. Mordeu o lábio, tentando imaginar quanto tempo levaria para chegar a Atenas e o que precisaria levar. Certamente uma muda de roupa seria mais do que suficiente.


— A senhorita passará uma noite no nosso hotel de Atenas, e pela manhã tomaremos todas as providências necessárias.


Dulce agradeceu efusivamente e o gerente, amável como sempre, informou que a acompanharia até o helicóptero, assim que ela estivesse pronta.


A viagem de helicóptero certamente lhe pouparia muito tempo. Com alguma sorte estaria de volta à ilha dentro de vinte e quatro horas, prazo suficiente para resolver todas as questões. Não seria má idéia dirigir-se à Embaixada da Inglaterra enquanto estivesse em Atenas, a fim de relatar o que estava acontecendo. Logicamente teria de tomar muito cuidado com o que diria. Sentia-se furiosa com Simon, é claro, mas mesmo assim não desejava comprometê-lo em um processo.


O helicóptero decolou rapidamente e dentro de alguns minutos voavam sobre a pequena baía, onde barcos de pesca preparavam-se para navegar para o mar alto.


Dulce não tinha a menor idéia de quanto tempo levariam para chegar a Atenas. Sabia que passavam por outras ilhas, pontos de luz emergindo do mar, mas não conseguia distinguir o continente.


O helicóptero começou a diminuir sua velocidade e Dulce olhou instintivamente para baixo, esperando ver as luzes do Aeroporto Internacional de Atenas. No entanto, divisou apenas um facho de luz solitário, vasculhando a escuridão do céu.


Aquilo não era Atenas, ela constatou, enquanto o helicóptero aterrissava. Olhou para o piloto, mas ele já saía pela porta, afastan­do-se dela. Uma brisa suave soprava, carregando com ela o odor perfumado do alecrim. À distância, Dulce conseguia ouvir vozes masculinas que se exprimiam em grego. Tomada subitamente de pânico, abriu a porta e caminhou às cegas. Teria caído se uma mão de homem, muito calejada, não a amparasse.


— Siga-me, senhora.


O tom era seco, mas nem por isso pouco gentil. Dulce abriu a boca para perguntar onde se achava, mas julgou melhor não dizer nada, enquanto ela e seu guia percorriam uma trilha que subia por uma colina. Em determinado momento ela voltou-se e olhou na direção do helicóptero, cuja hélice girava com velocidade cada vez maior, preparando-se para decolar.


— Mas o que está acontecendo? — indagou, tentando não demons­trar que sentia medo. O homem, que segurava seu braço, não deu a menor resposta, limitando-se a apertar o passo.


De repente encontraram-se em um pátio iluminado por postes espalhados pelo jardim e em torno da piscina. A casa encontrava-se igualmente bastante iluminada, mas parecia deserta. O medo fez com que a fronte de Dulce ficasse molhada de um suor gelado. Normal­mente conseguia controlar sua imaginação, mas naquele momento sentia que toda sua sensatez a desertava.


— Onde estou? Por que me trouxe até aqui?


Alguém movimentou-se por detrás das janelas. Dulce conseguiu distinguir a sombra de um homem alto, atlético, que desceu a escadaria do pátio e aproximou-se deles.


O homem que conduzira Dulce a segurava com menos força, mas ela não conseguiria se mexer, mesmo que desejasse. O medo estampa­va-se em seus olhos e o desconhecido, após aproximar-se, respondeu às suas perguntas com aquela voz calma e bem modulada, da qual ela se lembrava tão bem e que ainda agora a deixava quase tonta, tamanha sua excitação.


— Você está em Eos, a Ilha da Alvorada. Quanto aos moti­vos ... bem, creio que você conhece a resposta, Dulce.


Chris fez um gesto e o homem soltou-a, desaparecendo na escuridão. Como sempre, ele procurava tirar vantagens de toda e qualquer situação, pensou Dulce com amargura. Chris era bem mais alto do que ela e sua postura arrogante revelava a determinação de subjugá-la. No entanto ela não era mais aquela garota tola e influenciável que o havia desposado. Agora tornara-se uma mulher, e tinha pleno conheci­mento de tudo que lhe haviam ocultado em sua juventude. Moveu-se ligeiramente, de maneira a obrigar Chris a fazer o mesmo. Dulce conseguiu distinguir melhor os traços dele, que basicamente não haviam mudado, tornando-se apenas mais duros, como o mármore que não se deixa afetar pela inclemência do tempo. Ele sempre fora bonito, mas agora que caíra o véu da inocência, Dulce percebeu a sexualidade agressiva daquele rosto; a estrutura dos ossos, tão máscula; os lábios recurvos e sensuais. Ele usava os cabelos mais longos do que no passado e Dulce apertou involuntariamente os dedos, ao recordar o quanto eles eram sedosos... Os olhos de Chris eram esverdeados e herdados de uma antepassada longínqua, uma inglesa que havia viajado até a Grécia à procura de Lord Byron, mas que se apaixonara pelo trisavô do rapaz e ali permanecera, dando-lhe vários filhos.


— Você disse que eu conheço a resposta...


Ela agora recorria à experiência que havia adquirido desde que se separara de Chris e à capacidade de mascarar seus verdadeiros sentimentos. Não tinha a menor idéia do que ele desejava, mas nem por isso iria demonstrar o quanto sua inesperada aparição a irritara.


Nada do que ele pudesse dizer ou fazer conseguiria afetá-la. O amor que sentira um dia por ele não passara do entusiasmo de uma adoles­cente por um homem bonito e sexualmente experiente. Na verdade, o homem a quem amara nunca existira. Lembrou-se de como ele havia dissolvido todas suas barreiras, de como a transformara em uma mulher apaixonada, provocando nela reações que jamais sonhara ter. Tudo aquilo, porém, não passara de uma quimera, de uma armadi­lha preparada com egoísmo e sangue frio.


— Você quer se divorciar? Quanto a mim, não há a menor objeção. Meu caro Chris, não havia a menor necessidade de recorrer a uma atitude tão ridícula.


— Concordo, mas não tive todo esse trabalho só porque quero me divorciar, Dulce.


— Mas então, o que deseja?


— Você, Dulce. — Ele se exprimiu com tamanha suavidade que ela chegou a pensar que não o havia compreendido. — Eu a quero, pois é minha esposa. Nenhum grego permite que a mulher que o abandona permaneça impune. Sua maior punição será obrigá-la a voltar a desempenhar o papel que você abandonou com tamanha precipitação, e publicamente.


Dulce deu-lhe as costas, desesperada, mas era tarde demais. Dedos rijos como o aço agarraram sua cintura e ela se viu impulsionada de encontro a um peito que arfava de raiva.


— Sua ordinária... você sabe atingir onde dói, não é mesmo? Vai me pagar, Dulce! Quando me deixou, devia ter lembrado que sou grego, e os gregos jamais esquecem ou perdoam um insulto.


— Recuso-me a voltar com você! Jamais farei semelhante coisa!


— Voltará, sim — disse ele, em tom ameaçador. — Não só isso... você me dará um filho, para substituir aquele que destruiu!


Subitamente Dulce teve a impressão que um grande abismo negro se abria diante de seus pés e ela mergulhou nele, como se caísse nas profundezas do inferno.



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Autor(a): dullinylarebeldevondy

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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 428



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  • jessikavon Postado em 12/11/2009 - 18:10:03

    Q mara...ansiosa por todas suas wn...simplesmente adoro todas...


    :)

  • jessikavon Postado em 12/11/2009 - 18:10:03

    Q mara...ansiosa por todas suas wn...simplesmente adoro todas...


    :)

  • anjodoce Postado em 25/10/2009 - 14:46:43

    Amei sua web, foi perfeita.
    Parabéns!!!!!!!!!
    A acompanharei na próxima, beijos!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

  • anjodoce Postado em 25/10/2009 - 14:46:42

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  • anjodoce Postado em 25/10/2009 - 14:46:41

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  • anjodoce Postado em 25/10/2009 - 14:46:36

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