Fanfic: Proposta Ultrajante AyA

Falando ao telefone perto da janela, Alfonso ficou paralisado como se Anny tivesse na mão uma granada. Apertou as pálpebras e olhou de novo.Continuou olhando. Primeiro a coroa de cabelos louros, depois a tensa mas linda face e em seguida os protuberantes seios.

Anny parou à porta como uma mártir amarrada ao poste onde iria ser queimada viva em sacrifício, com o rosto mais quente do que as próprias chamas. Ficou imóvel, pois iria fazer a coisa mais difícil que já fizera na vida.Alfonso a forçara a se reduzir ao nível de um objeto sexual, desesperada para se vender à melhor oferta. Seu orgulho fora esmigalhado.Alfonso teve dificuldade em desviar a atenção da curva dos quadris mas,quando atingiu as pernas, se entusiasmou. Enfim seu olhar se concentrou no tornozelo com a tatuagem.

Franziu a testa e gritou:

- O que significa isso? Uma pantomima na qual você faz o papel de bomba sexual?

Anny na verdade não confiara nas palavras de Lola de que Alfonso seria,como todos os homens, escravo de seus hormônios, porque ele possuía uma teimosia em nunca ser exatamente como se esperaria que fosse. "Uma pantomima?"

Ela estremeceu de embaraço ao uso daquela palavra. O sardônico comentário aniquilou-a.

   Mais uma vez fizera papel de tola, refletia, mortificada. Lágrimas quentes apareciam em seu olhos e ela abriu-os bem e olhou para um ponto acima dos ombros de Alfonso a fim de impedir que as lágrimas caíssem.

- Não, é claro que não estou falando com você - Alfonso disse â pessoa com quem conversava ao telefone no instante em que ela entrou. - Tenho uma visita.Ligarei mais tarde.

  Enquanto ele se desculpava, Anny observava-o. Por que tirara a capa? Sim,teve receio de que perdesse a coragem no último momento. Esperava dar uma impressão de calma, divertida mesmo, e sempre em controle de tudo. Falhara.

   Alfonso achou-a ridícula. E lá estava ele, a imagem do invejável e sofisticado homem num elegante terno escuro, provavelmente a última moda do estilo italiano.

Colocou o telefone de lado.

- Estou esperando por uma explicação - disse.

- O que quer que eu diga? - Anny perguntou quase sem voz.

Ela já olhara o suficiente para Alfonso, para aquela face masculina, para as sobrancelhas negras, para o arrogante nariz, para a boca sensual.

Mesmo vendo-o a certa distância seu coração palpitou mais forte.

- Ok... - Alfonso murmurou. - Ontem você voltou correndo para meu

escritório e caiu em meus braços...

- Eu não caí em seus braços. Fui agarrada... Alfonso ignorou o protesto.

- Se eu não houvesse liberado o elevador acredito que teríamos feito sexo lá...

- Fale por você, não por mim. Não costumo me comportar assim.

- Não? - Ele riu, um riso de caçoada. - Agora que você me aparece aqui como um furacão, pensei que alguma maníaca tivesse decidido ser contratada para trabalhar em minha casa como faxineira.

- Uma... o quê?

- Vestida assim parece uma pequena faxineira, e sem categoria. Não é de meu estilo contratar uma empregada assim.

Apesar de ferida e humilhada pelo comentário abrupto, ela resolveu engolir as palavras impulsivas que lhe vieram aos lábios. Não podia antagonizar-se com Alfonso quando todo o futuro de seu irmão estava nas mãos dele. Um silêncio tenso se prolongou enquanto Anny lutava para não dizer a Alfonso o que gostaria de fazer com as opiniões que emitira sobre faxineiras. Sim, errara na escolha da roupa. Então, o que esperar?

- Uma vez que não consegue falar a que veio, não é uma sorte eu poder adivinhar exatamente o que faz aqui? - Alfonso observou friamente.

- Tenho certeza de que Ucker não roubou a caixinha de rapé, mas sei que as coisas não são favoráveis a ele e que será difícil provar sua inocência. Você disse que se tivesse a caixinha de volta reconsideraria os fatos e...

- Só que eu falava para o caso de a caixa me ser devolvida voluntariamente, e não encontrada pela polícia.

  Anny de fato não tinha muita esperança de que ele agisse em favor de Ucker,caso o objeto roubado fosse achado pela polícia. Mas quis tentar. Então,suspirando, acrescentou:

- Farei o que você quer de mim.

- Nesse caso, posso retirar a ordem de prisão, mas como saber se você respeitará sua parte do acordo?

A notícia da retirada da ordem de prisão animou Anny, porém ela irritou-se com o comentário de Alfonso.

- O que pensa que sou? - disse. - Não sou desonesta, tampouco mentirosa.

- Meu pai na verdade não teve queixa depois do negócio que fez com você.Mas, a menos que eu esteja muito enganado, nos cinco anos em que foi viver fora daqui, não viu mais seu pai ou seu irmão. Como posso saber o que fez esse tempo todo?

  Seria aquilo uma censura?, Anny se perguntou. Ela e Ucker conversavam ao telefone quase todas as semanas. Nos primeiros dois anos ela morara em Gloucester, com uma tia, e muitas vezes vira sua família. Mas quando a tia morreu, mudou-se para o norte a fim de encontrar um emprego. E, naturalmente, as visitas se espaçaram.