Fanfic: Aún Hay Algo! - Segunda Temporada

Duas semanas se passaram rápido, como um raio que atinge a terra. Dulce estava agora com dois meses de gestação e andava trabalhando muito na elaboração de novos quadros para o programa que apresentava com Anahí. João Miguel ainda estava de férias e passava a maior parte do tempo com o pai que estudava com calma uma nova proposta de emprego, um desafio a sua carreira de ator, um grande produtor americano o havia convidado para fazer parte do elenco de um novo seriado policial que seria exibido por um canal mundialmente conhecido. Seu papel não era o principal, mas tinha uma importância fundamental para trama, interpretaria John Guerrillo, um detetive latino do FBI que era parceiro de trabalho do protagonista, juntos os dois desvendariam crimes que aconteciam dentro das prisões de segurança máxima dos EUA. Alfonso ainda não tinha aceitado o papel porque no contrato constava que ele teria que viajar pelo menos uma vez por mês para gravar as cenas externas do seriado, também não contara nada a Dulce, esperava o melhor momento para dar a notícia já que tinha medo de estragar o momento feliz que estavam vivendo na nova casa em que estavam morando a poucos dias.

Era um fim de tarde de sexta-feira e Alfonso buscava o filho no futebol como sempre fizera. O céu estava cinza e anunciava que uma forte chuva cairia em poucos minutos.

Alfonso: Miguel! – ele buzina. - Vamos filho! Ainda temos que buscar a mamãe!

Miguel: Já vou! Calma papai! - corria com a mochila nas costas em direção ao carro. Vestia um uniforme preto e branco e chuteiras vermelhas.

Alfonso: Entre rápido!- ele destrava a porta e trava novamente após o filho entrar. - Coloque o cinto campeão.

Miguel: Sim! – obedece a ordem do pai.

Alfonso: E como foi o treino hoje?

Miguel: Foi legal. – diz, um pouco desanimado.

Alfonso: Que cara é essa? O que aconteceu? – o observa pelo retrovisor interno.

Miguel: É que o treinador não deixou eu jogar.

Alfonso: Como assim não deixou você jogar?

Miguel: Tem um menino grandão que joga melhor do que eu. Ai ele disse pra eu sentar no banquinho e eu não joguei, mas não tem problema. Ele disse que da próxima vez ele deixa.

Alfonso: O que?! Ele te colocou no banco?! Meu filho no banco?!– ele tira o cinto.

Miguel: Onde você vai papai?

Alfonso: Eu já volto campeão, fique no carro, entendeu?

Miguel: Entendi!- ele abre a mochila e pega uma revista de videogames.

Alfonso se dirigiu a entrada do campo pisando fundo e arregaçando as mangas, procurou o treinador do time e logo o avistou, era um homem alto que apesar da idade ainda mantinha um porte atlético, seus cabelos eram grisalhos e o queixo largo e quadrado, vestia um agasalho preto e conversava com a mãe de um garoto baixo e gordinho que chorava com o dedão na boca.

Alfonso: Treinador!

Treinador: Quem é você?

Alfonso: Como quem sou eu? Já nos encontramos algumas vezes. Sou o pai do João Miguel.

Treinador: O que quer?

Alfonso: O que quero? – sorri. - Que não deixe meu filho no banco!

Treinador: Senhor estou fazendo um bom trabalho com esse time, e infelizmente quem está jogando mal tem que ficar no banco.- fala calmamente, preenchendo algo em sua prancheta.

Alfonso: Mas isso é um absurdo! Pagamos uma fortuna nessa porcaria de escolinha pro meu filho ficar no banco sem poder se divertir?

Treinador: Ele não vai ficar no banco eternamente. É só melhorar que poderá jogar.

Alfonso: Isso não está certo.

Treinador: Escute aqui, eu não admito que pais encrenqueiros se intrometam nas decisões que tomo nesse time, se o senhor não está satisfeito pegue seu filho e dê o fora! Ou preste mais atenção nos gostos do seu garoto. Ele nunca jogou muito bem. Alias arrisco dizer que ele nem gosta de jogar futebol. – encara Alfonso.

Alfonso: Que mentira deslavada ele sempre gostou de futebol! Tem suas próprias chuteiras autografadas desde que estava na barriga da mãe!

Treinador: As vezes ele só faz isso para te agradar. Muitos casos como este já passaram por aqui. Por que não tenta incentiva-lo a praticar outro esporte? Um que não seja tão ruim? Agora com licença que tenho outras coisas pra fazer. Boa tarde. – sai deixando-o sozinho.

Alfonso voltou para o carro furioso, entrou batendo a porta fazendo com que o filho tomasse um tremendo susto.

Miguel: O que foi papai? Está bravo comigo? Eu não fiz bagunça, eu juro!

Alfonso: Não Miguel. Não estou bravo com você filho, estou bravo comigo. – se vira no banco, olhando-o.

Alfonso: Por que? – ele coloca a revista de lado.

Alfonso: Miguel, por que não me disse que não gostava de futebol?

Miguel: Mas eu gosto!

Alfonso: Gosta? – sorri de lado. - Seu treinador me disse que você não parece gostar de futebol.  Gosta ou não gosta?

Miguel: Se eu não gostar você vai ficar bravo? – pergunta, desconfiado.

Alfonso: Claro que não!

Miguel: Não gosto muito. – admite.

Alfonso: Então porque disse que gostava?

Miguel: Porque você gosta. Ai você disse que era legal fazer futebol e ai eu pedi pra mamãe colocar.

Alfonso: Filho. – ele sorri. - Vem aqui com o papai. – ele afasta o banco e Miguel pula para o banco do motorista, sentando-se no colo do pai. – Escute, você não precisa gostar de tudo o que o papai gosta.

Miguel: Mas eu quero ser igual você, e você gosta de futebol.

Alfonso: Acho maravilhoso saber que você querer ser como eu filho, mas não acha melhor ser você mesmo?

Miguel: Como assim?

Alfonso: Todas as pessoas são diferentes. Eu sou diferente da sua mãe, que é diferente da sua madrinha, que é diferente do seu avô, que é diferente de você, e por ai vai.

Miguel: E porque todo mundo não é igual?

Alfonso s: Porque se todos fossemos iguais o mundo perderia a graça.

Miguel: Então eu não posso ser igual a você?

Alfonso: Em algumas coisas sim, outras não! Eu gosto de comer brócolis, você também gosta?

Miguel: Não, eca. – faz uma careta.

Alfonso: Então. – ele ri. - Não é porque gosto de brócolis que você também tem que gostar. Apesar de fazer bem a saúde.

Miguel: Então eu posso sair do futebol que você não vai ficar triste?

Alfonso: Não só pode como deve, se não te faz feliz não há razão para continuar filho.

Miguel: Mas eu ainda vou ser o campeão?

Alfonso: Vai! – sorri, beijando a cabeça do filho.

Miguel: Então tudo bem!

Alfonso: Agora diz pro papai. O que você gosta de fazer?

Miguel: Eu gosto de dançar.

Alfonso: Dançar? Tem certeza filho?

Miguel: Tenho. Mas não quero fazer aula.

Alfonso: E você quer fazer aula do que?

Miguel: Quero fazer aula de ser diferente.

Alfonso: Não existe aula disso. – ele ri.

Miguel: Então eu quero dançar.

Alfonso: Só dançar? – sorri, fazendo uma careta.

Miguel: E eu quero lutar que nem ninja!

Alfonso: Ok lutar que nem ninja. – ele pensa por um instante. - Caratê?

Miguel: Sim, Caratê! Eu quero fazer caratê!

Alfonso: Ok, então você vai fazer caratê.

Miguel: E vou dançar.

Alfonso: Vai! – sorri, revirando os olhos.

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