Fanfic: Anjo Mecânico [FINALIZADA] | Tema: Anahi, Alfonso, Christopher, Suspense, Anjo Mecânico

Capítulo 19 - Se acaso a traição prosperar

A traição nunca prospera. Por que motivo?
Se prospera, ninguém ousa chamá-la de traição.
– Sir John Harrington

Sophie estava cuidando do fogo ardendo na lareira, e a sala estava quente, quase sufocante. Maite estava sentada atrás de sua mesa, e Henry em uma cadeira ao lado dela. Poncho estava deitado em uma das poltronas floridas ao lado do fogo, uma bandeja de prata de chá em seu cotovelo e um copo na mão. Quando Anahí entrou, ele sentou-se de forma tão abrupta que um pouco do chá derramou-se em sua manga e ele colocou o copo para baixo, sem tirar os olhos dela.

Ele parecia exausto, como se tivesse andado a noite toda. Ainda usava o casaco de lã azul escuro com forro de seda vermelha, e as pernas de sua calça preta estavam salpicadas de lama. Seu cabelo estava molhado e emaranhado, o rosto pálido, sua mandíbula escura, com a sombra uma barba. Mas no momento em que Anahí o viu, seus olhos brilhavam como lâmpadas com o toque de um acendedor. Todo o seu rosto mudou, e ele olhou para ela com tal prazer inexplicável que Anahí, atônita, parou abruptamente, fazendo Ucker trombar nela ao entrar. Naquele momento, ela não podia olhar para longe de Poncho, era como se ele sustentasse seu olhar, e lembrou-se novamente do sonho que tivera na noite anterior, que estava sendo consolada por ele na enfermaria. Será que ele poderia ler a memória dele em seu rosto? Era por isso que ele estava olhando?

Ucker olhou ao redor de seu ombro.

— Olá Poncho. Você acha que foi uma boa ideia passar a noite embaixo de toda essa chuva enquanto ainda está se curando?

Poncho desviou os olhos de Anahí.

— Tenho certeza que sim — ele disse com firmeza — eu tinha que andar. Clarear a cabeça.

— E ela está clara agora?

— Como um cristal — Poncho respondeu, voltando-se para Anahí, e a mesma coisa aconteceu de novo. Seus olhares pareciam presos juntos, e ela teve que desviar seus olhos para longe e sentar-se no sofá perto da mesa, onde Poncho não ficava diretamente em sua linha de visão.

Ucker veio e sentou-se ao lado dela, mas não pegou sua mão. Ela se perguntou o que aconteceria se eles anunciassem o acontecido agora, casualmente: nós vamos nos casar. Ucker estava certo, não era momento para isso.

Maite olhou para Poncho, ela parecia ter passado a noite em claro, sua pele tinha um tom doentio de amarelo, e havia machas escuras abaixo de seus olhos. Henry sentou ao seu lado na mesa, a mão protetoramente sobre a dela, observando-a com uma expressão preocupada.

— Estamos todos aqui, Maite — disse rapidamente, e por um momento Anahí queria ressaltar que eles não estavam. Jessamine não estava com eles. Ela ficou em silêncio.

— Como vocês provavelmente sabem, estamos perto do fim do período de duas semanas que nos foi concedido pelo Cônsul Wayland. Nós não descobrimos o paradeiro de Mortmain. De acordo com o Irmão Enoch, os Irmãos do Silêncio examinaram o corpo de Nathaniel Portilla e não encontraram nada com ele, e como ele está morto, não iremos obter mais nada dele.

Ele está morto. Anahí se lembrou de quando Nate era ainda muito jovem e perseguira libélulas no parque. Ele tinha caído na lagoa, e Anahí e tia Harriet – a mãe dele – ajudaram a tirá-lo. Sua mão estava escorregadia e a água era verde com o crescimento de plantas subaquáticas. Lembrou-se de sua mão deslizando dela no armazém de chá, escorregadia com sangue. Você não sabe de tudo o que fiz, Gio.

— Nós certamente podemos denunciar o que sabemos de Benedict para a Clave — Maite estava dizendo quando Anahí forçou sua mente de volta para a conversa na sala — parece ser a atitude mais sensata a se fazer.

Anahí engoliu em seco.

— E o que Jessamine disse? Que estaríamos nos jogando nas mãos de Mortmain por fazer isso?

— Mas nós não podemos fazer nada — Poncho respondeu — não podemos sentar e entregar as chaves ao Instituto a Benedict Lightwood e sua lamentável prole. Eles estão com Mortmain. Benedict é seu fantoche. Temos que tentar. Pelo Anjo, não temos provas suficientes? O suficiente para ganhar-lhe um julgamento pelo menos com a Espada.

— Quando tentamos a Espada em Jessamine, havia bloqueios em sua mente colocados lá por Mortmain — Maite lembrou, cansada — acha que Mortmain seria tão insensato em não tomar a mesma precaução com Benedict? Vamos ficar como tolos se a Espada não fizer nada com ele.

Poncho passou as mãos por seu cabelo preto.

— Mortmain espera que iremos à Clave. Seria a sua primeira suposição. Ele também já deve ter premeditado isso. De Quincey, por exemplo. Lightwood não é insubstituível para ele, e sabe disso — Poncho tamborilava com os dedos sobre os joelhos — acho que se fomos para a Clave, certamente poderíamos tirar Benedict da corrida para a liderança do Instituto. Mas há um segmento da Clave que segue sua liderança, alguns são conhecidos por nós, mas outros não. É um fato triste, mas não sabemos em quem podemos confiar além de nós mesmos. O Instituto está seguro conosco, e não podemos permitir que ele nos seja retirado. Onde mais Anahí ficaria segura?

Anahí piscou.

— Eu?

Poncho olhou surpreso, como se assustado com o que acabara de dizer.

— Bem, você é parte integrante do plano de Mortmain. Ele sempre te quis. Ele sempre precisará de você. Não devemos deixar que ele a tenha. É claro que você seria uma arma poderosa nas mãos dele.

— Tudo isso é verdade, Poncho, e é claro, eu vou até o Cônsul — Maite concordou — mas como uma Caçadora de Sombras comum, não como diretora do Instituto.

— Mas por que, Maite? — Ucker exigiu. — Você se destaca em seu trabalho.

— Eu? — Ela exigiu. — Pela segunda vez eu não notei um espião sob meu próprio teto; Poncho e Anahí facilmente contornaram minha vigilância e foram a um baile de Benedict; nosso plano para capturar Nate – que não compartilhamos com o Cônsul – deu errado, deixando-nos com uma testemunha potencialmente importante morta.

— Lottie! — Henry colocou a mão no braço de sua esposa.

— Eu não sou digna de comandar este lugar — Maite continuou — Benedict está certo... Claro que vou tentar convencer a Clave de sua culpa. Alguém comandará o Instituto. Não será Benedict, espero, mas também não serei eu.

Houve um estrondo.

— Sra. Branwell! — Era Sophie. Ela tinha deixado cair o atiçador e se afastou do fogo. — A senhora não pode demitir-se. Você... você simplesmente não pode.

— Sophie — Maite falou, muito gentilmente — onde quer que eu vá, assim que eu e Henry montarmos nossa casa, vamos levar-lhe junto.

— Não é isso — Sophie falou em uma voz baixa. Seus olhos corriam ao redor da sala — a senhorita Jessamine... ela estava... quero dizer, ela estava dizendo a verdade. Se você for até a Clave com isto, estará jogando de acordo com os planos de Mortmain.

Maite olhou para ela, perplexa.

— O que te faz pensar isso?

— Eu não – eu não sei exatamente — Sophie olhou para o chão — mas eu sei que é verdade.

— Sophie? — O tom de Maite era ranzinza, e Anahí sabia o que ela estava pensando: será que eles tinham um outro espião, outra serpente em seu jardim? Poncho também estava inclinado para frente, com os olhos apertados.

— Sophie não está mentindo — Anahí disse abruptamente — ela sabe porque... porque ouvimos Gideon e Gabriel falarem disso na sala de treinamento.

— E só agora decidiu mencioná-lo? — Poncho arqueou as sobrancelhas.

De repente, furiosa com ele, Anahí retrucou:

— Fique quieto, Poncho. Se você...

— Eu passeei com ele — Sophie interrompeu com a voz elevada — com Gideon Lightwood. O vi em meus dias de folga — ela estava tão pálida como um fantasma — ele me contou. Ouviu seu pai rindo sobre isso. Eles sabiam que Jessamine foi descoberta. Estavam esperando que você fosse para a Clave. Eu deveria ter dito algo, mas parecia que você não queria saber deles de qualquer maneira, então eu...

— Passeando? — Henry perguntou, incrédulo. — Com Gideon Lightwood?

Sophie manteve sua atenção em Maite, que estava olhando para ela, de olhos redondos.

— Eu sei por que o Sr. Lightwood está com Mortmain também — Sophie continuou — Gideon descobriu. O pai não sabe que ele sabe.

— Bem, meu Deus, menina, não fique aí parada — disse Henry, que parecia tão perplexo quanto sua esposa — conte-nos.

— Varíola demoníaca. O Sr. Lightwood tem, faz anos, e a doença vai matá-lo em um par de meses se ele não conseguir a cura. E Mortmain disse que ele pode obtê-la para ele.

A sala explodiu em um burburinho. Maite correu para Sophie, Henry a chamava; Poncho saltou de sua cadeira e começou a dançar em círculos. Anahí ficou onde estava, atordoada, e Ucker permaneceu ao seu lado.

Enquanto isso, Poncho parecia estar cantando uma música sobre como ele estava certo sobre a varíola demoníaca o tempo todo.

“Varíola demoníaca, oh, varíola demoníaca,
Como é que se contrai?
Indo a zona podre da cidade
Até não poder mais.
Varíola demoníaca, oh, varíola demoníaca
Eu tive o tempo todo
Não a doença, amigo bobão
Estou falando da canção
Pois vocês estavam errados e eu com a razão!"

— Poncho! — Maite gritou acima do barulho. — Você perdeu a cabeça? PARE COM ESSA MÚSICA INFERNAL! Ucker...

Ucker, pondo-se de pé, cobriu a boca de Poncho.