Fanfic: Anjo Mecânico [FINALIZADA] | Tema: Anahi, Alfonso, Christopher, Suspense, Anjo Mecânico

Capítulo 8 - Aquele fogo do fogo

Você chama de esperança – aquele fogo do fogo!
Não é nada além de agonia do desejo.
– Edgar Allan Poe, Tamerlane

Anahí sentou-se metodicamente à penteadeira, escovando os cabelos. O ar lá fora era frio e úmido, parecendo a reter a água do Tâmisa, perfumado com ferro e sujeira da cidade.

Era o tipo de clima que deixava seu cabelo ondulado mais espesso e emaranhado nas pontas. Não que sua mente estivesse no cabelo, era simplesmente um movimento repetitivo, a escova lhe permitia manter uma espécie de calma forçada.

Cada vez mais em sua mente, ela viu o choque de Ucker quando Maite leu a carta Mortmain; as mãos queimadas de Poncho; a pequena quantidade de yin fen que conseguiu reunir do chão. Ela viu os braços de Cecily sobre Poncho, a angústia de Ucker quando pediu desculpas a seu parabatai: eu sinto muito, eu sinto muito.

Não fora capaz de suportá-lo. Poncho e Ucker estavam em agonia, os dois, e ela amava ambos. A dor deles tinha sido por causa dela, ela era o que Mortmain queria. Ela era a causa do yin fen de Ucker ter desaparecido, e da miséria de Poncho.

Quando se virou e correu da sala estudos, foi porque não aguentava mais. Como poderia três pessoas que se amavam tanto causar tanta dor ao outro?

Ela baixou a escova de cabelo e se olhou no espelho. Parecia cansada, com os olhos sombreados da mesma maneira que Poncho quando ele sentara-se com ela na biblioteca e ajudara Maite com os papéis de Benedict, traduzindo algumas das passagens que estavam em grego, latim ou purgatic, sua caneta de pena se movimentando rapidamente sobre o papel, a cabeça escura inclinada.

Era estranho olhar para Poncho na luz do dia e lembrar do menino que tinha abraçado-a como se ela fosse um bote salva-vidas em uma tempestade na casa de Woolsey. O rosto de Poncho à luz do dia era não imperturbável, mas não era aberto também. Ele não tinha sido hostil ou frio, mas não olhara para cima, sorrira por sobre a mesa da biblioteca para ela, ou reconhecera de alguma forma os acontecimentos da noite anterior.

Ela queria puxá-lo de lado e perguntar se ele tinha notícias de Christian, dizer: Ninguém entende o que você sente mais que eu, e ninguém entende o que eu sinto mais que você, então não podemos sentir juntos? Mas se Christian tivesse entrado em contato com ele, Poncho teria dito a contado a ela, ele era honroso. Todos eram honrosos. Se não fossem assim, pensou ela, olhando para as mãos, talvez não fosse tão terrível.

Fora tola por se oferecer para ir até Mortmain – ela sabia agora – mas o pensamento tinha tomado-a tão ferozmente quanto uma paixão. Ela não podia ser a causa de toda a infelicidade e não fazer algo para aliviá-la. Se ela se entregasse para Mortmain, Ucker viveria por mais tempo, e Ucker e Poncho teria um ao outro, seria como se Anahí nunca tivesse vindo ao Instituto.

Mas agora, nas horas frias da noite, ela sabia que nada podia fazer o relógio voltar, ou desfazer os sentimentos que existia entre eles. Anahí sentiu-se vazia por dentro, como se um pedaço de si estivesse faltando, e ainda estava paralisada.

Parte dela queria correr para Poncho, ver se suas mãos estavam curadas e dizer-lhe que entendia. O resto queria fugir pelo corredor até o quarto de Ucker e pedir-lhe perdão. Eles nunca tinham ficado com raiva um do outro antes, e ela não sabia como lidar com um Ucker furioso. Será que ele terminaria o noivado? Estaria desapontado com ela? De alguma forma, esse pensamento era tão difícil de suportar, que Ucker talvez estivesse desapontado com ela.

Skritch.

Ela olhou para cima e ao redor do quarto, ouvindo um leve ruído. Talvez tivesse imaginado? Estava cansada, talvez fosse hora de chamar Sophie para ajudá-la com o vestido, e depois se deitar na cama com um livro. Estava atenta ao Castelo de Otranto, onde encontrou uma excelente distração.

Ergueu-se de sua cadeira e estava prestes a tocar o sino dos criados quando o barulho veio de novo, mais forte – skritch, skritch, contra a porta de seu quarto. Com uma ligeira hesitação, Anahí atravessou a sala e abriu a porta.

Church estava sentado do outro lado, seu pelo azul acinzentado amarrotado, sua expressão furiosa. Em torno de seu pescoço estava amarrado um laço prateado, e anexado ao laço estava um pequeno pedaço de papel enrolado, como um pequeno pergaminho. Anahí caiu de joelhos, pegou o laço e desamarrou-o. O laço caiu, e o gato imediatamente fugiu para o corredor. O papel veio livre, Anahí pegou o pergaminho e desenrolou-o. O familiar traço floreado cobria a página.

Encontre-me na sala de música.
– J