Fanfic: Anjo Mecânico [FINALIZADA] | Tema: Anahi, Alfonso, Christopher, Suspense, Anjo Mecânico
Capítulo 10 - Como água na areia
Admirava-me de viverem os outros mortais, quando tinha morrido aquele que eu amava, como se ele não houvesse de morrer! E, sendo eu outro ele, mais me admirava de ainda viver, estando ele morto.
Que bem se exprimiu um poeta, quando ele chamou ao seu amigo “metade da sua alma”! Ora, eu, que senti que a minha alma e a sua formavam uma só em dois corpos, tinha horror à vida, porque não queria viver só com metade. Talvez por isso é que receava morrer, não viesse a morrer totalmente aquele a quem eu tanto amara.
– Santo Agostinho, Confissões, Livro IV
Cecily abriu cuidadosamente a porta onde estava a cama de Ucker e olhou o interior.
A sala estava tranquilo, mas havia movimento. Dois Irmãos do Silêncio estavam ao lado da cama de Ucker, com Maite entre eles. O rosto dela estava grave e marcado por lágrimas. Poncho se encontrava ajoelhado ao lado da cama, ainda em suas roupas manchadas de sangue da luta no pátio. Sua cabeça pendia sobre os braços cruzados, como se estivesse rezando. Parecia jovem, vulnerável e desesperado, e apesar de seus sentimentos conflitantes, uma parte de Cecily desejava ir para o quarto e confortá-lo.
O resto dela via a inerte figura pálida deitada na cama, fraquejando. Cecily estava aqui há tão pouco tempo, sentia que era uma intrusa entre os habitantes do Instituto – uma intrusa em sua dor, sua tristeza.
Mas ela devia falar com Poncho. Tinha que fazê-lo.
Ela avançou... E sentiu uma mão em seu ombro, puxando-a. Suas costas bateram na parede do corredor e Gabriel Lightwood imediatamente a soltou. Cecily olhou para ele com surpresa. Ele parecia exausto, seus olhos verdes sombreados, manchas de sangue em seu cabelo e na barra de sua camisa. O colarinho estava úmido. Vinha claramente do quarto de seu irmão. Gideon fora ferido gravemente na perna pela lâmina de um autômato. As iratzes ajudaram, mas parecia que havia um limite para o que poderia ser curado. Ambos, Sophie e Gabriel, o levaram para o quarto, mas Gideon protestava que toda a assistência deveria ser focada em Ucker.
— Não vá lá — Gabriel disse em voz baixa — eles estão tentando salvar Ucker. Seu irmão precisa estar lá para ele.
— Estar lá para ele? O que Poncho pode fazer? Poncho não é um médico.
— Mesmo inconsciente, Christopher vai puxar a força de sua parabatai.
— Eu preciso falar com Poncho por apenas um momento.
Gabriel correu as mãos através de seu cabelo despenteado.
— Você não está com os Caçadores de Sombras há muito tempo. Não consegue compreender. Perder seu parabatai não é pouca coisa. Nós levamos isso a sério, como a perda de um marido ou esposa, um irmão ou irmã. É como se você estivesse deitada naquela cama.
— Poncho não se importaria tanto se fosse eu deitada ali.
Gabriel bufou.
— Seu irmão não teria se dado ao trabalho de me confrontar por sua causa se não se importasse com você, senhorita Herrera.
— Não, ele não gosta muito de você. Por que isso? E por que está me dando conselhos sobre ele agora? Você não gosta dele, também.
— Não. Não é bem assim. Não é que eu não goste de Poncho Herrera. Nós nos desgostamos durante anos. Na verdade, ele quebrou meu braço uma vez.
— É mesmo?
Cecily ergueu uma sobrancelha, apesar de tudo.
— E ainda estou começando perceber que muitas coisas que eu sempre acreditei não estão certas. E Poncho é uma dessas coisas. Eu estava certo de que ele era um canalha, mas Gideon contou-me mais sobre ele, e começo a entender que ele tem uma definição muito peculiar de honra.
— E você respeita isso.
— Eu gostaria de respeitá-lo. Gostaria de entendê-lo. E Christopher Uckermann é um dos melhores de nós, mesmo que eu odiasse Poncho, gostaria de poupá-lo agora, pelo amor de Ucker.
— O que quero falar ao meu irmão — Cecily disse — Ucker gostaria que eu falasse. É importante. E vai demorar apenas um momento.
Gabriel esfregou as têmporas. Ele era muito alto – parecia uma torre elevando-se sobre Cecily, mas era muito magro. Tinha um rosto bastante plano, não muito bonito, mas elegante, a forma do lábio inferior quase exatamente um arco.
— Tudo bem — ele falou — vou entrar e mandá-lo para fora.
— Por que você? E não eu?
— Se ele estiver com raiva, agoniado, pelo o que vejo, é melhor ele ficar furioso comigo do que com você — Gabriel respondeu com naturalidade — estou confiando em você, senhorita Herrera, que isto seja importante. Espero que não me desaponte.
Cecily não disse nada, apenas observou enquanto Gabriel empurrou a porta da enfermaria e foi para dentro. Ela se inclinou contra a parede, o coração batendo forte. Um murmúrio de vozes vinha de dentro. Ela podia ouvir Maite dizer algo sobre runas de reposição de sangue, que eram aparentemente perigosas, e depois a porta se abriu e Gabriel saiu. Ela ficou ereta.
— Poncho está...
Os olhos de Gabriel brilharam para ela, e um momento depois Poncho apareceu nos calcanhares de Gabriel, fechando a porta firmemente atrás dele. Gabriel acenou para Cecily e seguiu pelo corredor, deixando-a sozinha com ela irmão.
Ela sempre quis saber como você poderia ficar sozinha com alguém, de verdade. Se você estava com alguém, não era, por definição, não estar sozinho? Mas ela se sentia completamente só agora, Poncho parecia estar em outro lugar. Ele nem parecia estar com raiva. Encostou-se na parede ao lado da porta, de frente para ela, e ainda assim parecia tão insubstancial quanto um fantasma.
— Poncho.
Ele não parecia ouvi-la. Estava trêmulo, com as mãos tremendo com a tensão.
— Gwilym Owain — disse ela novamente, mais suavemente.
Ele virou a cabeça para olhar para ela, pelo menos, embora seus olhos fossem tão azuis e frios quanto a água do Llyn Mwyngil ocultado entre as montanhas.
— Eu vim aqui pela primeira vez quando tinha doze anos — disse ele.
— Eu sei — Cecily respondeu, confusa.
Poncho achou que ela poderia ter esquecido? Perder Ella e em seguida Poncho, o seu amado irmão mais velho, em apenas uma questão de dias? Mas Poncho não parecia mesmo ouvi-la.
— Para ser mais preciso, em dez de novembro desse ano. E a cada ano, no aniversário daquele dia, eu caía em um humor negro de desespero. Nesse dia e do meu aniversário era quando eu me lembrava mais nitidamente da mamãe, do papai e de você. Eu sabia que você estava viva, que estava lá fora, que me queria de volta, e eu não podia ir, não podia mesmo enviar-lhe uma carta. Escrevi dezenas, é claro, que queimaram. Você tinha que me odiar e me culpar pela morte de Ella.
— Nós nunca culpamos você...
— Após o primeiro ano, apesar de eu ainda temer a abordagem do dia, comecei a procurar algo para fazer com Ucker, simplesmente tinha que fazer alguma coisa todo dia dez do mês de novembro. Treinos de exercícios ou uma investigação que iria nos levar até o outro extremo da cidade, no clima frio e molhado de inverno. E eu gostava de abusar amargamente dele, é claro. Às vezes, a umidade do frio lhe fazia mal, ou ele esquecia o seu remédio e passava o dia doente, tossindo sangue e confinado à cama, o que seria ser uma distração também. E só depois que isso aconteceu três vezes – porque eu sou muito estúpido, Cecy, e pensava somente em mim, percebi que ele estava fazendo aquilo por mim. Ele tinha notado a data e estava fazendo tudo o que podia para me tirar da minha melancolia.
Cecily ficou imóvel, olhando para ele. Apesar das palavras que ecoavam em sua cabeça para ser faladas, ela não podia dizer nada, pois era como se o véu de anos houvesse caído e ela estava vendo o seu irmão finalmente, como fora quando criança, acariciando-a desajeitadamente quando ela estava machucada, adormecendo no tapete em frente à lareira com um livro aberto no peito, saindo da lagoa rindo e sacudindo a água para fora de seu cabelo preto. Poncho, sem nenhum muro entre ele e o mundo de fora.
Ele colocou os braços sobre si mesmo, como se estivesse com frio.
— Eu não sei quem ser sem ele. Anahí está desaparecida, e cada momento em que ela se foi é uma faca rasgando meu interior. Ela se foi e eles não podem localizá-la, não tenho a mínima ideia de para onde ir ou o que fazer, e a única pessoa com que posso imaginar falando da minha agonia é a única pessoa que não pode saber. Mesmo que ele não esteja morrendo.
— Poncho. Poncho — ela colocou a mão em seu braço — por favor, me escute. Trata-se de encontrar Anahí. Acho que sei onde Mortmain está.
Seus olhos se arregalaram com as palavras da irmã.
— Como você poderia saber?
— Eu estava perto o suficiente para ouvir o que Jessamine disse quando ela estava morrendo — Cecily revelou, sentindo o sangue pulsar sob sua pele. Seu coração estava batendo forte — ela disse que você era um terrível galês.
— Jessamine? — Ele parecia confuso, mas Cecily viu seus olhos se estreitarem ligeiramente. Talvez, inconscientemente, ele estivesse começando a seguir a mesma linha de pensamento que ela.
— Ela ficava dizendo que Mortmain estava em Idris. Mas a Clave sabe que ele não está — Cecily continuou rapidamente — vocês não sabiam que Mortmain morou no País de Gales, mas eu sim. Ele conhece bem lá. E uma vez você conheceu também. Nós crescemos na sombra da montanha, Poncho. Pense.
Ele olhou para ela.
— Você não imagina... Cadair Idris?
— Ele conhece aquelas montanhas, Poncho — ela disse — e acharia tudo engraçado, um grande jogo com você e todos os Nephilim. Ele a levou exatamente de onde você fugiu. A levou para a nossa casa.
Autor(a): Alien AyA
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— Posset? — Gideon perguntou, pegando a caneca fumegante de Sophie. — Eu me sinto como uma criança outra vez. — Tem especiarias e vinho nele. Vai te deixar bom. Repor seu sangue. Sophie se moveu para perto, sem olhar diretamente para Gideon enquanto colocava a bandeja que estava carregando no criado-mudo ao lado da ca ...
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 325
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nandacolucci Postado em 27/09/2015 - 09:05:03
que tristeza vc não vai postar mais fic :( poncho morreu que final em <3 :´(
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franmarmentini♥ Postado em 25/09/2015 - 14:54:43
adri...eu quase morri de tanto chorra...poncho morreu...isso acabou comigo...ai deus ai deus...eu to mal...nao quero que vc pare de postar!!!!!!!!!!!! plis!!!!!!!!!!!!!!
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franmarmentini♥ Postado em 25/09/2015 - 14:01:53
que lindo!!!!!!!!!!!!!!!!!
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franmarmentini♥ Postado em 25/09/2015 - 13:25:12
adri...mas achei os outros livros..vc tem que postar os outros doissssssssssssssssssss
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Mila Puente Herrera Postado em 24/09/2015 - 00:56:54
Chorei :/ Adeus não viu Adri..
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franmarmentini♥ Postado em 23/09/2015 - 14:25:10
chorrei bastante viu... ;(
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franmarmentini♥ Postado em 23/09/2015 - 14:15:37
nossa...cara que tristeza eu vendo poncho viu...ele só sofre...o melhor amigo se foi...e a mulher que ele ama..ama outro.
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franmarmentini♥ Postado em 23/09/2015 - 13:53:21
sinceramente...não gostei..desse negocio da any ainda continuar haver o ucker...pelo jeito se fosse pra ela escolher ela sempre iria ficar com ele e não o poncho..
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Postado em 23/09/2015 - 13:52:16
sinceramente...não gostei..desse negocio da any ainda continuar haver o ucker...pelo jeito se fosse pra ela escolher ela sempre iria ficar com ele e não o poncho.
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franmarmentini♥ Postado em 22/09/2015 - 22:32:41
Nossa....