Fanfic: Anjo Mecânico [FINALIZADA] | Tema: Anahi, Alfonso, Christopher, Suspense, Anjo Mecânico
Poncho se moveu na poltrona ao lado da cama de Ucker. Ele estava ali há horas, e sua coluna estava dura, mas Poncho se recusava e se mover. Havia sempre a possibilidade de que Ucker acordasse, e ele queria esperá-lo lá.
Pelo menos não estava com frio. Bridget tinha abastecido o fogo na lareira, e a madeira úmida estalou e rangeu, enviando ocasionais faíscas de fogo. A noite do lado de fora das janelas era escura, sem uma pitada de azul ou nuvens, apenas um preto liso, como vidro pintado.
O violino de Ucker estava encostado ao pé da cama, e sua bengala, ainda manchada com sangue da briga no pátio, estava ao lado. Ucker estava imóvel, apoiado nos travesseiros, o rosto pálido sem cor. Poncho sentiu como se estivesse vendo-o pela primeira vez depois de uma longa ausência, e por um breve momento, notou as mudanças em seu rosto familiar antes de se tornar parte do cenário da vida mais uma vez. Ucker parecia tão magro – como Poncho não tinha notado? – toda a carne extra fora arrancada de seu rosto, a mandíbula, bochechas e testa eram só reentrâncias e ossos. Havia um fraco brilho azulado em suas pálpebras fechadas, e na boca. Sua clavícula curvava-se como a proa de um navio.
Poncho censurou a si mesmo. Como não percebera durante todos esses meses que Ucker estava morrendo... tão rapidamente, tão cedo? Como ele não viu a sombra da morte?
— Poncho — era um sussurro vindo da porta. Ele olhou para cima e viu Maite lá, a cabeça surgindo da porta — há... alguém aqui para te ver.
Poncho piscou quando Maite saiu do caminho e Christian Chávez entrou no quarto. Por um momento, Poncho não pôde pensar em nada para dizer.
— Ele diz que você o chamou — Maite disse, soando um pouco duvidosa.
Christian ficou de pé, olhando indiferente, em um terno cinza-carvão. Ele estava lentamente retirando as luvas, que eram de pelica cinza-escura, de suas finos mãos.
— Eu o convoquei — Poncho confirmou, sentindo-se como se estivesse acordando — obrigado, Maite.
Maite deu-lhe um olhar que misturava simpatia com a mensagem implícita Use sua cabeça, Poncho Herrera, e saiu do o quarto, fechando a porta atrás dela.
— Você veio — Poncho disse, ciente de que soava estúpido.
Ele nunca gostava quando as pessoas observavam o óbvio em voz alta, e aqui estava ele fazendo exatamente isso. Não conseguia se livrar do sentimento de confusão. Ver Christian aqui, no meio do quarto de Ucker, era como ver um cavaleiro elfo sentado entre os advogados de peruca branca em Old Bailey.
Christian deixou as luvas caírem em cima de uma mesa e aproximou-se da cama. Estendeu uma mão para apoiar-se contra uma das colunas da cama enquanto olhava para Ucker, ainda tão branco e imóvel que poderia estar esculpido no topo de um túmulo.
— Christopher Uckermann — disse ele, murmurando as palavras, como se tivesse algum poder encantador.
— Ele está morrendo — Poncho falou.
— Isso é muito evidente.
Poderia ter soado frio, mas havia mundos de tristeza na voz de Christian, uma tristeza que Poncho sentiu com uma surpresa familiaridade.
— Pensei que você acreditasse que ele tivesse alguns dias, uma semana talvez.
— Não é apenas a falta da droga — a voz de Poncho parecia enferrujada, e ele limpou a garganta — na verdade, temos um pouco ainda, e estamos controlando. Mas houve uma luta esta manhã, ele perdeu sangue e ficou enfraquecido. Não está forte o suficiente, tememos, para se recuperar.
Christian estendeu o braço, e com muita gentileza, ergueu a mão de Ucker. Havia hematomas em seus dedos pálidos, as veias azuis corriam como um mapa hidrográfico sob a pele de seu pulso.
— Ele está sofrendo?
— Eu não sei.
— Talvez fosse melhor deixá-lo morrer — Christian olhou para Poncho, seus olhos verde-dourados escuros — toda a vida é finita, Poncho. E você sabia, quando escolheu, que ele morreria antes de você.
Poncho encarou o ar a sua frente. Sentiu como se tivesse sido arremessado num túnel escuro que não tinha fim, nem laterais para se agarrar e retardar sua queda.
— Se você acha que seria a melhor coisa para ele.
— Poncho — a voz de Christian era gentil, mas urgente — você me chamou aqui porque esperava que eu pudesse ajudá-lo?
Poncho olhou cegamente.
— Eu não sei por que te chamei. Não acho que foi porque eu acreditava que havia algo que pudesse fazer. Na verdade, pensei que você seria o único que poderia entender.
Christian olhou surpreso.
— O único que poderia entender o quê?
— Você tem vivido tanto tempo. Deve ter visto tantos morrerem, tantos que você amou. E ainda assim sobreviveu e continuou.
Christian continuou a olhar atônito.
— Você me chamou aqui, um feiticeiro para o Instituto, logo após uma batalha na qual todos vocês quase morreram para conversar?
— Acho que é fácil conversar com você. Não posso dizer o porquê.
Christian balançou a cabeça lentamente, e inclinou-se contra a coluna da cama.
— Você é tão jovem — ele murmurou — mas, novamente, não acho que um Caçador de Sombras já me chamou antes simplesmente para passar a noite conversando.
— Eu não sei o que fazer. Mortmain sequestrou Anahí, e acredito que sei onde ela poderia estar agora. Há uma parte de mim que não quer nada mais do que a ir atrás dela. Mas não posso deixar Ucker. Fiz um juramento. E se ele acordar no meio da noite e achar que não estou aqui? — Ele parecia tão perdido quanto uma criança. — Acharia que o deixei de bom grado, sem me importar que ele estivesse morrendo. Ele não vai saber. E, no entanto, se ele pudesse falar, não me diria para ir atrás de Anahí? Não é o que ele quer? — Poncho cobriu o rosto com as mãos. — Eu não posso dizer, e isso me rasga ao meio.
Christian olhou-o em silêncio por um longo momento.
— Poncho, ele sabe que você está apaixonado por Anahí?
— Não — Poncho levantou o rosto, chocado — não. Eu nunca disse uma palavra. Não era seu fardo para suportar.
Christian respirou fundo e falou suavemente:
— Poncho, você pediu a minha sabedoria como alguém que viveu muitas vidas e enterrou muitos amores. Posso dizer-lhe que o fim de uma vida é a soma dos amores que foram vividos, que tudo o que você acha que jurou – estar aqui no final da vida de Ucker – não é o importante. O importante é que você esteve aqui nos outros momentos. Uma vez que o conheceu, nunca o deixou e sempre amou-o. Isso é o que importa.
— Você realmente quis dizer isso — Poncho falou admirado, e então: — Por que está sendo tão gentil comigo? Eu ainda te devo um favor, não é? Lembro disso, sabe, você nunca o cobrou.
— Não? — Christian perguntou, e então sorriu. — Poncho, você me trata como um ser humano, uma pessoa como você. Raro é o Caçador de Sombras que trata um feiticeiro assim. Eu não sou tão insensível que cobraria um favor de um garoto de coração partido. Aquele que acho, por sinal, que será um homem muito bom algum dia. Então vou te dizer isso: ficarei aqui quando você ir, cuidarei do seu Ucker para você, e se ele acordar, direi para onde você foi, e que foi para ele. E farei o que puder para preservar sua vida: não tenho yin fen, mas tenho magia, e talvez haja algo em um livro antigo que eu possa achar e ajudá-lo.
— Eu considero isso como um grande favor — Poncho respondeu.
Christian ficou olhando para Ucker. Lá estava a tristeza em seu rosto – esse rosto que normalmente era tão alegre, sarcástico ou indiferente – uma tristeza que surpreendeu Poncho.
— “Mas por que me penetrava tão facilmente e até ao íntimo aquela dor, senão porque derramei na areia a minha alma, amando um mortal como se ele não houvesse de morrer?” — disse Christian.
Poncho olhou para ele.
— O que foi isso?
— Confissões de Santo Agostinho. Você me perguntou como eu, sendo imortal, sobrevivi a tantas mortes. Não há um grande segredo. Você tolera o insuportável, e consegue suportar. Isso é tudo — ele se afastou do leito — vou dar-lhe um momento a sós com ele, para dizer adeus como você precisa. Poderá me encontrar na biblioteca.
Poncho assentiu, sem palavras, enquanto Christian se moveu para recuperar as luvas, então se virou e saiu o quarto.
A mente de Poncho estava rodando. Olhou de novo para Ucker, imóvel na cama. Devo aceitar que este é o fim, ele pensou, e até mesmo seus pensamentos eram ocos e distantes. Devo aceitar que Ucker nunca mais olhará para mim, nunca mais falará comigo novamente. Você tolera o insuportável, e consegue suportar. Isso é tudo.
E, no entanto, ainda não parecia real para ele, como se fosse um sonho. Poncho se levantou e inclinou-se sobre a forma imóvel de Ucker. Tocou a bochecha de seu parabatai levemente. Estava fria.
— Atque em pepetuum, frater, ave atque vale — ele sussurrou.
As palavras do poema nunca lhe pareceram tão apropriadas: Para sempre e eternamente, irmão, o saúdo e despeço.
Poncho começou a endireitar-se e se afastar da cama de Ucker. E quando o fez, sentiu algo envolver firmemente em torno de seu pulso. Ele olhou para baixo e viu a mão de Ucker enrolada em seu punho. Por um momento, ele estava muito chocado para fazer qualquer coisa além de olhar.
— Eu não estou morto ainda, Poncho — Ucker falou em uma voz suave e calma, mas forte como ferro — o que Christian quis dizer quando te perguntou se eu sabia que você estava apaixonado por Anahí?
Até Mais!
Autor(a): Alien AyA
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Capítulo 11 - Temer a noite Apesar de minha alma viver na escuridão, se erguerá em plena luz.Amei demais as estrelas para temer a noite.– Sarah Williams, The old astronomer — Poncho? Depois de tanto tempo em silêncio, de apenas as respirações de Ucker, entrando e saindo irregularmente, Poncho pensou por um momento ...
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 325
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nandacolucci Postado em 27/09/2015 - 09:05:03
que tristeza vc não vai postar mais fic :( poncho morreu que final em <3 :´(
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franmarmentini♥ Postado em 25/09/2015 - 14:54:43
adri...eu quase morri de tanto chorra...poncho morreu...isso acabou comigo...ai deus ai deus...eu to mal...nao quero que vc pare de postar!!!!!!!!!!!! plis!!!!!!!!!!!!!!
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franmarmentini♥ Postado em 25/09/2015 - 14:01:53
que lindo!!!!!!!!!!!!!!!!!
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franmarmentini♥ Postado em 25/09/2015 - 13:25:12
adri...mas achei os outros livros..vc tem que postar os outros doissssssssssssssssssss
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Mila Puente Herrera Postado em 24/09/2015 - 00:56:54
Chorei :/ Adeus não viu Adri..
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franmarmentini♥ Postado em 23/09/2015 - 14:25:10
chorrei bastante viu... ;(
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franmarmentini♥ Postado em 23/09/2015 - 14:15:37
nossa...cara que tristeza eu vendo poncho viu...ele só sofre...o melhor amigo se foi...e a mulher que ele ama..ama outro.
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franmarmentini♥ Postado em 23/09/2015 - 13:53:21
sinceramente...não gostei..desse negocio da any ainda continuar haver o ucker...pelo jeito se fosse pra ela escolher ela sempre iria ficar com ele e não o poncho..
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Postado em 23/09/2015 - 13:52:16
sinceramente...não gostei..desse negocio da any ainda continuar haver o ucker...pelo jeito se fosse pra ela escolher ela sempre iria ficar com ele e não o poncho.
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franmarmentini♥ Postado em 22/09/2015 - 22:32:41
Nossa....