Fanfic: Anjo Mecânico [FINALIZADA] | Tema: Anahi, Alfonso, Christopher, Suspense, Anjo Mecânico
Poncho estava no topo de uma alta colina verde e olhava para o mar. O céu e o mar eram tão intensamente azuis que pareciam se fundir um no outro, de modo que não havia um horizonte discernível. Gaivotas e andorinhas do mar rodavam e gritaram por cima dele, e a brisa salgada soprou através de seu cabelo. Estava tão quente como verão, e a jaqueta estava descartada na grama. Ele estava em mangas de camisa e suspensórios, suas mãos eram marrons e bronzeadas pelo sol.
— Poncho!
Ele virou-se ao ouvir a voz familiar e viu Anahí subindo a colina em direção a ele. Era um pequeno caminho que cortava a lateral da colina, forrada com flores brancas desconhecidas, e Anahí parecia uma flor sozinha, em um vestido branco como o que usara na noite em que ele a beijou na varanda de Benedict Lightwood.
Seus longos cabelos castanhos voavam com o vento. Ela havia tirado o chapéu e o segurava em um mão, acenando para ele e sorrindo como se estivesse contente em vê-la. Mais do que contente. Parecia que vê-lo trazia toda a alegria de seu coração.
Seu próprio coração saltou à vista dela.
— Annie — ele chamou, e estendeu a mão, como se pudesse puxá-la para si.
Mas ela ainda estava longe, parecia ao mesmo tempo muito perto e muito longe ao mesmo tempo. Ele podia ver cada detalhe de seu bonito rosto arrebitado, mas não podia tocá-la, e por isso ele levantou-se, esperando e desejando, seu batimento cardíaco como asas em seu peito.
Enfim, ela estava lá, perto o suficiente para que ele pudesse ver onde a grama e as flores amassavam-se sob seus sapatos. Ele estendeu a mão para ela, e Anahí para ele. Seus dedos se fecharam uns nos outros, e por um momento os dois estavam sorrindo, as palmas quentes.
— Estive esperando por você — Poncho falou, e ela respondeu-o com um sorriso que desapareceu de seu rosto assim que seus pés escorregaram e ela pendeu na borda do precipício. As mãos foram arrancadas das dele, e de repente Poncho estava ansiando por ar quando Anahí caiu para longe dele, em silêncio, um borrão branco contra o horizonte azul.
Poncho sentou-se na cama de repente, o coração batendo contra as costelas. Seu quarto no White Horse estava meio iluminado pelo luar, que delineava claramente as formas desconhecidas do mobiliário: o lavatório e a mesa com a sua cópia não lida de Sermões para jovens mulheres, de Fordyce, a cadeira estofada junto à lareira, em que as chamas eram apenas brasas. Os lençóis de sua cama estavam frios, mas Poncho estava suando. Ele balançou as pernas para o lado da cama e caminhou até a janela.
Havia um ramo maciço de flores secas dispostas em um vaso no parapeito. Ele empurrou-o para fora do caminho e destravou o painel com dedos doloridos. Todo o seu corpo doía. Nunca cavalgara para tão longe ou tão duramente em toda a sua vida, portanto estava cansado e com dor da sela. Necessitaria de iratzes antes que caísse na estrada novamente amanhã.
A janela estava aberta, e ar frio soprou em seu cabelo e rosto, esfriando a pele. Havia uma dor dentro dele, sob suas costelas, que não tinha nada a ver com a equitação. Se era pela separação de Ucker ou sua ansiedade sobre Anahí, ele não sabia dizer. Ficava vendo-a cair para longe dele, suas mãos se soltando. Nunca fora de acreditar no significado profético dos sonhos, e ainda assim não conseguia desfazer o apertado nó frio dentro de seu estômago, ou regular sua respiração ofegante.
No painel escuro da janela, ele podia ver o reflexo de seu rosto. Tocou de leve a janela, as pontas dos dedos deixando marcas de condensação no vidro. Ele se perguntou o que diria para Anahí quando a encontrasse, como ele poderia dizer-lhe que seria o único que chegaria, sem Ucker. Se houvesse bondade no mundo, talvez, pelo menos, eles poderiam sofrer juntos. Se ela nunca acreditasse que ele a amava, se nunca devolvesse seu carinho, ao menos poderia conceder misericórdia para que eles fossem capazes de compartilhar a sua tristeza. Quase incapaz de suportar a ideia do quanto precisava da força tranquilizadora de Anahí, ele fechou os olhos e apoiou a testa contra o vidro frio.
•••
Enquanto faziam seu caminho através do East End por ruas sinuosas, da Estação Limehouse para a Rua Gill, Gabriel não podia deixar de estar ciente de Cecily ao seu lado. Eles estavam com runas para ficar invisíveis aos olhos mundanos, o que era útil, pois a aparição deles nesta parte mais pobre de Londres de outra forma, sem dúvida, teria animado os comentários, e talvez resultasse em vendedores empurrando-os para dentro de lojas para olharem as mercadorias em oferta.
Cecily era muito curiosa, e parou muitas vezes para olhar vitrines – e não apenas modistas e fabricantes de chapéus, mas lojas que vendiam qualquer coisa, desde botas polonesas e livros a brinquedos e soldadinhos de chumbo. Gabriel teve que se lembrar que ela vinha do interior, e provavelmente nunca tinha visto um mercado próspero de cidade, e muito menos qualquer coisa como Londres.
Desejou que pudesse levá-la a algum lugar condizente a uma senhora em seu posto, como as lojas de Burlington Arcade ou Piccadilly, não estas ruas estreitas e escuras.
Ele não sabia o que esperava da irmã de Poncho Herrera. Que ela seria tão desagradável quanto Poncho? Que sua aparência não fosse tão desconcertantemente parecida com a do irmão, e ainda, ao mesmo tempo, tão extraordinariamente bonita? Ele raramente olhara para o rosto de Poncho sem querer bater nele, mas o rosto de Cecily era infinitamente fascinante. Encontrava-se querendo escrever poesias sobre seus olhos azuis como o céu durante dia e seu cabelo negro como a noite que se seguia, porque “dia” e “seguia” rimavam, mas também tinha a sensação de que o poema não seria tão bom, e Tatiana o assustara sobre como a poesia era.
Além disso, havia coisas que não se podia colocar na poesia de qualquer maneira, como o jeito quando certa garota curvava a boca de uma determinada forma e você queria muito se inclinar para a frente e...
— Sr. Lightwood — Cecily chamou em uma impaciente – um tom que indicou que esta não era a primeira vez que ela tentou chamar a atenção de Gabriel — acredito que nós já passamos pela loja.
Gabriel amaldiçoou em voz baixa e voltou. Tinham de fato passado pelo número que Christian lhes dera; eles refizeram seus passos até que se encontraram diante de um estabelecimento mal favorecido de janelas escuras e turvas. Através do vidro escuro, foram capazes de ver prateleiras em que havia uma variedade de itens peculiares – frascos em que serpentes mortas flutuavam, seus olhos brancos e abertos; bonecas cujas cabeças tinham sido removidas e substituídas por pequenas gaiolas de pássaro douradas, e braceletes empilhados feitos de dentes humanos.
— Oh Deus — disse Cecily — é decididamente desagradável.
— Você não quer entrar? — Gabriel virou-se para ela. — Eu poderia ir em seu lugar...
— E me deixar de pé com frio nessa calçada? Que cavalheiresco. Certamente que não.
Ela estendeu a mão para a maçaneta e empurrou a porta, fazendo um pequeno sino retinir dentro da loja.
— Depois de mim, por favor, Sr. Lightwood.
Gabriel piscou na penumbra dentro da loja. O interior não era mais acolhedor do que o lado de fora. Longas prateleiras empoeiradas iam até o balcão sombrio. As janelas pareciam estar manchadas com algum unguento escuro, bloqueando grande parte da luz solar. As próprias prateleiras eram uma massa desordenada – sinos de bronze com alças em forma de ossos, velas de gordura cuja cera foi recheada com insetos e flores, uma linda coroa ouro peculiar de tal forma e diâmetro que nunca poderia caber numa cabeça humana. Havia prateleiras de facas, cobre e bacias de pedra marcadas com manchas acastanhadas peculiares. Havia pilhas de luvas de todos os tamanhos, alguns com mais de cinco dedos em cada mão. Um- esqueleto humano completo pendia de um fino cabo na frente da loja, torcendo no ar, embora não houvesse brisa.
Gabriel olhou rapidamente na direção de Cecily para ver se ela estremeceu, mas ela não tinha. Parecia irritada com alguma coisa.
— Alguém realmente deveria limpar a poeira daqui — ela anunciou, e seguiu para o fundo da loja, as pequenas flores balançando em seu chapéu.
Gabriel sacudiu a cabeça. Alcançou Cecily quando ela bateu a mão enluvada no sino de bronze no balcão, emitindo um ressoar impaciente.
— Olá — ela chamou — tem alguém aqui?
— Diretamente na sua frente, senhorita — disse uma voz irritada, abaixo e para a esquerda.
Cecily e Gabriel se inclinaram sobre o balcão. Logo abaixo da borda estava o topo da cabeça de um pequeno homem. Não, não um homem, pensou Gabriel enquanto o encantamento diminuía, um sátiro. Ele usava um colete e calças, embora estivesse sem camisa, e tinha pés fendidos e chifres curvos de uma cabra. Também tinha uma barba aparada, uma mandíbula trancada e as pupilas retangulares e amarelas de cabra, meio escondidas por trás dos óculos.
— Gracioso — disse Cecily. — Você deve ser o Sr. Sallows.
— Nephilim — observou o dono da loja melancolicamente — detesto Nephilim.
— Hmmm — Cecily falou — encantada, tenho certeza.
Gabriel sentiu que era hora de intervir.
— Como sabe que somos Caçadores de Sombras? — ele inquiriu.
Sallows ergueu as sobrancelhas.
— Suas marcas, senhor, são claramente visíveis em suas mãos e garganta — ele respondeu, como se estivesse falando com uma criança — e quanto à menina, ela se parece com seu irmão.
— Como você conhece o meu irmão? — Cecily exigiu, erguendo a voz.
— Nós não temos muitos da sua espécie aqui — Sallows respondeu — é notável quando temos. Seu irmão Poncho estava entrando e saindo constantemente daqui dois meses atrás, executando incumbências do feiticeiro Christian Chávez. Ele foi até o Cross Bones também, incomodar a Velha Mol. Poncho Herrera é bem conhecido no Submundo, embora na maioria das vezes se mantenha longe de problemas.
— Essa é uma notícia surpreendente — Gabriel comentou.
Cecily deu a Gabriel um olhar sombrio.
— Estamos aqui sob a autoridade de Maite Branwell — disse ela — diretora do Instituto de Londres.
O sátiro acenou com a mão.
— Eu não me importo muito com as suas hierarquias de Caçadores de Sombras, sabe, ninguém do Povo Justo o faz. Basta me dizer o que querem, e darei-lhes um preço justo por isso.
Gabriel desenrolou o papel que Christian lhe dera.
— “Vinagre de ladrão, cabeça de morcego arraigada, beladona, angélica, folhas de damiana, escamas de sereia em pó e seis pregos do caixão de uma virgem.”
— Bem — disse Sallows — nós não temos muitos pedidos por esse tipo de coisa aqui. Vou ter que procurar nos fundos.
— Bem, se você não é procurado por este tipo de coisa, pelo que é procurado? — perguntou Gabriel, perdendo a paciência. — Dificilmente esta é uma floricultura.
— Sr. Lightwood... — Cecily repreendeu sob a respiração, mas não foi baixo o bastante, pois Sallows ouviu-a, e seus óculos saltaram sobre o nariz.
— Sr. Lightwood? — repetiu. — O filho de Benedict Lightwood?
Gabriel podia sentir o sangue esquentando suas bochechas. Não havia falado com quase ninguém sobre seu pai desde a morte de Benedict – se pudesse mesmo contar que aquela coisa que morreu no jardim italiano era seu pai. Uma vez tinha sido ele e sua família contra o mundo, os Lightwood acima de tudo, mas agora, agora havia vergonha no nome Lightwood, tanto quanto já houve orgulho, e Gabriel não sabia como falar sobre isso.
— Sim — ele respondeu finalmente — sou o filho de Benedict Lightwood.
— Maravilhoso. Tenho algumas encomendas de seu pai aqui. Eu estava começando a me perguntar se ele jamais viria buscá-las — o sátiro se apressou para os fundos, e Gabriel ocupou-se em estudar a parede.
Havia esboços de paisagens pendurados nela, e mapas, mas quando olhou mais de perto, não eram esboços ou mapas de qualquer lugar que ele conhecesse. Havia Idris, é claro, com a Floresta Brocelind e Alicante, mas outro mapa mostrava continentes que ele nunca tinha visto antes – o que era o Mar de Prata? As Montanhas Espinhosas? Que tipo de país tinha um céu roxo?
— Gabriel — Cecily falou ao lado dele, em uma voz baixa.
Foi a primeira vez que ela o tratou com seu nome de batismo, e ele começou a se virar para ela assim que Sallows emergiu da parte de trás da loja. Numa mão ele carregava um embrulho fechado, que entregou a Gabriel. Era bastante irregular – claramente frascos de ingredientes de Christian. Na outra mãos Sallows segurava uma pilha de papéis, que ele colocou no balcão.
— Encomenda de seu pai — disse ele com um sorriso.
Gabriel baixou os olhos para os papéis... e seu queixo caiu de horror.
— Que agradável — disse Cecily — certamente isto não é possível?
O sátiro esticou-se para ver o que ela estava olhando.
— Bem, não com uma pessoa, mas com um demônio Vetis e uma cabra, provavelmente — ele virou-se para Gabriel — agora, você tem o dinheiro para isto ou não? Seu pai deixou o pagamento para depois, e ele não pode comprar no crédito para sempre. O que vai ser, Lightwood?
Autor(a): Alien AyA
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— Maite já te perguntou se você queria ser uma Caçadora de Sombras — Gideon perguntou. A meio caminho da escada com um livro na mão, Sophie congelou. Gideon estava sentado em uma das longas mesas da biblioteca, perto de uma janela que dava para o pátio. Livros e papéis estavam espalhados diante dele, e ele ...
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 325
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nandacolucci Postado em 27/09/2015 - 09:05:03
que tristeza vc não vai postar mais fic :( poncho morreu que final em <3 :´(
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franmarmentini♥ Postado em 25/09/2015 - 14:54:43
adri...eu quase morri de tanto chorra...poncho morreu...isso acabou comigo...ai deus ai deus...eu to mal...nao quero que vc pare de postar!!!!!!!!!!!! plis!!!!!!!!!!!!!!
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franmarmentini♥ Postado em 25/09/2015 - 14:01:53
que lindo!!!!!!!!!!!!!!!!!
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franmarmentini♥ Postado em 25/09/2015 - 13:25:12
adri...mas achei os outros livros..vc tem que postar os outros doissssssssssssssssssss
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Mila Puente Herrera Postado em 24/09/2015 - 00:56:54
Chorei :/ Adeus não viu Adri..
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franmarmentini♥ Postado em 23/09/2015 - 14:25:10
chorrei bastante viu... ;(
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franmarmentini♥ Postado em 23/09/2015 - 14:15:37
nossa...cara que tristeza eu vendo poncho viu...ele só sofre...o melhor amigo se foi...e a mulher que ele ama..ama outro.
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franmarmentini♥ Postado em 23/09/2015 - 13:53:21
sinceramente...não gostei..desse negocio da any ainda continuar haver o ucker...pelo jeito se fosse pra ela escolher ela sempre iria ficar com ele e não o poncho..
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Postado em 23/09/2015 - 13:52:16
sinceramente...não gostei..desse negocio da any ainda continuar haver o ucker...pelo jeito se fosse pra ela escolher ela sempre iria ficar com ele e não o poncho.
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franmarmentini♥ Postado em 22/09/2015 - 22:32:41
Nossa....