Fanfic: Anjo Mecânico [FINALIZADA] | Tema: Anahi, Alfonso, Christopher, Suspense, Anjo Mecânico
Capítulo 18 - Somente por isso
Somente por isso na Morte desafogo
A ira que se acumula em meu coração:
Ele separa tanto as nossas vidas
Que não conseguimos ouvir o que um diz ao outro.
– Alfred, Lord Tennyson, In Memoriam A.H.H
Anahí estava à beira de um precipício em uma região desconhecida. As colinas ao redor eram verdes, descendo de modo íngreme em precipícios que iam em direção ao mar azul. Aves marinhas rodavam e grasnavam acima dela. Uma trilha cinza se curvava como uma cobra pela borda do topo da colina. Logo à frente, no caminho, estava Poncho.
Ele trajava uniforme preto e um longo casaco de equitação sujo de lama na bainha, como se tivesse percorrido um caminho extenso. Não usava chapéu nem luvas, e os cabelos escuros estavam emaranhados pelo vento do mar. O vento também levantou o cabelo de Anahí, trazendo o cheiro de sal e mar, de coisas molhadas que crescem à beira do mar; um cheiro que lembrava a viagem marítima no Main.
— Poncho! — chamou ela.
Havia algo de tão solitário na figura dele, como Tristão observando através do Mar da Irlanda e esperando o navio que o devolveria Isolda. Poncho não se virou ao ouvir o som da sua voz, apenas levantou os braços, com o casaco esvoaçando ao vento feito asas atrás dele.
O medo floresceu em seu coração. Isolda voltou para Tristão, mas foi tarde demais. Ele já havia morrido de tristeza.
— Poncho! — chamou novamente.
Ele deu um passo à frente no penhasco. Ela correu para a beirada e olhou para baixo, mas não havia nada, apenas água azul-cinzenta e espuma branca. A maré parecia carregar a voz dele para ela a cada impulso da água.
— Acorde, Anahí. Acorde.
— Acorde, Srta. Portilla. Srta. Portilla!
Anahí se levantou de súbito. Tinha caído no sono na cadeira perto da lareira em sua pequena prisão; um cobertor azul grosseiro tinha sido jogado sobre ela, apesar de não se lembrar de tê-lo pegado. O quarto ardia com a luz de tochas, e os carvões do fogo estavam baixos. Era impossível dizer se era noite ou dia.
Mortmain se encontrava diante dela, e, ao lado dele, havia um autômato. Um dos mais humanoides que Anahí já vira. Estava até vestido, ao contrário de muitos deles, com túnica militar e calças. As roupas deixavam a cabeça que se erguia do colarinho rijo ainda mais estranha, com aquelas feições exageradamente lisas e a careca metálica. E os olhos – ela sabia que eram de vidro e cristal, as íris vermelhas à luz do fogo, mas a forma como pareciam se fixar nela...
— Você está com frio — observou Mortmain.
Anahí exalou, e a respiração saiu em uma lufada branca.
— O calor de sua hospitalidade deixa a desejar.
Ele sorriu, com os lábios contraídos.
— Muito espirituosa. — Ele próprio estava com um casaco pesado sobre um terno cinza, sempre formal. — Srta. Portilla, não a acordo à toa. Venho aqui porque quero que veja o que sua gentil assistência com as lembranças de meu pai me permitiu conquistar. — E gesticulou orgulhosamente para o autômato a seu lado.
— Outro autômato? — perguntou Anahí, desinteressada.
— Que grosseria de minha parte. — Os olhos de Mortmain se desviaram para a criatura. — Apresente-se.
A boca da criatura se abriu; Anahí viu um brilho metálico, e ela falou:
— Sou Armaros — disse. — Por um bilhão de anos percorri os ventos dos grandes abismos entre os mundos. Combati Jonathan, Caçador de Sombras, nas planícies de Brocelind. Por mais mil anos fiquei preso na Pyxis. Agora meu mestre me libertou, e sirvo a ele.
Anahí se levantou, e o cobertor deslizou para os pés, despercebido. O autômato a observava. Seus olhos eram totalmente preenchidos por uma inteligência sombria, uma consciência que nenhum autômato que já tinha visto possuía.
— O que é isso? — sussurrou ela.
— Um corpo de autômato animado por um espírito demoníaco. Os Seres do Submundo já dispõem de maneiras de capturar energias demoníacas e utilizá-las. Eu mesmo já as usei para ativar os autômatos que você conheceu. Mas Armaros e seus irmãos são diferentes. São demônios com carapaças de autômatos. Conseguem pensar e raciocinar. Não são facilmente enganados. E são muito difíceis de matar.
Armaros se esticou – Anahí não pôde deixar de perceber que ele se movia de maneira fluida, suave, sem as travas dos autômatos que já vira antes. Movia-se como uma pessoa. Sacou a espada pendurada em sua lateral e a entregou a Mortmain. A lâmina estava coberta com os símbolos com os quais Anahí havia se familiarizado nos últimos meses, que decoravam as lâminas de todas as armas de Caçadores de Sombras. Eles as tornavam armas de Caçadores de Sombras. Os símbolos que eram mortais a demônios. Armaros mal deveria ser capaz de olhar para a lâmina, quanto mais empunhá-la.
Anahí sentiu um aperto no estômago. O demônio entregou a espada a Mortmain, que a manejou com a precisão de um experiente oficial da marinha. Girou a lâmina, empunhou-a para a frente e enfiou-a no peito do demônio.
Ouviu-se um som de metal partindo. Anahí estava acostumada a ver autômatos sucumbirem ao serem atacados, derramarem fluido negro ou cambalearem. Mas o demônio se manteve de pé, sem piscar ou se mover, como um lagarto ao sol. Mortmain girou o cabo furiosamente, em seguida, puxou a arma.
A lâmina se desmanchou em cinzas; como uma lenha, queimava na fogueira.
— Entenda — disse Mortmain. — São um exército feito para destruir Caçadores de Sombras.
Armaros era o único autômato que Anahí já tinha visto sorrir; ela não sabia que seus rostos tinham sido construídos para realizar tal propósito. O demônio disse:
— Destruíram muitos dos meus. Será um prazer matar todos eles.
Anahí engoliu em seco, mas tentou não deixar o Magistrado perceber. O olhar dele se desviava de Anahí para o demônio autômato, e foi difícil dizer para qual ele parecia mais feliz em olhar. Ela queria gritar, se jogar nele e arranhá-lo no rosto. Mas a parede invisível se colocava entre os dois, brilhando singelamente, e ela sabia que não podia rompê-la.
Oh, você será mais do que sua noiva, senhorita Portilla, a Sra. Black dissera. Será a ruína dos Nephilim. É por isso que você foi criada.
— Os Caçadores de Sombras não serão tão facilmente destruídos — disse ela. — Já os vi destruindo seus autômatos. Talvez estes não possam ser derrotados pelas armas Marcadas, mas qualquer lâmina pode destruir metal e cortar cabos.
Mortmain deu de ombros.
— Caçadores de Sombras não estão acostumados a combater criaturas contra as quais suas armas Marcadas são inúteis. Isso vai desacelerá-los. E tenho incontáveis autômatos. Será como tentar conter a maré. — Ele inclinou a cabeça para o lado. — Vê, agora, a genialidade do que inventei? Mas devo agradecer a você, Srta. Portilla, pela última peça do quebra-cabeça. Achei que você talvez pudesse... admirar... o que criamos juntos.
Admirar? Anahí procurou deboche nos olhos dele, mas havia uma espécie de indagação sincera ali, curiosidade misturada à frieza. Ela pensou em quanto tempo já teria passado desde que ele ouvira o elogio de outro ser humano, e respirou fundo.
— É óbvio que você é um grande inventor — ela falou.
Mortmain sorriu, satisfeito.
Anahí tinha consciência do olhar do demônio mecânico nela, da tensão e prontidão, porém tinha mais consciência de Mortmain. Seu coração batia forte. Ela parecia, como no sonho, diante de um precipício. Falar com ele assim era arriscado, e ela cairia ou voaria. Mas precisava arriscar.
— Vejo por que me trouxe aqui. E não é só por causa dos segredos de seu pai.
Havia raiva nos olhos dele, mas também alguma confusão. Ela não estava se comportando como ele esperava.
— O que quer dizer?
— Você é solitário — respondeu. — Cercou-se de criaturas que não são reais, que não vivem. Vemos nossas próprias almas nos olhos de outros. Há quanto tempo não vê que tem alma?
Os olhos de Mortmain cerraram.
— Eu tinha alma. Foi queimada pelo ofício que atribuí à minha existência: a busca pela justiça e pela retribuição.
— Não busque vingança e chame de justiça.
O demônio riu baixo, apesar de haver desprezo na risada, como se estivesse assistindo ao ataque de um gatinho.
— Permitirá que ela fale assim com você, Mestre? — perguntou. — Posso cortar a língua dela para você, silenciá-la para sempre.
— Não adiantaria nada mutilá-la. Ela possui poderes que você desconhece — respondeu Mortmain, com os olhos ainda em Anahí — existe um velho ditado na China, talvez seu amado noivo tenha lhe contado, que diz “um homem não pode viver sob o mesmo Céu que o assassino de seu pai”. Preciso dizimar os Caçadores de Sombras do abrigo do Céu; não viverão mais na Terra. Não tente apelar para minha nobreza, Anahí, pois não tenho nenhuma.
Anahí não conseguiu se conter – pensou em Um conto de duas cidades , nos apelos de Lucie Manette à nobreza de Sydney Carton. Sempre pensou em Poncho como Sydney, consumido por pecado e desespero contra a própria sabedoria, mesmo contra o próprio desejo. Mas Poncho era um homem bom, muito melhor do que Carton já fora. E Mortmain mal era um homem. Não era à nobreza que apelava, mas à vaidade: todos os homens se achavam bons no fim, certamente. Ninguém se considerava vilão. Ela respirou fundo.
— Duvido que seja isso. Com certeza você poderia voltar a ter valor e a ser bom. Fez o que planejou. Trouxe vida e inteligência a estas... estas suas Peças Infernais. Criou aquilo que pode destruir os Caçadores de Sombras. Por toda a vida, buscou justiça por acreditar que os Caçadores de Sombras eram corruptos e vis. Agora, caso se contenha, conquistará a maior das vitórias. Mostrará que é melhor do que eles.
Ela examinou o rosto de Mortmain. Será que havia hesitação ali – será que os lábios tremiam levemente, e a tensão da dúvida se fazia presente em seus ombros?
A boca dele se curvou em um sorriso.
— Então acha que posso ser um homem melhor? E se eu fizesse o que está dizendo, se me contivesse, acha que ficaria comigo por admiração, que não voltaria aos Caçadores de Sombras?
— Ora, sim, Sr. Mortmain. Juro — e engoliu a amargura na garganta. Se precisasse ficar com Mortmain para salvar Poncho e Ucker, Maite, Henry e Sophie, ela o faria — acredito que consiga encontrar o melhor de si; acredito que todos nós consigamos.
Os lábios finos do Magistrado se curvaram para cima.
— Já é tarde, Srta. Portilla — disse ele. — Não quis acordá-la antes. Venha comigo agora, para fora da montanha. Venha ver o trabalho deste dia, pois tenho algo para lhe mostrar.
Um dedo gélido tocou na espinha. Ela se endireitou.
— E o que é?
O sorriso de Mortmain se espalhou.
— O que estive esperando.
Autor(a): Alien AyA
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 325
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nandacolucci Postado em 27/09/2015 - 09:05:03
que tristeza vc não vai postar mais fic :( poncho morreu que final em <3 :´(
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franmarmentini♥ Postado em 25/09/2015 - 14:54:43
adri...eu quase morri de tanto chorra...poncho morreu...isso acabou comigo...ai deus ai deus...eu to mal...nao quero que vc pare de postar!!!!!!!!!!!! plis!!!!!!!!!!!!!!
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franmarmentini♥ Postado em 25/09/2015 - 14:01:53
que lindo!!!!!!!!!!!!!!!!!
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franmarmentini♥ Postado em 25/09/2015 - 13:25:12
adri...mas achei os outros livros..vc tem que postar os outros doissssssssssssssssssss
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Mila Puente Herrera Postado em 24/09/2015 - 00:56:54
Chorei :/ Adeus não viu Adri..
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franmarmentini♥ Postado em 23/09/2015 - 14:25:10
chorrei bastante viu... ;(
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franmarmentini♥ Postado em 23/09/2015 - 14:15:37
nossa...cara que tristeza eu vendo poncho viu...ele só sofre...o melhor amigo se foi...e a mulher que ele ama..ama outro.
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franmarmentini♥ Postado em 23/09/2015 - 13:53:21
sinceramente...não gostei..desse negocio da any ainda continuar haver o ucker...pelo jeito se fosse pra ela escolher ela sempre iria ficar com ele e não o poncho..
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Postado em 23/09/2015 - 13:52:16
sinceramente...não gostei..desse negocio da any ainda continuar haver o ucker...pelo jeito se fosse pra ela escolher ela sempre iria ficar com ele e não o poncho.
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franmarmentini♥ Postado em 22/09/2015 - 22:32:41
Nossa....