Fanfics Brasil - Jazer & Arder Anjo Mecânico [FINALIZADA]

Fanfic: Anjo Mecânico [FINALIZADA] | Tema: Anahi, Alfonso, Christopher, Suspense, Anjo Mecânico


Capítulo: Jazer & Arder

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Capítulo 19 - Jazer e arder


Agora eu o queimarei de volta, eu o queimarei inteiro,
Apesar de ser condenada por isso, nós dois iremos jazer
E arder.
– Charlotte Mew, In Nynhead Cemetery


Só ficou escuro por alguns momentos. A água gelada sugou Poncho, que começou a cair, até que, em seguida, se curvou sobre si mesmo ao atingir o chão, perdendo o ar.


Engasgou-se e rolou de barriga, ajoelhando-se, com os cabelos e roupas pingando. Alcançou a pedra de luz enfeitiçada, em seguida, abaixou a mão; não queria iluminar nada que trouxesse atenção para ele. O símbolo de Visão Noturna teria de bastar.


Foi o suficiente para mostrar que ele estava em uma caverna pedregosa. Se olhasse para o alto, conseguia ver as águas do lago em redemoinho, suspensas como que por vidro, e um pedaço borrado de luar. Túneis esticavam-se da caverna, sem marcas que mostrassem para onde poderiam ir. Ele se levantou e escolheu aleatoriamente o túnel mais da esquerda, avançando cautelosamente para a escuridão sombria.


Os túneis eram amplos, e o solo era liso e não trazia marcas de possíveis passagens das criaturas mecânicas. As laterais eram de pedra vulcânica áspera. Lembrou-se de ter subido Cafair Idris com o pai, anos atrás. Havia muitas lendas sobre a montanha: que era o trono de um gigante, que ali se sentava e olhava para as estrelas; que o Rei Artur e seus cavaleiros dormiam sob a colina, esperando o momento em que a Bretanha despertasse e precisasse deles novamente; que qualquer um que passasse a noite nos contornos da montanha acordaria poeta ou louco.


Se ao menos soubesse, Poncho pensou ao dobrar a curva de um túnel e emergir em uma caverna maior, o quão estranha era a verdade dos fatos.


A caverna era larga e se abria para um espaço maior no lado oposto, onde uma luz fraca brilhava. Aqui e ali, Poncho captou um brilho prateado que pensou ser água correndo em riachos pelas paredes negras, mas, olhando de perto, percebeu que se tratava das veias de um quartzo cristalino.


Poncho foi em direção à luz fraca. Percebeu que o coração batia acelerado no peito, e tentou respirar uniformemente para acalmá-lo. Sabia o que estava acelerando a pulsação. Anahí. Se Mortmain estivesse com ela, então ela estaria aqui – perto. Em algum lugar, entre esses túneis, ele poderia encontrá-la.


Ouviu a voz de Ucker na própria mente, como se seu parabatai estivesse ali ao lado, aconselhando-o. Ele sempre dizia que Poncho corria para o fim de uma missão em vez de proceder comedidamente, e que é preciso olhar para o próximo passo de uma trilha e não para a montanha ao longe, do contrário, a pessoa jamais chegaria ao objetivo.


Poncho fechou os olhos por um instante. Sabia que Ucker tinha razão, mas era difícil lembrar quando o objetivo em questão era resgatar a garota que amava.


Abriu os olhos e foi em direção à luz no fim da caverna. O solo abaixo era liso, sem pedras e raiado como mármore. A luz à frente brilhou, e Poncho parou subitamente; apenas seus anos de treinamento como Caçador de Sombras impediram que caísse para a própria morte.


O solo pedregoso desembocava em uma queda acentuada. Poncho estava em um afloramento. Olhando para um anfiteatro redondo, cheio de autômatos.


Eles estavam em silêncio, parados, como brinquedos mecânicos sem corda. Todos vestidos, como os da cidade, com uniformes militares, alinhados um a um, como soldadinhos de chumbo em tamanho real.


No centro da sala, havia uma plataforma de pedra elevada, e, sobre a mesa, encontrava-se outro autômato deitado, como um cadáver na mesa de um legista. A cabeça era puro metal, mas havia pele humana pálida esticada sobre o resto do corpo – e nela havia símbolos marcados.


Enquanto observava, Poncho os reconheceu, um por um: Memória, Agilidade, Velocidade, Visão Noturna. Jamais funcionariam, é claro, não em uma engenhoca metálica com pele humana. Poderia enganar Caçadores de Sombras ao longe, mas...


E se ele tiver usado pele de Caçador de Sombras?, sussurrou uma voz em sua mente. O que poderia criar neste caso? O quão louco ele é, e quando vai parar? O pensamento e a visão dos símbolos do Paraíso marcados em uma criatura tão monstruosa reviraram o estômago de Poncho; afastou-se da borda, apoiando-se contra uma parede fria de pedra, as mãos pegajosas de suor.


Ele avistou a vila mais uma vez em sua mente, com os cadáveres nas ruas, e ouviu o sussurro mecânico do demônio ao falar com ele: por todos esses anos vocês nos expulsaram deste mundo com suas lâminas Marcadas. Agora temos corpos nos quais suas armas não funcionam, e este mundo será nosso.


A raiva percorreu as veias de Poncho como fogo. Ele se afastou da parede e entrou por um túnel estreito, longe da sala da caverna. Enquanto se locomovia, teve a impressão de haver escutado um barulho atrás de si – um zumbido, como se o mecanismo de um grande relógio fosse ativado – mas quando se virou, não viu nada, apenas as paredes lisas da caverna e as sombras imóveis.


O túnel que seguia estreitava na medida em que avançava, até que finalmente Poncho estava se espremendo para passar por uma borda de pedra. Se apertasse mais, ele sabia, teria de se virar e voltar para a caverna; o pensamento o fez avançar com rigor renovado, e ele deslizou para a frente, quase caindo, quando a passagem se abriu repentinamente em um corredor mais amplo.


Era quase como um corredor no Instituto, só que feito de pedra lisa, com tochas dispostas em suportes metálicos em intervalos. Ao lado de cada tocha havia uma porta arqueada, também de pedra. As duas primeiras abriam-se para quartos escuros e vazios.


Atrás da terceira, estava Anahí.


Poncho não a viu imediatamente quando entrou. A porta de pedra se fechou parcialmente atrás dele, mas o menino descobriu que não estava no escuro.


Havia uma faísca de luz – as chamas diminutas de uma fogueira em uma lareira de pedra no fundo. Para seu espanto, era mobiliado como um quarto em uma pensão, com uma cama e um lavatório, tapetes no chão e até cortinas nas paredes, apesar de estarem sobre pedras, e não janelas.


Em frente ao fogo, havia uma sombra esguia, encolhida no chão. A mão de Poncho foi automaticamente para a adaga na cintura – então a sombra virou, com os cabelos caindo sobre o ombro, e ele viu seu rosto.


Anahí.


Tirou a mão da adaga, e o coração saltou no peito com uma força impossível e dolorosa. Viu a expressão dela mudar: curiosidade, espanto, incredulidade. Ela se levantou, as saias caindo ao redor enquanto se ajeitava, e ele a viu estender a mão.


— Poncho? — falou.


Foi como uma chave girando na fechadura, libertando-o; ele avançou.


Jamais houve distância tão grande separando-o de Anahí quanto nesse momento. O quarto era grande; agora a distância entre Londres e Cadair Idris não parecia nada em comparação à extensão do quarto. Ele sentiu um tremor, como uma espécie de resistência, e atravessou. Viu Anahí esticar a mão, a boca formar palavras; então, ela estava em seus braços, e os dois quase perderam a respiração ao se encontrarem.


Ela estava nas pontas dos pés, abraçando-o, sussurrando seu nome:


— Poncho, Poncho, Poncho.


Ele enterrou o rosto no pescoço dela, onde os cabelos espessos de Anahí ondulavam; ela tinha cheiro de fumaça e água de violeta. Ele a puxou ainda mais forte enquanto ela agarrava o colarinho do Caçador de Sombras, e permaneceram grudados. Por apenas aquele instante, a dor que o comprimia como um punho de ferro desde a morte de Ucker pareceu relaxar, e ele pôde respirar.


Ele pensou no inferno pelo qual passou desde que deixou Londres – nos dias de cavalgadas incessantes, nas noites em claro. Sangue e perda, dor e luta. Tudo para trazê-lo aqui. Até Anahí.


— Poncho — repetiu ela, e o menino olhou para o rosto de Anahí, sujo de lágrimas. Tinha um hematoma na bochecha. Alguém bateu nela ali, e o coração de Poncho se encheu de raiva. Descobriria o responsável e acabaria com ele. Se fosse Mortmain, ele o mataria apenas após incendiar o laboratório monstruoso, para que o louco testemunhasse a ruína de tudo que criou.


— Poncho — disse Anahí novamente, interrompendo seus pensamentos. Ela soou quase sem ar. — Poncho, seu idiota.


As noções românticas de Poncho frearam como uma carroça na Fleet Street.


— Eu... o quê?


— Oh, Poncho — disse ela. Os lábios tremiam; ela parecia não conseguir se decidir entre rir ou chorar. — Você se lembra de quando me disse que o jovem cavalheiro que vinha para o resgate nunca estava errado, mesmo que dissesse que o céu era roxo e feito de ouriços?


— Na primeira vez em que a vi. Sim.


— Oh, meu Poncho — ela se afastou gentilmente do abraço, ajeitando um cacho de cabelo atrás da orelha. Os olhos dela permaneciam fixos nos dele — não consigo imaginar como me encontrou, o quanto deve ter sido difícil. É incrível. Mas... você realmente acha que Mortmain me deixaria sozinha em um quarto com a porta aberta? — Ela virou as costas, se afastou alguns metros dele e parou subitamente. — Aqui — disse, e levantou a mão, abrindo os dedos. — O ar é sólido como uma parede aqui. Esta é uma prisão, Poncho, e agora você está nela, junto comigo.


Ele foi para o lado de Anahí, já sabendo o que encontraria. Lembrou-se da resistência que sentiu ao atravessar o quarto. O ar ondulou ligeiramente quando ele o tocou com o dedo, mas estava mais duro que um lago congelado.


— Conheço esta configuração — disse ele — a Clave de vez em quando usa uma versão dela — ele cerrou a mão em um punho e socou o ar sólido, forte o suficiente para machucar os ossos. — Uffern gwaedlyd — praguejou em galês. — Atravessei o país inteiro para chegar até você e não consigo nem fazer isso direito. Assim que a vi só consegui pensar em correr para você. Pelo Anjo, Anahí...


— Poncho! — Ela o pegou pelo braço. — Não ouse se desculpar. Sabe o que sua presença aqui significa para mim? É como um milagre ou uma intervenção direta dos Céus, pois tenho rezado para ver as faces daqueles com os quais me importo antes de morrer — falou simplesmente, sem rodeios. Era uma das características que ele amava em Anahí, que ela não se escondia nem dissimulava, mas falava o que pensava sem floreios. — Quando eu estava na Casa Sombria, não havia ninguém que se importasse o suficiente para me procurar. Quando você me encontrou, foi um acidente. Mas agora...


— Agora nos condenei ambos ao mesmo destino — falou, com a voz baixa.


Tirou uma adaga do cinto e a enfiou na parede invisível diante de si. A lâmina prateada Marcada da adaga estilhaçou, e Poncho descartou o cabo, praguejando novamente, baixinho.


Anahí pôs uma mão de leve no ombro dele.


— Não estamos condenados — disse ela. — Você certamente não veio sozinho, Poncho. Henry ou Ucker nos encontrarão. Podemos ser libertados pelo outro lado da parede. Já vi como Mortmain faz...


Poncho não sabia o que aconteceu naquele momento. Sua expressão deve ter mudado ao ouvir o nome de Ucker, pois viu que Anahí empalideceu. A mão dela apertou o braço dele.


— Anahí — falou — estou sozinho.


A palavra “sozinho” saiu quebrada, como se ele pudesse sentir o gosto amargo da perda na língua e estivesse lutando para falar apesar disso.


— Ucker?


Foi mais que uma pergunta. Poncho não falou nada; a voz parecia tê-lo abandonado. Ele tinha pensado em tirá-la daqui antes de contar sobre Ucker, imaginou-se revelando em algum lugar seguro, em algum lugar onde houvesse tempo e espaço para confortá-la. Agora sabia que tinha sido um tolo em achar isso, em imaginar que sua perda não estaria estampada em seu rosto.


O resto da cor deixou a face de Anahí; foi como ver uma chama piscar e, em seguida, apagar.


— Não — sussurrou ela.


— Anahí...


Ela deu um passo para longe dele, balançando a cabeça.


— Não, não é possível. Eu saberia... não pode ser.


Ele esticou a mão para ela.


— Annie...


Ela começara a tremer violentamente.


— Não — repetiu. — Não, não diga. Se não disser, não será verdade. Não pode ser verdade. Não é justo.


— Sinto muito — sussurrou Poncho.


O rosto de Anahí se vincou e estilhaçou como uma barragem com muita pressão. Ela se ajoelhou, curvando-se sobre si, e abraçou o próprio corpo. Estava se segurando com força, como se pudesse quebrar. Poncho sentiu uma onda fresca da agonia opressora que experimentou no jardim do Green Man. O que tinha feito? Tinha vindo salvá-la, mas, em vez de fazê-lo, só trouxe desespero. Era como se realmente fosse amaldiçoado, capaz apenas de trazer sofrimento aos que amava.


— Sinto muito — falou novamente, com todo o coração nas palavras. — Muito. Eu teria morrido por ele, se pudesse.


Com essas palavras, ela levantou os olhos. Ele se preparou para a acusação nos olhos dela, mas não viu nada. Em vez disso, ela esticou a mão para ele, em silêncio. Espantado e surpreso, Poncho a pegou e permitiu que ela o puxasse para perto de si, até que estivesse ajoelhado diante dela.


O rosto de Anahí estava com marcas de lágrimas, cercado pelos cabelos, contornado em dourado pela luz do fogo.


— Eu teria feito o mesmo — falou. — Ah, Poncho. A culpa é toda minha. Ele jogou a vida fora por mim. Se tivesse tomado o remédio em intervalos mais longos... se tivesse se permitido descansar e ficar doente, em vez de fingir que estava bem por minha causa...


— Não! — Ele a pegou pelos ombros, virando-a para si. — Não é sua culpa. Ninguém poderia imaginar que fosse...


Ela balançou a cabeça.


— Como pode suportar viver a meu lado? — perguntou ela desesperada. — Tirei seu parabatai de você. E agora nós dois morreremos aqui. Por minha causa.


— Anahí — sussurrou Poncho, chocado.


Não conseguia lembrar quando fora a última vez em que esteve nesta posição, a última vez em que precisou confortar alguém com o coração partido e, de fato, se permitiu fazê-lo, sem se forçar a dar as costas. Sentiu-se tão desajeitado como quando era criança, derrubando facas até Ucker ensiná-lo a usá-las. Ele limpou a garganta.


— Anahí, venha aqui.


E puxou-a para perto de si, até estar sentado no chão, com ela apoiada nele, a cabeça em seu ombro, seus dedos passando pelo cabelo dela. Poncho sentiu o corpo dela tremendo contra o dele, mas ela não se afastou. Em vez disso, agarrou-se a ele, como se sua presença realmente trouxesse conforto.


E se ele pensou no calor de Anahí em seus braços, ou no hálito da moça em sua pele, foi apenas por um instante, e podia fingir que não aconteceu.



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Autor(a): Alien AyA

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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 325



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  • nandacolucci Postado em 27/09/2015 - 09:05:03

    que tristeza vc não vai postar mais fic :( poncho morreu que final em <3 :´(

  • franmarmentini♥ Postado em 25/09/2015 - 14:54:43

    adri...eu quase morri de tanto chorra...poncho morreu...isso acabou comigo...ai deus ai deus...eu to mal...nao quero que vc pare de postar!!!!!!!!!!!! plis!!!!!!!!!!!!!!

  • franmarmentini♥ Postado em 25/09/2015 - 14:01:53

    que lindo!!!!!!!!!!!!!!!!!

  • franmarmentini♥ Postado em 25/09/2015 - 13:25:12

    adri...mas achei os outros livros..vc tem que postar os outros doissssssssssssssssssss

  • Mila Puente Herrera Postado em 24/09/2015 - 00:56:54

    Chorei :/ Adeus não viu Adri..

  • franmarmentini♥ Postado em 23/09/2015 - 14:25:10

    chorrei bastante viu... ;(

  • franmarmentini♥ Postado em 23/09/2015 - 14:15:37

    nossa...cara que tristeza eu vendo poncho viu...ele só sofre...o melhor amigo se foi...e a mulher que ele ama..ama outro.

  • franmarmentini♥ Postado em 23/09/2015 - 13:53:21

    sinceramente...não gostei..desse negocio da any ainda continuar haver o ucker...pelo jeito se fosse pra ela escolher ela sempre iria ficar com ele e não o poncho..

  • Postado em 23/09/2015 - 13:52:16

    sinceramente...não gostei..desse negocio da any ainda continuar haver o ucker...pelo jeito se fosse pra ela escolher ela sempre iria ficar com ele e não o poncho.

  • franmarmentini♥ Postado em 22/09/2015 - 22:32:41

    Nossa....


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