Fanfic: Anjo Mecânico [FINALIZADA] | Tema: Anahi, Alfonso, Christopher, Suspense, Anjo Mecânico
Capítulo 20 - As Peças Infernais
Como autômatos operados por fios,
Esqueletos finos em silhueta
Deslizaram pela lenta quadrilha
E se deram as mãos
E dançaram uma sarabanda imponente;
As risadas ecoaram finas e agudas.
– Oscar Wilde, The Harlot’s House
— É lindo — suspirou Henry.
Os Caçadores de Sombras do Instituto de Londres – e Christian Chávez – estavam em um semicírculo no estúdio de Henry, olhando para uma das paredes de pedra – ou, mais precisamente, para algo que apareceu em uma das paredes de pedra.
Era um arco brilhante, de cerca de 3 metros de altura, e talvez 1,5 metro de largura. Não era talhado na pedra, mas feito de símbolos brilhantes que se entrelaçavam como vinhas em uma grade. Os símbolos não eram do Livro Cinza – Gabriel teria reconhecido se fossem – mas eram símbolos que ele jamais vira antes. Tinham a aparência estranha de uma língua estrangeira, no entanto, cada um era único, lindo e soprava uma música murmurada sobre viagem e distância, de um espaço escuro em turbilhão e da distância entre os mundos. Na escuridão, eles brilhavam em verde, claros e ácidos. No espaço criado pelos símbolos, a parede não era visível – apenas a escuridão, impenetrável, de um grande buraco negro.
— É realmente incrível — observou Christian.
Todos, exceto o feiticeiro, estavam uniformizados para combate e carregados de armas – a espada longa favorita de Gabriel estava pendurada em suas costas, e ele se coçava para pegar o cabo com as mãos enluvadas. Apesar de gostar de arco e flecha, tinha sido treinado para utilizar esta espada por um mestre que traçava os próprios mestres até Lichtenauer, e Gabriel considerava aquela arma sua especialidade. Além disso, um arco e flecha teria menos utilidade contra autômatos do que uma arma que poderia cortá-los em pedaços.
— Graças a você, Christian — disse Henry.
Ele estava radiante, ou foi o que Gabriel pensou. Poderia ser o reflexo dos símbolos em seu rosto.
— De jeito algum — respondeu Christian. — Não fosse sua genialidade, isso jamais teria sido criado.
— Apesar de eu estar apreciando essa troca de gentilezas — disse Gabriel, ao perceber que Henry estava prestes a responder — ainda restam algumas questões centrais em relação à invenção.
Henry o fitou confuso.
— Por exemplo?
— Acredito, Henry, que ele esteja perguntando se essa... entrada... — começou Maite.
— Chamamos de Portal — explicou Henry. A letra maiúscula ficou clara no tom.
— Se funciona — concluiu Maite. — Você já experimentou?
Henry pareceu magoado.
— Bem, não. Não deu tempo. Mas garanto a você que nossos cálculos foram perfeitos.
Todos, exceto Henry e Christian, olharam alarmados para o Portal.
— Henry... — começou Maite.
— Bem, acho que Henry e Christian devem ir primeiro — sugeriu Gabriel — foram eles que inventaram essa maldita coisa.
Todos olharam para ele.
— É como se ele tivesse substituído Poncho — comentou Gideon, com as sobrancelhas erguidas. — Dizem o mesmo tipo de coisa.
— Não sou como Poncho! — Gabriel se irritou.
— Espero que não — disse Cecily, mas tão baixinho que ele ficou imaginando se mais alguém teria ouvido.
Ela estava particularmente bonita hoje, apesar de Gabriel não saber por quê. Usava a mesma roupa de combate lisa e preta que Maite; os cabelos cuidadosamente presos atrás da cabeça, e o colar de rubi no pescoço brilhava sobre a pele. Contudo, Gabriel lembrou a si mesmo, com vigor, que, considerando estarem provavelmente prestes a se colocar em perigo mortal, pensar na aparência de Cecily não deveria ser sua maior preocupação. Ordenou a si mesmo que parasse de imediato.
— Não sou nada como Poncho Herrera — repetiu.
— Estou perfeitamente disposto a ser o primeiro — disse Christian, com o ar sofrido de um mestre em uma sala cheia de alunos malcomportados. — Preciso de algumas coisas. Estamos torcendo para que Anahí esteja lá, e Poncho talvez também esteja, então gostaria de uniformes e armas extras para a travessia. Planejo, é claro, esperá-los do outro lado, mas se houver algum... desenvolvimento inesperado, é sempre bom estar pronto.
Maite assentiu.
— Sim... é claro. — Ela olhou para baixo por um instante. — Não acredito que ninguém apareceu para nos ajudar. Achei que depois da minha carta pelo menos alguns... — interrompeu-se, engolindo em seco, e levantou a cabeça — deixe-me buscar Sophie. Ela pode preparar o que precisa, Christian. E ela, Cyril e Bridget devem se juntar a nós em breve.
Maite desapareceu pelas escadas, e Henry olhou para ela com um carinho preocupado.
Gabriel não podia culpá-lo. Obviamente foi um golpe duro para Maite não ser atendida por ninguém, apesar de que ele poderia ter dito a ela que não seria. As pessoas são essencialmente egoístas, e muitos detestavam a ideia de ver uma mulher no comando do Instituto. Não se arriscariam por ela. Há poucas semanas diria o mesmo sobre si próprio. Agora que conhecia Maite, percebeu, surpreendentemente, que a ideia de se arriscar por ela era uma honra, como para a maioria dos ingleses seria se arriscar pela rainha.
— Como alguém faz o Portal funcionar? — perguntou Cecily, olhando para o arco brilhante como se fosse uma pintura em uma galeria, com a cabeça escura inclinada para o lado.
— Ele o transportará instantaneamente de um ponto a outro — disse Henry — mas o truque é... bem, essa parte é magia. — E falou a palavra um pouco nervoso.
— Você precisa visualizar o local para onde vai — explicou Christian. — Não funcionará para levá-la a algum ponto onde nunca esteve ou que não consegue imaginar. Neste caso, para chegarmos a Cadair Idris, precisaremos de Cecily. Cecily, o quão próximo de Cadair Idris consegue nos deixar?
— No topo — respondeu ela, confiante — há várias trilhas que levam ao cume da montanha, e já atravessei duas delas com meu pai. Lembro-me do pico.
— Excelente — afirmou Henry — Cecily, você se colocará diante do Portal e visualizará nosso destino...
— Mas ela não vai primeiro, vai? — perguntou Gabriel. Assim que as palavras deixaram sua boca, ele mesmo se espantou. Não pretendia dizê-las. Ah, bem não tinha o que fazer, pensou. — Quero dizer: ela é a menos treinada de todos; não seria seguro.
— Posso ir primeiro — declarou Cecily, não parecendo nem um pouco grata pelo apoio de Gabriel. — Não vejo motivo pelo qual...
— Henry! — falou Maite, reaparecendo ao pé da escada.
Atrás dela estavam os criados do Instituto, todos uniformizados, Bridget parecia prestes a partir em uma caminhada matutina; Cyril, pronto e determinado; e Sophie, trazendo uma bolsa grande de couro.
Atrás deles mais três homens. Homens altos, com vestes de cor bege, que deslizavam os pés de modo peculiar. Irmãos do Silêncio.
Ao contrário de qualquer Irmão do Silêncio que Gabriel já tinha visto, no entanto, estes estavam armados. Cintos de armas nas cinturas, sobre as túnicas, das quais se penduravam lâminas longas e curvas, cujos cabos eram feitos de adamas brilhante, o mesmo material das estelas e lâminas serafim.
Henry levantou o olhar, confuso – em seguida, culpado, olhou do Portal para os Irmãos. Seu rosto ligeiramente sardento empalideceu.
— Irmão Enoch — disse — eu...
Acalme-se. A voz do Irmão do Silêncio ecoou na mente de todos. Não viemos alertá-lo sobre qualquer possibilidade de transgressão da Lei, Henry Branwell. Viemos lutar com vocês.
— Lutar conosco? — Gideon pareceu espantado. — Mas Irmãos do Silêncio não... digo, não são guerreiros...
Isso é incorreto. Caçadores de Sombras éramos e Caçadores de Sombras permanecemos, mesmo quando mudamos para nos tornarmos Irmãos. Fomos fundados pelo próprio Jonathan Caçador de Sombras e, apesar de vivermos pelo livro, podemos morrer pela espada, se desejarmos.
Maite sorria.
— Souberam da minha mensagem — disse ela. — E vieram. Irmão Enoch, Irmão Micah e Irmão Zacarias.
Os dois Irmãos atrás de Enoch inclinaram as cabeças em silêncio. Gabriel lutou contra um tremor. Sempre achou os Irmãos do Silêncio estranhos, apesar de saber que eram parte integral da vida de um Caçador de Sombras.
— O Irmão Enoch também me explicou por que mais ninguém veio — disse Maite, e o sorriso desapareceu — o Cônsul Wayland convocou uma reunião de Conselho para esta manhã, apesar de não ter nos informado. O comparecimento de todos os Caçadores de Sombras foi obrigatório, por Lei.
A respiração de Henry chiou através dos dentes.
— Aquele ho-homem horrível — concluiu, com uma rápida olhada para Cecily, que revirou os olhos — sobre o que é a reunião do Conselho?
— Sobre nossa substituição como chefes do Instituto — respondeu Maite — ele ainda acha que o ataque de Mortmain será contra Londres e que um líder forte deve estar aqui para enfrentar o exército mecânico.
— Sra. Branwell! — Sophie, enquanto entregava a bolsa para Christian, quase a derrubou. — Não podem fazer isso!
— Ah, podem muito bem — respondeu Maite. Olhou em volta, para as faces de todos, e levantou a cabeça. Naquele instante, apesar de pequena, pensou Gabriel, ela pareceu mais alta que o Cônsul. — Todos sabíamos que isso aconteceria. Não tem importância. Somos Caçadores de Sombras, e nosso dever é uns com os outros, e fazer o que julgamos correto. Acreditamos em Poncho e temos fé nele. A fé nos trouxe até aqui; vai nos levar mais longe. O Anjo olha por nós, e vamos vencer.
Todos ficaram em silêncio. Gabriel olhou em volta, para a expressão de cada um – todos determinados – e até Christian parecia, se não tocado ou convencido, reflexivo e respeitoso.
— Sra. Branwell — disse ele, afinal. — Se o Cônsul Wayland não a considera uma líder, então ele é um tolo.
Maite inclinou a cabeça em sua direção.
— Obrigada. Mas não devemos perder mais tempo, temos de ir depressa, pois esta questão não pode mais esperar.
Henry olhou para a esposa por um longo instante e, depois, para Cecily.
— Está pronta?
A irmã de Poncho assentiu e avançou para se colocar diante do Portal. A luz brilhante projetava uma sombra de símbolos não familiares em seu rosto pequeno e determinado.
— Visualize — disse Christian — imagine com todas as suas forças que está vendo o topo de Cadair Idris.
As mãos de Cecily cerraram nas laterais do corpo. Enquanto encarava, o Portal começou a se mexer, os símbolos ondularam e mudaram. A escuridão da passagem clareou. De repente, Gabriel não estava mais olhando para a sombra. Encarava um retrato de uma paisagem que poderia ter sido pintada dentro do Portal – a curva verde do topo de uma montanha, um lago tão azul e profundo quanto o céu.
Cecily se engasgou um pouco – e, em seguida, sem incentivo, deu um passo à frente, desaparecendo pelo arco. Foi como ver um desenho se apagando.
Primeiro, as mãos desapareceram pelo Portal, depois os braços, esticados, e, por fim, o corpo.
Então ela se foi.
Maite soltou um gritinho.
— Henry!
Gabriel ouviu um zumbido. Escutou Henry garantindo a Maite que nada havia acontecido, mas foi como ouvir uma música que vinha de outro cômodo: as palavras se colocavam apenas como um ritmo sem significado. Tudo que ele sabia era que Cecily, a mais corajosa de todos, havia atravessado uma passagem desconhecida e desaparecido. E não podia deixá-la ir sozinha.
Avançou.
Ouviu o irmão chamá-lo pelo nome, mas ignorou; passando por Gideon, chegou ao Portal e atravessou.
Por um instante não viu nada além da escuridão. Em seguida, uma grande mão pareceu se esticar e agarrá-lo, e ele foi puxado para um redemoinho colorido.
Autor(a): Alien AyA
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O salão do Conselho estava cheio de pessoas gritando. Na plataforma elevada no centro, encontrava-se o Cônsul Wayland, encarando a gritaria com um olhar de impaciência furiosa no rosto. Os olhos escuros analisavam os Caçadores de Sombras reunidos à sua frente: George Penhallow gritava com Sora Kaidou, do Instituto de Tóquio; Vijay Mal ...
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 325
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nandacolucci Postado em 27/09/2015 - 09:05:03
que tristeza vc não vai postar mais fic :( poncho morreu que final em <3 :´(
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franmarmentini♥ Postado em 25/09/2015 - 14:54:43
adri...eu quase morri de tanto chorra...poncho morreu...isso acabou comigo...ai deus ai deus...eu to mal...nao quero que vc pare de postar!!!!!!!!!!!! plis!!!!!!!!!!!!!!
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franmarmentini♥ Postado em 25/09/2015 - 14:01:53
que lindo!!!!!!!!!!!!!!!!!
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franmarmentini♥ Postado em 25/09/2015 - 13:25:12
adri...mas achei os outros livros..vc tem que postar os outros doissssssssssssssssssss
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Mila Puente Herrera Postado em 24/09/2015 - 00:56:54
Chorei :/ Adeus não viu Adri..
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franmarmentini♥ Postado em 23/09/2015 - 14:25:10
chorrei bastante viu... ;(
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franmarmentini♥ Postado em 23/09/2015 - 14:15:37
nossa...cara que tristeza eu vendo poncho viu...ele só sofre...o melhor amigo se foi...e a mulher que ele ama..ama outro.
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franmarmentini♥ Postado em 23/09/2015 - 13:53:21
sinceramente...não gostei..desse negocio da any ainda continuar haver o ucker...pelo jeito se fosse pra ela escolher ela sempre iria ficar com ele e não o poncho..
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Postado em 23/09/2015 - 13:52:16
sinceramente...não gostei..desse negocio da any ainda continuar haver o ucker...pelo jeito se fosse pra ela escolher ela sempre iria ficar com ele e não o poncho.
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franmarmentini♥ Postado em 22/09/2015 - 22:32:41
Nossa....