Fanfic: Anjo Mecânico [FINALIZADA] | Tema: Anahi, Alfonso, Christopher, Suspense, Anjo Mecânico
— Pare.
A voz ecoou pelo salão, enviando calafrios pelas veias de Anahí. Mortmain.
Ela conhecia a fala, a voz, apesar de não conseguir enxergar nada além do pilar de pedra que ocultava a alcova para onde Armaros a arrastou. O demônio autômato continuou segurando-a com firmeza mesmo durante a explosão que balançou o recinto, seguida por uma ventania que passou pelo aposento, deixando-os intocados.
Agora fazia silêncio, e Anahí queria desesperadamente se livrar dos braços metálicos que a prendiam, correr pelo salão e verificar se algum de seus amigos, aqueles que amava, tinha sido ferido ou morto. Mas lutar contra ele era como lutar contra uma parede. Mesmo assim continuou chutando enquanto a voz de Mortmain soava novamente:
— Onde está a Srta. Portilla? Tragam-na para mim.
Armaros emitiu um ruído estridente e entrou em ação. Ergueu Anahí pelos braços e a levou da alcova para o salão principal.
O cenário era de caos. Os autômatos permaneceram congelados, olhando para o mestre. Muitos estavam caídos no chão ou desmembrados. O piso estava escorregadio com uma mistura de sangue e óleo.
No centro, em um círculo, encontravam-se os Caçadores de Sombras e seus companheiros. Cyril se ajoelhou com um pedaço ensanguentado de atadura envolvendo sua perna. Perto dele, Henry, meio sentado, meio deitado nos braços de Maite. Estava pálido, tão pálido... Os olhos de Anahí encontraram os de Poncho quando ele levantou a cabeça e a viu. Um olhar de desalento passou por seu rosto, e ele avançou. Ucker o segurou pela manga. Também olhava para Anahí; com olhos arregalados, escuros e apavorados. Ela desviou o olhar de ambos, para o alto, para Mortmain. Ele estava na grade da galeria acima, como um pastor em um púlpito, e sorriu para baixo.
— Srta. Portilla. Que bom que se juntou a nós.
Ela cuspiu, sentindo gosto de sangue onde os dedos do autômato a arranharam na bochecha.
Mortmain ergueu uma sobrancelha.
— Coloque-a no chão — ordenou — mantenha as mãos nos ombros dela.
O demônio obedeceu com um riso baixo. Assim que os sapatos de Anahí tocaram o chão, ela se esticou, levantando o rosto e olhando com raiva para Mortmain.
— Dá azar ver a noiva antes do casamento — disse ela.
— De fato — disse Mortmain. — Mas azar para quem?
Anahí não olhou em volta. A visão do bando de autômatos e do pequeno grupo de Caçadores de Sombras, que eram tudo que se colocava entre os dois, era dolorosa demais.
— Os Nephilim já penetraram sua fortaleza — falou — haverá outros. Vão cercar seus autômatos e destruí-los. Renda-se agora e talvez consiga sair vivo.
Mortmain jogou a cabeça para trás e riu.
— Bravo, senhorita. Está cercada pela derrota e exige que eu me renda.
— Não estamos derrotados... — começou Poncho, e Mortmain chiou através de dentes cerrados, audível no salão ecoante.
Ao mesmo tempo, todos os autômatos viraram as cabeças para Poncho; uma terrível sincronia.
— Nem uma palavra de vocês, Nephilim — disse Mortmain — a próxima vez que algum de vocês falar será a última.
— Deixe-os ir — disse Anahí — isso não tem nada a ver com eles. Deixe-os ir, e eu fico.
— Você não tem meios para barganhar — disse Mortmain. — Está enganada se acha que outros Caçadores de Sombras virão ajudar. Neste exato momento, boa parte do meu exército está destruindo seu Conselho — Anahí ouviu Maite engasgar, um ruído baixo e abafado — muito inteligente da parte dos Nephilim se reunirem em um mesmo lugar, para que eu pudesse dar um só golpe.
— Por favor — disse Anahí — não faça nada com eles. Suas mágoas contra os Nephilim não passam disso. Mas se estiverem todos mortos, quem vai aprender com sua vingança? Quem vai reparar? Se não houver quem aprenda com o passado, ninguém transmitirá suas lições. Deixe que vivam. Permita que transmitam seus ensinamentos no futuro. Eles podem ser seu legado.
Ele assentiu pensativamente, como se pesasse as palavras de Anahí.
— Vou poupá-los; vou mantê-los aqui, como nossos prisioneiros. Isso a manterá satisfeita e obediente — a voz ficou mais severa — porque você os ama e porque se tentar escapar, matarei todos — ele fez uma pausa — o que me diz, senhorita Portilla? Fui generoso e agora me deve gratidão.
O único ruído no salão foi o rangido dos autômatos e do próprio sangue de Anahí latejando em seus ouvidos. Percebia agora o que a Sra. Black quis dizer na carruagem. E quanto mais sabe sobre eles, mais solidariedade tem a eles e maior será sua eficiência como arma para destruí-los. Anahí havia se tornado uma Caçadora de sombras, mesmo que não completamente como eles. Importava-se com eles e os amava, e Mortmain utilizaria esse carinho e amor para manipulála. Para salvar quem amava, condenaria a todos. No entanto, permitir que Poncho e Ucker, Maite e Henry, Cecily e os outros morressem era impensável.
— Sim. — Ela ouviu Ucker, ou teria sido Poncho, emitir um ruído abafado. — Sim, eu aceito. — Anahí olhou para cima. — Diga ao demônio que me solte e subirei até você.
Ela viu os olhos de Mortmain se cerrarem.
— Não — disse ele — Armaros, traga-a para mim.
As mãos do demônio apertaram os braços dela; Anahí mordeu o lábio de dor. Como em solidariedade, o anjo mecânico na garganta vibrou.
Poucos podem reclamar um único anjo que os guarde. Mas você pode.
A mão de Anahí foi para o pescoço. O anjo pareceu bater sob seus dedos, como se respirasse, como se tentasse lhe comunicar alguma coisa. Sua mão apertou em torno dele, as pontas das asas cortando sua palma. Pensou no sonho.
E... esta é sua forma verdadeira? É assim?
Vê apenas uma fração do que sou. Em minha verdadeira forma, sou uma glória mortal.
As mãos de Armaros se fecharam nos braços de Anahí.
Seu anjo mecânico contém um pedaço do espírito de um anjo, Mortmain dissera. Ela pensou na marca branca de estrela que o anjo deixou no ombro de Poncho. Pensou no rosto liso, lindo e imóvel do anjo, nas mãos frias que a seguraram quando caiu da carruagem da Sra. Black para as turbulentas águas abaixo.
O demônio começou a levantá-la.
Anahí pensou no sonho.
Respirou fundo. Não sabia se o que estava prestes a fazer era sequer possível ou se era apenas loucura. Enquanto Armaros a levantava com as mãos, ela fechou os olhos, alcançando com a mente, dentro do anjo mecânico. Tropeçou por um momento pelo espaço escuro, em seguida para um limbo cinzento, buscando aquela luz, a faísca do espírito, aquela vida...
E lá estava, uma chama súbita, uma fogueira, mais luminosa do que qualquer faísca que já houvesse visto. Alcançou-a, enrolando-se, como bobinas de fogo branco que ardiam e marcavam sua pele. Anahí gritou...
E se Transformou.
Fogo branco explodiu por suas veias. Ela se elevou, o uniforme de combate rasgou e caiu, e a luz ardeu ao redor. Ela era fogo. Uma estrela cadente. Os braços de Armaros foram arrancados do corpo de Anahí – silenciosamente, ele derreteu e se dissolveu, incinerado pelo fogo divino que ardia por ela.
Ela estava voando – voando para o alto. Não, estava se elevando, crescendo. Seus ossos se esticaram e alongaram, como uma estrutura se expandindo para fora e para cima enquanto ela crescia absurdamente. Sua pele estava dourada, e aumentava e rasgava enquanto ela subia como o pé de feijão do velho conto de fadas, e onde a pele rasgava, substância dourada vazava dos ferimentos. Cachos como raspas de metal branco e quente cresciam de sua cabeça, cercando seu rosto. E das costas surgiam asas – asas imensas, maiores do que as de qualquer pássaro.
Ela supôs que devesse se apavorar. Ao olhar para baixo, viu os Caçadores de Sombras encarando-a, boquiabertos. Toda a sala foi preenchida por uma luz devastadora, que vinha dela. Ela havia se tornado Ithuriel. O fogo divino dos anjos ardia através dela, queimando seus ossos, agredindo seus olhos. Mas sentiu apenas uma calma firme.
Estava a 6 metros do chão, com os olhos fixos em Mortmain, que havia congelado de pavor, agarrando a grade da bancada. O anjo mecânico, afinal, fora um presente dele para a mãe. Jamais devia ter imaginado que seria utilizado desta forma.
— Não é possível — disse ele, rouco. — Não é possível...
Você aprisionou um anjo do Céu , disse Anahí, apesar de não ser sua voz falando, mas a de Ithuriel que se comunicava através dela. A voz dele ecoou por seu corpo como a vibração de um gongo. Distante, ela se viu imaginando se seu coração estava batendo – anjos tinham coração? Será que isso a mataria? Se matasse, valeria a pena. Tentou criar vida. Vida é a competência do Céu. E o Céu não gosta de usurpadores.
Mortmain se virou para correr. Mas ele era lento, como todos os humanos. Anahí esticou a mão, a mão de Ithuriel, e a fechou nele enquanto tentava correr, levantando-o do chão. Ele se contorcia, já queimando, enquanto Anahí cerrava a garra, esmagando o corpo dele em uma gelatina de sangue vermelho e ossos brancos.
Ela abriu os dedos. O corpo esmagado de Mortmain caiu, batendo no chão entre os próprios autômatos. Houve um tremor, um grande grito metálico, como se um prédio desmoronasse, e os autômatos começaram a cair, um por um, sucumbindo ao chão, mortos sem seu Magistrado para animá-los. Um jardim de flores de metal, secando e morrendo uma por uma, e os Caçadores de Sombras estavam no centro, olhando em volta, assombrados.
E, então, Anahí percebeu que ainda tinha um coração, pois este pulou de alegria ao vê-los vivos e seguros. Contudo, enquanto esticava para eles as mãos douradas – uma agora manchada de vermelho, com o sangue de Mortmain misturado à substância dourada de Ithuriel – eles se encolheram por causa do brilho da luz que a cercava. Não, não, queria dizer, eu jamais os machucaria, mas as palavras não vieram. Ela não conseguia falar; o ardor era forte demais.
Lutou para encontrar o caminho de volta a si, queria se Transformar em Anahí outra vez, mas estava perdida no fogo, como se tivesse caído no coração do sol.
Uma agonia de chamas explodiu nela, e ela sentiu que começava a cair, com o anjo mecânico vermelho e quente em sua garganta. Por favor, pensou ela, mas tudo era fogo e ardor, e ela caiu, inconsciente, na luz.
Até Mais!
Autor(a): Alien AyA
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Capítulo 22 - Trovão na trombeta Pois até que venha o trovão na trombeta,A alma pode se separar do corpo, mas nós nãoNos separaremos um do outro.– Algernon Charles Swinburne, Laus Veneris Criaturas mecânicas tiraram Anahí das brumas negras. O fogo corria por suas veias, e, quando ela olhou para baixo, ...
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 325
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nandacolucci Postado em 27/09/2015 - 09:05:03
que tristeza vc não vai postar mais fic :( poncho morreu que final em <3 :´(
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franmarmentini♥ Postado em 25/09/2015 - 14:54:43
adri...eu quase morri de tanto chorra...poncho morreu...isso acabou comigo...ai deus ai deus...eu to mal...nao quero que vc pare de postar!!!!!!!!!!!! plis!!!!!!!!!!!!!!
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franmarmentini♥ Postado em 25/09/2015 - 14:01:53
que lindo!!!!!!!!!!!!!!!!!
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franmarmentini♥ Postado em 25/09/2015 - 13:25:12
adri...mas achei os outros livros..vc tem que postar os outros doissssssssssssssssssss
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Mila Puente Herrera Postado em 24/09/2015 - 00:56:54
Chorei :/ Adeus não viu Adri..
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franmarmentini♥ Postado em 23/09/2015 - 14:25:10
chorrei bastante viu... ;(
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franmarmentini♥ Postado em 23/09/2015 - 14:15:37
nossa...cara que tristeza eu vendo poncho viu...ele só sofre...o melhor amigo se foi...e a mulher que ele ama..ama outro.
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franmarmentini♥ Postado em 23/09/2015 - 13:53:21
sinceramente...não gostei..desse negocio da any ainda continuar haver o ucker...pelo jeito se fosse pra ela escolher ela sempre iria ficar com ele e não o poncho..
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Postado em 23/09/2015 - 13:52:16
sinceramente...não gostei..desse negocio da any ainda continuar haver o ucker...pelo jeito se fosse pra ela escolher ela sempre iria ficar com ele e não o poncho.
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franmarmentini♥ Postado em 22/09/2015 - 22:32:41
Nossa....