Fanfics Brasil - Ucker & Poncho Anjo Mecânico [FINALIZADA]

Fanfic: Anjo Mecânico [FINALIZADA] | Tema: Anahi, Alfonso, Christopher, Suspense, Anjo Mecânico


Capítulo: Ucker & Poncho

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Se Poncho fechasse os olhos, podia escutar os ruídos do Instituto ganhando vida pela manhã ou, pelo menos, conseguia imaginá-los: Sophie preparando a mesa do café da manhã, Maite e Cyril ajudando Henry a sentar, os irmãos Lightwood lutando, sonolentos, pelos corredores, Cecily procurando por ele em seu quarto, como vinha fazendo quase todas as manhãs ultimamente, tentando – sem conseguir – disfarçar a óbvia preocupação.


E no quarto de Anahí, Ucker e Anahí conversando.


Sabia que Ucker estava lá, por causa da carruagem dos Irmãos do Silêncio parada no jardim. Dava para ver da janela da sala de treinamento. Mas não era algo em que podia pensar. Era o que ele queria, o que pedira a Maite, mas agora que estava acontecendo, descobriu que não aguentava pensar muito no assunto. Então, foi para o cômodo ao qual sempre recorria quando tinha a mente perturbada; estava arremessando facas na parede desde o amanhecer, e a camisa estava molhada de suor e grudada às costas.


Pá. Pá. Pá. As facas atingiam a parede, todas no centro do alvo. Lembrava-se dos seus 12 anos, quando acertar a faca perto da meta parecia um sonho impossível. Ucker o ajudou, mostrou como segurar a lâmina, como alinhar a ponta e arremessar.


De todos os lugares no Instituto, a sala de treinamento era a que mais associava a Ucker – exceto pelo quarto dele, que tinha sido destituído dos pertences do amigo. Agora, era apenas mais um quarto vazio do Instituto, esperando ser preenchido por outro Caçador de Sombras. Nem Church parecia querer entrar; às vezes, ficava perto da porta e esperava, como os gatos faziam, mas não dormia mais na cama, como acontecia nos tempos de Ucker.


Poncho estremeceu – a sala de treinamento era fria pela manhã: o fogo da lareira estava se extinguindo, uma sombra vermelha e dourada expelia brasas coloridas. Poncho via dois meninos em sua mente, sentados no chão em frente ao fogo nesta mesma sala, um de cabelos negros e outro de cabelos claros como a neve. Ele ensinava Ucker a jogar um jogo de cartas com um baralho que havia roubado da sala de estar.


Em dado momento, irritado por ter perdido, Poncho jogou o baralho no fogo e assistiu fascinado enquanto as cartas queimavam, uma por uma, e o fogo abria buracos no papel branco acetinado. Ucker riu.


— Assim você não consegue ganhar.


— Às vezes, é a única maneira de ganhar — dissera Poncho. — Queimar tudo.


Foi retirar as facas da parede, franzindo o rosto. Queimar tudo. Seu corpo inteiro ainda doía. Enquanto soltava as lâminas, viu que tinha hematomas azul esverdeados nos braços, apesar das iratzes, e cicatrizes da batalha de Cadair Idris que teria para sempre. Pensou na luta ao lado de Ucker. Talvez não tenha apreciado no momento. A última, última vez.


Como um eco de seus pensamentos, uma sombra apareceu na porta. Poncho levantou o olhar – e quase derrubou a faca que segurava.


— Ucker? — falou. — É você, Christopher?


— Quem mais? — A voz de Ucker.


Ao entrar para a luz da sala, Poncho viu que o capuz de Ucker estava abaixado, o olhar na altura dos olhos de Poncho. O rosto, os olhos, tudo familiar. Mas Poncho sempre conseguiu sentir Ucker antes, sentir a aproximação e sua presença. O fato de que ele o havia surpreendido desta vez foi um lembrete agudo da mudança do parabatai.


Não é mais seu parabatai, lembrou-lhe uma voz no fundo da mente.


Ucker entrou com os passos mudos dos Irmãos do Silêncio, fechando a porta atrás de si. Poncho não se mexeu. Não achava que pudesse. A visão de Ucker em Cadair Idris foi um choque que atravessou seu sistema como uma incandescência terrível e maravilhosa – ele estava vivo, porém mudado; viveu, mas se perdeu.


— Mas você veio ver Anahí.


Ucker o olhou calmamente. Seus olhos estavam pretos acinzentados, como ardósia com listras de obsidiana.


— E não achou que eu fosse aproveitar a chance, qualquer chance, para vê-lo também?


— Não sabia. Você foi embora, depois da batalha, sem se despedir.


Ucker deu mais alguns passos à frente, para dentro da sala. Poncho sentiu a espinha enrijecer. Havia algo estranho, profundo e diferente na maneira como ele se movia agora; não era a graciosidade dos Caçadores de Sombras que Poncho passou anos treinando para imitar, mas algo estranho, diferente e novo.


Ucker deve ter notado algo na expressão de Poncho, pois parou.


— Como eu poderia me despedir de você?


Poncho sentiu a faca escorregar da mão. Ela caiu, com a ponta para baixo, na madeira do chão.


— Como fazem os Caçadores de Sombras? — Poncho sugeriu — Ave atque vale. E para sempre, irmão, saudações e adeus.


— Mas essas são as palavras da morte. Catulo as pronunciou sobre o túmulo do irmão, não foi? Multas per gentes et multa per aequora vectus advenio has miseras, frater, ad inferias...


Poncho conhecia as palavras. Através de muitas águas carregadas, irmão, venho a teu triste jazigo, para lhe dar estes últimos presentes dos mortos. Para todo o sempre, irmão, saudações. Para todo o sempre, adeus. Encarou-o.


— Você... decorou o poema em latim? Mas você sempre foi o que memorizava música, e não palavras... — Interrompeu-se com uma risada curta. — Esqueça. Os rituais da Irmandade mudam isso.


Ele se virou e se afastou alguns passos; em seguida, voltou abruptamente para encarar Ucker.


— Seu violino está na sala de música. Achei que tivesse levado... Gostava tanto dele.


— Não podemos levar nada além de nossos corpos e mentes para a Cidade do Silêncio — explicou Ucker — deixei o violino aqui para algum Caçador de Sombras futuro que deseje tocá-lo.


— Então, não é para mim.


— Ficaria honrado se você o guardasse e cuidasse dele. Mas deixei outra coisa para você. No seu quarto, está minha caixa de yin fen. Achei que pudesse querê-la.


— Isso me parece um presente cruel — respondeu Poncho — para que eu me lembre... — do que o tirou de mim. Do que o fez sofrer. Do que procurei e não encontrei. De como falhei com você.


— Poncho, não — disse Ucker, que, como sempre, entendeu sem que Poncho precisasse explicar — nem sempre foi uma caixa que guardou minhas drogas. Era da minha mãe. Kwan Yin é a deusa representada na frente. Dizem que, quando ela morreu e chegou aos portões do paraíso, parou e ouviu os gritos de angústia do mundo humano abaixo e não pôde deixá-lo. Ficou para ajudar os mortais quando eles não puderam se ajudar. Ela é o conforto de todos os corações sofredores.


— Uma caixa não vai me confortar.


— Mudança não é perda, Poncho. Nem sempre.


Poncho passou as mãos pelos cabelos molhados.


— Ah, sim — respondeu amargamente — talvez em outra vida, além desta, quando atravessarmos o rio ou girarmos uma roda ou quaisquer que sejam as palavras delicadas que queira utilizar para descrever deixar este mundo, encontrarei meu amigo novamente, meu parabatai. Mas eu o perdi agora... agora, quando mais preciso de você!


Ucker atravessou a sala – como uma faísca de sombra, a graciosidade leve dos Irmãos do Silêncio presente nele – ficando ao lado da fogueira. O fogo iluminou seu rosto, e Poncho viu algo que parecia brilhar através dele: uma espécie de luz que não estava ali antes. Ucker sempre brilhou, com uma vida feroz e uma bondade ainda mais selvagem, mas isto era diferente. A luz de Ucker parecia arder agora; uma luz distante e solitária, como a luz de uma estrela.


— Não precisa de mim, Poncho.


Poncho olhou para si próprio, para a faca no chão, e lembrou-se da que havia enterrado perto da árvore na estrada Shrewsbury-Welshpool, manchada com o próprio sangue e com o de Ucker.


— Por toda a minha vida, desde que vim para o Instituto, você foi o espelho da minha alma. Eu via em você minha bondade. Só em seus olhos encontrava graça. Quando você se afastar, quem vai me enxergar assim?


Fez-se um silêncio. Ucker estava parado como uma estátua. Com o olhar, Poncho procurou e achou o símbolo parabatai no ombro dele; como o seu, desbotara para um branco claro.


Finalmente, Ucker falou. A frieza havia deixado sua voz. Poncho respirou fundo, lembrando-se de como aquela voz o moldou ao longo dos anos de crescimento, a generosidade constante que ela continha como um farol no escuro.


— Tenha fé em si mesmo. Pode ser seu próprio espelho.


— E se não conseguir? — perguntou Poncho. — Não sei nem como ser um Caçador de Sombras sem você. Jamais lutei sem você ao meu lado.


Ucker deu um passo à frente, e desta vez Poncho não se moveu para desencorajá-lo.


Ele chegou perto o bastante para tocá-lo. Poncho pensou distraidamente que jamais havia estado tão perto de um Irmão do Silêncio antes, que o tecido da túnica era feito de um estranho material, claro como um tronco de árvore, e que o frio parecia irradiar da pele de Ucker como uma pedra que retinha o frescor mesmo em um dia quente.


Ucker colocou os dedos sob o queixo de Poncho, forçando-o a olhar diretamente para ele. Seu toque era frio.


Poncho mordeu o lábio. Esta talvez fosse a última vez que Ucker, como Ucker, o tocaria. A lembrança aguda o atravessou como uma faca – anos do leve toque de Ucker em seu ombro, a mão se esticando para ajudar Poncho quando ele caía, Ucker o segurando quando ficava furioso, as mãos de Poncho nos ombros finos dele enquanto tossia sangue na camisa.


— Ouça. Vou embora, mas continuo vivo. Não me afastarei completamente de você, Poncho. Quando lutar agora, continuarei com você. Quando andar pelo mundo, serei a luz a seu lado, o chão firme sob seus pés, a força que guia a espada em suas mãos. Somos ligados, além do juramento. As Marcas não mudaram isso. O juramento não mudou isso. Meramente definiram o que já existia.


— Mas e você? — perguntou Poncho. — Diga-me o que posso fazer, pois você é meu parabatai e não quero que entre sozinho nas sombras da Cidade do Silêncio.


— Não tenho escolha. Mas se existe alguma coisa que posso pedir, é que seja feliz. Quero que tenha uma família e envelheça com quem você ama. E se desejar se casar com Anahí, não deixe que minha lembrança os separe.


— Ela talvez não me queira, você sabe — disse Poncho.


Ucker sorriu, fugazmente.


— Bem, essa parte é com você, acho.


Poncho retribuiu o sorriso, e por apenas aquele instante foram Ucker-e-Poncho novamente. Poncho podia enxergar Ucker, mas também conseguia enxergar através dele, o passado. Lembrou-se dos dois, correndo pelas ruas escuras de Londres, pulando de telhado em telhado com lâminas serafim brilhando nas mãos; horas na sala de treinamento, empurrando um ao outro em poças de lama, arremessando bolas de neve em Jessamine por trás de uma fortaleza de gelo no jardim, dormindo como cachorrinhos na frente de um tapete perto da lareira.


Ave atque vale, pensou Poncho. Saudações e adeus. Nunca tinha pensado muito nas palavras antes, nunca pensou em por que não eram apenas uma despedida, mas também uma saudação. Todo encontro levava a uma partida, e assim seria, enquanto a vida fosse mortal. Em todo encontro, havia um pouco da tristeza da separação, mas, em toda separação, havia um pouco da alegria do encontro.


Ele não esqueceria a tristeza.


— Falamos sobre como se despedir — disse Ucker. — Quando Jonathan se despediu de David, ele falou “vá em paz, por tudo que juramos, nós dois, dizendo que o Senhor estaria entre mim e ti, para sempre”. Não mais se viram, mas não se esqueceram. Será assim conosco. Quando eu for o Irmão Zacarias, quando não mais vir o mundo com meus olhos humanos, ainda serei, de alguma forma, o Ucker que conheceu, e o verei com os olhos do meu coração.


— Wo men shi sheng si ji jiao — disse Poncho, e viu os olhos de Ucker se arregalarem consideravelmente, com uma faísca de alegria dentro deles — vá em paz, Christopher Uckermann.


Ficaram olhando um para o outro por um longo instante, e, em seguida, Ucker levantou o capuz, escondendo o rosto na sombra, e virou as costas.


Poncho fechou os olhos. Não conseguia ouvir Ucker se retirando, não mais; não queria saber o instante em que foi deixado sozinho, nem quando seu primeiro dia como Caçador de Sombras sem parabatai começou de fato. E se o ponto sobre seu coração, onde ficava o símbolo parabatai, ardeu com uma súbita dor quando a porta de fechou atrás de Ucker, Poncho disse a si mesmo que foi uma brasa da lareira.


Ele se inclinou para trás, contra a parede, em seguida deslizou lentamente até sentar no chão, ao lado da faca. Não sabia por quanto tempo ficou ali, mas ouviu o barulho dos cavalos no jardim, o movimento da carruagem dos Irmãos do Silêncio percorrendo a passagem. A batida do portão se fechando. Somos pó e sombras.


— Poncho?


Levantou os olhos; não tinha notado a figura pequena na entrada da sala de treinamento até ela falar. Maite deu um passo à frente e sorriu para ele. Havia bondade em seu sorriso, como sempre, e ele lutou para não fechar os olhos contra as lembranças: Maite na entrada desta mesma sala. Não se lembra do que avisei ontem, que estaríamos recebendo um novo membro no Instituto hoje?... Christopher Uckermann...


— Poncho — repetiu ela, agora. — Você estava certo.


Ele levantou a cabeça, com as mãos penduradas entre os joelhos.


— Certo em relação a quê?


— Ucker e Anahí — respondeu. — O noivado terminou. E Anahí está acordada. Está acordada e bem, e perguntou por você.



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Autor(a): Alien AyA

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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 325



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  • nandacolucci Postado em 27/09/2015 - 09:05:03

    que tristeza vc não vai postar mais fic :( poncho morreu que final em <3 :´(

  • franmarmentini♥ Postado em 25/09/2015 - 14:54:43

    adri...eu quase morri de tanto chorra...poncho morreu...isso acabou comigo...ai deus ai deus...eu to mal...nao quero que vc pare de postar!!!!!!!!!!!! plis!!!!!!!!!!!!!!

  • franmarmentini♥ Postado em 25/09/2015 - 14:01:53

    que lindo!!!!!!!!!!!!!!!!!

  • franmarmentini♥ Postado em 25/09/2015 - 13:25:12

    adri...mas achei os outros livros..vc tem que postar os outros doissssssssssssssssssss

  • Mila Puente Herrera Postado em 24/09/2015 - 00:56:54

    Chorei :/ Adeus não viu Adri..

  • franmarmentini♥ Postado em 23/09/2015 - 14:25:10

    chorrei bastante viu... ;(

  • franmarmentini♥ Postado em 23/09/2015 - 14:15:37

    nossa...cara que tristeza eu vendo poncho viu...ele só sofre...o melhor amigo se foi...e a mulher que ele ama..ama outro.

  • franmarmentini♥ Postado em 23/09/2015 - 13:53:21

    sinceramente...não gostei..desse negocio da any ainda continuar haver o ucker...pelo jeito se fosse pra ela escolher ela sempre iria ficar com ele e não o poncho..

  • Postado em 23/09/2015 - 13:52:16

    sinceramente...não gostei..desse negocio da any ainda continuar haver o ucker...pelo jeito se fosse pra ela escolher ela sempre iria ficar com ele e não o poncho.

  • franmarmentini♥ Postado em 22/09/2015 - 22:32:41

    Nossa....


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