Fanfic: Anjo Mecânico [FINALIZADA] | Tema: Anahi, Alfonso, Christopher, Suspense, Anjo Mecânico
Aquela era a noite da festa anual de Natal do Enclave. Era a primeira vez que Anahí via o salão do Instituto aberto e cheio de gente. As janelas imensas brilhavam com luz refletida, projetando um brilho dourado sobre o assoalho polido. Além dos vidros escuros, via-se a neve caindo em grandes flocos brancos, mas o interior do Instituto estava quente e seguro.
O Natal entre Caçadores de Sombras não era o Natal que Anahí conhecia. Não havia coroas de advento, nem corais, nem biscoitos natalinos. Tinha uma árvore, apesar de não ser decorada tradicionalmente. Um grande abeto, que quase tocava o teto na outra extremidade do salão (quando Poncho perguntou a Maite como fizeram para colocá-lo ali, ela apenas acenou e falou qualquer coisa sobre Christian). Velas se equilibravam em cada galho, apesar de Anahí não conseguir enxergar onde se apoiavam, e projetavam ainda mais luzes douradas pelo salão.
Presos aos galhos da árvore – e pendurados em arandelas, em castiçais sobre as mesas, e nas maçanetas das portas – havia símbolos cristalinos e brilhantes, cada qual claro como vidro, mas, ao mesmo tempo, refratando a luz e lançando arco-íris luminosos pelo salão. As paredes eram decoradas com coroas de hera entrelaçadas, e frutinhas silvestres vermelhas se destacavam contra as folhas verdes. Aqui e ali havia viscos brancos. Tinha até um preso à coleira de Church, que passava por baixo de uma das mesas de Natal e parecia furioso.
Anahí tinha a impressão de nunca ter visto tanta comida. As mesas estavam cheias de galinha e peru, aves de caça e lebre, presunto de Natal e tortas, sanduíches finos, sorvetes, bolos, manjar-branco e pudins de creme, gelatina colorida e sobremesas natalinas regadas a licor e vinho, além de enormes recipientes de prata com ponche natalino. Havia também muitos doces e balas, sacos de São Nicolau, cada qual contendo carvão, um pouco de açúcar ou uma gota de limão, para dizer ao destinatário se seu comportamento naquele ano tinha sido traiçoeiro, doce ou amargo. Mais cedo teve chá e presentes só para os moradores do Instituto, onde trocaram lembranças antes da chegada dos convidados – Maite no colo de Henry, que se encontrava sobre a cadeira rolante, abrindo vários presentes para o bebê que nasceria em abril (cujo nome, ficou decidido, seria Charles. “Charles Perroni”, Maite anunciou orgulhosamente, segurando o pequeno cobertor que Sophie havia tricotado para ela, com as iniciais C.F no canto).
— Charles Buford Perroni — Henry a corrigiu.
Maite fez uma careta. Anahí, rindo, perguntou:
— Perroni? Não vai se chamar Branwell?
Maite deu um sorriso tímido.
— Sou a Consulesa. Ficou decidido que, neste caso, a criança levaria meu nome. Henry não se importa, se importa, Henry?
— De jeito nenhum — respondeu. — Principalmente porque Charles Buford Branwell teria soado tolo, mas Charles Buford Perroni soa muito bem.
— Henry...
Anahí agora sorria com a lembrança. Estava ao lado da árvore de Natal, observando os integrantes do Enclave em toda a sua elegância – mulheres com tons coloridos de inverno, vestidos vermelhos de cetim, seda safira e tafetá dourado, homens com trajes de noite – enquanto riam e conversavam. Sophie estava com Gideon, feliz e relaxada em um vestido de veludo; Cecily estava de azul, de lá para cá, alegre em olhar para tudo, e Gabriel atrás, com membros longos, cabelos emaranhados, divertindo-se em adoração.
Uma enorme lenha Yule com pedaços de hera queimava em uma imensa lareira de pedra, e sobre a lareira havia redes contendo maçãs douradas, nozes, pipoca colorida e balas. Também tinha música, suave e assombrosa, e Maite finalmente parecia ter achado uma função para a cantoria de Bridget, que se elevava sobre os instrumentos, afinada e doce;
“Ai, meu amor, falha comigo,
Me descarta sem cortesia.
E eu o amo há tanto tempo,
Deleitando-me com sua companhia.
Greensleeves era toda a minha alegria;
Greensleeves era meu deleite;
Greensleeves era meu coração dourado,
E quem, além de Lady Greensleeves?”
— Que o céu chova batatas — disse uma voz entoada. — Que caia uma tempestade ao som de Greensleeves.
Anahí se virou. De algum jeito, Poncho havia aparecido logo atrás dela, o que era inconveniente, considerando que vinha procurando por ele desde que chegara à sala e não tinha visto nem sinal. Como sempre, vê-lo com traje de noite – todo azul, preto e branco – deixou-a sem fôlego, mas ela disfarçou o aperto no peito com um sorriso.
— Shakespeare — disse ela — As alegres comadres de Windsor.
— Não é uma das suas melhores peças — disse Poncho, cerrando os olhos para assimilá-la.
Anahí havia selecionado um vestido de seda cor-de-rosa e nenhuma joia, exceto por um cordão de veludo com duas voltas no pescoço e pendurado atrás. Sophie penteou seu cabelo, por um favor, e não uma obrigação, e o decorou com enfeites brancos entre os cachos. Anahí se sentia muito elegante e chamando a atenção.
— Mas tem seus momentos.
— Sempre um crítico literário — Anahí suspirou, desviando o olhar para onde Maite conversava com um homem alto de cabelos claros que Anahí não conhecia.
Poncho se inclinou para ela. Cheirava a algo verde e invernal, abeto, limão ou cipreste.
— Essas são sementes de azevinho no seu cabelo — disse ele, respirando contra sua bochecha — tecnicamente acho que isso quer dizer que qualquer pessoa pode beijá-la a qualquer instante.
Ela arregalou os olhos para ele.
— Acha que vão tentar?
Ele a tocou levemente na bochecha; estava com luvas de chamois, mas Anahí sentiu como se fosse a pele dele na dela.
— Eu mataria qualquer um que o fizesse.
— Bem — respondeu Anahí. — Não seria seu primeiro escândalo natalino.
Ele parou por um instante e depois sorriu, aquele raro sorriso que iluminava seu rosto e alterava toda a natureza do mesmo. O sorriso que Anahí uma vez temeu que houvesse se perdido para sempre, com Ucker, pela escuridão da Cidade do Silêncio. Ucker não estava morto, mas parte de Poncho foi com ele quando este se foi, um pedacinho arrancado do coração de Poncho e enterrado entre os ossos sussurrantes. E Anahí se preocupou naquela primeira semana, temeu que Poncho não fosse se recuperar, que fosse ser eternamente uma espécie de fantasma, vagando pelo Instituto, sem comer, sempre virando para falar com alguém que não estava ali, a luz do rosto se apagando ao se lembrar e se calar.
Mas ela estava determinada. Seu próprio coração estava partido, mas consertar o de Poncho, tinha certeza, significaria consertar o próprio, de alguma forma. Assim que se sentiu suficientemente forte, decidiu que levaria chá para ele, mesmo que ele não quisesse, levaria livros, o levaria para a biblioteca e pediria ajuda para treinar. Suplicou a Maite que parasse de tratá-lo como um vidro que ia quebrar e o mandasse para a cidade para lutar, como já tinha feito antes, com Gabriel ou Gideon em vez de Ucker. E Maite o fez, inquieta, mas Poncho voltava sangrando e ferido, porém com olhos vivos e acesos.
— Isso foi inteligente — disse Cecily a ela mais tarde, enquanto se colocavam perto da janela, observando Poncho e Gabriel conversando no jardim. — Ser Nephilim dá um propósito ao meu irmão. A Caça às Sombras vai consertar as feridas. A Caça às Sombras e você.
Anahí deixou a cortina cair e se fechar, pensativamente. Ela e Poncho não conversaram sobre o que aconteceu em Cadair Idris, na noite que passaram juntos. Aliás, ela parecia tão distante quanto um sonho. Como algo que tinha acontecido com outra pessoa, e não com ela, não com Anahí. Não sabia se Poncho sentia o mesmo. Sabia que Ucker sabia, ou supunha, e que perdoou os dois, mas Poncho não havia se aproximado outra vez, nem dito que a amava, nem perguntado se ela o amava, desde o dia em que Ucker se foi.
Parecia que eras intermináveis tinham se passado, apesar de terem sido apenas duas semanas, até Poncho encontrá-la sozinha na biblioteca e perguntar – um tanto bruscamente – se ela faria um passeio de carruagem com ele no dia seguinte. Confusa, Anahí concordou, imaginando secretamente se havia algum outro motivo para ele querer sua companhia. Um mistério a ser investigado? Uma confissão?
Mas não, foi apenas um passeio de carruagem pelo parque. Estava ficando frio, e o gelo cobria as bordas dos lagos. Os galhos nus das árvores eram ermos e adoráveis, e Poncho conversou educadamente sobre o tempo e os marcos da cidade. Ele parecia determinado a retomar a educação de Anahí sobre Londres de onde Ucker havia parado. Foram ao Museu Britânico, à National Gallery , ao Kew Gardens, e à Catedral de São Paulo, onde Anahí finalmente perdeu a paciência.
Estavam na famosa Galeria dos Sussurros, e Anahí, apoiada na grade, olhava para a catedral abaixo. Poncho traduzia as inscrições em latim na parede, onde Christopher Wren fora enterrado – Se procura o monumento dele, olhe em volta – quando Anahí esticou distraidamente a mão para alcançar a dele. Ele imediatamente recuou, enrubescendo.
Ela o olhou, surpresa.
— Algum problema?
— Não — respondeu ele, depressa demais — eu apenas... não a trouxe aqui para poder agarrá-la na Galeria dos Sussurros.
Anahí explodiu.
— Não estou pedindo para me agarrar na Galeria dos Sussurros! Pelo Anjo, Poncho, pode parar de ser tão educado?
Ele a olhou, espantado.
— Mas não prefere...
— Não prefiro. Não quero que seja educado. Quero que seja você! Não quero que me mostre marcos da arquitetura como se fosse um guia! Quero que diga coisas loucas e engraçadas, faça músicas e seja... — o Poncho por quem me apaixonei, quase disse. — E seja Poncho. — Foi como concluiu. — Ou devo agredi-lo com meu guarda-chuva?
— Estou tentando cortejá-la — respondeu Poncho, exasperado — cortejá-la adequadamente. É tudo por isso. Sabe disso, não sabe?
— O Sr. Rochester nunca cortejou Jane Eyre — observou Anahí.
— Não, ele se vestiu de mulher e apavorou a coitada. É isso que quer?
— Você seria uma mulher muito feia.
— Não seria nada. Seria linda.
Anahí riu.
— Pronto. Aí está Poncho. Não é melhor? Não acha?
— Não sei — disse ele, olhando para ela. — Tenho medo de responder isso. Ouvi dizer que, quando falo, mulheres americanas sentem vontade de me atacar com guarda-chuvas.
Anahí riu outra vez, e logo os dois estavam rindo, as risadas sufocadas ecoando nas paredes da Galeria dos Sussurros. Depois disso, as coisas se tornaram decididamente mais fáceis entre os dois, e o sorriso de Poncho ao ajudá-la a saltar da carruagem na volta foi alegre e verdadeiro.
Naquela noite, houve uma leve batida à porta de Anahí, e quando ela foi atender, não encontrou ninguém, apenas um livro no chão. Um conto de duas cidades. Um presente estranho, pensou. Havia uma cópia na biblioteca, que ela podia ler sempre que quisesse, mas esta era nova, com uma nota da Hatchards marcando a primeira folha. Só quando levou o livro consigo para a cama foi que percebeu que havia uma inscrição na mesma página.
Annie, Annie, Anahí.
Já houve algum som mais belo que seu nome? Dizê-lo em voz alta faz meu coração tocar como um sino. Estranho imaginar isso, não? – um coração tocando? Mas quando você me toca, é assim que me sinto, como se meu coração soasse no peito e a música percorresse minhas veias e explodisse meus ossos com alegria.
Por que escrevi estas palavras neste livro? Por sua causa. Você me ensinou a amar esta história, quando eu a desprezava. Quando li pela segunda vez, com mente e coração abertos, senti um completo desespero e uma inveja de Sydney Carton – sim, Sydney, pois por mais que não tivesse qualquer esperança de ser amado pela mulher que amava, ele, ao menos, conseguia se declarar. Ao menos, podia fazer algo que provasse sua paixão, ainda que a coisa em questão fosse morrer.
Eu teria escolhido a morte por uma chance de lhe dizer a verdade, Anahí, se pudesse ter a certeza de que a morte seria minha. E por isso invejei Sydney, por ele ser livre.
E agora finalmente estou livre e, finalmente, posso lhe dizer, sem que isso a ponha em perigo, tudo que sinto no meu coração. Você não é o último sonho da minha alma. É o primeiro, o único que jamais fui capaz de evitar. É o primeiro sonho da minha alma, e deste sonho espero que venham todos os outros, uma vida inteira.
Esperançoso, afinal,
Alfonso Herrera
Autor(a): Alien AyA
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 325
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nandacolucci Postado em 27/09/2015 - 09:05:03
que tristeza vc não vai postar mais fic :( poncho morreu que final em <3 :´(
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franmarmentini♥ Postado em 25/09/2015 - 14:54:43
adri...eu quase morri de tanto chorra...poncho morreu...isso acabou comigo...ai deus ai deus...eu to mal...nao quero que vc pare de postar!!!!!!!!!!!! plis!!!!!!!!!!!!!!
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franmarmentini♥ Postado em 25/09/2015 - 14:01:53
que lindo!!!!!!!!!!!!!!!!!
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franmarmentini♥ Postado em 25/09/2015 - 13:25:12
adri...mas achei os outros livros..vc tem que postar os outros doissssssssssssssssssss
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Mila Puente Herrera Postado em 24/09/2015 - 00:56:54
Chorei :/ Adeus não viu Adri..
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franmarmentini♥ Postado em 23/09/2015 - 14:25:10
chorrei bastante viu... ;(
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franmarmentini♥ Postado em 23/09/2015 - 14:15:37
nossa...cara que tristeza eu vendo poncho viu...ele só sofre...o melhor amigo se foi...e a mulher que ele ama..ama outro.
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franmarmentini♥ Postado em 23/09/2015 - 13:53:21
sinceramente...não gostei..desse negocio da any ainda continuar haver o ucker...pelo jeito se fosse pra ela escolher ela sempre iria ficar com ele e não o poncho..
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Postado em 23/09/2015 - 13:52:16
sinceramente...não gostei..desse negocio da any ainda continuar haver o ucker...pelo jeito se fosse pra ela escolher ela sempre iria ficar com ele e não o poncho.
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franmarmentini♥ Postado em 22/09/2015 - 22:32:41
Nossa....