Fanfic: Anjo Mecânico [FINALIZADA] | Tema: Anahi, Alfonso, Christopher, Suspense, Anjo Mecânico
Epílogo
Digo que o túmulo no qual o morto está fechado
Abre o salão Celestial;
E o que colocamos aqui para o fim de tudo
É o primeiro passo de tudo.
– Victor Hugo, At Villequier
Londres, Ponte Blackfriars, 2008
O vento estava forte, soprando poeira e sujeira – sacos de salgadinho, páginas de jornal, velhas receitas – pela calçada enquanto Anahí olhava rapidamente de um lado para o outro, a fim de verificar o trânsito e atravessar a Ponte Blackfriars.
Para qualquer passante, ela pareceria uma garota normal, no final da adolescência ou com 20 e poucos anos: jeans para dentro das botas, casaco de cashmere que comprou na liquidação de janeiro, e cabelos longos e castanhos, que ondulavam um pouco pelo tempo úmido, batendo em suas costas. Se a pessoa fosse muito ligada em moda, presumiria que seu cachecol fosse uma imitação e não um original Liberty de cem anos, e que a pulseira no braço era uma antiguidade, e não um presente que recebeu do marido ao completar trinta anos de casamento.
Os passos de Anahí desaceleraram ao alcançar um dos intervalos de pedra na parede da ponte. Agora havia bancos de cimento nela, para que fosse possível sentar e olhar para a água verde cinzenta batendo na ponte ou para a catedral de São Paulo ao longe. A cidade estava viva com o barulho – ruídos do trânsito: buzinas, ônibus de dois andares; dezenas de celulares tocando; conversas de pedestres; ruídos fracos de música vazando de fones de iPod.
Anahí se sentou no banco, puxando as pernas para si. A atmosfera estava surpreendentemente limpa e clara – a fumaça e a poluição que deixavam o ar amarelo e preto quando ela era menina desapareceram, e o céu tinha a cor de um mármore azul cinzento. O horror que era a ponte Dover End Chathan também não existia mais; apenas os pilares ainda ficavam na água como um estranho lembrete do que um dia havia sido. Boias amarelas flutuavam na água agora, barcos de turistas passavam, as vozes amplificadas dos guias turísticos vazavam por alto-falantes. Ônibus tão vermelhos quanto balinhas de coração corriam pela ponte levantando folhas mortas que voavam sobre o meio-fio.
Ela olhou para o relógio no pulso. Cinco para meio-dia. Chegou um pouco cedo, mas ela sempre chegava cedo para o encontro anual. Tinha uma chance de pensar – pensar e lembrar, e não havia lugar melhor para isso do que aqui, na Ponte Blackfriars, o primeiro local onde realmente conversaram.
Ao lado do relógio, a pulseira de pérolas que sempre usava. Ela nunca a tirava. Poncho lhe dera de presente de trinta anos de casados, sorrindo ao colocá-la. Naquela época, ele tinha cabelos grisalhos, ela sabia, apesar de nunca reparar. Como se seu amor tivesse dado a ele sua própria habilidade de alterar a forma, independentemente de quanto tempo passasse, quando olhava para ele, sempre via o menino selvagem de cabelos negros por quem se apaixonou.
Ainda lhe parecia incrível que tivessem conseguido envelhecer juntos, ela e Poncho Herrera, que Gabriel Lightwood uma vez disse que jamais viveria além dos 19 anos. Foram bons amigos dos Lightwood ao longo de todos os anos.
Claro que Poncho não podia deixar de ser amigo do homem que casou com sua irmã. Tanto Cecily quanto Gabriel viram Poncho no dia que ele morreu, assim como Sophie, apesar de Gideon já ter morrido há alguns anos. Anahí se lembrava claramente daquele dia, o dia em que os Irmãos do Silêncio disseram que não teriam mais o que fazer para manter Poncho vivo. Naquele momento, ele já não conseguia mais sair da cama. Anahí esticou os ombros e foi transmitir a notícia à família e aos amigos, tentando se manter o mais calma possível por eles, apesar da sensação de que seu coração estava sendo arrancado do peito.
Foi em junho, no verão de 1937, e, com as cortinas abertas, o quarto estava cheio de luz do sol, luz do sol e os filhos de Anahí e Poncho, os netos, sobrinhas e sobrinhos – os meninos de olhos azuis de Cecy, altos e bonitos, as meninas de Gideon e Sophie – e aqueles que eram tão próximos quanto a família: Maite, de cabelos brancos e presos, e os filhos e filhas dos Perroni, com seus cabelos ruivos e cacheados como outrora foram os de Henry.
Durante todo o dia, Anahí ficou sentada na cama ao lado de Poncho, deitado no ombro da esposa. A imagem poderia ter parecido estranha aos outros, uma jovem com um homem que parecia velho o bastante para ser seu avô, de mãos dadas, mas, na família deles, era normal – eram Anahí e Poncho. E por serem Anahí e Poncho, pessoas entraram e saíram durante todo o dia, como faziam os Caçadores de Sombras no leito de morte, contando histórias sobre a vida de Poncho e todas as coisas que ele Anahí fizeram durante seus longos anos juntos.
Os filhos falaram carinhosamente sobre como o pai sempre amou a mãe, feroz e dedicadamente, sobre como ele jamais teve olhos para mais ninguém, e sobre como eles deram o exemplo para o tipo de amor que esperavam encontrar um dia. Falaram sobre livros com grande apreço, e sobre como ele os ensinou a amar as leituras também, a respeitar a página escrita, e a admirar as histórias que contavam. Falaram sobre como ele ainda praguejava em galês quando derrubava alguma coisa, apesar de raramente utilizar a língua, e sobre como tinha excelente prosa – escreveu várias histórias sobre Caçadores de Sombras depois que se aposentou e foi muito respeitado – e como sua poesia sempre foi péssima, embora isso nunca o tenha impedido de recitá-las.
O filho mais velho, Christopher, falou alegremente sobre o medo de patos, e sobre a batalha contínua para mantê-los longe do lago da casa da família em Yorkshire. Os netos se lembraram da música que ele ensinou sobre varíola demoníaca – quando eram jovens demais, Anahí sempre achou – e que todos decoraram. Cantaram juntos e fora de tom, escandalizando Sophie.
Com lágrimas correndo, Cecily lembrou o momento de seu casamento com Gabriel, quando ele fez um belo discurso elogiando o noivo, ao fim do qual anunciou:
— Meu Deus, achei que estivesse se casando com Gideon. Retiro tudo o que disse.
Com isso, envergonhou não apenas Cecily e Gabriel, mas Sophie também – e Poncho, apesar de cansado demais para rir, sorriu para a irmã e segurou sua mão. Todos riram sobre seu hábito de levar Anahí em “férias” românticas a locais de livros góticos, inclusive aquela terrível montanha onde alguém morreu, um castelo mal-assombrado e, claro, a praça em Paris onde ele concluiu que Sidney Carton tinha sido guilhotinado, e Poncho chocou um passante ao gritar em francês:
— Estou vendo sangue nas pedras!
Ao fim do dia, o céu havia escurecido, a família se reuniu em torno da cama de Poncho, e todos o beijaram, um por um, até Poncho e Anahí ficarem sozinhos.
Anahí deitou ao lado dele e passou o braço por baixo de sua cabeça, apoiando a cabeça em seu peito, escutando os batimentos cada vez mais fracos. E no escuro sussurraram, lembrando as histórias que só eles sabiam. Sobre a menina que jogou um jarro de água na cabeça do rapaz que foi resgatá-la, sobre como ele se apaixonou por ela naquele instante. Sobre um baile e uma varanda, e a lua navegando como um navio pelo céu. Sobre as batidas das asas de um anjo mecânico. Sobre água benta e sangue.
Perto da meia-noite a porta se abriu, e Ucker entrou. Anahí supunha que àquela altura já deveria pensar nele como Irmão Zacarias, mas nem Anahí nem Poncho jamais o chamaram assim. Ele entrou como uma sombra em suas vestes brancas, e Anahí respirou fundo ao vê-lo, pois sabia que era por isso que Poncho esperava, e que a hora era aquela.
Ele não foi diretamente para Poncho, mas atravessou o quarto até uma caixa de madeira que ficava no topo da cômoda. Para sempre guardaram o violino de Ucker, como Poncho havia prometido. Era mantido limpo e em perfeito estado, e as dobradiças do estojo não rangeram quando Ucker abriu e pegou o instrumento.
Eles olharam enquanto pegava o arco com seus dedos esguios e familiares, os pulsos pálidos desaparecendo sob o tecido ainda mais pálido da túnica dos Irmãos.
Então, ele levou o violino ao ombro e ergueu o arco. E tocou.
Zhi yin. Certa vez, Ucker dissera a Anahí que isso significava entender a música e também um laço mais profundo que a amizade. Ucker tocou e tocou os anos da vida de Poncho como os enxergava. Tocou os dois meninos em uma sala de treinamento, um ensinando ao outro a arremessar facas, tocou o ritual de parabatai: o fogo, os votos e os símbolos ardentes. Tocou dois rapazes correndo pelas ruas de Londres no escuro, parando para se apoiar contra uma parede e rir. Tocou o dia na biblioteca em que ele e Poncho brincaram com Anahí sobre patos, tocou o trem para Yorkshire no qual Ucker falou que parabatai eram feitos para se amar como amavam as próprias almas. Tocou esse amor e tocou o amor de ambos por Anahí, o dela por eles, e tocou Poncho dizendo, em seus olhos, sempre encontrei a graça. Tocou as pouquíssimas vezes que os viu desde que entrou para a Irmandade – os breves encontros no Instituto; a vez em que Poncho foi mordido por um demônio Shax e quase morreu, e Ucker veio da Cidade do Silêncio para passar a noite ao lado dele, arriscando ser descoberto e punido. Tocou o nascimento do primeiro filho e a cerimônia de proteção aplicada na criança na Cidade do Silêncio. Poncho não aceitou que nenhum Irmão do Silêncio a executasse, além de Ucker. E Ucker tocou a maneira por que cobriu o rosto marcado com as mãos e virou as costas ao descobrir que o nome da criança era Christopher. Tocou amor e perda e anos de silêncio, palavras não ditas e votos não pronunciados, e todo o espaço entre seu coração e os deles; e, ao terminar, guardou o violino na caixa.
Os olhos de Poncho estavam fechados, mas os de Anahí, cheios de lágrimas. Ucker pousou o arco e foi para perto da cama, tirando o capuz, de modo que ela viu seus olhos fechados e o rosto com cicatrizes. Ele se sentou ao lado deles na cama, pegou a mão de Poncho, a que Anahí não estava segurando, e tanto Poncho quanto Anahí ouviram a voz de Ucker em suas mentes.
Pego sua mão, irmão, para que possa ir em paz.
Poncho abriu os olhos azuis que nunca perderam a cor ao longo dos anos e olhou para Ucker, depois para Anahí. Em seguida sorriu e morreu, com a cabeça de Anahí em seu ombro e a mão na mão de Ucker.
Lembrar-se da morte de Poncho nunca deixava de doer. Depois que ele se foi, Anahí fugiu. Seus filhos eram crescidos e tinham os próprios filhos; ela disse a si mesma que não precisavam dela e escondeu no fundo da mente o pensamento que a assombrava: não suportaria ficar e vê-los envelhecer mais do que ela. Uma coisa era sobreviver à morte do marido. Sobreviver à morte dos filhos – não podia ficar ali e assistir. Aconteceria, tinha de acontecer, mas não estaria presente.
Além disso, tinha algo que Poncho havia lhe pedido.
A estrada que levava de Shrewsbury a Welshpool não ficava no mesmo lugar de outrora quando Poncho a percorreu em uma busca insana para salvá-la de Mortmain. Poncho deixara instruções, detalhes, descrições de cidades, de um certo grande carvalho. Ela subiu e desceu a estrada diversas vezes em seu carro antes de encontrá-la: a árvore, exatamente como ele havia desenhado no diário que lhe deu. A mão tremia um pouco, mas a memória era perfeita.
A adaga estava ali, entre as raízes das árvores que cresceram ao redor do cabo. Ela precisou cortar algumas, cavar a terra e as pedras com uma espátula antes de conseguir libertá-la. A lâmina de Ucker agora estava manchada pelo clima e pela passagem do tempo. Entregou-a a Ucker naquele ano, na ponte. Era 1937 e ainda não tinha ocorrido o bombardeio dos nazistas que destruiu os prédios ao redor da catedral de São Paulo, enchendo o céu com fogo e queimando os muros da cidade que Anahí amava. Mesmo assim, havia uma sombra sobre o mundo, o indício de que a escuridão se aproximava.
— Eles se matam e se matam, e não podemos fazer nada — dissera Anahí, com as mãos sobre a pedra do parapeito da ponte.
Estava pensando na Grande Guerra e no desperdício de vidas. Não era uma guerra de Caçadores de Sombras, mas de sangue e guerra nasciam demônios, e era responsabilidade dos Nephilim impedir que os demônios causassem ainda mais destruição.
Não podemos salvá-los deles próprios, Ucker havia respondido. Estava com o capuz levantado, mas o vento soprou, mostrando a Anahí o lado da bochecha com a cicatriz.
— Algo se aproxima. Um horror que Mortmain só poderia imaginar. Sinto nos meus ossos.
Ninguém pode livrar o mundo de todo o mal, Anahí.
Fim
Bom finalmente um fim de uma historia, que eu sinceramente espero que vocês tenham gostado apesar de tudo.
Esse final não é apenas o fim dessa historia, mas sim é hoje que anuncio que não voltarei a postar fanfics aqui, ou pelo menos não por um bom tempo, estou literalmente me aposentado do fanfics brasil depois de quase 5 anos postando aqui (22/12 completara 5 anos) e uns 6 anos no site em si lendo fanfics; como vocês devem ter percebido nos últimos messes eu não postava mais com frequência já que eu comecei a faculdade de Ciências Contábeis e ano que vem iria ser quase impossível eu postar já que vou aumentar minha aulas por semana e farei curso de alemão e ainda mais trabalhando.
A quem quiser manter contato comigo meu twitter é @TraumerTH e meu facebook é adriana.schwarz.l, eu tenho whats porém isso só passando por mensagem privada ;)
Então... Adeus?
Autor(a): Alien AyA
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Comentários da Fanfic 325
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nandacolucci Postado em 27/09/2015 - 09:05:03
que tristeza vc não vai postar mais fic :( poncho morreu que final em <3 :´(
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franmarmentini♥ Postado em 25/09/2015 - 14:54:43
adri...eu quase morri de tanto chorra...poncho morreu...isso acabou comigo...ai deus ai deus...eu to mal...nao quero que vc pare de postar!!!!!!!!!!!! plis!!!!!!!!!!!!!!
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franmarmentini♥ Postado em 25/09/2015 - 14:01:53
que lindo!!!!!!!!!!!!!!!!!
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franmarmentini♥ Postado em 25/09/2015 - 13:25:12
adri...mas achei os outros livros..vc tem que postar os outros doissssssssssssssssssss
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Mila Puente Herrera Postado em 24/09/2015 - 00:56:54
Chorei :/ Adeus não viu Adri..
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franmarmentini♥ Postado em 23/09/2015 - 14:25:10
chorrei bastante viu... ;(
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franmarmentini♥ Postado em 23/09/2015 - 14:15:37
nossa...cara que tristeza eu vendo poncho viu...ele só sofre...o melhor amigo se foi...e a mulher que ele ama..ama outro.
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franmarmentini♥ Postado em 23/09/2015 - 13:53:21
sinceramente...não gostei..desse negocio da any ainda continuar haver o ucker...pelo jeito se fosse pra ela escolher ela sempre iria ficar com ele e não o poncho..
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Postado em 23/09/2015 - 13:52:16
sinceramente...não gostei..desse negocio da any ainda continuar haver o ucker...pelo jeito se fosse pra ela escolher ela sempre iria ficar com ele e não o poncho.
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franmarmentini♥ Postado em 22/09/2015 - 22:32:41
Nossa....