Fanfic: Má Combinação | Tema: Romance, Roubo

As ruas do bairro estavam mais movimentadas que o comum. Geralmente não haveria muitas pessoas circulando pelo local aquela hora, mesmo porque não era uma atitude muito segura, pelo menos para quem não residisse por ali. Mas como aquela era a madrugada do Nuit Blanche muitas pessoas, desavisadas ou corajosas cortavam caminho pelo bairro. Uma ótima oportunidade para os moleques da área fazerem um “extra” as custas de um turista bobo. Eu mesmo fiz isso muitas vezes quando garoto, correndo pelas ruelas e becos junto com Damien. A mão mais leve da cidade, como eu orgulhosamente fiquei conhecido.

Balancei minha cabeça, procurando dispersar aquelas memórias e ouvi um ruído esquisito na rua principal, a única que ligava o bairro à cidade. A curiosidade me fez caminhar cautelosamente na direção do som.

O que eu vi a seguir foi uma das coisas mais estranhas de toda a minha vida. De pé próximo há um poste, havia uma jovem que aparentemente tinha uns vinte e poucos anos, com um sapato na mão, esbravejando com um táxi que se afastava o mais rápido que podia, o que não era muito, pois aquela banheira mal atingia uns quarenta por hora.

Me encostei num muro próximo, certificando-me de que as sombras me ocultassem por completo, e me dediquei observar a figura. Era uma bela jovem, de longos cabelos loiros e olhos castanhos. Seus lábios eram cheios e naturalmente avermelhados e ela estava corada, provavelmente pela irritação e o frio daquela hora.

Realmente, aquela moça não se encaixava nada com o ambiente. Usava um vestido caro e perfeitamente ajustado sobre suas curvas e joias delicadas, onde eu apostaria o meu traseiro que eram verdadeiras. Ela olhava de um lado para o outro e resmungava alto, mas logo a irritação deu lugar a um outro sentimento: medo. Provavelmente percebendo a circunstância na qual se encontrara, sozinha, tão tarde e sem conhecer o lugar onde estava.

Pensei em voltar para casa e deixar que a moça se virasse sozinha afinal, aquilo não era meu problema. Mas, quando vi Oliver e Denis se aproximarem da dela com sorrisos predatórios em seus rostos, meus dentes trincaram. Os dois trabalhavam para Lorenzo, ou melhor eram dois armários que faziam o serviço sujo para ele e não eram o tipos mais sutis de pessoa. E não iam se conformar e levar apenas dinheiro de uma mulher tão bonita. Decidi esperar mais um pouco e ver como as coisas se desenrolavam.

Denis tocou o braço da moça e disse algo em seu ouvido. Assustada, ela se afastou e murmurou algo que não deve ter sido nada elogioso pela carranca que se formou no rosto dele. Oliver riu como se tivesse acabado de escutar a melhor das piadas e segurou o outro braço da jovem que retrocedeu intimidada. Aquilo foi o suficiente para eu sair de meu esconderijo e me aproximar do trio.

–Bonjour mes amis! – disse em voz alta para chamar a atenção – uma bela noite não?

A dupla me encarou com desprezo. Nenhum dos dois nunca foi muito com a minha cara, mas apesar disso nunca passamos de ofensas verbais. Eles eram com cães de caça que só podiam atacar se o dono desse a ordem.

–O que você quer Dubois! – rosnou Oliver, o mais animalesco dos dois. Sua grossa barba o fazia parecer um desses caçadores reclusos – dê o fora e não nos incomode.

–Ora meu caro Oliver, não há motivo para ser tão grosseiro – retruquei sorrindo amplamente – ainda mais numa companhia tão bela e importante.

Os dois olharam para mim confusos e depois para a moça. Ela ergueu o nariz de maneira orgulhosa.

Eu continuei falando.

–Me desculpe ter me atrasado para encontrá-la mon cher, tive uns probleminhas no caminho– menti – espero que me perdoe.

Ela piscou, seus olhos demonstrando entendimento.

–Devo dizer que o seu atraso me proporcionou muitos incômodos – ela disse, entrando no jogo.

Denis soltou o braço da jovem como se ele acaba-se de descobrir que estava segurando uma serpente, e o amigo fez o mesmo.

–Vocês se conhecem? - indagou Oliver intrigado.

–Mas é claro! – afirmei como se fosse a coisa mais óbvia do mundo – ela é a prima da Mabelle.

Quando eu terminei a última frase os dois empalideceram. Mabelle era a última pessoa com quem eles gostariam de se meter mesmo porque ela era uma pessoa muito bem relacionada com do o tipo de poderosos da cidade. Nem mesmo o chefe deles tinha tanto poder. O plano estava funcionando perfeitamente.

–Bom eu só tenho a agradecê-los por cuidar dela enquanto eu não chegava – disse, mel escorregando de minhas palavras – vamos senhorita?

Ela aceitou sem pensar duas vezes a mão que eu oferecia andando de maneira esquisita por estar com o pé direito descalço.

–Errr... De nada – disse Denis sem jeito.

Oliver me lançou um olhar gelado e deixou um último comentário antes que nós nos afastássemos.

–Avisa pro Damien que o prazo dele tá acabando. E dessa vez, o chefe não vai dar segunda chance.

Minha vontade foi de socar aquele rosto e achatar ainda mais aquele nariz, removendo aquele sorriso patético do rosto dele, mas me controlei. Eu tinha muito mais a perder. Então me concentrei em manter o meu sorriso falso e na mão quente e delicada da minha acompanhante.