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Capítulo: 1? Capítulo

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CAPÍTULO I


 


        Dulce ergueu um pouco a voz, mal acreditando no que ouvira, ao declarar:


        _O senhor está falando sério?_ Devia ser uma brincadeira. E brincadeira de mau gosto, por sinal. Só que advogados não faziam esse tipo de brincadeira em consultas profissionais. _ Santo Deus! Fala sério mesmo?_ ela repetiu.


        O homem sentado à imponente escrivaninha de mogno sacudiu os ombros e respondeu:


        _Seu falecido pai expressou estar a par das dificuldades que a senhora encontraria.


        Dificuldades que nem por sombra descreviam as tolices que sua família complicada acumulara em sua cabeça, Dulce pensou.


        Não que se tratasse de algo novo. Em compensação, ela fora a predileta desde quando podia se lembrar. A menina de ouro do papai. A única filha de verdade. Mas havia um constante, um permanente espinho proveniente da segunda e terceira esposas de sue pai, e dos filhos anteriores. Ninguém poderia dizer que sua vida não fora interessante, Dulce refletiu. Três divórcios de seu pai, duas ardilosas ex-esposas e dois enteados, um menino e uma menina.


        Durante seus anos escolares freqüentara um colégio interno. Excetuavam-se as férias escolares, que as passava em casa, sendo a maioria delas um verdadeiro inferno com a fachada de prazer no relacionamento familiar.


        O tempo entre cada divórcio de seu pai fora como uma estiagem antes do próximo temporal. Mas, em vez de reduzi-la a nada, fortalecera seu desejo de ser uma valiosa sucessora dos numerosos interesses do pai, no mundo dos negócios.


        Isso para a delícia do homem que a pusera no mundo.


        Agora, esse mesmo homem erguia uma das mãos do túmulo a fim de ressuscitar uma parte de sua vida que ela lutava diariamente por esquecer.


        _Ele não pode fazer isso_ ela disse ao advogado, enquanto tentava esconder a onda de pânico que aos poucos a invadia.


        _Seu pai teve as melhores intenções ao agir assim.


        _Colocando nos termos do testamento a cláusula de que eu me reconciliasse com meu marido? Isso é ridículo!


        _Soube que seu divórcio ainda não tinha sido formalizado_ o advogado começou a falar.


        De fato, os papéis ainda não lhe haviam sido entregues para assinatura, tampouco a seu marido Chris, Dulce lembrou-se.


        _Não tenho intenção de permitir que Chris Uckermann volte à minha vida_ ela respondeu, com determinação.


        De nacionalidade grega, Chris emigrara para a Austrália muito jovem, na companhia de seus pais. Obtivera diplomas em várias atividades incluindo tecnologia industrial, tendo herdado vastos negócios quando o pai e mãe morreram em conseqüência de um acidente aéreo.


        Dulce conhecera Chris numa festa e a atração mútua fora imediata. Casaram-se três meses mais tarde.


        _Seu pai nomeou Chris Uckermann testamenteiro_ o advogado informou-a._ Um pouco antes de sua morte, indicou-o para a diretoria da Saviñon.


        Por que o pai não a informara sobre aquilo? Afinal, ela ocupava uma posição de responsabilidade nos negócios da firma.


        _Vou contestar esse testamento!_ Dulce declarou. Seu pai não podia ter feito isso com ela!


        _As condições do testamento são claras_ o advogado insistiu com gentileza. _ Cada uma das ex-esposas de seu pai terá direito a uma boa soma em dinheiro, mais uma pensão mensal suficiente para mantê-las com fartura na residência que receberam por ocasião do divórcio, até elas se casaram de novo. Há uma parte reservada a obras de caridade e o restante será dividido em três porções, para você, para Chris e para os filhos que vocês tiverem. Mas há uma condição_ ele continuou, é imprescindível que a senhora e Chris Uckermann suspendam a ação de divórcio e morem na mesma casa, pelo tempo mínimo de uma ano.


        Teria Chris Uckermann sabido dessas condições quando fora ao enterro de seu pai havia menos de uma semana?


        Sem dúvida, Dulce concluiu, lembrando-se de como ele se comportara, observando tudo, as mãos geladas, quase impessoal, quando a tocara e roçara os lábios em seu rosto.


        Pronunciara algumas palavra de condolências mas não acompanhara o enterro de Fernado Saviñon. Seguira para a própria casa.


        _E se eu não concordar com o último pedido de meu pai?


        _Nesse caso  Chris Uckermann terão controle da diretoria, e participação efetiva  no setor financeiro da Saviñon.


        Dulce não podia acreditar naquilo, não podia aceitar que Fernado fosse tão longe para satisfazer seu desejo de ter a filha reconciliada com um homem que ele considerava perfeito para ela.


        Isso é ridículo_ Dulce protestou. Ela era a herdeira legítima do império Saviñon. Não pelo dinheiro... tampouco pelos tijolos e cimento, ações e apólices.


        Mas pelo que tudo representava. O suor e o trabalho de um jovem irlandês de Tullamore que, na idade de quinze anos, fora para a Austrália a fim de começar nova vida em Sydney, no trabalho de construções. Aos vinte anos formara sua própria companhia e fizera seu primeiro milhão. Aos trinta anos transformara-se numa lenda e fora festejado como tal. Pertencendo à alta sociedade de Sydney pudera escolher a mulher que desejava e se casara, tivera uma filha. Metera-se várias vezes com mulheres e casara-se mais de uma vez. Três, ao todo.


        Para Dulce, o pai fora seu ídolo. Um homem alto, moreno, cuja risada começava na barriga e rolava até a boca onde se transformava num grito. Um homem que a carregara nos braços, esfregara o rosto contra o dela, que lhe contava histórias que encantariam até as fadas, e que a amara incondicionalmente.


        Desde muito jovem Dulce brincara em seu império, no escritório, sentada nos joelhos dele, absorvendo detalhes dos negócios. Nas férias escolares acompanhava-o nas visitas às construções. Dulce adorava essas visitas. Se Fernado tivesse notado que aquilo a aborrecia, nunca a teria levado de novo.


        E isso a faria sofrer mais do que qualquer palmada paterna, pois herdara o amor do pai em criar alguma coisa magnífica de tijolos e argamassa. Casas, edifícios, torres. Nos últimos anos Fernado Saviñon confiara as construções a pessoas da firma, mas tudo recebia seu toque pessoal. Fora seu orgulho de irlandês e o dela, ver a obra concluída.


        Imaginar passar tudo aquilo a Chris Uckermann, era inadmissível. Seu pai não podia ter feito tal coisa... Saviñon pertencia a uma Saviñon.


        _A senhora recusa?_ o advogado perguntou.


        Dulce levantou-se e, erguendo a cabeça com um gesto de desafio, disse:


        _Chris Uckermann não ganhará o controle total de Saviñon.


        Os olhos dela tinham o tom verde dos campos da terra de seu pai, Um verde brilhante. Isso enfatizado pelo tom creme da pele e a cor avermelhada dos cabelos que lhe caíam pelas costas.


        Apesar de Fernado Saviñon ser um homem grande, Dulce herdara a estrutura pequena da mãe, as curvas suaves. Os cabelos e olhos herdara-os da avó paterna, como também o temperamento.


        _Quer dizer que a senhora concordará com a vontade de seu pai expressa no testamento?


        Morar com Chris Uckermann? Dividir a mesma casa, a mesma vida com ele durante um ano?


        _Se isso for absolutamente necessário...


        Porém Dulce tinha certeza de que, apesar de casados, estariam separados no fim de alguns meses.


        A meta do advogado no momento era garantir que as exigências de Fernado Saviñon fossem legalmente mantidas.


        _Providenciarei para que as determinações do testamento sejam observadas_ declarou ele.


        _Meu pai especificou uma data para essa reconciliação?


        _Dentro de sete dias após sua morte.


        Fernado Saviñon nunca fora homem de perder tempo, mas uma semana era zelo demais, não era?!


        Dulce olhou detalhadamente para os móveis suntuosos, os quadros que adornavam as paredes, as vidraças pesadas, e apreciou a vista da baía.


        De súbito, desejou sair, desejou abandonar as questões legais. Sentiu necessidade do ar fresco em seu rosto, de descer a capota do Porsche e dirigir deixando o cento brincar com seus cabelos e corar seu rosto. Sentiu necessidade de ter liberdade para pensar antes de conversar com Chris.


        _Imagino que entraremos em contato muito em breve. _ Ela estendeu a mão ao advogado, murmurou algumas palavras amáveis e foi a Recepção.


        O advogado acompanhou-a e deixou no elevador.


        _Não havia dúvida de que Dulce Uckermann era uma linda mulher, no modo como caminhava, na graça dos movimentos, e aqueles cabelos...


        Ele suspirou.


        Dulce desceu até o térreo, atravessou a rua e apanhou seu carro no estacionamento.


        Eram quase cinco horas. Seguiu a corrente do tráfego. Assim que o trânsito ficou menos congestionado, acelerou.        


        Eram quase seis horas quando chegou à margem com vista para a praia. Havia um petroleiro ao longo descendo vagarosamente para a baía, e algumas crianças brincavam na areia sob a supervisão dos pais.


        Gaivotas seguiam pela superfície das águas e moviam suas asas em arco gracioso. Era uma cena de paz, uma cena de que ela desesperadamente precisava para abrandar a dor de sua recente perda. Havia muito para ser organizado, uma família com quem se entender.


        E agora havia Chris.


        Tudo se acabara. E tinha de cicatrizar suas feridas.


        Mentiroso.


        Era só pensar nele para se lembrar do que houvera entre ela e Chris. Não se passava um dia em que ele não surgisse em sua memória, não invadisse sua mente, não tomasse posse de seus sonhos, e não se transformasse em seu pior pesadelo.


        Com freqüência Dulce acordava suando, sentindo as mãos de Chris, os lábios dele, numa sensação tão real que quase juraria o ter em sua cama.


        Contudo, estava sempre só, o sistema de segurança intacto. E passava o resto da noite lendo ou assistindo a um filme na tevê, numa tentativa de espantar fantasmas.


        Ocasionalmente encontrava-se com ele em alguma reunião social. Cumprimentavam-se, trocavam algumas palavras... e se afastavam. Porém Dulce ficava sempre consciente daquele olhar insistente dele, do poder que emanava daquele corpo, do calor sensual...


        Mesmo agora, uma sensação vinda do interior se espalhava por todo seu corpo como uma língua de fogo, ativando cada zona erótica sua.


        Isso era loucura. Ela suspirou fundo uma, duas, três vezes.


        Por Deus, dizia a sim mesma, lembre-se da razão pela qual se afastou dele.


        Como podia se esquecer da notícia confirmada pela ex-amante de Chris de que estava grávida, sendo Chris o pai da criança por nascer?


        Belinda Shull, modelo cuja linda imagem enfeitava a capa de várias revistas. A data da concepção coincidia com o tempo em que Chris estivera fora do país, em negócios.


        Belinda garantia que o affair entre os dois não terminara com o casamento. E, apesar da insistência de Chris de que aquilo não era verdade, que o filho não era dele, Dulce fez suas malas e mudou-se para acomodações temporárias.


        Mesmo agora, passado meses, a lembrança da dor, eram tão intensas como haviam sido no dia em que o deixara.


        O telefone celular soou no silêncio, interrompendo sua solidão. Era um chamado de sua mãe.


        _Blanca!


        _Queria, esqueceu-se de que iríamos jantar juntas esta noite para depois irmos ao teatro?


        Dulce fechou os olhos e disse:


        _Podemos pular o jantar? Apanharei você às sete e meia. Ou melhor, sete e quarenta e cinco.


        E Dulce conseguiu fazer isso, apesar do tempo exíguo. Juntas, elas entraram no auditório e, apenas sentaram-se, o pano ergueu.


        Entre os atos ela e a mãe foram ao saguão, tomaram um refrigerante e conversaram. Blanca tinha uma butique muito exclusiva na Double Bay. Adquirira-a depois do divórcio e se transformara numa mulher de grande sucesso nos negócios.


        _Separei algumas roupas de minha butique para você_ disse Blanca.


        _Obrigada. Vou lhe escrever um cheque.


        _É um presente, querida.


        Naquele instante, Dulce sentiu qualquer coisa. Apenas um homem tinha aquele efeito nela. Virou-se devagar e deparou com Chris Uckermann num grupo de amigos. Dois homens, duas mulheres. Um grupo perfeito.


        Chris inclinava a cabeça na direção de uma loira linda. Ele desviou o olhar e viu-a.


        Chris tinha uma altura avantajada, ombros largos, que chamavam a atenção de qualquer um.


        Os ossos da face herdara-os de seus antepassados gregos, os grandes malares, o forte queixo, uma boca que prometia milhares de delícias sensuais, e olhos escuros como o pecado. Ele tinha uma aura de poder como uma segunda pele. Os cabelos negros, mais longos do que se usava no momento, acrescentavam um tom individual ao homem cuja força de vontade era igualmente admirada como temida pelos seus contemporâneos.


        Mas, se ele pensava que iria intimidá-la, estava enganado. Dulce ergueu a cabeça e seus olhos brilharam como chama verde no instante em que ela de propósito deu-lhe as costas.


        A campainha eletrônica soou, avisando que o show iria continuar.


        Dulce não conseguiu prestar mais atenção em nada. Tentou focalizar a vista nas pessoas que passavam por ela, na saída, para não ir de encontro ao homem que sacudira suas emoções, que a desequilibrara.


        _Não... _ela sussurrou, quase chegando à porta.


        _Dulce! Blanca!


        A voz dele era como cetim negro, perigosa, sob o sofisticado verniz de cortesia.


        _Ora, ora, Chris_ disse Blanca com prazer, enquanto ele roçava os lábios no rosto dela. _ Que bom ver você!


        Traidora, Dulce disse mentalmente. Blanca havia sido uma das pessoas conquistadas por Chris, desde o início. E ainda era.


        _Igualmente_ ele respondeu. _ Jantar amanhã à noite. Às sete?_ Ele perguntou a Dulce.


        Maldito! A palavra sumiu na garganta dela à vista da surpresa da mãe. Quanto a Chris, maldito seja ele, apenas ergueu a sobrancelha.


        _Dulce não lhe contou nada?_ perguntou.


        _Não!_ Foi Dulce quem respondeu.


        _Fernado_ Dulce achou melhor falar a verdade à mãe, mas o fez com ironia_, em sua infinita sabedoria, impôs uma condição em seu testamento, que eu morasse na mesma casa com Chris durante um ano. Se eu não fizer isso, Chris terá quase total controle da Saviñon. Farei de tudo para evita que isso aconteça.


        _Oh, por Deus!_ Blanca exclamou.


        Ela conhecia muito bem seu ex-marido. Havia uma vontade de ferro por baixo daquele charme irlandês. Havia muito que o perdoara. Pois uma coisa que resultara daquela união fora Dulce.


        _Seu pai era um louco. Mas um louco inteligente_ comentou Blanca. Oh, sim, Fernado fora um homem astuto. E ela gostara muito do grego com quem a filha se casara.


        Blanca, como você pode me fazer tal coisa?, Dulce disse a si mesma. Enquanto tento matar meus próprios dragões esperava que você ficasse ao meu lado, e não recebendo bem meu inimigo, com toda sua graça e charme.


        Chris observava sua esposa com cuidado. Ela emagrecera, estava pálida, e no momento controlava sua fúria.


        _Boa noite_ Dulce disse.


        A despedida foi fria. Gelada, com um quê de desdém.


        Ela percebeu o que Chris ia fazer um segundo antes de ele baixar a cabeça. E Chris antecipou o movimento, beijando-se na boca, o que destruiu todas as defesas de sua mulher.


        Breve, evocativo, possessivo, o beijo trouxe uma lembrança vívida do que tudo fora um dia.


        E que voltaria s ser de novo.


        Foi uma informação silenciosa, nada de ameaça nem de desafio. Meramente um fato.


        _Sete horas, Dulce_ Chris declarou, e recebeu como resposta um olhar de ódio.


        Calma, controle-se, ela recomendou a sai mesma. E disse?


        _Fale o nome do restaurante e me encontrarei com você lá.


        _No foyer do Ritz-Carlton.


        _Tudo bem.


        Chris saudou Blanca e tomou o caminho da porta.


        _Não diga nada_ Dulce pediu à mãe.


        _Querida, eu não sonharia em fazer isso_ Blanca respondeu, com um sorriso.



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Autor(a): dullinylarebeldevondy

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Comentários da Fanfic 128



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