Fanfic: Calor Perverso | Tema: Vondy

— Marietta? — Dulce perguntou, sua confusão crescendo. Marietta havia sido a gestora de Stephen na Chandler Financial há anos atrás. Parecia tão bizarro a Dulce ouvi-lo dizer o nome dela de repente.
— ... Você estava toda chateada naquele dia... Sei que nós concordamos que eu levaria Michael à pré-escola às segundas-feiras... mas eu tinha que estar na reunião do Marchant... O que era o seu trabalho em comparação ao meu? Hein? Eu era o único que fazia todo o dinheiro... Por que eu deveria me preocupar em levar o garoto para a escola?
Dulce saltou quando Stephen, violentamente, atingiu sua coxa novamente enquanto andava.
— Stephen? Não... Você vai se machucar. Stephen... por favor... — Dulce tentou romper sua agitação crescente, mas ele não lhe deu nenhuma atenção. Com o canto do olho ela viu Eli deixando sua revista e ficando em pé.
Com todo o terror e choque que se seguiu quando Matthew Manning abriu fogo em um grupo de crianças, pais e professores naquele dia, matando três adultos e quatro crianças, Dulce havia esquecido completamente que ela e Stephen haviam discutido sobre quem levaria Michael a pré-escola naquela manhã.
— Era você quem deveria ter levado Michael para a escola — Stephen gritou de repente, algumas gotas de saliva espirraram com força de sua boca.
O coração de Dulce palpitou horrivelmente em seu peito.
— Mais fui eu, Stephen — disse ela com voz trêmula. — Eu não sei o que você quer dizer... Fui eu quem levou Michael à escola naquele dia.
Stephen parou abruptamente e se virou. Seu rosto parecia uma máscara horrenda, torcida e rígida. Somente seus olhos pareciam reais quando espiaram o mundo exterior, fazendo Dulce pensar em um selvagem e perigoso animal preso.
— Mas devia ter sido eu! — Stephen gritou, de repente, seu tom de voz era uma mistura de horror e pesar. — Se eu estivesse lá, talvez... talvez...
Dulce negou com a cabeça enquanto as lágrimas corriam por seu rosto. Ela não tinha ideia do quanto ele sofria com a culpa. Ela sempre assumiu que quando ele esbravejava com ela, em sua confusão e loucura, gritando ―deveria ter sido você‖, ele expressava um desejo angustiado de que era Dulce quem deveria ter sido a vítima em vez de seu filho.
— Não, Stephen... você não poderia ter impedido — ela sussurrou. — O que se passava na cabeça de Matthew Manning não fazia sentido. Ninguém poderia ter previsto aquilo. Você não teria mudado as coisas.
— Stephen? — Eli falou quando se aproximou de lado, cuidando para não fazer movimentos bruscos. Vários outros assistentes entraram no quarto da unidade bloqueada, movendo-se rapidamente em direção a Stephen. Dulce percebeu de longe que Eli devia ter ativado algum tipo de alarme. — Por que não voltamos para o seu quarto por um tempo, cara?
Dulce nem piscou quando Stephen investiu contra ela violentamente. Era como se alguma parte primitiva de seu ser tivesse estado esperando por aquilo. Ele havia estado em contato com sua culpa continuamente, e isso deve ter sido muito doloroso para ele.
A defesa da loucura precisaria ser erguida novamente.
— Devia ter sido você, Dulce — ele rosnou.
E nesse momento Dulce sabia que não estava errada em pensar que Stephen tinha um desejo primitivo de que ela estivesse morta em vez de seu filho. Porém seu desejo era mais complicado do que ela assumira. Na verdade, a cada vez que ele disse a ela que deveria ter sido ela, o que ele realmente quis dizer foi ―Deveria ter sido eu‖. Deveria ter sido ele a levar Michael à pré-escola naquele dia... Deveria ter sido ele a morrer em vez de um inocente menino de quatro anos de idade. Mas sua culpa equivocada era tão intensa que, para sobreviver psicologicamente, ele precisava projetá-la para Dulce.
Ele exigiu o isolamento de sua loucura.
Eli parou o avanço violento de Stephen em direção a ela, agarrando-o por trás, imobilizando seus braços nas laterais de seu corpo. Os reluzentes e alucinados olhos de Stephen permaneceram colados em Dulce quando ele dobrou os joelhos e tentou jogar Eli longe dele, fazendo com que ambos perdessem o equilíbrio e caíssem pesadamente no chão. Ele lutou como um animal selvagem, quando os outros assistentes correram para ajudar Eli, que tentava conter as tentativas desesperadas de Stephen para lidar com sua própria culpa.
— Vá, Sra. Savinon. Sua presença está tornando tudo pior — um dos atendentes mais antigos ladrou para ela antes de voltar sua atenção à tentativa de conter as pernas de Stephen.
Dulce se levantou e caminhou com dificuldade para a saída de visitantes. Uma enfermeira com expressão preocupada no rosto a obsevava através da grossa porta de metal. Dulce ouviu a voz de Stephen atrás dela, já estava se tornando rouca devido às suas repetitivas e severas reclamações.
— Devia ter sido você!
A porta de segurança se fechou atrás dela pela última hora e havia apenas silêncio.