Fanfic: Calor Perverso | Tema: Vondy

Capitulo Vinte e Um.

Em seu quarto de hospital, Donny Farrell estava determinado a tentar mudar o canal da televisão com o controle remoto, mas sua mão direita não estava cooperando da maneira que ele queria. Sua falta de coordenação e dor no braço direito fortemente enfaixado sombrearam suas feições juvenis.
— Use a mão esquerda — Tim instruiu com calma. — Você vai ter que se acostumar a usá-la por um tempo de qualquer maneira enquanto o seu braço melhora.
Donny fez uma careta, mais de irritação do que de dor.
— A médica disse que a bala não chegou a atingir o osso. Não é sério — insistiu Donny quando encontrou o olhar do homem taciturno que estava sentado no parapeito da janela, o brilhante sol da tarde deixava seu corpo e rosto na sombra. — Sério, Christopher. Tiro limpo – foi assim que ela chamou – direito, através do músculo — explicou Donny falando do assunto com naturalidade, quando acenou para o controle remoto. — Ela disse que só me mantiveram aqui durante a noite para verificar os resultados de alguns testes. Eu me sinto bem... Talvez um pouco fraco por causa da perda de sangue.
Christopher não disse nada. Meg devia estar pensado que o silêncio do irmão queria dizer que, na sua cabeça, Donny deveria atirar uma bola de futebol no gramado naquele segundo.
— Bem, eu, por exemplo, estou feliz por eles terem mantido você aqui durante a noite. Não sei o que aconteceu com os hospitais, agora uma pessoa leva um tiro – um tiro! – e é liberada no dia seguinte, como se só tivesse retirado as amígdalas ou algo assim.
Ela balançou a cabeça em desgosto. Somente Dulce, Tim, Christopher e ela haviam visitado Donny desde que ele fora internado no hospital. Meg havia percebido como Dulce parecia esgotada mais cedo, e tanto ela quanto Donny a haviam encorajado a voltar para a fazenda e tirar um cochilo. Christopher não parecia muito contente com o fato de Dulce não estar mais lá quando ele chegou, mas apesar de tudo, Meg pensou que ele estava contendo-se, admiravelmente, para ir atrás dela.
Se a mãe alienada de Donny estava no hospital, Meg não sabia. Mas se estivesse, provavelmente concentraria sua atenção em Eric Farrell, outro dos irmãos de Donny, que também fora baleado na briga. Eric estava estável, mas seu estado era muito mais sério do que o de Donny.
Ainda assim, o coração de Meg doía por Donny. Ele nunca havia perguntado pela mãe, não parecia nem mesmo esperar que Deloris Farrell fosse visitá-lo.
Meg imaginou que Donny deveria estar sob o efeito dos analgésicos naturais que o choque e a adrenalina proporcionam desde o incidente na fazenda Farrell, que culminou em um de seus irmãos sendo gravemente ferido, outro homem quase ser morto e Errol sendo abatido com o último disparo.
Como diretora de Donny, Meg sentia-se obrigada a relatar a sua situação ao Departamento Apoio à Criança e à Família, se a polícia já não o tivesse feito. Ela duvidava que Donny a agradeceria por isso, mas Meg tinha uma obrigação tanto profissional quanto moral. Um jovem não deveria ser forçado a viver num lugar desagradável e tão evidentemente perigoso, como a fazenda Farrell.
E Meg poderia dizer que Christopher estava pensando a mesma coisa enquanto via o menino se atrapalhar com o controle remoto.
Seu coração foi para seu irmão naquele momento. Sua expressão e postura não diziam nada enquanto ele estava sentado lá, mas Meg ouviu seu sofrimento com o sentido invisível que muitas vezes os irmãos adquirem em relação ao outro.
— Christopher, posso falar com você por um segundo no corredor? — Meg perguntou.
Christopher deu um olhar irônico a Donny quando se levantou, comunicando a Donny com a velocidade de um relâmpago a mensagem ―Oh-oh estou com problemas com a diretora‖.
Meg não se importou, porque o súbito bufo de riso de Donny fez bem a todos eles, preocupados como estavam com o garoto. Ela suspirou quando saiu para o corredor com Christopher logo atrás. Essa conexão invisível dela com Christopher havia sido forjada ao longo de uma vida. A conexão entre Christopher e Donny, por outro lado, parecia ter surgido com força total na primeira vez que se encontraram.
— Café? — Meg perguntou quando estendeu a mão para Vic alguns segundos mais tarde, ao avistar uma máquina de café.
Christopher enfiou a mão no bolso da calça jeans e tirou algumas moedas.
— Nós vamos ter que fazer algo sobre Donny — afirmou Meg ao depositar a moeda na máquina de venda automática e fez uma seleção.
— Sim eu sei — Christopher disse calmamente. — Estive pensando a mesma coisa.
Nenhum deles falou enquanto observavam o copo de papel encher-se de vapor líquido. Quando Meg retirou o copo do distribuidor entregou-o ao irmão. Ele olhou para cima, surpreso.
— Haverá tempo para falar sobre tudo amanhã. Por que você não vai se encontrar com Dulce? Ela parecia ainda mais exausta do que você parece agora. Eu acho que nenhum dos dois dormiu a noite passada.
O olhar de Christopher passeou pelo corredor e disse alto e claro à Meg que ele desejava fazer exatamente isso, apesar de sua real preocupação com Donny.
— Nós vamos fazer turnos com Donny. Eu vou dizer a ele que você estará aqui bem cedo amanhã de manhã. De qualquer modo, acho que Tim e eu nos arranjaremos melhor — Meg disse com um sorriso atrevido. Ela deu um empurrão encorajador em seu braço. — Vá em frente, Christopher. Eu não sei ao certo o que aconteceu com você e Dulce, mas estou tão preocupada com ela agora, quanto estou com Donny. Faça-me um favor, ok?
— O quê? — Christopher perguntou quando começou a descer o corredor.
— Só não estrague tudo desta vez.
Ele deu uma risada preguiçosa.
— Sim, senhora, eu vou fazer o meu melhor — ele murmurou com uma humildade incomum que fez o sorriso de Meg se ampliar.