Fanfic: Amor e ódio | Tema: Fátima Bernardes e William Bonner
Duas taças de cristal vazias na mesa. As luzes estão na penumbra e as cortinas da sala estão fechadas. Um silêncio absoluto reina na imensa casa. Recostada no encosto do sofá com as mãos projetadas atrás do corpo, Fátima sacode um dos pés ininterruptamente em uma espécie de tique nervoso. Ela corre o olhar por toda aquela sala. Consegue enxergá-lo em cada milímetro dela. Nas fotos da prateleira, nas almofadas e na mesa de jantar. Entrando pela porta, descendo as escadas e saindo da cozinha depois de assaltar os chocolates da geladeira. Sorri sozinha e abaixa a cabeça. Sem suportar ficar parada, ela impulsiona o corpo pra frente e começa a andar de um lado para o outro. Passa os dedos pelos cabelos, puxa a bainha da blusa, ajeitando-a por cima da calça jeans. O único som que se ouve é o barulho dos saltos do sapato dela batendo no piso enquanto ela caminha. Tenta se concentrar em tudo o que tem a dizer a ele, reunindo o máximo que pode de coragem e sinceridade em seu coração. Respira fundo e para, encarando o jardim e a piscina da casa pela única fresta entreaberta da cortina. Respira fundo e fecha os olhos, perdida em seus pensamentos. Mas é interrompida e sugada fortemente quando o barulho do interfone ecoa, causando um impacto imediato em Fátima. Ela estatela os olhos, em um rompante e sente seu coração saltar peito afora, quase saindo pela boca. Gira o corpo e caminha até o receptor do interfone, levemente apressada. Puxa o gancho com a voz e as mãos trêmulas.
- Oi. – ela diz, em um sussurro quase inaudível.
Do lado de lá, a voz do porteiro do condomínio.
- Dona Fátima, o Sr. William está aqui.
Ela fecha os olhos e engole seco.
- Pode abrir, Maciel. Obrigada.
Ela bate o interfone e recosta na parede. “Ele chegou!”
***
7 meses antes...
Agosto de 2006.
William puxa o nó da gravata pra baixo, folgando a tira ao redor do próprio pescoço. Já sem blazer, ele se olha refletido no espelho envolto por luzes amareladas. Pendura a gravata no gancho do cabide e dá dois passos pra trás. A camisa social rosa clara está devidamente embutida pra dentro da calça jeans. Ele gira o corpo e pega sua pasta de trabalho, pendurando-a a tiracolo. Era o fim de um dia de trabalho comum na redação do telejornal mais importante do país. Enquanto caminha até a porta do camarim, ele confere o relógio. São 21:37. Ele atravessa o corredor, cruzando com colegas de trabalho por todo o percurso e acenando pra todos para se despedir. No estacionamento da redação, William entra no carro, atira a pasta no banco de trás e recosta a cabeça pra trás. De olhos fechados, ele a aguarda no silêncio de dentro do carro. As portas e vidros fechados isolam os ruídos do estacionamento. Não se passam mais do que alguns minutos e a porta do passageiro se abre. William levanta a cabeça e abre os olhos, girando o pescoço pro lado. Com a bolsa pendurada no ombro esquerdo, Fátima se inclina e senta no banco ao lado dele. William a observa se ajeitar e afivelar o cinto. Ela usa um vestido preto, que se estende até os joelhos, com um blazer vinho por cima. Nos pés, um scarpin preto de salto médio. Os cabelos pretos e lisos descem até pouco abaixo da linha dos ombros. Ela gira o pescoço e olha pra ele, com uma maquiagem impecável, mas muito leve, realçando os traços delicados do rosto de Fátima.
- Muito cansada? – ele questiona, dando partida no carro.
- Um pouco... Aqui fora está mais frio do que eu imaginava.
- Quer ir pra casa descansar ao invés de irmos jantar?
Ela nega com a cabeça.
- Não! Jantar fora não me cansa, só me relaxa... E você, quer?
Ele olha pra ela, engatando a marcha.
- O quê? Ir pra casa? Lógico que não! Toda quinta-feira espero por essa hora. – ele sorri. Ela retribui o sorriso e passa a palma da mão pela bochecha dele. – E as crianças?
- Acabei de ligar lá, estavam no banho pra dormir. – ela responde.
- Ótimo! A noite agora é nossa, então... – ele pisca um olho pra ela, que sorri e morde o lábio de leve.
William manobra e arranca com o carro, indo em direção à saída do estacionamento.
***
Duas mulheres caminham pelo estacionamento lado a lado, conversando após um longo e desgastante dia de trabalho. Entram no carro e observam, no carro logo em frente, Fátima e William conversando enquanto ele manobra o carro de ré, pra sair.
- Eu admiro os dois, sabia? – comenta Raquel. – Acho que se um dia eu me casar, gostaria de ter uma relação como a deles.
Joana revira os olhos, com uma expressão enojada.
- Eu não. Não existe nada que seja tão forte que não possa acabar um dia.
Raquel franze a testa.
- Com eles eu acho que não acaba nunca. Já fazem tantos anos...
- Nada é indestrutível, Raquel. – ela sorri, ironicamente.
- Ah, Joana... Você e essa sua eterna implicância com eles. – Raquel sacode a cabeça
- Com eles? COM ELES não, amor, COM ELA. Meu problema é com ela.
O carro onde estão William e Fátima some da vista delas, estacionamento afora.
- Eu nunca entendi verdadeiramente esse seu ódio por ela. A Fátima é uma pessoa tão doce, é tão difícil não gostar dela...
Joana arranca com o carro, mas mesmo dirigindo, faz uma expressão sombria, como se deixasse aflorar uma enorme mágoa em seu coração.
- Você não conhece a Fátima, Raquel. Você trabalha aqui na redação há o quê, dois anos? Nem isso? Você não sabe o quão insuportável ela pode ser. E é.
- Você já me contou essa história de quando vocês duas começaram a trabalhar juntas, há anos atrás no RJTV. Mas acho que isso pode ser só uma questão de incompatibilidade de gênios, vocês eram colegas de trabalho e... – Joana a interrompe.
- Raquel, não é fácil ser COLEGA dela. Você sabe o que é pra mim sonhar a vida toda com esse emprego no RJTV? Eu batalhei feito uma louca pra consegui-lo. Meus pais venderam tudo o que tinham pra que eu pudesse me mudar aqui pro Rio, apostando que eu seria A Jornalista de renome nesse país. – ela bate a mão no câmbio nervosa, trocando a marcha. – As coisas vinham acontecendo muito bem pra mim, aos poucos as portas se abriam e eu ia conquistando o meu espaço. Foi quando ela apareceu. Imediatamente, ela já conquistou os chefes, colegas e um país inteiro com esse sorrisinho sonso, ela sempre foi bonita, tinha carisma e conseguiu arrancar de mim uma a uma de todas as oportunidades que poderiam aparecer pra mim, mas caíam sempre na mão dela. Acabaram me apagando pra ela brilhar e é lógico que ela brilhou. Isso nela não mudou absolutamente nada, até hoje. Logo subiram ela pro JG, direto para a bancada. E ela virou a queridinha do jornalismo, encantou até o Bonner. O homem era desesperado, louco por causa dela.
- Até hoje é, né Joana?
- Até hoje! E agora esse prestígio dela consegue ser ainda mais insuportável pra mim, porque o alcance do sucesso dela é ainda maior do que na época. Mas deixa estar, Raquel, está chegando a hora que eu vou fazê-la pagar por cada lugar que ela me tomou, por cada “jogada pra escanteio” que eu já levei por culpa dela, só pelo fato dela existir.
Raquel gargalhou.
- Deixa de ser tonta. Isso não existe, isso é coisa de novela. Ninguém consegue prejudicar ninguém assim e eu duvido muito que você teria coragem de fazer isso, apesar de estar assustada com a intensidade desse ódio que você sente pela Fátima.
- Se eu fosse você não duvidava de nada não, minha filha... Nessa escola que você estuda, eu dou aula.
Raquel ri novamente.
- Pára de besteira, esquece isso. Amanhã é seu aniversário, dia de comemoração. Inclusive porque também é sexta-feira... – Raquel se remexeu no banco do passageiro, olhando através do vidro do carro e observando o movimento da rua.
Ao lado dela, Joana dirigia compenetrada, aparentemente focada no trânsito, mas com a cabeça longe. A amargura de suas palavras e de sua voz podia facilmente transparecer pela sua fisionomia. Em silêncio, ela olhava em linha reta, alimentando pensamentos que apenas ela conhecia o teor e a perversidade que aquele ódio reprimido e acumulado proporcionava.
***
- Acho que eu gripei. Meu nariz entupiu de repente – Fátima diz, subindo as escadas de casa com os sapatos na mão.
William vem logo atrás dela, apagando as luzes.
- Eu disse pra pegar o casaco no carro, mas a teimosa não quis. Ainda sai de dentro do calor do restaurante e toma uma corrente de vento. – ele sacode a cabeça, reprimindo Fátima.
- Ah, mas não imaginei que fosse estar tão frio lá fora...
- Tome alguma coisa quente.
- Vou tomar. Um banho! – ela abre a porta da suíte do casal, joga a bolsa em uma cadeira. – Mas antes vou ver como estão as crianças. – ela dá meia volta e sai do quarto.
Baixinho, William fala.
- Então vou aproveitar pra tomar um banho rápido antes de você.
Ela concorda com a cabeça e caminha descalça pelo carpete do corredor íntimo. Abre a porta de um dos quartos sorrateiramente. Senta na beirada da cama e se abaixa, salpicando um beijinho no rosto de Beatriz. A filha se remexe, mas não acorda. Fátima se levanta e repete o gesto com os outros dois filhos, cobrindo os ombros de Vinicius e recolocando o ursinho que estava no chão ao lado do travesseiro de Laura. Sai do último quarto e olha no relógio. Meia noite e meia. O cansaço bate fortemente e ela sente uma absurda vontade de cair na cama. Entra novamente pelo próprio quarto e ouve William desligando o chuveiro. Ela cata os scarpins no chão e os acomoda devidamente na sapateira, dentro do closet. Caminha até o banheiro, que está com a porta aberta. A primeira visão que tem é do marido embrulhado em uma toalha preta, escovando os dentes. Ela passa por ele e alisa as costas despidas e molhadas de William. Desce as alças do vestido e o deixa cair no chão, ao redor dos próprios pés. Tira a lingerie e atira no cesto de roupa suja. Reúne todo o cabelo dentro das mãos e o enrola, prendendo em um coque no alto da cabeça. Abre o boxe e gira a torneira, deixando que a água caia fumegando sobre seu corpo. As preocupações do dia acabam se esvaindo com aquele banho relaxante e ela se sente ligeiramente revigorada.
Enrolada em um roupão de banho, Fátima retorna ao quarto tentando se preservar de qualquer vento frio que pudesse abatê-la. William estava fechando as cortinas que vedavam a porta da sacada do quarto. Usando bermudas de pijama, mas sem camiseta, ele estava descalço. Fátima se sentou na cama, recostada nos travesseiros e deslizou as mãos lambuzadas de creme hidratante pelas pernas. William fitou-a naquela cena tão corriqueira, mas extremamente erótica. Sorriu e veio engatinhando dos pés da cama para a cabeceira. Deitou-se e acariciou a lateral da coxa dela, que ficou exposta pela abertura do roupão. Ela olhou pra ele e sorriu.
- Que foi, hein?
Ele se deitou na cama, fez uma careta e passou a outra mão pela própria barriga.
- Acho que aquele carpaccio não me caiu bem, tô com queimação.
- Huuuum, imagina se tivesse caído bem, então! – os dois sorriram. – Quer alguma coisa?
- Quero. Você. – ele puxou a perna de Fátima pra baixo, fazendo-a reclinar o corpo pra trás e ficar deitada ao invés de sentada.
Lentamente, William puxava as tiras do roupão dela.
- Eu estava falando de remédio pro estômago. – ela sussurrou, bem baixinho.
- E eu estou falando do único remédio que me cura qualquer mal. – as duas abas do roupão se abriram, uma para cada lado, deixando o corpo de Fátima completamente exposto e nu, sem nenhuma peça por baixo. William correu os olhos por todo o corpo dela, com o olhar e o corpo em chamas. Inclinou-se pra cima dela e começou a beijá-la no pescoço, descendo com a ponta da língua lentamente pelo maxilar até o colo dos seios.
- Você trancou a porta? – ela questionou, mas ele não respondeu. Ela insistiu. – William?
- Não.
- Então vá trancar. – ela o empurrou, impedindo que ele continuasse as carícias. – Vai, anda!
Ele se levantou num rompante, não sem antes pegar um travesseiro e atirar contra ela. Fátima pegou-o no ar e riu ao observá-lo caminhar excitado até a porta. William girou a chave, deu meia volta e retornou pra cama. Retomou a mesma posição em que estava, deitado por entre as pernas de Fátima.
- Agora sim. – ela respondeu, deslizando a mão até a nuca dele e o arranhando de leve. Encarou os lábios molhados dele e o puxou pra si, dando-lhe um beijo na boca. Ambos fecharam os olhos enquanto ouviam apenas os estalos de seus beijos. William correu a mão esquerda pelo seio direito de Fátima, apertando-o suavemente na palma de sua mão. O mamilo dela escapulia por entre os dedos dele e ele dava pequenos beliscões na ponta, excitando-a. Desceu a mão pela barriga dela, na lateral do quadril e apertou com força a bunda de Fátima, que ofegou enquanto ainda o beijava. Ele interrompeu o beijo pra morder o queixo e os lábios dela. Escorregou a mão por entre as virilhas dela e gemeu baixinho quando sentiu que ela estava tão excitada quanto ele gostaria que ela estivesse. Desceu o elástico da própria bermuda e agradeceu a si mesmo por ter decidido vestir o pijama sem cueca naquela noite. Penetrou-a cuidadosamente e abaixou a cabeça, girando a língua por um dos seios dela. Começou a se remexer lentamente, quando Fátima soltou um gemido um pouco mais alto do que o som da respiração ofegante deles.
- Shhhhhhh! – William repousou o dedo indicador nos lábios dela.
Ambos riram juntos, baixinho. Fátima revirou os olhos e sentiu as estocadas dele e o seu hálito e sua língua quente em seu pescoço e seios. Ela remexia os quadris pra intensificar a sensação de senti-lo dentro dela. Com as duas mãos, acariciava os cabelos e arranhava de leve a nuca dele. Em dezesseis anos de casamento, eles sempre se completaram, em qualquer circunstância. Mas era na cama que todo o amor e sintonia deles ficavam ainda mais explícitos. Porque era justamente na cama que eles descarregavam um no outro a felicidade e a sorte que tinham de terem se encontrado e de terem construído uma bonita, verdadeira e duradoura história de amor. O que não sabiam é que aquela plenitude estava com as horas contadas.
Autor(a): bonemerlove
Este autor(a) escreve mais 5 Fanfics, você gostaria de conhecê-las?
+ Fanfics do autor(a)Prévia do próximo capítulo
Seis e dez da manhã, o despertador ressoa pelo quarto. William esfrega a testa e, em seguida, os olhos inchados de sono. Remexe na cama, extremamente confortável por entre os travesseiros e por baixo do edredom grosso e macio. Olhou pra Fátima ao lado dele. Ela estava com o corpo coberto até a altura das orelhas. O roupão que usava na noite ...
Próximo Capítulo
Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 67
Para comentar, você deve estar logado no site.
-
Uma_fã Postado em 16/12/2016 - 20:50:43
Adorei seu estilo de escrever,q pena q não finalizou,mas se ainda tiver acesso,finaliza,pfv. Parabéns
-
neucj Postado em 14/03/2016 - 20:55:37
Quero o último cap da fic....
-
babi15 Postado em 03/02/2016 - 20:21:30
Esperando deitada o ultimo cap de uma das melhores fic do casal. Ja li outras fics dessa autora e ela escreve mto bem .Parabens
-
neucj Postado em 21/01/2016 - 11:07:48
Desistiu de postar o último cap???
-
puff Postado em 06/07/2015 - 09:13:36
Nao vai mais postar?
-
Julie_ Postado em 11/06/2015 - 15:01:05
Leitora nova *---* Cnt
-
jurb Postado em 09/06/2015 - 18:57:39
Lindo DEMAIS esse capítulo! Sem palavras...
-
puff Postado em 09/06/2015 - 17:39:15
Meu deus que lindooo ameiii pena q esta no fim, vc escreve muito bem
-
bia_jaco Postado em 09/06/2015 - 17:35:00
Ehhhhhhhh capítulo lindo!!Bom demais ver eles juntos de novo <3 amei amei
-
bia_jaco Postado em 28/05/2015 - 17:36:58
Coisa lindaaaaaaaaa!!!Amei o capítulo,tão perfeito esses dois *___*