Fanfics Brasil - Capítulo 13 Amor e ódio

Fanfic: Amor e ódio | Tema: Fátima Bernardes e William Bonner


Capítulo: Capítulo 13

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                A semana turbulenta finalmente acabou e, na sexta-feira, toda a equipe da redação com dezenas de integrantes fechavam os últimos detalhes da festa de confraternização, que acontecia todos os anos. Era quase fim de novembro, mas o mês de dezembro era muito tumultuado, com um grande acúmulo de trabalho, então sempre optavam por antecipar um pouco a comemoração de fim de ano. Seria no dia seguinte, no sábado, após o encerramento do expediente. Fátima e William estiveram presentes todos os anos até então. Fátima sabia que não haveria como escapulir daquele evento, teria mesmo que ir. Mas por outro lado, estava animada. Seria a oportunidade de sair um pouco de casa, se distrair, rir e conversar. Fazia tempo que não tinha motivação pra sair pra se divertir. A festa da empresa teria a presença de William, é claro, mas de qualquer modo, a vida dela estava toda emaranhada a dele mesmo, era inevitável. Existia um lado secreto dela (que ela escondia até dela própria) que agradecia por ter sempre que trombar com ele frequentemente. Seria mais difícil e penoso se ela nunca mais o visse, não convivesse com ele, não ouvisse sua voz...


 


 


 


                Na manhã daquele sábado, Fátima acordou mais tarde do que geralmente acordava. Por esse motivo, o dia acabou passando muito rápido. Por volta de cinco da tarde, juntamente com os filhos, ela começou a organizar a mochila que eles levariam para um aniversário, que seria uma noite do pijama na casa de um colega da escola, grande amiguinho deles há tempos. Dormiriam lá, William os buscaria no dia seguinte pra almoçar com eles, como era de praxe aos domingos.


                - Ele disse que não precisava levar travesseiro! – teimou um dos filhos.


                - Mas vocês vão levar, não custa nada. – Fátima disse, tentando enfiar um par de chinelos em uma das mochilas. – Cadê a roupa que você vai vestir amanhã pra almoçar com o papai, Vinícius? Separa pra eu colocar na mochila, ele deve buscar vocês e ir direto, não vai passar aqui em casa pra vocês se trocarem. – ela ordenou.


                Terminou de organizar tudo, esperou que eles lanchassem rapidamente para levá-los mais cedo. Enquanto aguardava no sofá da sala com a chave do carro enroscada no dedo, ouviu o bip do celular dentro da bolsa. Era um torpedo dele.


 


 


 


Que horas te busco pra irmos na festa hoje?


 


 


Fátima franziu a testa e bufou, de leve.


 


 


Me busca? Pra quê? Eu vou no meu carro.


 


 


A resposta veio logo em seguida.


 


 


Ué? Vamos pra um mesmo lugar em dois carros?


 


 


...


 


 


Não fazemos isso todos os dias?


 


 


...


 


 


Sim, mas em horários diferentes. Você não acha que chegarmos separados em uma festa sábado a noite vai dar margem pra muitas desconfianças?


 


 


 


 


Fátima pensou bem. Nesse ponto ele estava certo, todos fariam mil perguntas e estranhariam o fato de não estarem juntos. Coçou a cabeça, ligeiramente irritada e com vontade de nem ir mais àquela festa. Mas não faria isso. Decidiu responder William só depois que pensasse um pouco.


                - Mamãe, vamos! Estamos só te esperando! – Fátima se deu conta de que os filhos a aguardavam e ela nem notou. Enfiou o telefone na bolsa e tratou de levá-los logo e se preparar psicologicamente pra dormir sozinha naquela casa imensa.


 


 


***


 


                Sete da noite. Fátima digita a mensagem de volta pra William, de forma precipitada, mas ela concluiu que se pensasse demais, cancelaria sua ida a essa festa e entraria debaixo de um edredom felpudo, pra dormir cedo. “Como uma velha de 90 anos...”, pensou, bufando.


 


 


 


 


Não precisa me buscar. Te encontro no apartamento as 21, daí vamos juntos.


 


 


 


 


Ela jogou o telefone junto com a bolsa em cima da cama e foi pro banho se arrumar antes que se atrasasse. Tomou um banho, lavou o cabelos, secou-os rapidamente e parou em frente o guarda roupa. Nunca teve dificuldades pra se vestir, mas naquele dia especificamente, analisou por várias e várias vezes as opções de roupas que tinha e nenhuma parecia estar adequada. Depois de muito quebrar a cabeça, optou por um tubinho preto, elegante e ligeiramente justo. Batia na altura dos joelhos e, tanto na frente quanto nas costas, não possuía decote. A sensualidade da roupa estava no caimento que ele tinha no corpo de Fátima, deixando a cintura e o quadril muito bem demarcados. Ela começou vestindo uma lingerie branca, dada por William no início daquele ano. Usava pouquíssimo, ela era sensual demais pra usar por baixo de roupas, mas era bem confortável e a calcinha não marcava por baixo do vestido. Colocou um colar comprido, que combinou perfeitamente com o estilo da roupa. Nos pés, scarpins pretos relativamente altos, mas extremamente elegantes. Fez uma maquiagem rápida e usou um batom vermelho fechado. Olhou no relógio e já era hora de sair de casa, antes que se atrasasse. Enfiou em uma bolsa pequena alguns itens importante, conferiu o visual na frente do espelho e, enfim,  saiu de casa. Dirigiu pro apartamento da Lagoa levemente tensa. Não tinha idéia de como seria aquela noite, mas uma coisa ela tinha certeza: precisaria manter o controle e não se deixar entregue àquele magnetismo fortíssimo que William exercia sobre ela.


 


 


***


 


 


                20:45 horas. O apartamento de William estava com as luzes na penumbra, que era como ele costumava deixar a noite, pra que a sala não ficasse tão escura e dificultasse o percurso até o quarto. Esperava ansiosamente a chegada de Fátima. Sua vida encheu-se de luz depois daquele beijo entre os dois, no meio da semana. Não parou de pensar naquilo nem por um segundo, desde então. Ele sentia que ela estava cada vez mais próxima dele novamente e passou a viver um dia de cada vez. Era enlouquecedor projetar sua vida pra muito tempo depois, sem saber se contaria com a presença dela ao seu lado. Algo dizia que aquela noite seria especial, não por um motivo específico, mas porque ele gostava de ter a chance de estar com ela fora do ambiente de trabalho. Mas por incrível que pareça, naquela noite ele estava com um frio na barriga. Era estranho sentir algum tipo de nervosismo ao esperar por ela. Em alguns momentos, ele se lembrava daquela velha sensação do início do namoro dos dois, quando ele estremecia ao ouvir a voz dela na redação que trabalhavam juntos. Ela ainda era casada com o ex-marido e ele precisava disfarçar o encantamento que sentia, o que era muito difícil. Naquela época, ele tinha 26 anos, era ainda muito jovem, mas esperando por Fátima no apartamento naquela noite, ele teve a sensação que voltou a ser um garoto, estralando os dedos e balançando freneticamente uma das pernas. Tomar um vinho relaxaria bastante, mas ele optou por não beber, afinal de contas, iria dirigir e precisava estar completamente sóbrio. Aflito, ele ligou a TV e passou canais aleatoriamente. O interfone tocou e ele saltou do sofá. Voou até a cozinha pra atender.


                - William, a Fátima está te aguardando aqui na portaria. – o porteiro disse.


                - Tá, estou descendo.


Ele correu até o quarto e borrifou um pouco mais de perfume. Cheirou a gola da camiseta e se certificou de que estava suficientemente cheirosa. Enfiou o celular e as chaves no bolso e desceu.


                Na saída do elevador, avistou o hall e a sala de espera do prédio. Seu coração disparou com a visão que teve. Fátima estava de costas pra ele, apoiada de lado no batente da porta de vidro, que acessava a portaria do prédio. Ele correu os olhos por ela, analisando-a dos pés à cabeça. Mesmo de costas, ele podia ver o quanto ela estava linda com aquele vestido justo preto, que se misturava de leve com os cabelos negros dela, pouco abaixo dos ombros, invadindo as costas. As pernas torneadas se equilibrando em cima dos saltos e, no ombro direito, a pequena bolsa pendurada. Ela observava o movimento da rua, enquanto aguardava por ele. William deu alguns passos em direção a ela, fazendo com que ela ouvisse o som de seus sapatos batendo no chão. Fátima se virou rapidamente e o viu, parado atrás dela. Ele usava uma camiseta pólo azul marinho e um jeans despojado. Era uma camiseta que ela não conhecia, possivelmente comprada depois de estarem separados. Ela engoliu seco e olhou pra ele. William sorriu discretamente pra ela.


                - Vamos?


Ela concordou com a cabeça.


                - Claro. Vamos no seu, né? Vi que você já deixou ele aqui fora... – ela apontou pra rua em frente o prédio.


                - Sim, deixei a garagem livre pra você guardar o seu.


                - Ótimo, já fiz isso.


                - Então vamos. – ele estendeu a mão pra que ela fosse na frente, como um gesto de cavalheirismo.


Fátima atravessou a portaria marchando em cima dos saltos, sorriu se despedindo do porteiro e desceu as escadas até a calçada. William foi logo atrás dela, em silêncio. Fátima entrou no carro dele, com o coração levemente disparado. A última vez que ela entrou naquele carro foi o exato momento em que ela encontrou aquela calcinha. Era inevitável se lembrar daquele dia. Ela correu os olhos ao redor. O cheiro era idêntico, um misto do cheiro de couro do estofado com o perfume de William. Tudo estava intacto, as chaves sempre nos compartimentos centrais, uma garrafa de água pela metade no porta copos... Fátima se perguntou se, durante todo aquele período, alguma outra mulher havia sentado naquele banco, exatamente onde ela esteve por dezesseis anos e estava novamente agora. Nunca saberia, então pensar nisso não resolveria absolutamente nada. Tratou de relaxar, na medida do possível. Perto dele, ela perdia seu centro ligeiramente. A voz de William fez com que ela se assustasse de leve e olhasse pra ele, enquanto ele dirigia.


                - As crianças foram pra tal noite do pijama? – ele olhou pra ela.


Fátima concordou com a cabeça.


                - Sim... Levei eles bem mais cedo. – era muito constrangedor conversar com ele com aquela formalidade. Fátima sentiu vontade de sumir daquela situação. Agradeceu pelo trânsito ainda estar tranqüilo e eles conseguirem se deslocar rapidamente até  o restaurante que estava reservado pra ser a confraternização.


 


                Não demoraram mais que vinte minutos no percurso. William deixou o carro com o manobrista e adentrou, junto com a Fátima, o lounge do restaurante. O pessoal da equipe estava no fundo, de um ponto que ainda não visualizavam os dois. Logo na entrada, Fátima se voltou pra William e disse:


                - Pode ir pra mesa, eu vou até o banheiro e já encontro vocês lá.


William concordou com a cabeça.


                - Tá bom.


Ele continuou caminhando sozinho, até o fundo do ambiente. Subiu dois degraus e entrou na área privativa, onde grande parte dos colegas de trabalho estavam presentes. Todos se voltaram pra ele, cumprimentando-o em coro. Na ponta da mesa, Joana olhou-o, não conseguindo esconder a excitação por Fátima não estar presente. O que será que havia acontecido? Porque ela não foi com ele? Estavam brigados? Rompidos? Ele ainda usava aliança na mão esquerda. Ela aguardou que ele cumprimentasse os colegas, um a um, até chegar nela. Quando William se aproximou, ela levantou-se da cadeira. Jogou o cabelo pra trás e sorriu, tentando se insinuar discretamente.


                - Achei que não viesse mais... – ela tocou o ombro dele e o cumprimentou de uma forma inusitada, dando-lhe um beijo no rosto, sem notar que Fátima entrava logo atrás, repousando os olhos em cima dos dois imediatamente.


William retribuiu o cumprimento de Joana um pouco desconcertado. Sorriu, levemente envergonhado.


Fátima bufava por dentro, fuzilando William e Joana com o olhar. Que diabo de intimidade era essa? Desde quando os dois eram próximos, a ponto de se cumprimentarem com beijos no rosto? Até onde ela sabia, a convivência dos dois era estritamente profissional, nada que extravasasse o ambiente de trabalho. Ou não? “Pára, Fátima, que maluquice!”, ela repetiu a si mesma. Mas ela não pode resistir ao ímpeto de se aproximar por trás deles, enquanto Joana gargalhava de uma forma ridícula e vulgar, tentando se oferecer pra ele em um ambiente completamente incoerente com aquele tipo de comportamento. Fátima não tocou em William, apenas parou ao lado dele e sorriu, elegantemente. Pra todos os efeitos, ele ainda era seu marido.


                - Boa noite, Joana. – Fátima observou o sorriso de Joana murchar, no momento em que ela a viu.


                - Ah, Fátima... É, eu não sabia que você tinha vindo, querida! – ela não conseguia esconder seu desapontamento.


                - Mas é claro que eu viria! A gente sempre está presente nessa confraternização de fim de ano, não é, William? – ela lançou um olhar flamejante pra ele, que concordou com a cabeça.


                - Claro!


Joana sorriu.


                - É verdade!


Os dois pediram licença e desviaram dela, pra continuarem a cumprimentar o restante dos colegas. Joana sentou-se, sem desmontar a cara de paisagem, mas se remoendo de raiva por dentro. “Maldita! Antes faltarem os dois do que ter que engolir essa sonsa!”, ela pensou. Mas decidiu observá-los criteriosamente. Havia algo entre os dois que despertava desconfianças em Joana, ela não sabia definir o quê, mas tinha alguma coisa muito estranha acontecendo. William parecia diferente do que ele sempre foi. Daquele momento em diante, ela não tirou os olhos dos dois, nem por um segundo pelo resto da noite.


 


 


***


 


 


                Já passava de uma da manhã. Revelaram a brincadeira de amigo oculto, conversaram e riram bastante. Aos poucos, alguns começaram a ir embora, mas a mesa ainda estava muito cheia. Fátima, que não tinha o hábito de beber, acabou tomando algumas taças de vinho, um pouco mais do que considerava ideal pra ela própria. William observou em silêncio, optou por não dizer nada que pudesse reprimi-la, ela parecia estar a vontade naquela noite e ele gostava de vê-la bem. No fim da noite, Fátima se levantou pra ir ao banheiro. Ele permaneceu sentado, mas notou que, ao se levantar, ela apoiou-se na cadeira discretamente. William ergueu a cabeça e viu que ela tentava disfarçar uma ligeira zonzeira. Baixinho pra ninguém percebesse, ele disse:


                - Você está bem? Senta novamente. – ele puxou a cadeira pra ajudá-la e ela obedeceu.


                - Eu... fiquei um pouco zonza, acho que me levantei rápido. Tô com um pouco de dor de cabeça... Me leva embora? – ela respirou fundo e tomou um gole de água.


William concordou com a cabeça.


                - Claro! Vamos nos despedir do pessoal. – ele dizia, sussurrando.


Levantaram-se juntos e deram um tchau coletivo para os amigos que restaram ainda na mesa, dentre eles, Joana. Todos retribuíram e então, William segurou Fátima pela mão. Ela olhou pra ele um pouco assustada, mas não disse nada. Sentiu um leve choque desfibrilar pelo seu corpo ao sentir o toque das mãos firmes dele, apoiando-a. De mãos dadas deram a volta na mesa, desceram os degraus e foram até a saída do restaurante. Permaneceram assim, enquanto o manobrista buscava o carro de William. Não pronunciaram uma única palavra e nem se olharam. Soltaram-se pra entrar no carro. William regulou os retrovisores e bateu a mão no botão que ligava o som do carro. Tocava um CD do Phil Collins, uma coletânea antiga que ele tinha. Naquele momento, a música era Do You Remember.


 


 


 


 


 


 


 


                Fátima engoliu seco ao ouvir a música. Costumavam viajar juntos ouvindo CDs como aquele. Ela procurou não dizer nada, a cabeça ainda doía de leve, bem no fundo. Mas a música em um volume alto, ecoando pelo carro de William dava um certo embargo no coração de Fátima, fazendo com que ela precisasse controlar pra não ficar com os olhos marejados.


                - Você se lembra desse CD? – ele disse e Fátima girou o pescoço, olhando pra ele.


                - Lembro.


                - Você que me ajudou a escolher numa feirinha de CDs usados lá em Miami, em 1992. Tinha milhões de coletâneas maravilhosas, eu saí de lá com um saco de CD imenso.


                - O rapaz da feira nem tinha sacola que cabia. – ela sorriu de leve.


William riu.


                - É mesmo! Teve que pedir na barraca vizinha. – ele riu novamente.


Olhou pra Fátima. Ela evitava cruzar o olhar com ele, estava com um semblante melancólico, com o cotovelo apoiado na base do vidro do carro e a cabeça deitada na palma da mão, de lado. Olhava pra frente, examinando o percurso que ele fazia de volta pro apartamento. Ele não resistiu em puxar assunto.


                - Melhorou a cabeça?


                - Um pouco...


William dobrou a esquina, virando na rua do prédio. Mais alguns metros a frente, embicou o carro na garagem e aguardou que o portão se abrisse. Fátima soltou o cinto e aguardou que ele manobrasse na vaga, ao lado do carro dela. Assim que terminou, ela desceu do carro e vasculhou a bolsa, a procura das chaves de seu próprio carro. William desceu logo em seguida.


                - Fátima... espera. Você não pode ir pra casa desse jeito.


Ela franziu a testa.


                - De que jeito?


                - Ué, você... está passando mal, bebeu um pouco demais...


                - Como assim, você acha que eu estou bêbada? É claro que eu não estou! – ela parecia impaciente.


                - Sobe um pouco.


Fátima soltou uma risada irônica.


                - Quê? Ficou maluco, William? Lógico que não!


Ele bufou.


                - Fátima, toma um remédio, uma água... Agora há pouco você ficou zonza quando se levantou da cadeira, não acha que seja perigoso dirigir assim?


Ela sacudiu a cabeça. Admitiu apenas pra si mesma que havia exagerado um pouco no vinho, precisava de um pouco de água e o vento da sacada daquele apartamento a faria muito bem. William a interrompeu.


                - Esse apartamento é tão seu quanto meu. Ele é nosso. Não há problema algum em você entrar.


Fátima se lembrou do beijo dos dois. Havia mexido demais com ela, em todos os sentidos. Não podia permitir que nada disso se repetisse. Decidiu subir rapidamente apenas pra tomar uma aspirina, que era excelente pra curar suas dores de cabeça. Ela carregava o remédio na bolsa, pra ocasiões em que precisasse, como naquela noite.


                - Eu preciso só tomar um remédio pra dor, é bem rápido...


William concordou.


                - Claro, vamos.


Subiram juntos o elevador. Caminharam pelo hall, até a porta de entrada do apartamento. Ela aguardou que William destrancasse a porta, em silêncio. Ele acendeu a luz e deixou que ela entrasse primeiro.


                - Obrigada. – ela agradeceu a gentileza, um pouco desconfiada.


Correu os olhos pela sala. Estava um pouco desorganizada, mas não muito, como ela imaginava que estivesse. Fátima lembrou-se de Joana se insinuando pra ele no início daquela noite. Não havia tirado isso da sua cabeça nem por um segundo, o tempo todo. Ela foi até a estante. Olhou os copos de whisky que ficavam na bandeja. Não havia nenhum com marca de batom. Encarou os porta-retratos. Todas as fotos que estavam neles foram escolhidas por ela, quando decoraram todo o apartamento, exceto uma.


 


 


 



 


 


 


                Tinha sido tirada poucas semanas antes do rompimento dela e de William. Ela não sabia que ele havia revelado e colocado em um porta-retrato.


                - Eu não tinha visto essa foto revelada. – ela disse, ainda olhando-a.


William veio da cozinha com um copo de água na mão pra entregar pra ela.


                - É, eu... revelei recentemente. Eu não tinha nenhuma foto atual das crianças revelada aqui. – ela assentiu e pegou o copo.


                - Obrigada.


William esperou que ela tomasse o remédio, ligeiramente nervoso. Andou pela sala, tentando esconder a tensão. Abriu as portas da sacada, deixando que o vento entrasse, esvoaçando as cortinas. Fátima fez menção de levar o copo vazio até a cozinha, mas ele se prontificou a fazer isso.


                - Pode me dar que eu levo. – ela não hesitou, entregou a ele e não disse nada.


Aproveitou o descuido de William pra espiar o corredor dos quartos. Viu que a porta da suíte do casal estava fechada e o quarto de visitas tinha a mala de William no chão. Franziu a testa, achando estranho.


                - Porque você está dormindo no quarto de hóspedes?


William gaguejou, um pouco confuso sobre o que responder.


                - Ah, eu... sei lá, me acomodei nele no primeiro dia e acabei ficando.


Subitamente, veio a idéia de que a dona da calcinha vermelha estivesse freqüentando aquele apartamento. Nem ela saberia explicar porque isso lhe veio a mente, o excesso de vinho aliado a visão de Joana se desmanchando pra William provocaram nela uma fúria inesperada. Não mediu as palavras ao dizer, ironicamente.


                - Hum... Só espero que não esteja recebendo sua misteriosa amante no mesmo recinto que traz meus filhos pra dormir com você.


William olhou pra ela, chocado.


                - O que você disse?


Fátima não se arrependeu de ter dito aquilo.


                - Você entendeu.


                - Entendi, mas não acredito que você está pensando isso de mim.


Ela olhou pra ele, com um olhar desafiador.


                - Ah, achou ofensivo? O que quer que eu espere de alguém que se esfrega com outra no carro que carrega a família? Que ME carregou na noite anterior?


William sacudiu a cabeça e esfregou a testa.


                - Ah não, lá vem você de novo com essa história absurda.


                - Não se preocupe, eu já estou de saída. Nem sei o que estou fazendo aqui, na verdade... – ela marchou em direção a porta.


Ele deu um passo pro lado, impedindo a passagem dela. Fátima olhou pra ele, furiosa.


                - Sai da minha frente.


                - Não saio porque você não tem o direito de vomitar essas asneiras na minha cara e sair andando.


                - Quem é você pra falar sobre “ter direito” ou não? Você não tinha o direito de fazer um terço das coisas que vêm fazendo comigo!


                - Fazendo com você? – ele franziu a testa.


                - É! Isso mesmo. A começar por ter me traído. E agora, decidiu que não vai respeitar minha decisão de botar um ponto final no nosso casamento, me agarra na despensa de casa, me beija no meio da rua... Você perdeu a completamente a noção da civilidade, William.


Ele se aproximou dela.


                - É? Achou tão absurdo assim o nosso beijo? Porque não reagiu?


Ela deu um passo pra trás.


                - Eu não acredito que estou ouvindo isso. – ela disse, desviando o olhar.


William sorriu.


                - Fátima... Como você pode ser tão ingênua a ponto de agir como se não soubesse perfeitamente que eu te conheço como a palma da minha mão. Eu sou seu marido. Há dezesseis anos. Nem me lembro de quem eu era antes de ter você na minha vida. Sei ler cada reação sua, cada olhar, cada... cada desejo seu. – ele mordeu na boca, olhando pra ela.


Fátima trepidou e desviou novamente o olhar. William deu dois passos em direção a ela. Encostou seu corpo no dela e abaixou a cabeça, respirando fortemente, de forma que ela podia sentir sua respiração. Ela fechou os olhos, tentando não olhar pra ele.


                - William, por favor... – disse, baixinho, sem conseguir reagir novamente.


Ele tocou o queixo dela e levantou sua cabeça, pra que ela olhasse pra ele.


                - Eu nunca tive, eu nem sequer quis ter outra pessoa, em nenhum momento da minha vida. Você sempre me bastou, aliás, você sempre foi muito mais do que eu sempre achei que eu merecia. Sempre me completou e me fez mais feliz do que eu achei que um dia eu seria. Não há NENHUM motivo pra eu ter procurado por outra mulher. – ele colocou uma mecha do cabelo dela pra trás de sua orelha. Aproximou ainda mais o rosto do dela. – Quer saber porque eu escolhi dormir no quarto de hóspedes? Porque eu não suportei ficar sozinho na nossa cama. Abrir aquela porta e entrar aqui todos os dias sem você é o pior momento do meu dia. Por isso a porta da nossa suíte está fechada. Lá dentro eu só entro novamente com você. – Fátima se arrepiou, ainda de olhos fechado, ouvindo o que ele tinha pra dizer.


                - William, não faça isso comigo, por favor...


                - VOCÊ é quem está fazendo com nós dois. Para de sufocar uma vontade que é claro que você sente. Você nem consegue mais esconder... – ele deslizou a ponta dos dedos pelas costas dela, lentamente. – Pára de tentar ter controle sobre tudo. Você não têm. Nunca vai conseguir ter. – ele respirou fundo. – Faça o que você tem vontade, o que o seu coração estiver pedindo. De verdade. Nem que seja... pela última vez. – ele disse, em um tom doloroso.


Fátima mordeu o lábio. Em transe, passou as duas mãos pelo peito de William, por cima da camiseta. Sacudiu a cabeça, como se negasse a si mesma o que ela verdadeiramente desejava. Tremia de excitação e, naquele momento, ela teve certeza do que queria. Posicionou a mão na nuca de William e puxou a cabeça dele pra si, beijando-o fervorosamente. Ele enroscou os dois braços ao redor da cintura dela, retribuindo com toda a intensidade aquele beijo. Deram dois passos pro lado e trombaram na parede do corredor. William deslizou com força as mãos pelas coxas dela, levantando a barra de seu vestido, até quase deixar a calcinha exposta. Fátima passava as unhas pelos braços dele, deixando pequenos vergões avermelhados. Ambos ofegavam e, juntos caminhavam aos tropeços até a suíte deles. Sem parar de beijá-la, William tateou até achar a maçaneta, abrindo-a e empurrando de uma só vez a porta.


                Dentro daquele quarto, tinha grande parte da história dos dois. Cada milímetro dele, tinha muito amor, muitos planos e uma enorme perspectiva de um futuro juntos. Era nele que faziam amor até dormirem, quando precisavam fugir um pouco da loucura do dia-a-dia, com filhos, trabalho e muitas preocupações para lidarem. Tinham naquele apartamento todo uma espécie de válvula de escape. Por não ser um lugar onde viviam rotineiramente, apenas em circunstâncias esporádicas, só construíram ali lembranças e momentos felizes. Por isso era tão difícil pra William viver ali sem ela. Mas naquela noite, ao se jogarem um por cima do outro em cima da cama deles, entorpecidos de excitação, de alguma forma, preenchiam mais uma lacuna de longos anos juntos. Poderia ser a última página da história deles. Mas no coração de William, era a primeira folha da continuidade que dariam pro amor deles, que a cada olhar, a cada toque e a cada beijo, provava fortemente a eles que ainda estava intacto, mais forte do que nunca. 



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Autor(a): bonemerlove

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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 67



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  • Uma_fã Postado em 16/12/2016 - 20:50:43

    Adorei seu estilo de escrever,q pena q não finalizou,mas se ainda tiver acesso,finaliza,pfv. Parabéns

  • neucj Postado em 14/03/2016 - 20:55:37

    Quero o último cap da fic....

  • babi15 Postado em 03/02/2016 - 20:21:30

    Esperando deitada o ultimo cap de uma das melhores fic do casal. Ja li outras fics dessa autora e ela escreve mto bem .Parabens

  • neucj Postado em 21/01/2016 - 11:07:48

    Desistiu de postar o último cap???

  • puff Postado em 06/07/2015 - 09:13:36

    Nao vai mais postar?

  • Julie_ Postado em 11/06/2015 - 15:01:05

    Leitora nova *---* Cnt

  • jurb Postado em 09/06/2015 - 18:57:39

    Lindo DEMAIS esse capítulo! Sem palavras...

  • puff Postado em 09/06/2015 - 17:39:15

    Meu deus que lindooo ameiii pena q esta no fim, vc escreve muito bem

  • bia_jaco Postado em 09/06/2015 - 17:35:00

    Ehhhhhhhh capítulo lindo!!Bom demais ver eles juntos de novo <3 amei amei

  • bia_jaco Postado em 28/05/2015 - 17:36:58

    Coisa lindaaaaaaaaa!!!Amei o capítulo,tão perfeito esses dois *___*


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