Fanfic: Amor e ódio | Tema: Fátima Bernardes e William Bonner
Quase cinqüenta minutos depois de sair da redação, William entrava pelo portão da garagem de casa. Através do vidro, olhou para as janelas e portas de vidro. A sala estava parcialmente acesa, na penumbra. Ele pegou a pasta no banco de trás e desceu do carro. Não notou nada de anormal. Caminhou até a porta de entrada estralando o pescoço, exausto. Abriu a porta e entrou pelo hall. Fátima estava no sofá, embrulhada em um edredom e com uma xícara de chá fumegando na mão. Olhou pra ele e sorriu.
- Hum, que demora! Custei a te esperar hoje! – ela estendeu o braço até ele.
- Justo hoje que eu queria ter chegado logo... – William reclinou o corpo pra frente e deu um selinho demorado na boca dela, sem se importar em ser contagiado pela forte gripe que a abateu. – Peguei muito trânsito no caminho.
Ela concordou com a cabeça.
- Imaginei... Vai jantar?
Ele negou com a cabeça, mordendo um pedaço de pão que havia no cesto, no centro da mesa.
- Hum, acho que não, estou tão cansado que eu só quero um banho. Você já comeu?
- Já.
- Melhorou?
- Ah... não como eu gostaria, mas melhorei um pouco.
- E as crianças?
- Dormiram faz tempo já. – ela disse, se arrastando pela sala com o edredom enrolado no corpo. – Eu esqueci meus óculos escuros no seu carro ontem, vou lá pegar antes que me esqueça.
- Não pô, deixa pra pegar amanhã... Você não vai usar isso hoje mesmo!
- Amanhã preciso sair cedo pra levá-los pro sábado letivo na escola e resolver algumas coisas, vou precisar dele. É rapidinho!
- Você vai tomar vento, Fátima.
- Não vou, estou agasalhada. – ela insistiu e foi até a garagem, agarrada a uma manta grossa. Atravessou a porta e deu a volta no carro. Abriu a porta do passageiro, impulsionou o corpo pra frente e abriu o porta-luvas. Respirou aliviada por saber que os óculos realmente estavam lá. Saiu do carro e tocou a porta pra fechá-la. Mas algo chamou sua atenção. Um pequeno pano vermelho estava caído no canto do banco. Fátima não entendeu muito bem e se abaixou pra tentar enxergar melhor. “Parece renda...”. Nunca mexia em nenhum pertence de William, nem vasculhava seu carro, em hipótese alguma. Mas aquele trapo de renda despertou sua curiosidade e ela estendeu a mão e pegou-o. Sentiu suas forças se esvaindo de seu corpo ao ver que era uma calcinha. Estava sem etiqueta, sem embalagem, aparentemente usada. Não pertencia a ela, ela tinha certeza. Trêmula, olhou para os lados, atordoada. Sem pensar, berrou o nome dele.
- WILLIAM!
Não se passaram mais que 10 segundos e ele apareceu na porta, apressado. Parecia assustado com o grito dela.
- Que foi, meu bem? - Ele questionou, parado na porta. Ela permaneceu imóvel com a peça íntima na mão, de costas pra ele. – Fátima? O que foi? – ela sentiu a voz de William se aproximando.
- O que é isso? – ela girou o corpo, olhou pra ele e estendeu a mão, mostrando-o.
- Isso... isso o quê? – ela entregou a ele a calcinha.
William franziu a testa, completamente horrorizado.
- O que é isso?
- EU que estou te perguntando, William.
- Onde você achou isso?
- NO SEU CARRO. Isso não é meu.
- Não, não é mesmo.
- E DE QUEM É? – ela gritou, nervosa.
- Eu... eu não sei de quem é, eu não faço idéia. – William parecia confuso.
- COMO ASSIM, WILLIAM? TEM UMA CALCINHA NO SEU CARRO... – ele interrompeu o berro dela.
- SHHHHHHH! As crianças, os vizinhos, já está tarde...
- NÃO DESVIE O ASSUNTO, FALA!
- Entra no carro.
Ele deu a volta rapidamente, enquanto Fátima entrava e batia a porta, ainda embrulhada no edredom. Do lado de lá, William entrou também e girou o corpo pra ela, já falando.
- Meu bem, fica calma, eu...
- William, não rodeia, EU QUERO QUE VOCÊ ME FALE IMEDIATAMENTE O QUE SIGNIFICA ISSO.
- Fátima, eu não tenho NOÇÃO do que está fazendo uma calcinha no meu carro. É sério.
- Quem andou aqui? Você emprestou pra alguém?
- Não.
- Algum manobrista? NADA?
- Nada, eu... Fátima, onde estava isso?
- NO CHÃO. Aqui, no canto da porta. ESTÁ USADA. Alguém tirou ela aqui dentro. – o olho de Fátima pulsava.
William riu, nervoso. Esfregou o rosto, completamente perdido.
- Meu bem... eu realmente não sei o que está acontecendo.
- Onde você estava, William?
- O QUÊ? Fátima, você...
- ONDE VOCÊ ESTAVA?
- Agora? Eu estava no percurso do trabalho pra casa, eu já disse...
- Sozinho? – O tom dela era acusatório.
- Claro, eu... quer dizer... – ele pausou.
Fátima sentiu seu coração disparado.
- QUEM ESTAVA COM VOCÊ?
- Não, é que eu dei carona pro pessoal, era aniversário da Joana, sabe? A Joana da produção. Mas não, eles estavam em cinco pessoas, desceram no Applebee’s. Ela, a Joana, que estava nesse banco, mas eu vi ela descer. Ela não estava com nada nas mãos, sacola de loja, nada disso. Além dela, só a Raquel, mas ela se sentou do lado contrário do banco, estava aqui atrás de mim. E os três rapazes estavam sem nada nas mãos, eu ainda brinquei na saída que onde já se viu eles não levarem pasta para o trabalho...
- Quem mais, William?
- O quê, que estava no carro?
- NÃO, quem mais andou no seu carro com você. Fora eles. Eles não contam.
- Ninguém, Fátima. Ninguém mesmo.
- William, diz pra mim que você levou esse carro para o lava-jato hoje, pelo amor de Deus... – ela deitou a testa na palma da mão.
- Fátima... eu não levei. Esse carro esteve comigo hoje o dia todo, trancado dentro do estacionamento.
- William, eu estou te dando a chance de me falar a verdade, POR FAVOR...
- O QUE VOCÊ QUER QUE EU DIGA? Se eu disser que sim, que eu levei o carro pra lavar ou que sim, uma secretária entrou aqui pra pegar alguma coisa que eu tenha esquecido, você iria acreditar?
- Iria.
- Mas isso NÃO aconteceu. Eu não fiz nada disso, ninguém pisou nesse carro. Eu não vou mentir pra você pra me safar. Eu nunca fiz isso e não faria agora.
- ENTÃO ME DIZ, WILLIAM. – ela choramingava. - Tem que haver uma explicação, como uma CALCINHA se materializou no seu carro? Como você me explica isso?
- Eu não consigo explicar. Amor, eu não fiz nada. Acredite em mim.
- É O QUE EU MAIS QUERO FAZER, WILLIAM. Eu estou tentando desesperadamente acreditar em você. Você chega em casa bem mais tarde do que o de costume, me diz que foi o trânsito e eu me deparo com uma calcinha no seu carro? Se eu não viesse pegar meus óculos, você me contaria? – ela já está chorando discretamente.
- EU NÃO SABIA QUE ISSO ESTAVA AÍ. Eu não vi essa porcaria aí, não sei desde quando está aí.
- Eu andei aqui ONTEM, William. Não tinha nada aqui. NADA.
- Então de repente veio por engano numa sacola de compras suas e caiu...
- EU NÃO FIZ COMPRAS ONTEM. Pára de mirar em qualquer explicação, me diz a VERDADE. Eu encontro uma calcinha no carro do meu marido, que por coincidência se atrasou pra voltar do trabalho e ELE NÃO CONSEGUE me apontar uma justificativa pra isso! Eu não consigo acreditar que isso possa ser possível, William. Isso aqui é a NOSSA vida, não uma novela, um filme, essas coisas simplesmente não acontecem sem uma explicação. É a sua última chance.
William sacudiu a cabeça, desesperado.
- Fátima... eu não tenho nada pra te falar.
- NADA?
- Nada. Nada mesmo.
Fátima sente as lágrimas caindo pelo seu rosto. Fica em silêncio por alguns segundos.
- Você está me traindo.
- O QUÊ?
- VOCÊ ESTÁ ME TRAINDO. Não há outra forma de encarar isso, eu que preciso enxergar.
- Fátima, você tem noção do que está me acusando?
- TENHO! Eu não tinha era noção de que você era capaz de tamanha imundície, William. EU NUNCA esperava isso de você.
- Não, eu não estou ouvindo isso. – ele deita a cabeça no volante.
- EU É QUE NÃO ESTOU VENDO ISSO, WILLIAM! – ela atira a calcinha nele, transtornada. – SEU IMUNDO, DENTRO DO CARRO ONDE VOCÊ CARREGA OS NOSSOS FILHOS?
Ele olha pra ela, furioso.
- Você não pode estar pensando isso. Não realmente.
- Eu não estou pensando. Estou tendo certeza.
- Fátima, você precisa esfriar a cabeça. Vamos descansar e amanhã...
- Vá embora daqui, William.
- O QUÊ????? – ele arregalou os olhos.
- VÁ EMBORA DAQUI. – ela enxugou uma lágrima, apesar de ser um choro de estupefação, quase não acreditando no que estava acontecendo. Virou o corpo pra frente e focou o olhar na parede da garagem, pra não se desconcentrar ao olhar pra ele. Não conseguiria suportar dizer aquilo olhando pra William. –Eu não quero ver você, eu estou TÃO exausta... Some daqui, William! Pelo amor de Deus! – ela tapa o rosto com as mãos.
William sacode a cabeça.
- Eu vou passar essa noite no apartamento da Lagoa então, se é assim que você prefere. – ele abaixou a cabeça e pausou. – Em 16 anos de casamento, essa é a primeira vez que vamos dormir brigados. Eu não esperava que essa noite terminasse assim... – ele disse, cabisbaixo.
Fátima abriu a porta do carro e desceu, sem olhar pra trás e sem responder nada a ele. Bateu a porta com força e virou-se pra trás, caminhando até a entrada da casa.
William abriu o vidro e disse, logo atrás dela.
- Fátima! – ela parou, mas permaneceu de costas pra ele, engolindo seco. – NUNCA, nem por um segundo, se esqueça que eu te amo. – ela fechou os olhos ao ouvir e entrou pela porta, batendo-a com força. Ouviu o motor do carro de William ligando. Fria como uma pedra de gelo, subiu as escadas, deixando a ponta do edredom que estava enrolado em seu corpo arrastar-se pelo chão. Entrou pelo quarto do casal, fechou a porta atrás de si e encostou-se nela. As lágrimas haviam secado de seu rosto. A imagem daquela calcinha nojenta não saía de sua cabeça, por mais que ela tentasse. O quarto estava com uma temperatura confortável, então ela jogou o edredom na poltrona que enfeitava o ambiente e deitou-se lentamente na cama, apática. Cobriu-se até o pescoço e permaneceu olhando pro teto. Repentinamente, a imagem de William com outra mulher, a dona da calcinha vermelha, invadiu e tomou conta de sua mente. Ela sacudiu a cabeça e girou o corpo para o lado. Exatamente em frente os seus olhos, estava o travesseiro dele. Fátima estendeu a mão lentamente e acariciou-o, cuidadosamente. Os olhos foram ficando marejados pouco a pouco. Ela puxou o travesseiro pra si e afundou o rosto dele. Inspirou profundamente e o cheiro de William, misturado com seu gel pós-barba e seu shampoo. O odor tomou conta do olfato dela. Uma repentina crise de consciência recaiu sobre ela. Naquele momento, ela se deu conta de tudo o que havia acontecido. A discussão, o olhar de William, aquela calcinha... a decepção. Tudo o que estava por trás daquele fatídico acontecimento. Todos os caminhos que Fátima tentava encontrar pra justificar acabavam em um só fato: ela havia sido traída. Só havia essa explicação. “Não pode ser... O William não...”, ela dizia, tentando convencer a si mesma sem conseguir. Um soluço engasgado saiu da boca dela. As lágrimas pularam e invadiram seu rosto. Com o travesseiro de William no rosto, ela respirava o cheiro dele e chorava compulsivamente, abafando o som com a grossa camada de espuma. Chorou desolada por várias horas, até dormir esgotada e imensamente decepcionada e surpresa.
William dirigiu pro apartamento com o som do carro desligado. Mil coisas se passavam por sua cabeça, mas em nenhuma delas, cogitava a hipótese de que seu casamento havia acabado. Ela estava nervosa, precisava descansar e amanhã as coisas voltariam ao normal. Não conseguia pensar mais em como aquela calcinha foi parar ali, simplesmente não tinha mais estrutura pra buscar soluções pra um mistério como aquele. Por sorte, o trânsito estava mais tranqüilo por conta do horário e ele conseguiu chegar rapidamente. Deitou a cabeça no volante ao estacionar em sua vaga na garagem. Pensou seriamente em dormir ali, mas mudou de idéia ao concluir que amanheceria todo dolorido no dia seguinte se fizesse isso. Desceu do carro quase se arrastando e subiu o elevador. Destrancou a porta, entrou pelo hall de acesso e acendeu a luz, olhando ao redor. Podia ver Fátima em cada canto daquela sala, daquela cozinha e daquele apartamento inteiro. Ele não quis olhar para os porta-retratos. Sem animação para tomar banho, ele entrou no quarto do casal e se jogou na cama. Tirou apenas os sapatos com os próprios pés, empurrando os calcanhares com o dedão. Deitou a cabeça no travesseiro e agradeceu pelos lençóis terem sido trocados recentemente e não haver nada com o cheiro dela naquele quarto. Não suportaria dormir sozinho se tivesse que lidar com isso, não naquela noite. Fechou os olhos e tentou relaxar, com a convicção de que era só uma crise, uma questão de tempo. Amanhã seria um outro dia. E tudo se resolveria, porque o amor deles era mais forte do que qualquer coisa desse mundo. Respirou fundo e o cansaço tomou conta, mergulhando-o em um sono profundo.
Autor(a): bonemerlove
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O dia amanheceu nublado. Fátima abriu os olhos com dificuldade. Nem se mexeu, apenas olhou ao redor. A cabeça explodia, pesando uma tonelada. Não era só lá fora que estava nublado. Dentro daquele quarto, o tempo estava fechado também. Principalmente dentro do coraç&a ...
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 67
Para comentar, você deve estar logado no site.
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Uma_fã Postado em 16/12/2016 - 20:50:43
Adorei seu estilo de escrever,q pena q não finalizou,mas se ainda tiver acesso,finaliza,pfv. Parabéns
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neucj Postado em 14/03/2016 - 20:55:37
Quero o último cap da fic....
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babi15 Postado em 03/02/2016 - 20:21:30
Esperando deitada o ultimo cap de uma das melhores fic do casal. Ja li outras fics dessa autora e ela escreve mto bem .Parabens
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neucj Postado em 21/01/2016 - 11:07:48
Desistiu de postar o último cap???
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puff Postado em 06/07/2015 - 09:13:36
Nao vai mais postar?
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Julie_ Postado em 11/06/2015 - 15:01:05
Leitora nova *---* Cnt
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jurb Postado em 09/06/2015 - 18:57:39
Lindo DEMAIS esse capítulo! Sem palavras...
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puff Postado em 09/06/2015 - 17:39:15
Meu deus que lindooo ameiii pena q esta no fim, vc escreve muito bem
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bia_jaco Postado em 09/06/2015 - 17:35:00
Ehhhhhhhh capítulo lindo!!Bom demais ver eles juntos de novo <3 amei amei
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bia_jaco Postado em 28/05/2015 - 17:36:58
Coisa lindaaaaaaaaa!!!Amei o capítulo,tão perfeito esses dois *___*