Fanfic: Amor e ódio | Tema: Fátima Bernardes e William Bonner
O trânsito era sempre caótico naquele horário e naquela avenida. Fátima passava por isso diariamente, ao se deslocar para o trabalho. Encarava com uma relativa paciência, mas naquele dia estava mais ansiosa do que o de costume. Alcançou o declive para entrar na via marginal, virou a direita e chegou naquele enorme prédio, onde conhecia tão bem há tantos anos. Era início da tarde e o sol estava quente, mas lá dentro era sempre muito frio, então ela estava agasalhada. Estacionou em uma vaga qualquer, relativamente próxima da entrada. Agarrou a bolsa pela alça e desceu, apressada. Usava uma calça de alfaiataria cinza escura, um pouco justa no corpo e uma camisa branca. O cabelo estava solto, caído até a altura dos ombros. Livre da palidez da gripe, o rosto estava corado e ela estava mais bonita do que de costume. Caminhou pelos corredores. Olhou no relógio de pulso, estava atrasada para a reunião. Foi até sua sala, jogou a bolsa e o celular na mesa e correu para a sala onde acontecia diariamente a reunião. Passou na porta da sala dele no caminho. Não desviou o olhar lá pra dentro, manteve-se focada em cumprimentar os colegas de trabalho com quem cruzou no percurso. Joana foi uma delas. Dissimuladamente, ela sorriu pra Fátima de forma simpática. Ela retribuiu o sorriso e continuou caminhando. Joana não pôde deixar de reparar se ela usava a aliança. Ficou levemente desapontada ao ver que sim, o anel reluzia intacto no dedo anelar da mão esquerda dela. Fátima caminhou em frente o vidro, que a possibilitava ver todos que já estavam reunidos dentro da sala. Correu os olhos e viu William sentado na lateral da mesa, de costas pro restante da redação e pra onde ela estava. Aquela não seria uma tarefa fácil, definitivamente. Ela tentou se manter forte. Precisa enfrentar, era o mínimo que ela deveria fazer como a profissional competente que era. Respirou fundo e seguiu em frente.
A entrada de Fátima naquela sala, na tarde daquela segunda-feira, para todas as pessoas, foi completamente e normal. Mas no coração de William, foi um impacto imenso. De cabeça baixa, ele fazia algumas anotações. Estava observando a movimentação da redação o tempo todo, já sabia que aquele encontro aconteceria. No momento em que ele se distraiu, ouviu a porta se abrir, mas permaneceu concentrado em seu trabalho, sem ver quem entrava na sala.
- Boa tarde. – William estremeceu ao ouvir a voz dela.
Ergueu a cabeça lentamente e fitou-a, do lado de lá da enorme mesa oval. Os dois trocaram olhares. O olhar melancólico de William não conseguiu disfarçar o quanto ele estava abalado com a separação. Ela desviou o olhar, rapidamente e se sentou. William continuou encarando-a, por trás dos óculos de grau. Ela estava linda, mas não como sempre. Ele não conseguia saber se era a saudade sufocante que sentia, mas ela parecia ainda mais deslumbrante naquela tarde. Fátima não olhou novamente pra ele. Puxou algumas folhas de papel e uma caneta do centro da mesa, colocou em sua frente e, com a mão esquerda, escreveu a data do dia. Brincou com a trava da caneta, subindo e descendo o tinteiro ao apertar com o dedão. Era uma atitude aparentemente boba, mas ele sabia reconhecer. Ela estava nervosa e ligeiramente desconfortável. Conseguia sentir os olhos dele em cima dela, o tempo todo. William não conseguia ver, mas podia apostar que ela balançava a perna, como um tique nervoso. Conhecia-a bem até demais. Vê-la fez um bem imensurável a ele. Mas aquele olhar indiferente e repulsivo que ela lançou-lhe, assim que entrou na sala de reunião, fez o coração de William doer violentamente.
O fim de semana dele resumiu-se em acordar, sair pra correr no Jardim Botânico e passar o resto do dia enfiado naquele apartamento, que já era enorme, mas pareceu maior ainda sem ela e os filhos. Nem ânimo pra comer ele teve. Pediu comida por lá mesmo e se instalou no quarto de visitas. O quarto do casal era muito mais confortável, mas ele optou por não dormir lá. Aquela cama vazia, aquele guarda roupa com dois chinelos e uma blusa de frio dela o estraçalhavam por dentro. O quarto de hóspedes, ao menos, era um ambiente neutro, não haviam pertences dela e nenhuma decoração muito característica do gosto de Fátima. William jogou sua mala dentro do armário, nem conseguiu desfazê-la. Não tinha planos de morar ali por um longo tempo. Precisava reaver seu casamento e, consequentemente, sua felicidade. Se descobriu mais fraco do que pensava que era. Simplesmente não conseguia projetar sua vida longe dela, era algo completamente surreal para ele. No íntimo, achava absurda aquela relação de dependência que acabou criando pelo relacionamento deles. Mas ela não era uma esposa, apenas. Fátima era quase a essência dele. Sua força motriz. Ela conseguia como ninguém, nenhuma outra mulher conseguiria, acalmá-lo, entendê-lo, ouvi-lo e satisfazê-lo. Desde que ele a conheceu, viu nela todas as características que ele sempre procurou em uma mulher e nunca encontrou, foi por isso que se apaixonou tão perdidamente por ela. E se apaixonava novamente diariamente, ao conviver com ela e constatar o quão admirável ela era. Desde aquele sábado a noite, quando saiu de casa com uma mala lotada de roupas, ele não teve coragem de olhar nenhuma foto dela. O apartamento tinha três porta-retratos na estante da sala. Sem focar em nenhum deles, ele deitou um por um na estante. Separou apenas o que possuía uma foto dos trigêmeos. Levou pro quarto de hóspedes e colocou-o na mesa de cabeceira da cama em que estava dormindo. Aquela foto, de alguma forma, ajudava-o a suportar, apesar da saudade de estar com eles diariamente ser muito grande. Transitando entre o quarto, a cozinha e o sofá da sala, William passou seu domingo. Pensar nela ocupou uma bela porcentagem de seu dia. Mesmo sabendo que encará-la naquela segunda-feira de muito trabalho seria MUITO difícil, ele estava, de alguma forma, ansioso. Vê-la, mesmo que com um certo distanciamento, o faria bem e acalentaria seu coração.
A reunião transcorreu normalmente, relativamente tranqüila, como costumavam ser as segundas-feiras. O clima era sempre sério, mas em determinados momentos, tinha um tom de descontração entre os editores que participavam. Naquela tarde, as piadas e brincadeiras, em geral, entoadas por William, ficaram mais escassas do que de costume. Mas, nada que despertasse desconfiança por parte do restante da equipe. Ninguém notara absolutamente nada, o que era ótimo para os dois, que queriam e precisavam ser discretos naquele momento.
***
Pouquíssimos minutos antes de entrar no ar, William entrou no estúdio abotoando o blazer. De rabo de olho, ele conseguia ver que Fátima já estava sentada na posição de sempre, configurando o microfone. Procurou não olhar diretamente pra ela. Caminhou até sua cadeira, ao lado dela.
- Três minutos! – a voz do produtor ecoou.
William tirou o aparelho celular do bolso para desligá-lo. Como em um impulso impensado, conferiu sua caixa de mensagens de texto. Não havia nenhuma que ele ainda não tivesse lido, mas, sem motivo aparente, ele abriu a última mensagem enviada por ela, na noite em que brigaram e romperam. Ler aquela mensagem fora a última coisa que ele havia feito antes de entrar no ar, na sexta-feira que antecedeu o pior fim de semana de sua vida.
Estou melhor, meu amor. Obrigada pela preocupação. Amo vc, bj.
- Dois minutos! – a voz despertou William do magnetismo que olhar praquela mensagem exercia sobre ele. Ele ergueu a cabeça e olhou pra ela, ao seu lado. Fátima ajeitava o cabelo, com o semblante sério. William refletiu. Tantas coisas mudaram desde que ele leu aquela mensagem, há três dias atrás naquele mesmo horário, sentado naquela cadeira... Na ocasião, ele estava ansioso pra ir pra casa revê-la e cuidar da gripe que devastou os ânimos de Fátima. Até o momento, ele não conseguia saber a origem daquela peça íntima perdida dentro de seu próprio carro, não fazia a menor idéia. Mesmo assim, ele tinha a clara sensação de que se aquela gripe não tivesse surgido e ela tivesse ido trabalhar naquele dia, muitas coisas estariam diferentes. Desde que acordou naquela sexta-feira, William sentiu uma angústia. Ele não tinha idéia do que aconteceria, mas agora ele analisava como se fosse uma espécie de pressentimento. Olhar pra ela sentada ao lado dele naquela bancada fez com que ele concluísse. Não seria nada fácil reconquistá-la. Precisava começar provando a ela que foi vítima de uma farsa, de uma injustiça. Naquela altura, ele não sabia se foi acidental ou proposital, mas ele descobriria. Ainda não fazia idéia de por onde começar a fazer isso, mas ele fez daquilo uma questão de honra, uma meta de vida. Precisava reverter aquela situação. Precisava ter de volta sua família. Precisava reaver sua vida, sua felicidade e sua paz. Precisava absurdamente dela. Somente dela. Faria jus a cada palavra que disse a ela na noite em que atravessou a sala de casa puxando uma mala: “ – Não existe nesse mundo mulher capaz de me fazer abrir mão de você. Nem vai existir. Porque eu não vou desistir de você. De nós dois e do nosso amor.” William fechou os olhos. Enfiou o telefone no bolso e tentou se concentrar.
- Trinta segundos pra entrarmos no ar!
Aquela missão de William seria longa e penosa, ele sabia disso. Duraria semanas ou até meses, ele tinha plena consciência. Mas nada o faria fraquejar.
Autor(a): bonemerlove
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Setembro de 2006. Um mês se passou desde o rompimento de Fátima e William. Para William, havia sido um mês que ele praticamente pairou, inerte. Se afundou em trabalho, vivia pelo trabalho e pelos filhos. Levava-os todos os dias na escola. Nos fins de semana, saíam pra almoçar ou lanchar. Eventualmente, eles dormiam com o pai ...
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 67
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Uma_fã Postado em 16/12/2016 - 20:50:43
Adorei seu estilo de escrever,q pena q não finalizou,mas se ainda tiver acesso,finaliza,pfv. Parabéns
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neucj Postado em 14/03/2016 - 20:55:37
Quero o último cap da fic....
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babi15 Postado em 03/02/2016 - 20:21:30
Esperando deitada o ultimo cap de uma das melhores fic do casal. Ja li outras fics dessa autora e ela escreve mto bem .Parabens
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neucj Postado em 21/01/2016 - 11:07:48
Desistiu de postar o último cap???
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puff Postado em 06/07/2015 - 09:13:36
Nao vai mais postar?
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Julie_ Postado em 11/06/2015 - 15:01:05
Leitora nova *---* Cnt
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jurb Postado em 09/06/2015 - 18:57:39
Lindo DEMAIS esse capítulo! Sem palavras...
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puff Postado em 09/06/2015 - 17:39:15
Meu deus que lindooo ameiii pena q esta no fim, vc escreve muito bem
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bia_jaco Postado em 09/06/2015 - 17:35:00
Ehhhhhhhh capítulo lindo!!Bom demais ver eles juntos de novo <3 amei amei
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bia_jaco Postado em 28/05/2015 - 17:36:58
Coisa lindaaaaaaaaa!!!Amei o capítulo,tão perfeito esses dois *___*