Fanfic: DOCE VINGANÇA DE AMOR - ADAPTADA (FINALIZADA) | Tema: PONNY, Mentiras, Intrigas, Drama, Romance

Um som de automóveis chamou-lhe a atenção. Dois chega­vam pela estrada. Reconheceu a caminhonete de tração nas quatro rodas que ele mesmo dera de presente ao sobrinho em seu vigésimo primeiro aniversário. Mas o segundo veículo era mesmo de chamar a atenção: um esportivo clássico da década de sessenta. O capô comprido e exagerado e as rodas eram inconfundíveis. Ao sol do meio-dia, a pintura mostrava-se im­pecável, um prazer para olhos conhecedores, e Alfonso adorava carros antigos.

Jamie saltou da caminhonete e abriu a porta de trás para um casal de meia-idade. Alfonso olhou rapidamente para o ho­mem e a mulher e para a morena bonita que foi ao encontro de seu sobrinho, provavelmente a noiva. Olhou de novo para a máquina esportiva dos anos sessenta. Talvez o fim de semana não estivesse perdido, afinal, se encontrasse algum diletante com quem conversar sobre carros antigos. O proprietário da­quela jóia devia ser uma pessoa interessante.

Alfonso enrijeceu-se, os olhos castanhos geralmente gélidos cintilando ante o condutor que saltava e retirava uma poeira microscópica do capô. Era uma mulher, e que mulher! Alta, pernas longas, cabelos presos à nuca com um lenço vermelho de seda. Quando se voltou, pôde ver-lhe a massa de cachos cobrindo parcialmente as costas elegantes. Franziu o cenho ao ouvir as vozes trazidas pela fresca brisa primaveril.

—- Onde arranjou este ferro-velho, Annie? Não deve cumprir as normas de trânsito! — Era Jamie provocando, com diver­timento no olhar e o braço ao redor da cintura da noiva.

A condutora fechou o porta-malas de onde tirara a bagagem e fitou o jovem casal.

— Cuidado, rapaz! Quem insulta Bertram, insulta a mim! Ele é o amor da minha vida e muito mais dependente que qualquer homem. — Annie, de olhos verdes brilhantes e boca carnuda, rebolou ao encontro dos noivos. — E fique sabendo, Jamie, que esta belezura pertenceu a meu pai e deve valer o dobro do seu carro.

— Ela tem razão. É um clássico e muito procurado — co­mentou o senhor grisalho ao lado da esposa. — Que coincidência chegarmos juntos. Espero que não tenha corrido muito na es­trada, Anahi, querida.

— Sim, foi coincidência. Reconheci a caminhonete de Jamie quando passei por Richmond, mas já tive o prazer duvidoso de ser apanhada no aeroporto por esses dois na semana passada e... bem, preferi vir sozinha. E não, tio Alex, não ultrapassei o limite de velocidade — tranqüilizou, sorridente.

Alfonso mal ouvia a conversa, perturbado com a reação do corpo à beleza daquela mulher.

Ora, não se empolgava tanto com o sexo oposto havia mais de uma década! Estava chocado, mas não surpreso. Talvez devesse aumentar a freqüência de visitas à amante...

Recuou um passo e, meio escondido entre as pregas da cor­tina, continuou observando a cena. Avaliando mais uma vez a loira sorridente, tomou uma decisão. Iria seduzi-la. Esma­garia aqueles lábios sensuais com os seus. Tiraria suas roupas e se enterraria em sua feminilidade repetidas vezes. Com um brilho malicioso no olhar, Alfonso sentia-se mais vivo do que nunca. O final de semana lhe prometia uma experiência ines­quecível. Para a loira também, jurou. Sentiu vontade de es­murrar o sobrinho só porque ele conseguiu um sorriso dela.

Naquele instante, a mulher olhou para a janela e ele recuou, enfiando as mãos nos bolsos da calça jeans. O destino dela estava selado, mas aquele não era o momento da abordagem. Precisava de um plano, o qual elaboraria assim que suas mãos parassem de tremer e seu cérebro superasse o efeito da testosterona em excesso, como se voltasse à adolescência.

— Seus convidados chegaram, Teresa — anunciou à irmã, sem demonstrar a agitação. — Vou dar uma volta e encontro vocês no jantar. — Sem esperar resposta, atravessou a sala e saiu pela lateral que dava no jardim.

Annie apreciou a construção de tijolos vermelhos, sazonado, porém de aspecto acolhedor. As janelas projetadas para fora, quase como varandas, eram adornadas por trepadeiras delica­das. As folhas novas da planta que cobriam parcialmente as paredes apresentavam pequenas flores cor-de-rosa. Mais ani­mada com o final de semana, ajeitou o suéter de cashmere verde, segurou a mala com mais firmeza e seguiu para a en­trada da casa. No meio do caminho, porém, parou e contemplou a fachada.

Tinha a estranha sensação de que alguém observava cada movimento seu. Apreciando de novo a construção, já não a achava tão acolhedora. Convencida de que tivera apenas uma má impressão, apressou-se para alcançar os outros.

Médica de um departamento governamental de auxílio in­ternacional, após três anos de serviço na África, seu diretor lhe impusera férias, pois ela se envolvia demais com os pa­cientes e parecia estressada. Deveria passar três meses na Inglaterra a fim de evitar um colapso nervoso. Annie não admitia estar tão mal, mas reconhecia o perigo. Começava a achar que precisava mesmo de descanso, considerando aquela sensação de ser espionada em todo lugar!

A porta da frente estava totalmente aberta e Annie esque­ceu-se dos medos ao ser apresentada à mãe de Jamie, Teresa, uma senhora morena aparentando quarenta e poucos anos. O pai, David, era alto, tinha os cabelos grisalhos e parecia bem mais velho do que a esposa.

No espaçoso saguão, conversaram sobre amenidades típicas, o clima e a viagem até ali. Annie sorriu para tia Jean e tio Alex, feliz por vê-los satisfeitos. A prima Ann agarrava-se ao noivo como se temesse que ele fugisse, os olhares indicando que estavam profundamente apaixonados.