Fanfic: DOCE VINGANÇA DE AMOR - ADAPTADA (FINALIZADA) | Tema: PONNY, Mentiras, Intrigas, Drama, Romance

CAPÍTULO II

Annie encarou Alfonso. — Se tivesse passado alguns anos em lugares problemáticos do mundo, como a África, e visto o que as mu­lheres sofrem em uma sociedade machista, não acharia o as­sunto tão divertido. Vi garotas sofrerem circuncisões horríveis só porque esse é o costume. E outras morrerem aos catorze anos no parto, resultado de violência sexual. Pessoas como você me desgostam.

— Parece que a aborreci e não foi essa a minha intenção — declarou Alfonso. — Peço desculpas, sinceramente.

— Eu não me preocuparia com isso, Alfonso — interveio Alex. — Ela sempre foi assim. Foi má sorte tocar num assunto tão delicado para ela. Annie vai superar.

— Importa-se, tio? — protestou ela. — Posso falar por mim mesma. — Ignorando o pedido de desculpas de Alfonso, afastou-se.

Detestava injustiça, principalmente contra crianças. No fun­do, ainda se ressentia do modo como Alfonso a tratara quando tinha apenas dezenove anos. Imaginara haver enterrado o pas­sado, mas o reencontro lhe trouxera lembranças ruins. Sendo que ele sequer a reconhecia!

Annie já estivera no hotel onde jantariam. Na infância, cos­tumava passar as férias com os tios ah em Yorkshire e fre­qüentavam o restaurante do hotel com regularidade.

Teresa ocupou uma das cabeceiras da mesa retangular e o marido, a oposta. Alex e Jean escolheram seus lugares e Annie apressou-se em se sentar perto deles. De forma alguma, ficaria ao lado de Alfonso. Pegou o guardanapo de linho e o abriu ao colo, aliviada. Mas o alívio durou pouco, pois descobriu seu algoz bem à frente, perto de Ann e Jamie.

Encarou-o e pensou ver um brilho sinistro nos olhos dou­rados. Rapidamente, escondeu-se atrás do menu que o garçom ofereceu-lhe, mas não conseguiu se concentrar na lista de pra­tos. Incomodava-se com o homem cínico à sua frente. Que brin­cadeira do destino sua prima Ann conhecer o sobrinho dele, Jamie, em seu próprio apartamento em Londres! E por que Alfonso estava ali sozinho? Sabia que ele era casado; portanto, onde estava a esposa? Tinha filhos? Sentiu o coração falhar com a idéia.

Olhou para o tio. Os dois e Ann eram sua única família após a morte de seus pais num acidente de avião quando tinha dezessete anos. Depois que Ann se casasse com Jamie, o que seria dela? Não conseguia imaginar uma vida que incluía Alfonso como membro da família. Casamentos, aniversários, ba­tizados com a presença arrogante de Alfonso Herrera... Nun­ca conseguiria manter a farsa de não conhecê-lo. Na verdade, tinha dúvida de que sobreviveria ao final de semana sem pôr as cartas na mesa.

Annie odiava-o com todas as forças, um sentimento estranho à sua natureza carinhosa. Não era orgulhosa, mas não podia evitar.

— Já decidiu o que vai querer, Anahi? — indagou ele, num tom melodioso. — Ou quer que eu escolha?

A audácia de sugestão deixou-a fora de si. Ela baixou o menu e lançou um olhar furioso para o rosto bonito. Em qual­quer outro homem, a cicatriz seria feia; nele, dava um ar in­dômito, rebelde, salientando a perfeição da estrutura óssea. Sabia que ele só queria provocá-la.

Colocou o menu fechado sobre a mesa.

— Não preciso da sua ajuda. Melão com salada de camarão.

— Mantendo a forma? — Alfonso ergueu o sobrolho. — Não precisa... você está ótima. Mas tenho certeza de que muitos homens já lhe disseram isso.

Alfonso não perdera o charme legendário. O brilho no olhar era suficiente para mostrar interesse, mas não o bastante para ofender. Oh, e ele era bom, recordou Annie, decidindo fazer o jogo dele.

— O senhor está me bajulando, Sr. Herrera — acusou, batendo os cílios, coquete.

Ele contraiu o lábio.

— Alfonso, por favor. E eu não estou exagerando. Você é uma mulher linda sob qualquer aspecto — acrescentou, após uma pausa deliberada, durante a qual observou-a com inte­resse, concentrando-se no decote que deixava entrever os seios. Encarou-a. — Uma perfeição que seria um crime estragar com o desejo de se manter muito magra.

O comentário sobre dieta era assustadoramente familiar. Ele dissera o mesmo na noite em que passaram juntos. Annie estreitou o olhar, mas a expressão dele não denunciava nada.

— Oh, eu não faço dieta, simplesmente gosto de salada. E aposto como você vai pedir bife. — Ela arregalou os olhos, como se recordasse algo. — Oh! Talvez não, esqueci que são da mesma espécie.

— Anahi — repreendeu tia Jean. — Que comentário! Completamente absorta no confronto com Alfonso, Annie não

percebeu que todos haviam parado de conversar. Ann e Jamie sorriam divertidos, indicação de que tinham ouvido tudo.

— O quê? — Annie deu de ombros e explicou: — Eu só me lembrei de que Alfonso é espanhol e sei que os espanhóis gostam de carne bovina, daí todas aquelas touradas. — Mantendo a expressão inocente, aliviou-se ao ver que convencera os tios. Mas Alfonso deixou claro que não se deixara enganar, esboçando um sorriso frio. Ele sabia que sua intenção fora insultá-lo.

— Uma comunicação instantânea entre dois estranhos é espantosa — replicou ele, em mais um comentário dúbio. — Você lê meus pensamentos, Anahi. Vou começar com salmão defumado e, depois, um bom bife, sim, mesmo sendo de vaca inglesa, embora o resto da Europa a tenha banido por um bom tempo. Tenho certeza de que é tão saborosa quanto a carne espanhola.

Que homem desprezível... Mas Annie não precisou revidar, pois o garçom estava de volta para anotar os pedidos.