Fanfic: DOCE VINGANÇA DE AMOR - ADAPTADA (FINALIZADA) | Tema: PONNY, Mentiras, Intrigas, Drama, Romance

CAPÍTULO III

Confusa, Annie encarou-o. Um reflexo do globo de espelhos multifacetado iluminou o semblan­te de Xavier que, por um instante, pareceu o mal em pessoa.

— Obrigado. Você dança bem — elogiou ele.

— Obrigada — murmurou ela, corada de constrangimento. O que acontecia? Como pudera ser burra a ponto de acreditar que um homem como Alfonso Herrera a beijaria no meio da pista de dança lotada? Desviou o olhar e recuou. — Você tam­bém dança bem.

— Venha, acho que cumprimos nosso dever. O jovem casal pode se cuidar e eu preciso de uma bebida gelada. — Ele lhe tomou o braço e a conduziu à saída e de volta para o térreo. Havia uma relativa paz no salão de festas. Annie estava tão confusa que se deixava conduzir.

Ele pediu duas limonadas a um garçom e fez Annie sentar-se no sofá.

— Muito champanhe e muita dança, podemos acabar desi­dratados — comentou ele, acomodando-se a seu lado.

Ela se voltou para ele.

— Eu sei. Sou médica — replicou, irritada por estar acalo­rada, com os cabelos soltos e desgrenhados, enquanto Alfonso continuava impecável. Nem a gravata borboleta estava torta, constatou, desgostosa.

O garçom trouxe o pedido. Annie agarrou seu copo e o drenou num gole. Seu acompanhante fez o mesmo.

— Eu precisava disso — admitiu ela, ao pousar o copo na mesinha.

— E eu — concordou Alfonso, quando terminou sua bebida. Havia bastante espaço entre eles agora e Alfonso avaliou-a com olhos semicerrados. — Uma doutora muito inglesa e que dança como uma latina! — Ergueu o sobrolho, entre atônito e irônico, e sorriu. — Diga-me o seu segredo. Onde aprendeu a dançar salsa?

Era uma pergunta inocente e Annie aproveitou a oportuni­dade de adotarem uma conversa descontraída. Assim, a tensão de origem sexual que se acumulara e que a consumia se dis­siparia. Embora a expressão interessada e ao mesmo tempo distante de Alfonso indicasse que ele não sofria do mesmo mal.

— Na África — revelou ela, fazendo pausa enquanto lem­branças felizes faziam seus olhos brilhar de alegria.

— Na África?

— Dominic, um arqueólogo de Buenos Aires, acabou em nosso hospital na Somália. Aparentemente, ele viajava por con­ta própria quando foi assaltado e teve sorte de escapar com vida. Estava sem dinheiro, sem roupas, com um olho roxo e a cabeça quebrada, mas ainda tinha um CD de salsa, tango e samba. Ele tocava o CD dia e noite no centro de lazer dos residentes. Quando Dominic foi embora, três meses depois, eu já sabia dançar os três ritmos. Ele também cantava — com­pletou Annie, sorrindo.

A limonada lhes fizera bem e a noite estava quase acaban­do... Alfonso já pedira um táxi. Annie podia ser amigável e baixar a guarda.

Nem imaginava a tentação que representava para aquele homem. Alfonso não deixava transparecer nada e apenas um brilho no olhar indicava o interesse. Admirou suas mechas de cabelos loiros compridos emoldurando o rosto oval, o decote baixo expondo o alto dos seios, ultrapassando o limite da de­cência. Voltada para ele com as longas pernas cruzadas, exibia a coxa macia que pedia para ser tocada por mãos masculinas. Ao mesmo tempo, ela parecia alheia a esses detalhes.

— Dominic voltou para a Argentina e, da última vez que tive notícias, ele estava em algum lugar nos Andes procurando o sítio arqueológico de um local usado em sacrifícios pelos an­tigos índios — completou Annie, com certa tristeza. Dominic apaixonara-se por ela e, numa noite memorável, acabaram na cama. Foi um erro, que quase estragou a amizade deles.

— Esse sítio arqueológico parece o melhor local para ele — opinou Xavier, irônico.

— Por que diz isso? — indagou Annie, surpresa. — Trata-se de um homem gentil, você provavelmente gostaria dele. — Ao dizer isso, percebeu que era mesmo verdade. Dominic parecia-se com Alfonso, embora sem o traço rude dele. Sincera, admitiu que, talvez por isso, ele fora o único homem com quem dormira em dez anos. Ele lhe lembrava Alfonso! Dominic felizmente percebeu que não era correspondido e desistiu de conquistá-la.

— Se você diz — aceitou Alfonso, e sorriu. Assentiu a alguém atrás de Annie e levantou-se. — Nosso táxi chegou. — Estendeu a mão e algo no olhar indicou a Annie que não devia argumentar. Ela aceitou a mão.

Mas Alfonso não precisava puxá-la com tanta violência, pen­sou ela, quase tropeçando no salto. Ele avaliou seu rosto, aper­tou a mão e a conduziu à recepção.

— Qual é a pressa? — protestou Annie, com um arrepio na espinha. Não sabia se devido ao vento frio da noite ou à mão forte em suas costas.

— Entre no carro — disse ele, gélido, soltando-a. — Foi um dia longo, será uma noite ainda mais longa e eu já tive o bastante. Ficarei contente em chegar em casa amanhã. Com você, Jamie e Ann, claro.

Por que ela achava que a última frase fora um complemento à idéia original? Annie franziu o cenho e entrou no táxi.