Fanfic: Outro lado do amor | Tema: drama adolescente

 Acordei com a minha mãe me chamando pro curso, ela ainda não sabia o que tinha acontecido. Minha cabeça não conseguia processar nada, não conseguia dizer uma palavra sequer. Ela ficou me olhando meio assustada, e depois ficou meia hora falando alguma coisa. Por mais que eu tentasse, eu não conseguia prestar atenção em nada. Estava tudo bagunçado, eu estava completamente bagunçado. Apenas olhei pra minha mãe e chorei, chorei até não poder mais. 

- Agora que você está mais calmo, me diga, o que aconteceu?
- Eu vi a Júlia beijando aquele cara outra vez, o do teatro.- Ela me olhou confusa, levou as mãos até a boca e balançou a cabeça em negação.- Meu telefone não tocou, não tem nenhuma ligação dela. Eu pego ela beijando o cara que eu mais detesto na vida, e ela não liga nem pra rir da minha cara!
- Filho, você provavelmente não vai gostar de ouvir isso, mas eu tenho que dizer mesmo assim, é o que eu sinto. A Júlia te ama, vocês se amam. Isso ta muito estranho, a Júlia estaria batendo nessa porta feito uma louca, mas não estaria te dando espaço!
- Mãe, você não ouviu o que eu disse? Ela me traiu, eu vi tudo!
- Essa não é a Júlia e você sabe disso. Você a conhece melhor que ninguém.- Ela me deu um beijo na testa e me deixou sozinho no quarto.
Peguei meu celular, nada dela. Tinham várias mensagens, nenhuma dela. Cliquei em todos os aúdios que a Sara me enviou, imaginando que poderia encontrar algo, alguma resposta. Mas era só uma melhor amiga desesperada, por não saber nada. E em seguida um melhor amigo querendo saber como eu estava, "nada bem" seria a resposta mais leve. Tinham algumas mensagens da Fernanda também, achei que seria bom agradecer pela ajuda. Então me deparei com uma menina louca pra falar comigo, a última mensagem ela disse que estava a caminho da minha casa. Depois de dois segundos ouvi a porta batendo, era ela.
- Léo, você tem que me perdoar, eu não sabia que ele era um louco, eu não sabia.- Ela estava chorando, e eu não entendia nada.
- Quem é louco?
- O Victor.- Ela me entregou seu celular.- Ela ta com a Júlia.- Por um momento pensei que fosse num sentido que eu não queria ouvir, mas quando li as mensagens, vi que era algo muito pior. O Victor sequestrou a Júlia.
- O que você fez? Fernanda, o que você fez? Onde ta a Júlia?
- Eu não sei, eu juro que não sei. Ele só me disse isso, que conseguiu colocar ela no carro, porque ela desmaiou. Me desculpa, eu não sabia que ia chegar nesse ponto.- Ela caiu no chão chorando, mas eu não tinha tempo pra isso, chamei minha mãe e saí.
Eu fui direto pra casa da Júlia, precisava falar com seus tios e explicar tudo que aconteceu. Eles não sabiam onde a Júlia estava, e quando me viram sem ela, ficaram ainda mais preocupados. Expliquei tudo que aconteceu, a tia da Júlia começou a chorar, pegou a Duda no braço e saiu da sala.
- Precisamos ir até a delegacia, você acha que essa Fernanda pode levar o celular, pra mostrar toda a conversa?
- Vou ligar agora mesmo pra ela.- A Fernanda ainda estava na minha casa, minha mãe atendeu dizendo que ela tava tendo uma crise de choro.- Mãe, eu preciso que você leve a Fernanda pra delegacia, precisamos das provas que só ela tem.
- Tudo bem filho, eu vou falar com ela, chegaremos logo.- Logo em seguida saímos e no carro eu liguei pro Bruno. Ele e a Sara chegaram lá depois de um tempo.
O delegado ficou algum tempo com a Fernanda, até demais na minha opinião, eles já deviam estar procurando pela Júlia. Eu não conseguia ficar parado, ou sentado, ficava apenas andando de um lado pro outro. Assim que ela saiu da sala, ele ordenou um grupo pra ir em busca da Júlia.
- O que eu posso fazer?- Perguntei desesperado.
- Você pode continuar me mantendo informado, e esperando por novidades no caso. Não quero ninguém se metendo nisso sem minha autorização, vocês adolescentes sempre fazem algo. Apenas aguardem!
Aguardar. Isso me lembrava o corredor do hospital, esperando por algo que nunca chega. Que leva uma eternidade. Sentei por fim, a Sara me abraçou e depois disso não sentia mais nada. Apenas o medo. Dizem que só sentimos medo, quando temos algo a perder. Nesse caso, eu tinha bastante. Ia perder o que significava o amor pra mim, e isso não podia acontecer, nunca. Quando olhei pra janela, já estava tudo escuro, o delegado saiu de sua sala e eu imaginei que fosse mais um alarme falso.
- Temos um lugar, estamos indo pra lá agora.
- Eu quero ir, eu tenho que ir!- Levantei gritando e minha mãe tentou me segurar.
- Vocês podem vir, mas vão ficar com uma certa distância do local. Iremos na frente, depois de algum tempo vocês vão chegar e ficar posicionados onde for estabelecido. Quero deixar bem claro, que qualquer barreira que vocês quebrarem, pode custar muito caro!
Todos concordamos com os termos, no caminho eu só conseguia pensar em como ela estava. Com medo, certamente com muito medo. E ela devia estar segurando suas mãos, porque é isso que ela faz quando se sente só. E eu não estou lá pra segurar a sua mão, lhe dar um beijo e dizer que vai ficar tudo bem. O que me deixa mais furioso e me acompanhou o dia todo..."E se" eu não tivesse ido embora sem uma explicação. "E se" eu tivesse notado que aquilo era mais um plano da Fernanda. O "e se" me deixava maluco. O carro parou, estava tudo escuro, mas vi um pequena luz. Parecia uma janela, em seguida uma sombra, alta. Era ele, era o infeliz do Victor.
- Calma cara, lembra do que o delegado falou, não prejudica a Júlia. Eles sabem o que tão fazendo, deixa com eles.- O Bruno ficou o tempo todo do meu lado, se certificando de que não ia sair correndo, e atrapalhar tudo.
- Isso tem que acabar logo, tem que acabar logo.- Eu disse sem forças pra segurar o choro. Apenas deixei tudo sair. A minha mãe e a Sara tentaram me acalmar.
- Já ta acabando, shhhh!
Fiquei atento, observando cada movimento da cabana. Ele apareceu na janela, está falando algo, mas não consigo ouvir nada. O que ta acontecendo? Não consigo perguntar, só consigo olhar e esperar as coisas acontecerem. Ele saiu da janela, mais sombras altas de um lado pro outro. Minutos depois a porta se abriu, meu coração parou quando vi aquilo. Ele estava a segurando nos braços, ela não estava acordada. O que aconteceu?
- Saiam da frente! Precisamos ir! Saiam da frente!- A levaram e alguém me puxou de volta pro carro. O tio da Júlia estava dirigindo o mais rápido que podia, ele não falava nada, ninguém falava nada. Nenhuma palavra.
- A Júlia passou por um forte momento de emoção, ela entrou em pânico, o que fez com que ela tivesse algumas dificuldades. Mas está tudo bem, já resolvemos todos os problemas e vocês já podem vê-la.- Disse a médica que a atendeu.
Ela estava dormindo, tinha alguns ferimentos leves. Parecia um anjo, como sempre. Todos a cercaram, e sua tia ainda chorava. Ela tava demorando pra acordar, então seus tios foram resolver algumas coisas com o hospital, e os outros foram comer. Eu apenas não consegui deixá-la sozinha.
- Me desculpa. Me desculpa por não ter ficado, passei o dia todo pensando nisso. Eu não devia ter ido embora sem ter ouvido algo. Você jamais faria isso comigo, e eu nem sequer pensei. Eu apenas fiz o que foi mais fácil, eu fugi.- Segurei em sua mão.- Então me desculpa, me perdoa meu amor.
- Você ta chorando?- Ela perguntou com a voz fraca e eu dei um pulo.
- Você acordou! Finalmente.
- Eu preciso de água.- Olhei ao redor e não tinha nenhum copo, nada.
- Fica aí, eu vou pegar pra você.
- Não tem como eu sair daqui no momento.- Ela riu. Me fazendo lembrar do medo de perder isso.
- Eu te amo, não esquece disso.
- Passei cada segundo naquela cabana lembrando disso. Não é fácil esquecer que você me ama, Leandro. Agora se você quiser que eu continue falando...Água.- Nós rimos.