Fanfic: Outro lado do amor | Tema: drama adolescente

Eu tinha dezoito anos quando descobri o amor, antes disso o achava a coisa mais idota que se vendia através de filmes e novelas. Ela era uma garota da minha sala, estudamos juntos durante quatro anos, mas nunca trocamos uma palavra sequer. Ela vivia no canto da sala, sem nenhum amigo, sem falar nada. Os outros alunos não a notavam, talvez eu fosse o único que a notasse. Mas eu sabia, sempre soube, que tinha algo naquela garota. Algo que eu sempre quis descobrir, algo que eu queria pra mim...Mas ainda não sabia.
- Sabe o que eu acho? Que você devia ir nessa festa cara, fala pra sua mãe que é a última festa do ano e vai...Se ela não deixar você pula pela janela, sei lá, dá um jeito qualquer. Perder essa festa vai ser um crime.- Bruno estava repetindo isso a duas semanas, já tiveram tantas festas ditas como "a última do ano".
- Eu vou tentar cara, você não precisa ficar falando disso toda hora, já entendi. Vou dar um jeito de ir.- Nós estavamos saindo do colégio, e lá estava ela, no seu canto como sempre.
- O que foi? Vai ficar olhando pra esquisita de novo?
- Não fala assim...Eu tenho curiosidade, só isso.- Ele riu da minha cara, como sempre fazia quando se tratava dela.
- Você pode sair por aí perguntando a todos o nome dela, eu aposto que nem os professores sabem...Então não, eu não tenho curiosidade, ela pode ser uma daquelas malucas que matam os outros, feito naquele filme que a gente viu ontem.- Eu já tava de saco cheio com a forma que o Bruno falava disso, por mais que fosse o jeito dele.
- Tudo bem, vou pra casa. Esse colégio está definitivamente acabado, meu último dia aqui, finalmente.
- Nosso! Graças a Deus, não aguentava mais aquela professora de química, parece uma múmia de tão velha.- Nós rimos, reza a lenda que ela está ali desde que a escola foi fundada.
A festa era hoje a noite, a Fernanda já tinha ligado e mandado mensagem perguntando se eu iria. Ela estava afim de ficar comigo novamente, mas eu não, então estava fugindo dela durante os últimos dias. Mas deixar de ir na nossa "última" festa por isso seria um crime segundo meu amigo. Olhei na janela, já via alguns caras da minha rua saindo com o carro dos pais, estava na hora.
- Vai sair?- Perguntou minha mãe, ela estava com a mesma camisola de sempre, era deprimente vê-la daquele jeito.
- Vou, e você devia fazer o mesmo. Tem uns filmes bem legais no cinema...
- Talvez eu vá qualquer dia desses.- Ela forçou um sorriso, que saiu como todos os outros...triste.
Dei um beijo nela e fui até o carro. Tinha que ir antes na casa do Bruno, ele não conseguiu o carro com o pai. Quando chegamos na festa demos de cara com a Fernanda, ela logo colou em mim e parecia que não ia sair nunca. Circulamos pela festa, falamos com todos os amigos e eu finalmente vi um jeito de me livrar da Fernanda...Fui até o banheiro. Quando saí do banheiro vi no bar alguém que me chamou atenção de imediato. Era ela. Ela estava ali, a única pessoa que eu jamais ousei imaginar naquela festa.
- Se eu fosse você não tomava isso, esse drink só tem cor, o gosto é horrivél.- Disse meio nervoso, nunca tinha falado nada com ela. Ela me olhou e não demonstrou nada, apenas ficou me olhando.- Meu nome é Leandro...
- Eu sei quem você é. Estudamos na mesma sala.- Ela disse fria e tomou mais um gole do drink.
- É, eu sei disso. Mas pensei que você não soubesse nada sobre mim.
- Bom...Leandro, eu sei muito mais sobre você, do que você sabe sobre mim.
- Gostaria de saber sobre você.- Só depois me toquei do que tinha dito, merda. Ela não falou nada, apenas desviou o olhar. Que merda que eu fiz, e agora?
- Pra começar...Você pode saber que esse drink é gostoso, mas você tem que saber fazer.- Ela me deu o seu copo, e realmente, tava bom mesmo.
- Você tem toda razão.- Eu ri e ela quase fez o mesmo, mas parou.
- Aposto que você está se perguntando o que eu to fazendo aqui.- Fiz que sim.- Eu vim com uma amiga, ela queria vir nessa droga de festa e agora está se esfregando com um cara por aí.
- Você quer sair daqui?
- Você ta me chamando pra sair daqui com você?
- Talvez...Sim, estou.- Disse meio atrapalhado.
- Por que você acha que eu iria sair com você?
- Você sempre responde uma pergunta com outra?
- Não sei, você se incomoda com isso?- Ela agora sorriu, e isso fez todo meu corpo arder e ao mesmo tempo deu um calafrio, uma parada muito louca, devia ser aquela bebida.
- Não, eu não me incomodo nem um pouco.
- Legal, então vem.- Ela levantou e eu fiquei sem entender nada.- Anda...Você não quer sair daqui?
Essa menina era completamente maluca, ou eu era completamente maluco, talvez os dois. Nós fomos andando sem nenhuma direção, paramos numa lanchonete do posto de gasolina e pedimos fritas pra comer em cima do carro.
- Eu gosto disso.- Ela disse do nada.
- Do quê?
- Disso, estar aqui comendo batata frita e olhando as estrelas. Já observou como elas aparecem melhor sem tanto prédio por perto? Eu amo isso.- Se você pudesse ver o que eu estava vendo nesse momento. Uma garota sorrindo da forma mais linda enquanto olha as estrelas. E seus olhos brilhando...Era mágico. Você só via uma menina daquele jeito se ela estivesse vendo um anel de diamantes.
- Eu acho que a gente devia ter se conhecido antes...
- E o que te impediu?- Nossa, essa menina tinha resposta pra tudo! Eu nunca fiquei sem ter o que falar diante de uma garota, alias, nunca tive que pensar no que falar pra uma. Nunca quis impressionar tanto alguém como queria com ela.
- Você.- Ela ficou me encarando durante um tempo.
- Ok. Vamos lá...O que você quer saber sobre mim?
- Tudo.- Ela me olhou novamente daquele jeito, é...Eu estava conseguindo fazer o jogo dela.
- Bom...Meu nome é Júlia, estudamos juntos durante quatro anos e meu sorvete preferido é flocos. Acho que é isso...-Eu sorri e dessa vez ela também.- Tenho que ir a minha amiga deve ta me procurando.
- Tudo bem, eu também tenho que voltar pra festa...Deixei meus amigos achando que eu fui no banheiro.- Ela riu e entramos no carro, o caminho todo em silêncio, as vezes dava pra ouvir um sussurro que vinha dela quando ela sabia a música da rádio. O que me fazia rir, por que ela não devia notar que estava fazendo isso. Quando chegamos na festa eu a fiz parar antes de entrar.- Me dá seu número.
- Tá...-Ela pegou meu celular e anotou seu número e em seguida entrou como um furacão na festa. Não demorou muito pra achar o bruno, ele estava tão bêbado que eu me perguntei por quanto tempo estive fora. Ele estava em cima do centro da sala, rodando a camisa enquanto algumas garotas jogavam bebida e o lambiam.
- Oi sumido.- Tava demorando pra Fernanda aparecer.- Por onde você se meteu? Te procurei a festa inteira!
- Eu dei uma saída.- Peguei a cerveja que ela ofereceu e dei um gole, só assim pra aguentar.- Ele aprontou muito?
- Bom, o de sempre. Quase brigou com um cara...Mas conseguiram separar.- Ela se aproximou de mim, já sabia onde isso ia dar...
- Eu acho melhor tirar ele dali.- Fui em busca do Bruno e o levei pra um sofá.- Você quer ir pra minha casa?
- Não! Eu quero ficar aqui cara, olha só isso.- Ele abriu os braços quase me derrubando.- Olha essa festa, esse é o melhor dia da minha vida.- Ele berrou fazendo alguns bêbados em volta gritarem junto com ele.
- Vem cá, deixa ele. Vem dançar comigo.- A Fernanda me puxou e fomos dançar. Lá estavam as amigas dela com alguns caras de outra sala. Todas sorriram daquele jeito quando me viram junto dela. Elas acham que eu não noto isso? Todos esses sorrisinhos e ainda tem umas que falam algo achando que não são notadas. Tão patético.
- Me desculpa, não to muito no clima de festa.
- Ei...Você tem que relaxar, vou te ajudar com isso.- Ela me puxou e me deu um beijo, e lá vamos nós de novo! Tentei soltar ela...Uma, duas e na terceira deu certo. Quando saí de perto da Fernanda, vi que a Júlia estava encostada na parede com seu drink colorido vendo tudo. Ficamos parados durante uns dez segundos nos olhando, até que ela deu um gole e largou o drink numa mesa e se foi.