Fanfic: Outro lado do amor | Tema: drama adolescente

Uma semana tinha se passado, e a Júlia continuava estranha. E sempre, que de alguma forma eu tentava chamar sua atenção, ela sempre pedia desculpas e ficava ainda mais perdida. Eu tinha feito todos os programas que ela amava, mas não tava adiantando muita coisa. Eu deixei a Júlia na casa da Sara, e quando tava quase chegando em casa, recebi uma ligação da Leila.
- Oi Leandro, você ta com a Júlia?
- Não, mas ela ta na casa da Sara, não ta conseguindo falar com ela?
- Não, é que eu preciso falar com você, sem a Júlia.- Estranho.
- Tudo bem, posso ir aí...
- To te esperando então.- Depois de uns 15 minutos eu cheguei lá, ela tirou a Duda da sala e a colocou pra brincar no quarto.- Não quero correr o risco dela repetir alguma coisa da nossa conversa, a Júlia pode ficar com raiva.
- Me desculpa dona Leila, mas eu não to entendendo nada.
- Acho que você notou que tem algo diferente, a Júlia não deve ta agindo tão normal esses últimos dias...-Fiz que sim e ela balançou a cabaça confirmando.- Ela recebeu uma bolsa de estudo em Nova York, e me inventou mil motivos pra recusar, mas eu to tentando impedir que ela faça essa besteira. Só tem duas pessoas que a impede de ir, você e a Duda.
- Ela não me disse nada.- Eu sabia que aquilo era algo grandioso pra carreira dela, sabia que era uma oportunidade única, mas só conseguia pensar na distância.- Ela não me falou sobre isso...
- Eu sei, claro que ela não disse nada. Isso afeta o relacionamento de vocês, e só eu sei o quanto você é importante pra ela. Ela levou tanto tempo pra encontrar a felicidade depois do acidente, e você que trouxe essa felicidade. Mas Leandro, eu já tirei um futuro da Júlia antes, quando eu trouxe ela pra essa cidade. Eu tirei sua casa, seus amigos, seu colégio de anos e suas aulas de música que ela teve que começar tudo de novo aqui.
- Não, não me pede isso. Por favor.- Eu já sabia onde ela queria chegar, eu já sabia que isso dependia de mim.
- Leandro, eu preciso que você a deixe ir. Eu imploro. Nós dois sabemos que ela tem um futuro enrome pela frente, e que ele começa lá. Eu sei que é a pior coisa que eu poderia te pedir, mas eu to pedindo mesmo assim.
- Eu preciso ir.- Levantei do sofá, rezando pra dar tempo de chegar no carro sem nenhuma lágrima cair.
- Você tem que fazer isso por ela.- Ela gritou da porta da casa enquanto eu entrava no carro e desabava.
Eu inventei uma desculpa, disse que não podia ir até a casa da Sara, que tava ocupado com as coisas do curso. Precisava de um tempo, precisava pensar. Sentei no chão do quarto e tentei de todas as formas achar uma saída, não achei nenhuma. Eu nunca levei nenhuma garota a sério, eu sempre tive relacionamentos de balada. Sempre fui o cara que não liga no outro dia, que não manda mensagem de bom dia. Sempre fui o cara que nenhuma garota merece ter, porque eu nunca quis ter uma garota. Mas eu queria essa, somente essa. E eu consegui ter, pra quê? Pra deixar ela ir? Perder de vez, o que eu posso garantir que seja o tão cobiçado "amor da minha vida". Eu quero mandar o mundo inteiro se danar, quero que o universo exploda. Se é pra viver num mundo onde a Júlia não está do meu lado, eu prefiro nunca ter feito parte dele.
- Então ela te pediu pra desistir?- Minha mãe perguntou depois que contei o que aconteceu.
- E você vai desistir?- Perguntou o Bruno, que fazia parte do júri "deixar ou não deixar a Júlia ir".
- Sim e não sei. É aí que vocês entram...
- Eu não posso decidir isso, você tem que fazer sua escolha, mas ela tem que saber. Você não pode decidir isso, sem a pessoa que vai ter sua vida mudada também. Pensa direito.- Ela se levantou e foi embora, nos deixando sozinhos no quarto.
- E você? Alguma dica que não me leva a nada?
- Você que sabe cara, isso é um saco. Mas não se trata apenas da vida da Júlia, também tem haver com a sua. E se ela não te contou nada ainda, talvez ela não queira ir. Se eu fosse você, dava um tempo, pra ela decidir sozinha o que fazer.
- Se ela não me contou nada e ainda não recusou...É porque ela quer ir, mas ta com medo de perder tudo isso. E eu acho que a Leila tem toda razão, agora é comigo, a decisão é minha.- Ele revirou os olhos e bufou.
- Você sabe o que faz da sua vida. Eu não deixaria uma Júlia sair da minha vida, mas se você acha que isso é o certo...Tudo bem então.
- Não fala nada disso pra Sara, já sabe.
Eu tinha bolado um plano. Ia mudar meu jeito de tratar a Júlia, pra que ela notasse algo errado. E depois, ia terminar dizendo que tinha conhecido outra pessoa. Isso ia dar um motivo pra ela me odiar? Espero que sim. Não ia conseguir trair de verdade, só falando mesmo. Então era esse o plano, o único que eu consegui bolar sozinho, pois ninguém quis me ajudar. Passei o almoço inteiro escutando a minha mãe falando o quão idiota eu era, entre outras coisas que eu prefiro nem lembrar. Precisava focar em ser um babaca com a Júlia hoje.
- Que milagre é esse que você não roubou minhas batatas?- Ela perguntou arqueando a sombrancelha, daquele jeito que me faz rir, mas não dessa vez. O que já me deixou fazendo uma lista das coisas que eu ia sentir falta, essa era uma delas.
- To parando de comer besteira.
- Geração saúde não combina muito com você.- Ela riu.
- Eu era dessa geração, aí conheci você e estraguei tudo.
- Eu sou a culpada? Interessante.- Ela disse com toda a irônia que lhe habitava.
- Você mesma.- Nessa hora uma garota que tava passando deixou cair alguma coisa no chão, um ótimo momento pra olhar pra bunda dela e deixar a Júlia com raiva. Nunca tinha feito isso do lado dela, seria ótimo pra um fim de relacionamento.
- Cadê a vergonha na cara? Deixou cair junto com as coisas da menina?
- Ta falando comigo?
- Não, to falando com seus olhos.
- Uma pena, eles não respondem.- Dei um sorriso e ela fez cara de brava.
- Você ta bem babaca hoje, só pra constar.- Ela levantou da mesa.- Tenho que ir pra casa, vou ganhar carona ou você quer levar a outra?- Dei de ombros.
- Pode ser você.- Ela me deu um tapa e depois riu.
Comecei a dar bastante bolo nela. E visualizar as mensagens e não responder, o que deixava qualquer pessoa irritada. Também fiquei atendendo ligações quando estava com ela, claro que fingia que tava tentando disfarçar algo...O que a deixava toda curiosa e linda. E nada de sexo, nada. O que me levou a pegar a Duda pra vários passeios, pra não ter o perigo da carne ser fraca demais.
- O que ta acontecendo? Eu odeio bancar a chata, e ficar dizendo que "você mudou" mas já faz muito tempo que você ta assim...- Ela tava com a cabeça deitada no meu peito.
- Nada, não tem nada acontecendo.- Ela me olhou de cara feia.
- É sério, pode falar.- Ela tava com um olhar triste, de partir o coração em mil pedaços. Eu não queria falar aquilo, mas era preciso.
- Eu fiquei com uma menina do meu curso.- Desviei o olhar, não ia conseguir fazer isso, queria muito falar que tava mentindo. Mas eu me segurei e tentei bancar o canalha por mais um tempo. Ela se afastou um tempo, ficou pensativa e um bom tempo calada.
- Quantas vezes?
- Não sei, algumas.- Agora ela me olhou, totalmente chocada.
- Você ta apaixonado por ela?
- Posso ta me apaixonando, ainda é muito cedo pra saber.- Ela tava se segurando, tentando bancar a forte e eu só queria lhe dar um abraço. Mas não podia.
- Você...Ai meu Deus. Eu não to acreditando nisso, você não fez isso. Me diz que isso é uma brincadeira, eu não to...- Ela parou de falar e tentou respirar.- Só sai daqui, me deixa só.
- Tudo bem, desculpa por isso.- Fui embora o mais rápido que eu pude.
Era isso. Tava feito. Desfeito. Eu entrei no carro e não sei como, mas consegui chegar em casa. Fui pro meu quarto e escutava bem de longe a voz da minha mãe, ela me chamava e estava perguntando o que tinha acontecido. Eu não conseguia responder nada. Dentro de 15 minutos o Bruno estava no meu quarto, os dois tentavam me fazer falar e eu apenas fechei os olhos e ingnorei. Ignorei o fato de ter teminado com a melhor pessoa que eu conheço. Ingnorei o fato de que dentro de pouco tempo, ela vai ta num avião indo pro outro lado do mundo. Ignorei tudo. Apenas fechei os olhos e ouvi aquela música alta, as luzes que batiam no rosto de todos. E aquela menina no bar, bebendo um drink que parecia ruim e totalmente deslocada. Agora estava olhando para as estrelas, e ela estava do meu lado, toda concentrada no céu. Ignorei as vozes que me atrapalhavam na lembrança. Voltei novamente pra mais uma delas, estava cantando pra menina dos meus sonhos e ela estava chorando enquanto todos em volta nos observavam.