Fanfics Brasil - Prolongo + 1° Capitulo °ღ°Nada Será como antes°ღ°[terminada]

Fanfic: °ღ°Nada Será como antes°ღ°[terminada]


Capítulo: Prolongo + 1° Capitulo

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PRÓLOGO


 



Naquele final de tarde em setembro, nada poderia estar mais perfeito para Chris Uckermann.


O acordo que o The New York Times considerara impossível estava praticamente fechado, tinha pela frente um final de semana livre de compromissos burocráticos e uma famosa modelo viria jantar com ele naquela noite de sexta-feira, em sua cobertura na Quinta Avenida. Mas isso não diminuía em nada seu interesse pela loira de olhos azuis à sua frente.


Tendo concluído suas negociações com a loira sofisticada, começava a relaxar internamente.


Fuzz Malo era inteligente, tinha uma mente aguçada e era elegante em todos os sentidos. Era o seu tipo... e Chris sabia exatamente como mulheres daquele tipo gostavam de ser tratadas. Ele sorriu levemente, o que não passou despercebido por ela.


— Não fique assim tão satisfeito — Fuzz disse calmamente — ou poderei imaginar que cedi demais.


Chris soltou uma risada lenta e gutural.


— Ora, srta. Malo, é assim que funciona a arte da negociação. Você perde de um lado, mas ganha de outro.


Ela sorriu, empertigou-se na Cadeira e cruzou as pernas. Chris estreitou os olhos. Teria visto um pedaço de renda negra ou fora apenas a sua imaginação?


— Não nasci ontem, Sr. Uckermann. Ambos sabemos qual é o verdadeiro significado do termo "negociação". — Ela o fitou incisivamente. — Consiga tudo o que puder, enquanto puder. Estou certa?


Chris sentiu que não estavam mais falando sobre acordos ou contratos, exatamente.


— Talvez... — Chris sorriu. — Mas um acordo que não seja benéfico para as duas partes não me dá o menor prazer.


Fuzz sorriu, encantada.


— Eu já sabia que este era seu estilo. — Ela cruzou as pernas novamente. — Sabe? — Ela o fitou com seu ar felino. — A perspectiva de negociar com você deixou-me ao mesmo tempo entusiasmada e cautelosa.


Chris a encarou com um olhar intencionalmente sério.


— Não consigo imaginá-la como uma pessoa cautelosa, srta. Malo.


— Fuzz, por favor. Para que tanta formalidade? — Ela umedeceu os lábios tentadoramente e ergueu-se da Cadeira. — Na verdade, estava pensando em tomarmos um drinque juntos. E depois... quem sabe?


Chris sentiu o corpo reagir ante a aproximação da mulher. Fitou-a lentamente, contemplando o corpo sinuoso com aprovação. O instinto lhe dizia que poderia possuí-la quando bem entendesse.


— Você é muito objetiva — ele comentou, a voz rouca ao erguer-se da Cadeira.


— Muito. — Ela pousou a mão no braço de Chris. — Isto o perturba?


— Pelo contrário. É uma característica admirável. — Ele contornou os detalhes daquele rosto perfeito com a ponta dos dedos.


— Acredito em relacionamentos baseados em honestidade.


— É uma característica que também admiro — ela respondeu, sorrindo languidamente.


Chris retribuiu o sorriso.


— Mas devo avisar que sou um pouco antiquado em certos aspectos.


— Vai me dizer que nossa amizade seria antiética? — indagou Fuzz, sem desviar o olhar hipnotizante.


Lentamente, sem jamais deixar de fitá-la, Chris a tocou no seio. Ela ofegou alto e fechou os olhos.


— Na verdade — ele continuou, com um tom casual —, estava pensando sobre o conceito de dar e receber. — Ela gemeu suavemente quando ele acariciou o mamilo que apontou sob o tecido do paletó do tailleur. — E bom que saiba que prefiro decidir o que dar. — Ele a acariciou novamente. — E o que receber em troca. Isto seria um problema?


— Oh, não — ela disse, esforçando-se por manter o controle. — Não seria problema algum...


Ele moveu a mão. Fuzz segurou-o pelo pulso enquanto ele a acariciava. Chris sentiu-a estremecer.


A sensação de estar tão facilmente derrubando a fachada fria daquela mulher era ao mesmo tempo excitante e desapontadora.


Repentinamente, ele se sentiu cansado, como se tivesse muito mais do que seus trinta e dois anos. Deu um passo para trás, segurou Fuzz Malo gentilmente pelo ombro e sorriu.


— Dê-me seu número de telefone — ele disse. — Entrarei em contato.


— Mas... — Os olhos azuis se turvaram. — Imaginei que...


— Esta noite não — ele respondeu calmamente. — Mas logo. Prometo.


Depois de alguns segundos silenciosos, ela conseguiu sorrir.


— Deveria estar me sentindo insultada... mas prefiro considerar isto como um desafio. — Ela inclinou-se sobre a mesa e pegou sua pasta. — O número de meu telefone está na lista — ela disse. — Por favor, faça com que as alterações no contrato cheguem a meu escritório na manhã de segunda-feira.


Chris confirmou, meneando a cabeça, sorriu e observou-a sair da sala. Assim que ela desapareceu, soltou um suspiro.


— Droga! — ele resmungou, consultando o relógio em sua mesa. Estava atrasado. Até que ele se barbeasse, tomasse um banho e se vestisse, Belinda já teria chegado. Ela não gostava nada de ficar esperando, mas não havia outra saída.


Elas sempre esperavam por ele...


 


Dulce Saviñon também estava atrasada e não gostava nada disso, principalmente porque prometera a Derrick chegar mais cedo.


Parando para tomar fôlego na escada do edifício sem elevador em Greenwich Village, deu graças por ter se lembrado de comprar uma garrafa de vinho. Mas não podia se culpar por estar atrasada. Eddy lhe pedira que trabalhasse por mais uma hora para cobrir a ausência de outra garota e, com isto, terminara a noite cuidando de uma mesa de beberrões impertinentes.


Para piorar a situação, Eddy insistia em que suas garçonetes usassem saias curtas de couro, botas longas até a coxa e camisetas colantes. Isto só fazia aumentar a impertinência dos clientes. Por outro lado, como as gorjetas eram boas, Dulce lentamente estava começando a economizar para seu futuro.


Algum dia, ela pensou enquanto procurava a chave na bolsa, teria dinheiro suficiente para abrir uma pequena loja onde pudesse vender as jóias de prata que adorava criar. Mas não podia se queixar. Não dependia de ninguém e sabia como se defender de homens abusados. Ela sorriu ao abrir a porta do apartamento. Bem, ela tinha seu próprio dispositivo de segurança.


Que homem em seu perfeito juízo tentaria avançar o sinal ao ver Derrick?


— Cheguei! — ela gritou ao entrar na sala minúscula. Uma gata cinza sem uma das orelhas aproximou-se rapidamente, suplicando atenção com seus miados. Dulce sorriu e agachou-se para afagá-la.


— Oi, Doçura! — ela cumprimentou. — Sentiu minha falta?


A gata esfregou-se no calcanhar de Dulce enquanto esta se dirigia à cozinha. O ar estava carregado com um delicioso aroma de alho. Ela segurou o cabelo farto e negro e aproximou-se da panela.


— Hummm! — ela suspirou.


O tempero de Derrick era sempre maravilhoso. Dulce sorriu ao jogar o casaco sobre uma das Cadeiras. O que mais uma mulher poderia desejar da pessoa com quem dividia o apartamento? Derrick sabia cozinhar, adorava animais, não implicava com o fato de ela confeccionar jóias de prata... e tinha mais músculos que Sylvester Stallone.


Foi a primeira coisa que notara no dia em que Derrick aparecera, atendendo ao anúncio no jornal.


— Quero dividir o apartamento com uma mulher — ela explicara com firmeza. — Meu anúncio diz especificamente...


— O anúncio falava de um apartamento com dois quartos, não é verdade, srta. Saviñon?


— Sim, mas...


A gata cinza aparecera justamente naquele momento.


— Ora — disse Derrick —, você tem uma gata! — Ele sorriu e agachou-se para acariciar o bicho. — Adoro gatos.


Dulce tentou não se deixar levar pela simpatia instantânea.


— É muito bom, Sr. James, mas em meu anúncio eu disse que queria dividir o apartamento com uma mulher solteira e...


— Seus brincos são fantásticos. Jamais vi algo parecido.


Ela tocou uma das pencas de pequenos sinos de prata no lóbulo de uma das orelhas e franziu o cenho.


— Obrigada, mas...


— Ouça, srta. Saviñon. Sei exatamente o que está pensando.


Os olhos cor de violeta de Dulce continuavam impassíveis.


— Está imaginando — ele disse gentilmente — que, se me mudar para cá, vou dar em cima de você.


Dulce ergueu a sobrancelha.


— E não é isso o que vai acontecer?


— Fale a verdade, srta. Saviñon. Sou o seu tipo?


Não, não era. Ah, sim, ele era um tipo interessante, mas Dulce ainda não encontrara nenhum homem que fosse o seu tipo.


— Não — ela respondeu sem rodeios. — Não é.


— E você não é meu tipo, srta. Saviñon. Sem dúvida é muito atraente, mas não abala minha estrutura. Está me entendendo?


Dulce hesitara, em princípio. Mas, como ele tivesse excelentes referências, ela logo percebeu que morar com aquele monte de músculos seria uma excelente vantagem.


Para sua surpresa, e dele, Dulce concordara com uma semana de experiência e jamais se arrependera. Derrick tinha apenas um problema: algumas vezes atrasava sua metade do pagamento do aluguel, mas atores iniciantes jamais nadavam em dinheiro.


Dulce ficou séria. Sabia melhor que ninguém que havia coisas mais importantes que dinheiro. Passara dez anos de sua vida no luxo, quando ficara sob a tutela de um tio impiedoso, após a morte de seus pais. Gastão não perdia a oportunidade de denegrir a imagem de sua cunhada, mãe de Dulce.


— E você — ele esbravejava — é sua mãe escrita, em aparência e temperamento.


Apesar de o tio Gastão a ter enviado para estudar na Europa, Dulce não suportara o jugo e, antes de completar vinte anos, fora morar sozinha.


Isto fora há alguns meses. No entanto, ao ler sobre a morte de Gastão em um jornal, não deixara de comparecer ao funeral. Afinal, ele era a única referência de família que tinha e, algumas vezes, no silêncio da noite, sentia-se completamente só no mundo.


— Ei! — Ela ergueu os olhos. Derrick estava parado à porta, os cabelos ainda úmidos do banho. — Que cara é essa?


Dulce limpou a garganta.


— Que cara?


 — Já ouviu aquela sobre o camelo e o bode? Ela soltou um suspiro exasperado.


— Só uma centena de vezes.


— Mas essa é uma nova versão e é líquido e certo que vai lhe fazer rir.


Ele tinha razão: a piada a fez rir. Na verdade, ela quase se esqueceu das lembranças sombrias que a perturbaram há poucos minutos.


Quase. Mas não completamente.


Chris estava parado no terraço de sua cobertura na Quinta Avenida, tomando Dom Pérignon de uma taça de Cristal Baccarat, esperando que Belinda reaparecesse.


— Que expressão mais amuada! — ela dissera, fazendo biquinho, antes de trancar-se no lavabo. — Não se preocupe, querido. Quando voltar, vou fazê-lo sorrir.


Chris duvidava que isso acontecesse. Estava cansado da vaidade de Belinda e estava com fome. O que a governanta deixara na cozinha? Canard à l`Orange? O que quer que fosse, teria que esperar até que Belinda voltasse para a sala.


Onde ela estava? Ela disse que precisava retocar a maquiagem. Mas para que se maquiar se tinha um rosto tão perfeito? Para falar a verdade, ele acabara de constatar que era tão perfeito que quase não tinha expressão.


— Droga! — Chris resmungou, depositando a taça sobre a mesa com tampo de vidro sem muita deliCadeza.


O que havia de errado com ele? Sua sensação de desconforto começara no final da tarde e agora tornara-se insuportável. Sua irmã, Maite, lhe diria que era um mau pressentimento.


Ele franziu o rosto. Maite? O que ela tinha a ver com isso? Por que estava pensando justamente nela?


O telefone sobre a mesa ao seu lado tocou e ele atendeu.


— Sim? — ele disse bruscamente. Era Zora, sua secretária.


Uma silhueta se materializou no outro lado da sala. Belinda aproximou-se, caminhando de forma provocante, como se estivesse numa passarela. Estava usando apenas um corpete vermelho, um sorriso insinuante e nada mais.


Chris conteve a respiração, mas não por causa de Belinda. Ele deu as costas e pressionou o fone contra o ouvido.


— Entendi. Obrigado, Zora. Você agiu corretamente. Deixe o resto comigo. Quer ligar para minha irmã e dizer que estou a caminho? Ligue para meus irmãos, também. Você tem o número de Poncho, em Boston. Jack está no Oriente Médio. Peça a Poncho que... Ótimo. Manterei contato.


Ele desligou o aparelho, limpou a garganta e voltou-se para Belinda, que ronronava em seu pescoço.


— Sinto muito — ele disse. — Algo aconteceu.


Ela riu e tocou-o audaciosamente. O perfume dela, doce e forte, inundou as narinas de Chris.


— Ainda não aconteceu — ela constatou. — Mas vai acontecer já, já.


Chris a segurou pelo pulso.


— Tenho que pegar um avião — ele informou secamente. — Vista-se. O porteiro chamará um táxi para você.


— Avião? — Belinda ficou completamente aturdida. — Mas pensei que... — Ela ergueu a voz ao vê-lo afastar-se. — Chris, o que aconteceu de tão importante que...


Ele poderia dizer que seu pai, um homem que lhe era praticamente um estranho, seu pai, Léon Uckermann, estava morto.


Mas simplesmente subiu as escadas para seu quarto e, ao descer, com uma maleta de couro na mão, já nem se lembrava que Belinda existia.


Ao entrar no táxi, lembrando-se de sua premonição, Chris suspirou, encostou a cabeça no banco e fechou os olhos.


Em Greenwich Village, Dulce parou com o garfo a caminho da boca.


— O que houve? — Derrick quis saber,


— Não sei — ela respondeu. — Tive uma sensação estranha.


— Um fantasma passou por aqui. — Ele sorriu ao ver a expressão intrigada de Dulce. — Ouça, quando se tem uma avó do interior, é difícil não ter superstições.


— Um fantasma... — Dulce riu, garfou uma porção de espaguete e começou a comer seu jantar.




CAPÍTULO I


O sol subia rapidamente por detrás das montanhas Rochosas, mas o vento que soprava sobre o lago Emerald ainda era frio. Chris, que vinha de uma corrida de oito quilômetros, estremeceu levemente ao entrar na alameda que levava à mansão dos Uckermann.


Ele costumava percorrer essa mesma distância todas as manhãs, mas há muito tempo não o fazia em tamanha altitude. Seus músculos doíam, seus pulmões trabalhavam arduamente...


Mas ele estava adorando!


Como pudera esquecer-se de como era tranqüilo aquele lugar, acompanhado apenas da natureza e do céu?


Chris ensaiou um sorriso. Exceto pela mansão que aparecia à sua frente, era perfeito.


A casa era monstruosa. Deveria ter sido feita apenas com pedras e vidros, para ter uma linha mais leve, despojada. Mas, ao contrário, feita de concreto e tijolos, tinha uma estrutura maciça. Sua opulência parecia competir com a grandiosidade da paisagem.


— Por mais simples que seja — ele murmurou, enquanto subia os degraus para o terraço de laje —, não há lugar como o lar.


Ele sorriu amargamente ao pegar a toalha que deixara sobre a Cadeira de espreguiçar. Aquele lugar jamais fora um lar.


Quisera já estar em Nova York. Uma semana naquela casa era o máximo que poderia suportar sem afetar sua sanidade mental.


Chris enxugou o rosto com a toalha e a barba por fazer raspou no algodão felpudo. Atirando a toalha para o lado, contemplou o lago Emerald, que brilhava como a pedra que lhe dera o nome.


Que semana infernal fora aquela! Tivera até mesmo que instalar uma linha de telefone só para manter-se em contato com seu escritório em Nova York. Quanto às demais linhas que serviam a casa, estavam congestionadas o tempo todo, recebendo faxes e telefonemas de condolências.


— Isto mais parece um circo! — resmungou Poncho, num final de manhã que os três irmãos Uckermann haviam passado grudados aos aparelhos.


— É isso aí — concordou Jack, com um sorriso melancólico. — O velho teria adorado isto.


Chris balançou a cabeça ao apoiar as mãos na balaustrada que cercava o terraço. Jack tinha razão. O velho Uckermann teria adorado a pompa do funeral, as presenças importantes e a imprensa cobrindo cada passo da família.


Chris odiara cada minuto daquilo tudo. Ele até quase se pegara a socos com um fotógrafo inconveniente que se infiltrara no mausoléu. Fora o único momento em que sentira alguma coisa. Primeiro, raiva pela invasão do fotógrafo; depois, uma pontada de dor ao ver o caixão de sua mãe, Alexandra.


Sua reação, resultada do cansaço, deve ter transparecido em seu rosto, porque Maite o segurara pelo braço e apoiara a cabeça em seu ombro.


— Ei — ela sussurrara —, você está bem?


Chris, sentindo-se um idiota, acenara com a cabeça e apertara a mão da irmã.


— Estou ótimo — ele respondera com a voz baixa. — E você, mana? Como está suportando tudo isto?


Maite erguera os olhos secos.


— Não se preocupe comigo — ela dissera. — Também estou ótima.


Algum tempo depois, os acompanhantes do enterro reuniram-se na mansão para oferecer condolências a Chris, Jack, Poncho e Maite.


— Deve ser um grande consolo para vocês — dissera-lhes o velho juiz Harris — ver quantos dos melhores cidadãos de Denver vieram prestar suas últimas homenagens a seu prezado pai.


— O que ele quis dizer — Poncho murmurara assim que o juiz se afastara — é que os melhores cidadãos de Denver vieram avaliar o novo patrimônio dos Uckermann.


Seu irmão estava certo, Chris pensou ao pegar a toalha novamente e entrar na casa através das portas-balcão que davam acesso à biblioteca.


Estava fresco, quase frio dentro da casa mobiliada austeramente. Tudo estava silencioso. O único indício de vida era o delicioso aroma de café recém-passado que pairava no ar.


Chris sorriu para si enquanto caminhava sobre o tapete Aubusson. Uma silhueta rechonchuda repentinamente apareceu diante dele. Alma, a governanta da mansão Uckermann desde quando ele se recordava, ofegou e levou as mãos aos seios fartos.


— Céus, Sr. Chris, que susto!


— Bom dia, Alma! — ele a cumprimentou, sorrindo. — Estava justamente indo para a cozinha. O café está com um aroma tentador.


— Por que não me avisou que já estava acordado? Teria descido mais cedo para lhe preparar um desjejum decente. Vá para a sala de jantar e sente-se enquanto preparo tudo.


— Muito obrigado, Alma, mas receio não ter tempo. Tenho um compromisso em... — ele consultou o relógio — em menos de uma hora. Mas vou levar uma caneca de café comigo quando subir. — Ele sorriu e abraçou-a gentilmente. — Já lhe disse que faz o melhor café do mundo?


Alma corou.


— Até parece — ela disse, sorrindo. — Fique bem aqui, Sr. Chris. Vou lhe trazer a caneca.


— Não se preocupe. Sei exatamente onde fica a cozinha.


— É claro que sabe, mas isto não é certo. Seu pai diz...


— Meu pai já não é mais o senhor desta casa. — Ele suavizou as palavras com um leve sorriso. — Quer saber de uma coisa? Vou acompanhá-la até a cozinha e tomaremos o café juntos.


Quanto tempo levaria até que todos se acostumassem à mudança?, ele refletiu minutos mais tarde em seu velho quarto.


Léon Uckermann já não era mais o todo-poderoso daquela casa. A prova disto fora a leitura formal do testamento, que acontecera no dia anterior.


Nada fora uma surpresa. Léon deixara sua fortuna pessoal, a casa e o enorme terreno que a cercava, para Maite. As Empresas Uckermann, o vasto conglomerado multimilionário que ele erguera, deixou-as para os três filhos.


O sol, infiltrando-se através das Zoralas, provocava uma sensação agradável no corpo nu e bronzeado de Chris. Ele espreguiçou-se languidamente e entrou em seu banheiro, ligando a ducha com a intensidade mais forte.


O velho teria ficado uma fera se visse o que acontecera após a leitura do testamento. Nem bem os advogados haviam saído e Poncho se manifestara:


— Cara, que presente de grego! Justamente o que eu mais queria: uma fatia das Empresas Uckermann.


Jack apressara-se em externar sua opinião:


— Estou fora. Fiquem com minha parte.


— Ora, não seja tão generoso! — dissera Chris, aproximando-se do bar. Depois de servir três copos com cade Daniel`s, ele desabafara: — Prefiro roubar calotas a me envolver com as Empresas Uckermann.


Poncho ergueu seu copo no ar e falou solenemente:


— Ok, então é unânime. Os novos diretores das Empresas Uckermann se reuniram e tomaram sua primeira, última e única decisão.


— Sim! — concordara Chris, quando os copos tilintaram entre si. — Por decisão unânime, os diretores vão se livrar da companhia.


Após alguns minutos, concordaram em colocar a companhia no mercado e dar o dinheiro apurado para instituições de caridade.


A verdade era que os filhos de Léon Uckermann, durante anos, ignoraram, enfrentaram, temeram e desprezaram o pai, sem jamais amá-lo.


Chris saiu do banho, enxugou-se vigorosamente e voltou nu para o quarto. Então estava tudo terminado. Dali a algumas horas, ele estaria em Nova York, Poncho em Boston e Jack já teria retornado a Londres. Maite, naturalmente, ficaria na casa onde sempre fora feliz.


Ele não via a hora de retornar a seu próprio mundo, a sua vida. Sorriu intimamente ao vestir a camisa. Certamente fora um pouco brusco com Belinda... Belinda e aquele corpete vermelho. Mas com uma dúzia de rosas vermelhas de hastes compridas e uma caixa de chocolate Godiva...


E havia aquela srta. Malo com suas longas pernas e os sutis toques de renda negra...


Que dilema, ter que escolher entre as duas... ou simplesmente não escolher.


Chris colocou a gravata sob o colarinho e fez um nó perfeito. Já não havia mais sinal do homem que entrara naquele quarto de short e camiseta e barba por fazer.


Com. uma expressão preocupada de homem de negócios, ele colocou a camiseta e o short dentro da maleta de couro. Tinha um compromisso pela frente. Tomaria o café da manhã com Victor Gandia, o braço direito de seu pai.


— Você vai ao encontro — disseram-lhe os irmãos. — É preciso um advogado para falar com outro advogado.


Bastardos!, pensou Chris com um sorriso, ao fechar a porta do quarto ao sair. Para falar a verdade, não estava muito preocupado. Sem dúvida, Gandia queria esse encontro para familiarizar-se com os novos diretores das Empresas Uckermann.


Chris mal podia esperar para ver a reação do homem quando soubesse das novidades.


 


Duas horas mais tarde, Chris abriu a porta de madeira maciça que dava acesso à mansão dos Uckermann, fechou-a atrás de si e dirigiu-se à sala de jantar. Todos estavam reunidos lá, como ele esperava. Jack e Poncho brincavam como dois moleques, atirando bolinhas de papel, enquanto Maite o recebia com um sorriso.


Que inferno!, Chris pensou contrafeito. Por que justamente eu tenho que jogar a bomba?


— O que está acontecendo aqui? Já não somos mais crianças, caso tenham se esquecido.


Jack e Poncho voltaram-se surpresos para o irmão mais velho.


— Chris, você está bem? — estranhou Maite.


Ele jogou o envelope pardo recheado de más notícias sobre a mesa, caminhou até a mesa lateral e pegou uma xícara de café.


— Estou ótimo — ele resmungou.


— Então? — perguntou Jack após alguns segundos. — Sobre o que Gandia queria falar?


— Problemas...


Poncho franziu o cenho.


— Que tipo de problemas? Chris pegou o envelope.


— Vejam vocês mesmos — ele disse, ao tirar dois blocos de papel do envelope. Entregou um a Jack e o outro a Poncho. Maite o fitou, com as sobrancelhas arqueadas. Pelo menos, não havia nada naquele envelope que perturbasse sua irmã.


Jack foi o primeiro a reagir.


— De acordo com este relatório, essa companhia petroleira que a Uckermann possui está por falir a qualquer momento.


— Qual companhia petroleira? — perguntou Poncho. — Acabei de ler sobre uma aquisição da Uckermann chamada Tríade. É uma espécie de produtora de filmes em Hollywood, e vai afundar como uma pedra.


Chris confirmou, meneando a cabeça.


— Os dois estão certos. As Empresas Uckermann compraram ambas as firmas para reerguê-las. Mas, ao contrário, parece que nós as colocamos em condições ainda piores.


— Que coisa é essa de "nós", mano velho? — estranhou Jack.


— Será que já se esqueceu, Jack? — retrucou Chris. — Quer goste ou não, somos as Empresas Uckermann, desde ontem. E seremos nós, até encontrarmos um comprador.


Chris percebeu que só então os dois irmãos tomaram consciência. Se a empresa petroleira e a produtora de filmes naufragassem, vender o conglomerado seria um pesadelo.


Chris enfiou a mão no bolso e tocou em uma folha de papel. O papel era outro problema, mas tão ridículo que nem queria mencioná-lo.


— Diga a Gandia que resolva o problema — decidiu Jack.


— Gandia aposentou-se esta manhã. Disse que estava velho demais para enfrentar outro inverno no Colorado. — Chris deu um arremedo de sorriso. — Ele vai passar o resto de seus dias nas Ilhas Virgens, bebendo piñas coladas.


— Então Goodwin. É o substituto natural de Gandia. Ele pode...


— Goodwin já tem abacaxis demais para descascar.


— Então o quê...


— Ora, pelo amor de Deus! — Maite fitava os irmãos com desaprovação. — Qual é o problema com vocês, rapazes? Até mesmo uma criança saberia resolver esse problema! — Ela fulminou o irmão Poncho com o olhar. — Você não é o gênio das finanças? Pois vá até Hollywood, dê uma olhada nos livros da Tríade e decida o que pode ser feito para ajudar.


— Eu? Não seja tola! Tenho gente esperando por mim em Boston. Simplesmente não posso...


— E você — ela vociferou para Jack — é o gênio que sabe tudo sobre petróleo. E lá está aquela pequena companhia com problemas. — Ela colocou as mãos nos quadris.


— Está fora de questão! Tenho negócios em Londres. Não posso...


 — Ela tem razão — concordou Chris bruscamente. — Vocês poderiam resolver este problema muito mais rápido do que ninguém.


Depois de um momento de silêncio, Jack e Poncho se entreolharam e, finalmente, Poncho jogou a toalha no chão.


— Dois dias — ele disse — e mais nem um segundo.


Jack concordara.


— Ok. Dois dias, e então... Esperem um momento. — Ele voltou-se para Chris. — Quer dizer que você é o único que vai escapar incólume desta confusão?


Chris segurou com força o papel em seu bolso. Céus!, era ridículo, mas fora o que lhe coubera. Ele respirou fundo.


— Também tenho um abacaxi para descascar. Parece que um velho amigo de papai o nomeou tutor de sua sobrinha de doze anos.


— E?...


— E... até ela completar vinte e um anos, parece que eu a herdei.


Ele viu que os irmãos se esforçavam para não rir. Até mesmo Maite não conseguia manter uma expressão neutra. Mas que escolha ele tinha? Era um advogado com escritório em Nova York. Ela também morava lá e, assim, a criança naturalmente ficaria sob sua tutela.


Os irmãos se entreolhavam, prontos para explodirem em gargalhadas.


— Vocês estão achando engraçado? Ouçam, podemos mudar os papéis. Fico com o caso de Hollywood, ou Dallas, e um de vocês pode...


— Não! — respondeu Poncho rapidamente. — Está tudo bem, mano velho. Resolvo o problema em Hollywood e Jack vai para Dallas. — Ele mordeu o lábio. — E tenho certeza de que você será uma babá maravilhosa!


Jack parecia estar prestes a ter um ataque, de tanto que continha o riso. Chris avançou na direção dele.


— Isto... isto não tem graça nenhuma — ele esbravejou, mas em seguida ele próprio não se conteve e pôs-se a rir. — Droga! — ele disse. — Nem eu estou acreditando!


Rindo, os três irmãos se reuniram em círculo e uniram as mãos direitas no centro.


— Um por todos... — disse Jack.


 — E todos por um! — disseram os demais, sorrindo. Jack consultou o relógio.


— Hora de começar. Poncho concordou.


— E isso aí. Vejo vocês antes de partir.


Chris já estava saindo da sala, atrás dos irmãos, quando Maite o segurou pelo braço.


— Chris?


Ele a fitou e sorriu.


— Ei, princesa, quase esqueci que você estava aqui! Algum problema, meu bem?


— Estava imaginando... — Ela hesitou. — Estava imaginando o que você sente por esta casa. É importante para você?


A pergunta o intrigou, mas ele logo entendeu. Chris abraçou-a ternamente.


— Esta casa sempre será importante para mim — ele confirmou. — contanto que você esteja morando nela.


— Você não está me entendendo! — ela retrucou com impaciência. — Não é sobre mim que estou falando, é sobre você, Jack e Poncho. Preciso saber se vocês gostam da casa e...


— Tenho certeza de que todos sentem o que sinto — ele assegurou gentilmente. — Este lugar a torna feliz e é isso o que importa para nós.


Maite desvencilhou-se do abraço.


— Droga! — ela esbravejou, o rosto corado. — As vezes vocês agem como papai.


Chris deu um passo para trás.


— Do que está falando?


— Que nenhum de vocês escuta. Vocês escutam o que querem escutar, o que pensam que deveriam ouvir, mas... — Maite respirou fundo e fitou o irmão. — Sinto muito. Devo estar um pouco cansada. Foi uma semana muito dura. — Ela sorriu e espalmou as mãos contra o peito de Chris. — Sei que será um excelente tutor para essa garota.


Ele franziu o cenho.


— Farei o que for possível.


— Mas se ela precisar de um amigo...


Chris riu.


— Não serei um amigo para essa garota. Pagarei suas contas e cuidarei para que tenha um futuro tranqüilo. São essas as obrigações de um tutor.


Maite suspirou.


— Creio que tem razão. — Ela ficou na ponta dos pés e beijou o irmão no rosto. — Chris, eu amo você. Amo todos os meus irmãos... sempre amarei.


Chris a abraçou.


— E nós amamos você, princesa. — Ele a beijou na testa e saiu da sala.


Enquanto fechava a mala, ele ponderava que, afinal, seria apenas responsável por aprovar as despesas da garota, Dulce Saviñon era seu nome, e assinar os cheques para pagá-las.


Tutor de Dulce Saviñon... Ele fechou o zíper, pegou a mala e saiu do quarto.


Nada poderia ser mais simples do que isso.


 



 



 



 



 



CAPÍTULO I



O sol subia rapidamente por detrás das montanhas Rochosas, mas o vento que soprava sobre o lago Emerald ainda era frio. Chris, que vinha de uma corrida de oito quilômetros, estremeceu levemente ao entrar na alameda que levava à mansão dos Uckermann.


Ele costumava percorrer essa mesma distância todas as manhãs, mas há muito tempo não o fazia em tamanha altitude. Seus músculos doíam, seus pulmões trabalhavam arduamente...


Mas ele estava adorando!


Como pudera esquecer-se de como era tranqüilo aquele lugar, acompanhado apenas da natureza e do céu?


Chris ensaiou um sorriso. Exceto pela mansão que aparecia à sua frente, era perfeito.


A casa era monstruosa. Deveria ter sido feita apenas com pedras e vidros, para ter uma linha mais leve, despojada. Mas, ao contrário, feita de concreto e tijolos, tinha uma estrutura maciça. Sua opulência parecia competir com a grandiosidade da paisagem.


— Por mais simples que seja — ele murmurou, enquanto subia os degraus para o terraço de laje —, não há lugar como o lar.


Ele sorriu amargamente ao pegar a toalha que deixara sobre a Cadeira de espreguiçar. Aquele lugar jamais fora um lar.


Quisera já estar em Nova York. Uma semana naquela casa era o máximo que poderia suportar sem afetar sua sanidade mental.


Chris enxugou o rosto com a toalha e a barba por fazer raspou no algodão felpudo. Atirando a toalha para o lado, contemplou o lago Emerald, que brilhava como a pedra que lhe dera o nome.


Que semana infernal fora aquela! Tivera até mesmo que instalar uma linha de telefone só para manter-se em contato com seu escritório em Nova York. Quanto às demais linhas que serviam a casa, estavam congestionadas o tempo todo, recebendo faxes e telefonemas de condolências.


— Isto mais parece um circo! — resmungou Poncho, num final de manhã que os três irmãos Uckermann haviam passado grudados aos aparelhos.


— É isso aí — concordou Jack, com um sorriso melancólico. — O velho teria adorado isto.


Chris balançou a cabeça ao apoiar as mãos na balaustrada que cercava o terraço. Jack tinha razão. O velho Uckermann teria adorado a pompa do funeral, as presenças importantes e a imprensa cobrindo cada passo da família.


Chris odiara cada minuto daquilo tudo. Ele até quase se pegara a socos com um fotógrafo inconveniente que se infiltrara no mausoléu. Fora o único momento em que sentira alguma coisa. Primeiro, raiva pela invasão do fotógrafo; depois, uma pontada de dor ao ver o caixão de sua mãe, Alexandra.


Sua reação, resultada do cansaço, deve ter transparecido em seu rosto, porque Maite o segurara pelo braço e apoiara a cabeça em seu ombro.


— Ei — ela sussurrara —, você está bem?


Chris, sentindo-se um idiota, acenara com a cabeça e apertara a mão da irmã.


— Estou ótimo — ele respondera com a voz baixa. — E você, mana? Como está suportando tudo isto?


Maite erguera os olhos secos.


— Não se preocupe comigo — ela dissera. — Também estou ótima.


Algum tempo depois, os acompanhantes do enterro reuniram-se na mansão para oferecer condolências a Chris, Jack, Poncho e Maite.


— Deve ser um grande consolo para vocês — dissera-lhes o velho juiz Harris — ver quantos dos melhores cidadãos de Denver vieram prestar suas últimas homenagens a seu prezado pai.


— O que ele quis dizer — Poncho murmurara assim que o juiz se afastara — é que os melhores cidadãos de Denver vieram avaliar o novo patrimônio dos Uckermann.


Seu irmão estava certo, Chris pensou ao pegar a toalha novamente e entrar na casa através das portas-balcão que davam acesso à biblioteca.


Estava fresco, quase frio dentro da casa mobiliada austeramente. Tudo estava silencioso. O único indício de vida era o delicioso aroma de café recém-passado que pairava no ar.


Chris sorriu para si enquanto caminhava sobre o tapete Aubusson. Uma silhueta rechonchuda repentinamente apareceu diante dele. Alma, a governanta da mansão Uckermann desde quando ele se recordava, ofegou e levou as mãos aos seios fartos.


— Céus, Sr. Chris, que susto!


— Bom dia, Alma! — ele a cumprimentou, sorrindo. — Estava justamente indo para a cozinha. O café está com um aroma tentador.


— Por que não me avisou que já estava acordado? Teria descido mais cedo para lhe preparar um desjejum decente. Vá para a sala de jantar e sente-se enquanto preparo tudo.


— Muito obrigado, Alma, mas receio não ter tempo. Tenho um compromisso em... — ele consultou o relógio — em menos de uma hora. Mas vou levar uma caneca de café comigo quando subir. — Ele sorriu e abraçou-a gentilmente. — Já lhe disse que faz o melhor café do mundo?


Alma corou.


— Até parece — ela disse, sorrindo. — Fique bem aqui, Sr. Chris. Vou lhe trazer a caneca.


— Não se preocupe. Sei exatamente onde fica a cozinha.


— É claro que sabe, mas isto não é certo. Seu pai diz...


— Meu pai já não é mais o senhor desta casa. — Ele suavizou as palavras com um leve sorriso. — Quer saber de uma coisa? Vou acompanhá-la até a cozinha e tomaremos o café juntos.


Quanto tempo levaria até que todos se acostumassem à mudança?, ele refletiu minutos mais tarde em seu velho quarto.


Léon Uckermann já não era mais o todo-poderoso daquela casa. A prova disto fora a leitura formal do testamento, que acontecera no dia anterior.


Nada fora uma surpresa. Léon deixara sua fortuna pessoal, a casa e o enorme terreno que a cercava, para Maite. As Empresas Uckermann, o vasto conglomerado multimilionário que ele erguera, deixou-as para os três filhos.


O sol, infiltrando-se através das Zoralas, provocava uma sensação agradável no corpo nu e bronzeado de Chris. Ele espreguiçou-se languidamente e entrou em seu banheiro, ligando a ducha com a intensidade mais forte.


O velho teria ficado uma fera se visse o que acontecera após a leitura do testamento. Nem bem os advogados haviam saído e Poncho se manifestara:


— Cara, que presente de grego! Justamente o que eu mais queria: uma fatia das Empresas Uckermann.


Jack apressara-se em externar sua opinião:


— Estou fora. Fiquem com minha parte.


— Ora, não seja tão generoso! — dissera Chris, aproximando-se do bar. Depois de servir três copos com cade Daniel`s, ele desabafara: — Prefiro roubar calotas a me envolver com as Empresas Uckermann.


Poncho ergueu seu copo no ar e falou solenemente:


— Ok, então é unânime. Os novos diretores das Empresas Uckermann se reuniram e tomaram sua primeira, última e única decisão.


— Sim! — concordara Chris, quando os copos tilintaram entre si. — Por decisão unânime, os diretores vão se livrar da companhia.


Após alguns minutos, concordaram em colocar a companhia no mercado e dar o dinheiro apurado para instituições de caridade.


A verdade era que os filhos de Léon Uckermann, durante anos, ignoraram, enfrentaram, temeram e desprezaram o pai, sem jamais amá-lo.


Chris saiu do banho, enxugou-se vigorosamente e voltou nu para o quarto. Então estava tudo terminado. Dali a algumas horas, ele estaria em Nova York, Poncho em Boston e Jack já teria retornado a Londres. Maite, naturalmente, ficaria na casa onde sempre fora feliz.


Ele não via a hora de retornar a seu próprio mundo, a sua vida. Sorriu intimamente ao vestir a camisa. Certamente fora um pouco brusco com Belinda... Belinda e aquele corpete vermelho. Mas com uma dúzia de rosas vermelhas de hastes compridas e uma caixa de chocolate Godiva...


E havia aquela srta. Malo com suas longas pernas e os sutis toques de renda negra...


Que dilema, ter que escolher entre as duas... ou simplesmente não escolher.


Chris colocou a gravata sob o colarinho e fez um nó perfeito. Já não havia mais sinal do homem que entrara naquele quarto de short e camiseta e barba por fazer.


Com. uma expressão preocupada de homem de negócios, ele colocou a camiseta e o short dentro da maleta de couro. Tinha um compromisso pela frente. Tomaria o café da manhã com Victor Gandia, o braço direito de seu pai.


— Você vai ao encontro — disseram-lhe os irmãos. — É preciso um advogado para falar com outro advogado.


Bastardos!, pensou Chris com um sorriso, ao fechar a porta do quarto ao sair. Para falar a verdade, não estava muito preocupado. Sem dúvida, Gandia queria esse encontro para familiarizar-se com os novos diretores das Empresas Uckermann.


Chris mal podia esperar para ver a reação do homem quando soubesse das novidades.


 


Duas horas mais tarde, Chris abriu a porta de madeira maciça que dava acesso à mansão dos Uckermann, fechou-a atrás de si e dirigiu-se à sala de jantar. Todos estavam reunidos lá, como ele esperava. Jack e Poncho brincavam como dois moleques, atirando bolinhas de papel, enquanto Maite o recebia com um sorriso.


Que inferno!, Chris pensou contrafeito. Por que justamente eu tenho que jogar a bomba?


— O que está acontecendo aqui? Já não somos mais crianças, caso tenham se esquecido.


Jack e Poncho voltaram-se surpresos para o irmão mais velho.


— Chris, você está bem? — estranhou Maite.


Ele jogou o envelope pardo recheado de más notícias sobre a mesa, caminhou até a mesa lateral e pegou uma xícara de café.


— Estou ótimo — ele resmungou.


— Então? — perguntou Jack após alguns segundos. — Sobre o que Gandia queria falar?


— Problemas...


Poncho franziu o cenho.


— Que tipo de problemas? Chris pegou o envelope.


— Vejam vocês mesmos — ele disse, ao tirar dois blocos de papel do envelope. Entregou um a Jack e o outro a Poncho. Maite o fitou, com as sobrancelhas arqueadas. Pelo menos, não havia nada naquele envelope que perturbasse sua irmã.


Jack foi o primeiro a reagir.


— De acordo com este relatório, essa companhia petroleira que a Uckermann possui está por falir a qualquer momento.


— Qual companhia petroleira? — perguntou Poncho. — Acabei de ler sobre uma aquisição da Uckermann chamada Tríade. É uma espécie de produtora de filmes em Hollywood, e vai afundar como uma pedra.


Chris confirmou, meneando a cabeça.


— Os dois estão certos. As Empresas Uckermann compraram ambas as firmas para reerguê-las. Mas, ao contrário, parece que nós as colocamos em condições ainda piores.


— Que coisa é essa de "nós", mano velho? — estranhou Jack.


— Será que já se esqueceu, Jack? — retrucou Chris. — Quer goste ou não, somos as Empresas Uckermann, desde ontem. E seremos nós, até encontrarmos um comprador.


Chris percebeu que só então os dois irmãos tomaram consciência. Se a empresa petroleira e a produtora de filmes naufragassem, vender o conglomerado seria um pesadelo.


Chris enfiou a mão no bolso e tocou em uma folha de papel. O papel era outro problema, mas tão ridículo que nem queria mencioná-lo.


— Diga a Gandia que resolva o problema — decidiu Jack.


— Gandia aposentou-se esta manhã. Disse que estava velho demais para enfrentar outro inverno no Colorado. — Chris deu um arremedo de sorriso. — Ele vai passar o resto de seus dias nas Ilhas Virgens, bebendo piñas coladas.


— Então Goodwin. É o substituto natural de Gandia. Ele pode...


— Goodwin já tem abacaxis demais para descascar.


— Então o quê...


— Ora, pelo amor de Deus! — Maite fitava os irmãos com desaprovação. — Qual é o problema com vocês, rapazes? Até mesmo uma criança saberia resolver esse problema! — Ela fulminou o irmão Poncho com o olhar. — Você não é o gênio das finanças? Pois vá até Hollywood, dê uma olhada nos livros da Tríade e decida o que pode ser feito para ajudar.


— Eu? Não seja tola! Tenho gente esperando por mim em Boston. Simplesmente não posso...


— E você — ela vociferou para Jack — é o gênio que sabe tudo sobre petróleo. E lá está aquela pequena companhia com problemas. — Ela colocou as mãos nos quadris.


— Está fora de questão! Tenho negócios em Londres. Não posso...


 — Ela tem razão — concordou Chris bruscamente. — Vocês poderiam resolver este problema muito mais rápido do que ninguém.


Depois de um momento de silêncio, Jack e Poncho se entreolharam e, finalmente, Poncho jogou a toalha no chão.


— Dois dias — ele disse — e mais nem um segundo.


Jack concordara.


— Ok. Dois dias, e então... Esperem um momento. — Ele voltou-se para Chris. — Quer dizer que você é o único que vai escapar incólume desta confusão?


Chris segurou com força o papel em seu bolso. Céus!, era ridículo, mas fora o que lhe coubera. Ele respirou fundo.


— Também tenho um abacaxi para descascar. Parece que um velho amigo de papai o nomeou tutor de sua sobrinha de doze anos.


— E?...


— E... até ela completar vinte e um anos, parece que eu a herdei.


Ele viu que os irmãos se esforçavam para não rir. Até mesmo Maite não conseguia manter uma expressão neutra. Mas que escolha ele tinha? Era um advogado com escritório em Nova York. Ela também morava lá e, assim, a criança naturalmente ficaria sob sua tutela.


Os irmãos se entreolhavam, prontos para explodirem em gargalhadas.


— Vocês estão achando engraçado? Ouçam, podemos mudar os papéis. Fico com o caso de Hollywood, ou Dallas, e um de vocês pode...


— Não! — respondeu Poncho rapidamente. — Está tudo bem, mano velho. Resolvo o problema em Hollywood e Jack vai para Dallas. — Ele mordeu o lábio. — E tenho certeza de que você será uma babá maravilhosa!


Jack parecia estar prestes a ter um ataque, de tanto que continha o riso. Chris avançou na direção dele.


— Isto... isto não tem graça nenhuma — ele esbravejou, mas em seguida ele próprio não se conteve e pôs-se a rir. — Droga! — ele disse. — Nem eu estou acreditando!


Rindo, os três irmãos se reuniram em círculo e uniram as mãos direitas no centro.


— Um por todos... — disse Jack.


 — E todos por um! — disseram os demais, sorrindo. Jack consultou o relógio.


— Hora de começar. Poncho concordou.


— E isso aí. Vejo vocês antes de partir.


Chris já estava saindo da sala, atrás dos irmãos, quando Maite o segurou pelo braço.


— Chris?


Ele a fitou e sorriu.


— Ei, princesa, quase esqueci que você estava aqui! Algum problema, meu bem?


— Estava imaginando... — Ela hesitou. — Estava imaginando o que você sente por esta casa. É importante para você?


A pergunta o intrigou, mas ele logo entendeu. Chris abraçou-a ternamente.


— Esta casa sempre será importante para mim — ele confirmou. — contanto que você esteja morando nela.


— Você não está me entendendo! — ela retrucou com impaciência. — Não é sobre mim que estou falando, é sobre você, Jack e Poncho. Preciso saber se vocês gostam da casa e...


— Tenho certeza de que todos sentem o que sinto — ele assegurou gentilmente. — Este lugar a torna feliz e é isso o que importa para nós.


Maite desvencilhou-se do abraço.


— Droga! — ela esbravejou, o rosto corado. — As vezes vocês agem como papai.


Chris deu um passo para trás.


— Do que está falando?


— Que nenhum de vocês escuta. Vocês escutam o que querem escutar, o que pensam que deveriam ouvir, mas... — Maite respirou fundo e fitou o irmão. — Sinto muito. Devo estar um pouco cansada. Foi uma semana muito dura. — Ela sorriu e espalmou as mãos contra o peito de Chris. — Sei que será um excelente tutor para essa garota.


Ele franziu o cenho.


— Farei o que for possível.


— Mas se ela precisar de um amigo...


Chris riu.


— Não serei um amigo para essa garota. Pagarei suas contas e cuidarei para que tenha um futuro tranqüilo. São essas as obrigações de um tutor.


Maite suspirou.


— Creio que tem razão. — Ela ficou na ponta dos pés e beijou o irmão no rosto. — Chris, eu amo você. Amo todos os meus irmãos... sempre amarei.


Chris a abraçou.


— E nós amamos você, princesa. — Ele a beijou na testa e saiu da sala.


Enquanto fechava a mala, ele ponderava que, afinal, seria apenas responsável por aprovar as despesas da garota, Dulce Saviñon era seu nome, e assinar os cheques para pagá-las.


Tutor de Dulce Saviñon... Ele fechou o zíper, pegou a mala e saiu do quarto.


Nada poderia ser mais simples do que isso.



 



 



 



 



 


 


 



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Autor(a): dullinylarebeldevondy

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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 1120



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  • natyvondy Postado em 05/11/2009 - 01:22:12

    amei!!!

  • natyvondy Postado em 05/11/2009 - 01:22:11

    amei!!!

  • natyvondy Postado em 05/11/2009 - 01:22:10

    amei!!!

  • natyvondy Postado em 05/11/2009 - 01:22:09

    amei!!!

  • natyvondy Postado em 05/11/2009 - 01:22:07

    amei!!!

  • natyvondy Postado em 05/11/2009 - 01:22:05

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  • natyvondy Postado em 05/11/2009 - 01:22:04

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  • natyvondy Postado em 05/11/2009 - 01:22:03

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  • natyvondy Postado em 05/11/2009 - 01:22:02

    amei!!!

  • natyvondy Postado em 05/11/2009 - 01:22:01

    amei!!!


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