Fanfics Brasil - ≈ღ≈A Outra Face de Dulce≈ღ≈[Terminada]

Fanfic: ≈ღ≈A Outra Face de Dulce≈ღ≈[Terminada]


Capítulo: 1? Capítulo

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Capítulo I


 


Ela o viu do alto no momento em que começava a descer a escada em direção ao hall. Ele era tudo o que poderia se dizer de um homem em matéria de charme e elegância. O impacto que lhe causou atingiu tanto sua mente quanto seu corpo. O ar lhe faltou. Seu coração teve o batimento acelerado. As pernas fraquejaram e a obrigaram a procurar o apoio de uma parede. Seus olhos, no entanto, acompanharam a figura atlética a cada degrau que subia.


— Olá. Eu te assustei? — ele a saudou ao chegar ao último degrau.


Os dentes eram perfeitos e de uma brancura radiante que contrastava com o bronzeado profundo do rosto. Enquanto os lábios se curvavam de forma ascendente nos cantos, os olhos estreitavam transmitindo uma mensagem de graciosa ironia, complementada pelo modo casual como uma mecha dos cabelos castanhos caía sobre a testa.


O efeito sobre ela foi devastador. Por alguns instantes roubou-lhe a capacidade de raciocinar.


— Não — ela se obrigou a responder.


— Tia Alma não lhe avisou sobre minha chegada? Não disse que havia admitido um novo pensionista?


— Sim, mas...


Dulce não terminou a frase. Ao menos conseguiu frear as palavras antes que seu pensamento as transformasse em mensagem falada. Certamente não soaria bem se tivesse dito ao desconhecido que esperava por um homem idoso, talvez apoiado em uma bengala, mordendo um cachimbo e reclamando sobre o tempo que levara para chegar por causa do trânsito. E o novo pensionista não se encaixava em absoluto nessa descrição. Era alto, jovem, com ombros tão largos que ela se perderia entre eles se aqueles braços fortes a enlaçassem.


Sem desfazer o sorriso sensual, ele depositou no chão a caixa com discos e fitas que estava carregando e estendeu a mão para se apresentar.


— Christopher Uckermann.


Por um longo e embaraçoso momento, Dulce só conseguiu ficar olhando para aquela mão estendida. Imitou o gesto, por fim, mas com um movimento breve, de modo a evitar que o contato a deixasse ainda mais perturbada.


— Sou a Srta. Saviñon.


Antes mesmo que ela terminasse de dizer seu nome, o sorriso acentuou. Dulce teve a nítida impressão de que o novo pensionista estava se divertindo com seu desconforto.


— Precisa de ajuda, Sr. Uckermann? — Dulce ofereceu com forçada gentileza.


— Não, obrigado, Srta. Saviñon. A caixa é grande, mas o peso é suportável.


A resposta foi dada em tom solene, mas se o sorriso havia abandonado os lábios, continuava presente nos olhos da cor do café, escuros e intensos.


Ciente de que estava servindo de velada diversão, Dulce procurou abreviar a conversa e se afastar da presença irritante. Endireitou o corpo, ergueu a cabeça e se afastou da parede.


— Nesse caso, peço sua licença para verificar o andamento do jantar. Alma não gosta de atrasos.


— Talvez eu também deva me apressar. Para onde devo me dirigir? Direita ou esquerda? — E antes que Dulce pudesse perguntar se ele estava se referindo ao quarto ou à saleta, Christopher esclareceu. — Qual dessas portas dá para meu quarto?—ele apontou para a da direita e depois para a outra à esquerda.


— A da esquerda.


— A da direita é sua?


— Sim.


— Preciso me lembrar de ter essa orientação sempre em mente — ele murmurou, como se falasse apenas consigo mesmo. — Detestaria me confundir e invadir seu quarto no meio da noite. As conseqüências poderiam ser imprevisíveis.


Não restava mais nenhuma dúvida. O tal Christopher Uckermann estava rindo à custa dela!


— Com licença.


Dulce passou por Christopher de maneira rude, obrigando-o a recuar para lhe dar passagem. Por ação reflexiva quase virou para trás para se certificar de que ele estava avaliando suas formas ainda com aquele sorriso arrogante. Obrigou-se, porém, a se manter firme. Ao menos até alcançar o terceiro degrau. Nesse instante, Dulce respirou profundamente e recuperou o bom senso. Afinal, por que estava perdendo seu tempo e seus pensamentos com alguém que não significava nada em sua vida? Ela havia aprendido a não se preocupar com sua aparência. A Dulce do passado não existia mais. Fazia seis meses que ela se tomara uma outra mulher. Quem era aquele homem para abalar sua determinação com um sorriso? Ainda não estava pronta para vislumbrar um futuro aos moldes de antes. Reassumir-se como modelo internacionalmente famosa significaria ter de enfrentar a insegurança e os sacrifícios que acompanhavam as glórias do sucesso. Tomar-se uma celebridade não era fácil. Ao menos até aquele momento ela estava apreciando as vantagens do anonimato. Não tinha planos por enquanto de deixar de ser a simples Srta. Saviñon, uma residente como qualquer outra, da pensão da Sra. Alma Rey, na pequena cidade de Galveston. Sua senhoria, em contrapartida, era uma personagem completamente atípica. Ao entrar na sala de refeições, Dulce a encontrou concentrada na tarefa de acender as velas do arranjo de flores que confeccionara especialmente para receber naquela noite o novo pensionista.


— Posso ajudar? — Dulce ofereceu ao ver a mulher soltando bruscamente o palito de fósforo e soprando os dedos.


— Acabarei incendiando o esmalte de minhas unhas antes de compor o cenário de boas-vindas — ela se queixou.


A idade da Sra. Rey jamais era mencionada, mas Dulce calculava que ela estivesse além dos setenta anos, a julgar pelas referências a datas que deixava escapar ocasionalmente. Ela não se parecia em nada com a imagem que Dulce fizera a seu respeito quando encontrara seu anúncio em um dos maiores jornais de Houston, alugando vagas em sua casa na cidade de Galveston.


Baseada nas orientações que Alma lhe dera durante a breve entrevista por telefone, Dulce conseguira encontrar o local sem dificuldade. Mais do que surpresa ao ver a casa, Dulce ficou eufórica. Mal podia acreditar em sua sorte. Seus temores haviam sido infundados. Receara encontrar uma espelunca, sem ter quem lhe recomendasse uma moradia. No entanto, estava diante de uma adorável construção em estilo vitoriano que resistira bravamente ao desgaste do tempo e do açoite das tempestades. A rua era ladeada de árvores frondosas e a vizinhança parecia simpática. Embora todas as casas fossem antigas, todas provavelmente construídas na época em que Galveston alcançara seu apogeu, obras de restauração pareciam ter sido conduzidas em anos recentes. Para Dulce que se acostumara a ver Manhattam do alto de prédios nos últimos dez anos, a oportunidade de estar em contato com a terra e respirar o ar puro do campo era uma benção. Seria como estar no paraíso se ela também tivesse a sorte de se dar bem com sua senhoria.


A mulher tinha os cabelos totalmente grisalhos, mas usava-os curtos e soltos, cortados em estilo moderno. Sua aparência também desmentia a que Dulce imaginara. Era esbelta e ágil. Seu estilo de roupa nada tinha de conservador. Ela estava trajando jeans e um suéter no tom dos gerânios vermelhos que cresciam em floreiras de concreto à entrada da varanda.


— Não lhe faria mal entrar e ir direto para a sala de jantar. — Foi a primeira coisa que Alma disse após abrir a porta e examinar Dulce da cabeça aos pés em um piscar de olhos. — Para começar, vou lhe servir um chá de erva-cidreira com cookies. Você gosta de chá de ervas? Juro que não vivo sem elas. As ervas são excelentes para todos os tipos de males. Servem tanto para curar gripes e resfriados quanto para prisão de ventre. Não que você vá precisar desse recurso. Se fizer suas refeições aqui comigo, meu cardápio balanceado garantirá sua saúde.


Foi simples assim. Alma aceitou Dulce como pensionista sem lhe pedir maiores referências. Antes mesmo que terminasse de falar sobre seus conhecimentos de nutrição, ela começou a subir a escada de modo a conduzi-la ao quarto vago que ficava no andar de cima.


O chá relaxante de Alma, Dulce logo veio a descobrir, era muitas vezes acrescido de algumas gotas de Jack Daniel, em especial à noite, após o jantar. Dulce perdoava essa pequena idiossincrasia da amiga, da mesma forma que ignorava o franzir de testa de Alma em evidente desaprovação de sua aparência.


— Pensei que você fosse se arrumar um pouco esta noite. É uma pena que não se importe em cuidar melhor de seus cabelos. Eles têm uma cor linda. Lembram as folhas das árvores no outono. Por que não experimenta penteá-los para trás em vez de deixá-los cair no rosto. Tenho certeza de que se sentirá melhor.


Dulce, meu amor, você tem a beleza das estrelas! Exiba-se ao mundo! Estou visualizando esses cabelos vermelhos exuberantes caindo em cascatas sobre suas costas e se movimentando conforme você anda. Os fabricantes de xampu se matarão por um contrato de exclusividade!


Dulce sorriu consigo mesma à lembrança das palavras do cabeleireiro da primeira vez que a viu em seu salão.


— Prefiro usá-los assim, Alma. Eu os prefiro assim. — Dulce chamava a senhoria pelo primeiro nome a pedido dela. — A decoração da mesa está magnífica.


— Obrigada. Ainda há tempo para você se vestir, querida. — Alma fez uma nova tentativa. Achava absurdo que uma mulher tão jovem não se importasse com sua apresentação. A blusa que ela estava usando tinha, inclusive, uma mancha de tinta na manga.


— Você se importa se eu jantar como estou? Um suspiro escapou dos lábios de Alma.


— Não, eu não me importo. De que adiantaria? Você apenas trocaria o seis por meia dúzia. Não entendo como pode gostar de roupas que caberiam em uma mulher do dobro de seu tamanho. Eu não as usaria por nada no mundo e devo ter uns quarenta anos a mais do que você, no mínimo. Seria capaz de apostar que ficaria muito atraente se aceitasse meus conselhos, Srta. Saviñon.


O tratamento informal jamais era empregado com os pensionistas.


— Não estou interessada em mudar minha aparência.


Alma baixou os olhos e efetuou uma rápida avaliação desde os sapatos de solado de borracha sem salto, o vestido folgado de corte reto, e os cabelos pesando sobre os ombros, escondendo quase a metade do rosto pálido. Seu formato era bonito, oval, mas quase desaparecia sob os imensos óculos de armação escura e redonda de lentes quase pretas.


— Dá para perceber. Você já conheceu Christopher? — ela mudou abruptamente de assunto.


— Sim, eu o encontrei na escada quando chegou. Uma centelha passou pelos olhos castanhos de Alma.


— Ele não é um charme?


— Para ser sincera, não esperava que fosse tão jovem. — Tão jovem, tão bonito, tão másculo e tão perigoso para morar sob o mesmo teto que ela, Dulce pensou. O que aconteceria se Christopher a reconhecesse? — Você não disse que o novo pensionista era um primo seu?


— Sobrinho, querida. Sobrinho. Meu favorito. Minha irmã o mimou demais. Eu tentei alertá-la sobre o modo errado de educá-lo, mas ela nunca me ouviu. Não a culpo por isso. Christopher exerce um fascínio irresistível sobre as mulheres desde pequeno. Quando ele ligou para mim e pediu que eu lhe arranjasse um lugar para ficar pelas próximas semanas, eu fingi me zangar por ele ter praticamente me intimado a hospedá-lo. A verdade é que exultei com a notícia. Será divertido tê-lo por aqui.


— Será apenas por algumas semanas?


— Sim. Christopher mora em Houston.


Divórcio, sem dúvida. Esse era o motivo. O sobrinho de Alma precisava de um lugar para ficar até que sua situação fosse legalizada. Alma podia achar que ele era um rapaz formidável, mas Dulce conseguia detectar um machista arrogante a quilômetros de distância. Pretendia evitá-lo enquanto durasse a estadia. Não seria difícil. Um homem como Christopher Uckermann não olharia duas vezes para uma mulher como a Srta. Saviñon. — Que cheiro delicioso é esse?


Não seria exagero afirmar que Dulce precisou se levantar nas pontas dos pés, tantos foram os arrepios que lhe subiram pelo corpo ao som da voz doce como mel que ecoou pelo ambiente seguida pelos passos ressonantes sobre o piso de madeira.


Alma foi abraçada por trás por um par de braços morenos que teriam servido de modelo para Michelangelo esculpir.


— O que você está cozinhando para nós, lia Alma?


— Solte-me, seu gorila abelhudo! — Alma se desvencilhou do abraço sufocante com fingida braveza. Dulce soube que ela estava mentindo pelas faces coradas e pelo olhar cheio de entusiasmo. — Sente-se e seja educado. Lavou as mãos antes de descer?


— Sim, madame — ele respondeu e piscou para Dulce.


— Se você prometer se comportar, eu deixarei que se sente à cabeceira da mesa. Agora, por que não pede gentilmente para que a Srta. Saviñon lhe sirva um aperitivo enquanto eu termino o jantar?


— Ela é adorável, não? — Christopher murmurou ainda com um sorriso nos lábios embora a tia já tivesse se afastado para dentro da cozinha.


— Sim. Gosto muito de Alma.


— Ela sobreviveu a três maridos e uma filha. Admiro sua capacidade de seguir em frente sem se deixar abater pelas adversidades. — Christopher se calou por um instante e balançou a cabeça como para afugentar os pensamentos. — Onde você se senta?


Dulce se dirigiu ao seu lugar de costume, sem responder. Ele se adiantou para lhe puxar a cadeira. Ela não havia notado antes que apesar de sua estatura alta, Christopher era ainda mais alto. Por um rápido e inesperado cálculo mental, teve certeza de que ele continuaria sendo mais alto mesmo que ela estivesse usando sapatos de salto.


Só depois que Dulce se acomodou na cadeira de pau-rosa com o encosto em arco, Christopher se sentou à cabeceira.


— Há quanto tempo você está morando aqui?


— Seis meses.


— E antes?


— No Leste — ela respondeu sem definir o local.


— Eu suspeitei que você não era do Texas por seu modo de falar. O sotaque daqui é inconfundível.


Dessa vez Dulce não pode se abster de sorrir. Mas ainda assim, não conseguiu sustentar o olhar dele e tentou se ocupar em percorrer a borda da colher de prata com a ponta de um dedo.


— Com certeza.


— Chegou a conhecer o antigo pensionista?


— Hóspede. Sua tia faz questão de dizer que somos seus hóspedes. Alma acha que "pensionista" é uma palavra por demais comercial.


Ele assentiu com a cabeça. Estava usando uma camisa pólo aberta no pescoço. Dulce precisou engolir em seco ao reparar instintivamente no tufo de pêlos pretos e crespos que escapava pela abertura dos dois primeiros botões.


— Espero que me ajude a lembrar os costumes da casa. Sei que minha tia faz questão de seguir certas regras. A propósito, a que horas é o toque de recolher?


Não era impressão. Dulce estava certa de que o sobrinho de sua senhoria estava caçoando dela outra vez. Conhecera muitos homens em sua profissão e sabia reconhecer as manobras de flerte. A técnica de Christopher Uckermann não era das melhores. Talvez ele não percebesse ou talvez seu modo de tratá-la fosse proposital. Enfim, ela estava detestando que Christopher quisesse provocá-la para que se sentisse constrangida. Por outro lado, qual o motivo de tanta provocação? Seu disfarce já não estava funcionando? Ou seria por ela ser a única mulher naquela casa além da tia dele?


— Antes de você chegar, uma mulher ocupava seu quarto — Dulce respondeu. — Era viúva e deveria ter mais ou menos a idade de sua tia. Precisou mudar-se para mais perto da família, em Austin, quando sua saúde começou a declinar.


Dada a explicação, Dulce levou o copo de água à boca com deliberada lentidão. Esperava que esse gesto fosse suficiente para interromper a conversa até que Alma voltasse da cozinha com a comida. Mal podia esperar para que ela chegasse. Naquela noite, a sala de jantar estava parecendo estranhamente menor e abafada. Deveria haver algo de errado com o aparelho de ar condicionado.


Sem levar em consideração a ordem da tia para que se comportasse, Christopher apoiou os cotovelos na mesa e o queixo sobre uma das mãos. Dulce teve ímpetos de se levantar e sair quando ele se pôs a estudá-la.


Interessante. A Srta. Saviñon não deveria ter mais de trinta anos. No entanto, ela parecia querer se passar por alguém próxima aos quarenta. Ela o intrigava. Por que razão essa jovem saudável e inteligente teria escolhido viver em companhia de duas senhoras idosas, por mais confortável que fosse a casa e por mais simpática que fosse sua proprietária? O que poderia tê-la motivado a se isolar da convivência com gente de sua idade?


Uma tragédia na família? Uma decepção amorosa? O noivo a teria abandonado às vésperas do casamento ou algo igualmente perturbador?


Ela se vestia e se apresentava como alguém do século passado. Fazia-o lembrar uma daquelas professoras solteironas mal-humoradas. Quase não dava para ver seu rosto oval escondido pelas pesadas cortinas dos cabelos, embora à chama das velas, brilhassem com uma cor diferente de todas que ele já vira. Nem seu corpo. O vestido cinza horrível o mantinha em total segredo, ocultando suas formas. A pele não apresentava nenhum vestígio de maquilagem. Ao contrário da grande maioria das ruivas, não apresentava sardas. Sua compleição era clara, mas suave e uniforme. Talvez não fosse adequado descrevê-la como ruiva. Seus cabelos mais se assemelhavam ao mogno. Eram escuros. Tampouco seria correto chamá-los de vermelhos.


As mãos que não largavam os talheres eram finas e delicadas com dedos longos e unhas cortadas rentes, sem esmalte. Ela também não estava usando perfume. Ele era sensível a fragrâncias. Conseguia reconhecer uma variada gama sem consultar os frascos.


Mas o que mais o incomodava na estranha Srta. Saviñon eram seus óculos de lentes redondas azul-escuras que não deixavam entrever seus olhos.


O modo insistente com que ele a estava encarando a deixava nervosa. Dava para notar pelo seu desassossego na cadeira. Algo que o incitava a continuar em vez de parar. Que mal poderia lhe fazer, afinal, em provocá-la um pouco na monótona existência que estava levando? Além disso, ele não tinha nada melhor para fazer.


— Por que veio morar aqui, Srta. Saviñon?


— Não é de sua conta.


— Nossa! É sempre tão direta?


— Só com quem é tão rude para encarar as pessoas e fazer perguntas indiscretas.


— Eu acabo de chegar. Seria de esperar que você me fizesse sentir bem-vindo.


Alma deveria ter seus motivos para preferir Christopher entre os outros sobrinhos. Da parte de Dulce, ela era obrigada a concordar que ele era bonito e charmoso. Principalmente quando fazia aquela expressão de menino magoado.


— O que gostaria de tomar?


Christopher pareceu genuinamente surpreso com a oferta que já havia esquecido.


— Pode me conseguir uma cerveja?


— Vou verificar.


— Aposto que não teria dúvida se eu lhe tivesse pedido uma dose de uísque.


Um forte rubor subiu às faces de Dulce.


— Eu não...


— Tudo bem — Christopher a poupou de continuar. — Não é preciso mentir. Sou da família. — Ele se inclinou para Dulce e piscou com cumplicidade. — Conte-me. A velha marota continua tomando seus tragos nas noites de frio?


Alma entrou na sala antes que Dulce pudesse dar uma resposta. Empurrava um carrinho de chá coberto por uma baixela de prata.


— O jantar está servido. Sinto pela demora. Vocês devem estar famintos, mas seria um crime tirar os pãezinhos do forno antes de dourarem.


Ainda em choque com a observação sobre Alma, Dulce se manteve em silêncio. Christopher riu baixinho.


— Você não mudou nada, Christopher — resmungou Alma. — Sempre foi um menino mal-educado à mesa. Ria de tudo e por tudo, sem motivo aparente. Sente-se direito na cadeira e faça algo de útil como cortar o assado em fatias. Preparei a carne como a Srta. Saviñon gosta. Ao ponto para bem passada. E seja generoso com a porção mesmo que ela reclame. Eu já consegui fazer com que a balança mostre um pequeno acréscimo em seu peso, mas ainda falta muito para ela ficar com uma aparência saudável.


Com um sorriso de satisfação, finalmente, Alma se sentou e olhou para um e para outro.


— Não acham ótimo que agora seremos três à mesa durante as refeições?


Dulce não respondeu. Talvez devesse esperar por uma oportunidade melhor para dizer o que estava se passando por sua mente. Que a partir de agora, ela preferiria fazer suas refeições no quarto.


Christopher tinha um apetite voraz. Dulce ficou surpresa ao vê-lo repetir duas vezes cada prato que lhe foi servido. Ainda assim, a tia insistiu para que ele repetisse também a sobremesa.


— Não, obrigado. — Ele levantou as mãos em rendição. — Se continuar me tratando deste jeito, eu acabarei engordando.


— Bobagem. Você ainda está em idade de crescimento. Não posso permitir que vá para o acampamento fraco e doente.


Dulce engasgou ao ouvir aquele disparate. Apressou-se a tomar um gole de água para acalmar a tosse. Seus olhos estavam lacrimejando e embaçaram as lentes. Ela precisaria tirar os óculos para enxugá-los, mas conteve-se ao lembrar que não podia apelar para esse recurso.


— Você está bem, querida? — Alma franziu o rosto de preocupação.


Dulce fez que sim com a cabeça, embora ainda não tivesse parado de tossir.


— Alma, seu sobrinho não está adulto demais para ir para um acampamento?


Tia e sobrinho se entreolharam como se Dulce tivesse contado uma piada e se puseram a rir.


— Trata-se de uma pré-temporada, querida. Eu não lhe disse que Christopher é jogador de futebol profissional?


Para não ter de enfrentar os olhares dos dois, Dulce ajeitou o guardanapo sobre as pernas.


— Acho que não.


— Ele joga no Houston Mustangs como zagueiro. — Alma contou, orgulhosa, enquanto apoiava a mão no braço do sobrinho. — Christopher é o jogador mais importante do time.


— Não gosta de futebol, Srta. Saviñon? — Christopher perguntou, ressentido pela falta de reconhecimento e também pelo modo indiferente com que Dulce recebera a informação. Todas as mulheres que conhecia se desmanchavam a seus pés à mera chance de chegarem perto dele. A Srta. Saviñon estava jantando a seu lado e segundo suas impressões, preferiria estar a quilômetros de distância.


— Não entendo de futebol, Sr. Uckermann. Acabo de aprender algo, contudo.


— O quê?


— Que os jogadores vão a acampamentos no verão como os colegiais.


Christopher não resistiu e teve de sorrir. A Srta. Saviñon tinha senso de humor, afinal. As semanas que seguiriam talvez não fossem tão longas quanto ele esperara inicialmente, Se fosse sincero consigo mesmo, admitiria, inclusive, que fazia muito tempo que não se sentia tão bem em companhia de uma mulher. Naquela noite estava podendo ser ele mesmo. Não precisara impressionar ninguém. Sua tia o amava com suas qualidades, mas também com seus defeitos. Para Alma, ele era o máximo. E pela primeira vez em anos, ele estava em companhia feminina sem precisar recorrer a artifícios e galanteios.


— Como está seu ombro, Christopher? — Alma se virou para Dulce para contar o caso. — Ele teve um deslocamento na articulação que nunca sara. O médico recomendou um afastamento das atividades de modo que Christopher possa se apresentar em condições para a pré-temporada.


— Dói? — Dulce quis saber.


— Às vezes, quando eu abuso. — Christopher encolheu os ombros e se calou ao lembrar a última consulta. Diante de suas queixas de que o tratamento não estava surtindo efeito e que ele precisaria estar completamente bem até o início do verão, o médico resolvera apelar para uma técnica inversa: repouso em vez de fisioterapia. Christopher esperava que o médico acertasse em sua recomendação ou o resultado seria a contratação de um outro atleta para substituí-lo. Mais jovem e apto.


Ele sabia que não adiantaria querer se enganar. Completara trinta e quatro anos em seu último aniversário. Sua aposentadoria no esporte estava iminente. Só queria estar em condições para encerrar sua carreira com orgulho. Seria lamentável se as circunstâncias o forçassem a se afastar do campo, vencido e humilhado. Não suportaria ver piedade nos olhos de sua torcida. Queria comunicar publicamente quando resolvesse que o jogo seguinte seria o último. Queria se aposentar em glória.


— Não venha choramingar para cima de mim, Christopher — o médico dissera. — Eu avisei para você não forçar a articulação de seu ombro. Poncho Tandy me contou que o viu jogando tênis o outro dia. Tênis! O que deu em você? Perdeu o juízo?


Ele não teve como responder. A reprimenda era merecida. Não teve coragem nem sequer para gemer ao exame de sua musculatura.


— Quem tem um amigo como Poncho, não precisa de inimigos.


— Não o culpe por este sermão, filho. — O médico se sentou e falou seriamente. — Vou ser franco com você. Esse ombro nunca ficará curado se você continuar tentando ignorar o problema. O prazo está se esgotando. Faltam poucas semanas para o início do treinamento. Resta saber o que você valoriza mais, o futebol ou os dias e as noites de farra.


Christopher entrara em contato com a tia naquela tarde.


Tomara a decisão acertada, ele pensou, enquanto olhava Alma despejar o café na xícara de porcelana. Sem nada para fazer naquela cidade que mais parecia um retiro espiritual, exceto descansar, dormir e acordar cedo, e fazer as refeições em intervalos regulares, ele estaria completamente recuperado até a chegada do verão. O que mais poderia desejar naquele momento de sua vida? Sua tia sempre fora boa com ele. Recordava com saudade as férias que passara em sua casa. E algo lhe dizia que a Srta. Saviñon poderia se revelar uma companhia agradável se aprendesse a relaxar. Atrás daqueles óculos grotescos, sabia que existiam lindos olhos. E sob a aparência distante, ela deixara escapar um ou dois sorrisos. A Sra. Saviñon talvez ainda o surpreendesse. Ao menos era o que esperava.


— O que faz para ganhar a vida? — ele resolveu incitá-la a uma conversa.


— Christopher! Que indelicadeza! Minha irmã não lhe ensinou boas maneiras? Ou a convivência com seu time de prováveis bárbaros o fez esquecer como um cavalheiro deve se portar diante de uma dama?


— Eu quero saber a respeito da pessoa que está ocupando o quarto ao lado do meu! Não acha normal que eu me interesse sobre a Srta. Saviñon? Em minha opinião, nós deveríamos procurar nos conhecer melhor, já que estaremos morando sob o mesmo teto por um período relativamente longo.


Enquanto discursava para a tia, Christopher percorreu o corpo de Dulce com os olhos, provocando-lhe uma onda de calor. Dulce desejaria não estar se deixando afetar com tanta intensidade pelo sobrinho de Alma. Por uma razão inexplicável, ela estava se sentindo aliviada por Christopher não ter vindo para Galveston para procurar consolo nos braços de uma mulher pelo desgaste de um processo de divórcio. O que não significava, contudo, que essa informação eliminasse a possibilidade de ele ser casado.


O motivo que o afastara de seu cotidiano era lamentável, na verdade. Christopher tinha todas as razões do mundo para estar preocupado com seu futuro. Dulce entendia o suficiente sobre a vida dos esportistas profissionais para saber que um problema com as articulações dos ombros poderia encerrar a carreira de um atleta.


Entretanto, seus sentimentos de compaixão e amizade desapareciam cada vez que o flagrava encarando-a como um lobo a uma ovelha. A aversão retomava com força e com ela a determinação de impedir que Christopher se aproximasse física e emocionalmente.


— Sou pintora.


— De quadros ou paredes?


— Nenhuma das duas coisas. — Ela tomou um longo gole de café de propósito para criar expectativa. — Eu faço pintura em tecidos.


— Ela tem talento. É muito criativa — elogiou Alma. Ao ouvir o pedido do sobrinho para passar uns tempos em sua casa, ela ousara acreditar que Christopher conseguiria proporcionar à sua jovem pensionista, uma vida normal, em convivência com pessoas de sua idade. Mas no decorrer daquela primeira refeição em conjunto, suas esperanças caíram por terra. Não seria exagero dizer que a Srta. Saviñon afundara ainda mais dentro de sua concha.


— Tem dado continuidade a seu trabalho aqui? — Christopher insistiu, sem desviar os olhos de Dulce nem sequer por um instante.


— Sim. Eu transformei a saleta da suíte em estúdio.


— Explique melhor. — Ele apoiou as mãos na mesa e entrelaçou os dedos. Esticou as pernas e bateu nos pés dela. — Você pinta qualquer tipo de tecido? Que material utiliza? Também pinta roupas?


Dessa vez Christopher conseguiu fazê-la sorrir. Afinal, ele parecia verdadeiramente interessado.


— Eu compro tecidos direto das tecelagens e vendo as peças pintadas à mão para confecções.


— E o lucro é suficiente?


— Dá para pagar o aluguel, Sr. Uckermann. — Dulce afastou a cadeira e se levantou. — O jantar estava ótimo, como sempre. Obrigada, Alma. Boa noite.


— Vai se recolher tão cedo? — a velha senhora protestou, surpresa com a súbita mudança de humor de sua hóspede. — Eu estava esperando que pudéssemos tomar uma xícara de chá na varanda.


— Peço que me desculpe. Estou cansada esta noite. Boa noite, Sr. Uckermann.


Dulce saiu da sala tão abruptamente quanto se levantara. Christopher pegou o guardanapo no colo, amassou-o e jogou-o em cima da mesa.


— Christopher! O que você...? Aonde você vai?


Sem responder ao questionamento da tia, Christopher deixou a sala com a mesma agressiva urgência da Srta. Saviñon. Suas longas passadas fizeram com que a alcançasse antes que começasse a subir a escada.


— Srta. Saviñon!


Ela parou com um dos pés no segundo degrau e virou para trás. Ele a pegou pela mão e a segurou com firmeza para levá-la aos lábios ao fim do discurso.


— Não me deu uma chance de lhe dizer que foi um prazer conhecê-la e que será um privilégio estar em sua adorável companhia durante as próximas semanas. — Apesar de estar furioso por dentro, Christopher falou com graça e doçura. Nenhuma mulher o deixava falando sozinho!


Dulce tentou conter a exclamação de contrariedade que lhe brotou da garganta, mas não teve sucesso. Sentia-se como se tivesse levado um soco no estômago. Puxou a mão e com um olhar glacial tomou a desejar a ele boa-noite antes de continuar a subir a escada.


O sorriso ainda estava nos lábios de Christopher ao regressar à sala de jantar.


— Não estou gostando de sua expressão — Alma resmungou. Sem dizer nada, ele retomou seu lugar e se serviu de outra xícara de café.


— A Srta., Saviñon pode se comportar como uma velha e pudica solteirona, mas não deixa de ser uma mulher.


— Espero que saiba respeitá-la enquanto estiver aqui. Ela é uma boa moça que preza sua privacidade. Nesses seis meses nunca falou sobre sua vida particular. Meu palpite é que existem traumas em sua história. Por favor, não a provoque.


— Não tenho intenção de fazer isso.


A expressão do sobrinho não condizia com sua promessa. De qualquer forma, Alma preferiu lhe dar um voto de confiança.


— Venha comigo para a cozinha enquanto eu cuido da louça. Quero que me conte tudo o que está acontecendo com você.


— Inclusive os assuntos proibidos? A tia o segurou pelo queixo.


— Os assuntos proibidos em primeiro lugar.


Christopher seguiu a tia e ajudou-a com a arrumação, mas sua mente estava focada na Srta. Saviñon. Qual seria o segredo dela? Apesar da saia comprida que escondia totalmente suas pernas, ele notara a fluidez de seus passos e de sua postura elegante. A mão que ele beijara podia não apresentar esmalte nas unhas, mas era alva e delicada. Não estava perfumada. Aliás, ele sentira cheiro de tinta e de terebintina em sua pele. No entanto, não se lembrava de ter gostado tanto antes de beijar a mão de uma mulher.


No andar de cima, no quarto de sua suíte, Dulce estava se despindo. Pela primeira vez, em seis meses, mirou-se ao espelho colocado à porta do armário antigo que refletia seu corpo inteiro.


Ao partir de Nova York, ela estava pesando cinqüenta quilos. Graças aos dotes culinários de Alma e sua insistência para que se alimentasse melhor, seu peso aumentara em dez quilos. Embora tivesse um e setenta e oito de altura, ela continuava magra para os padrões normais.


Dulce tocou os quadris e se sentiu gorda ao descobrir que os ossos laterais já não estavam protuberantes no côncavo do abdômen. Os seios estavam diferentes, mais cheios e redondos. O aumento de peso também estava evidente no rosto. Os malares famosos no mundo global da moda, já não pareciam tão pronunciados, e as maçãs do rosto estavam mais carnudas.


No quarto os óculos não eram necessários para ocultar os olhos cor de jade que já haviam sido fotografados para venderem toneladas de cosméticos como sombras, lápis, rimeis e delineadores. Mesmo sem maquilagem eles eram bonitos com seu formato amendoado.


Os lábios foram distendidos em um sorriso forçado. Os dentes estavam começando a entortar de novo. Sua mãe ficaria uma fera se soubesse que deixara de usar o aparelho ortodôntico, cujo uso lhe fora recomendado em regime diário, embora apenas durante o sono.


Conforme a orientação de seu cabeleireiro, Dulce afastou as mechas de cabelos para trás, balançou-os e começou a escová-los. Subitamente ela tomou a ver sua imagem e se deteve. Dulce, a modelo famosa, estava de volta, com os cabelos soltos e brilhantes emoldurando o rosto exótico, e também as recordações que ela gostaria que a abandonassem para sempre.


Pensou em sua mãe insistindo para que o gerente da agência de publicidade considerasse a aparência extravagante de sua filha. Ele a rejeitou. Disse que ela não era americana o suficiente. Enquanto isso, Dulce só pensava em comer um hambúrguer. Estava faminta. Na verdade comeria qualquer coisa que colocassem na sua frente. Até mesmo uma salada com molho de baixas calorias seria bem-vinda.


Não teve essa sorte. Ao saírem do escritório, sua mãe apenas riscou o nome daquele homem de sua lista e disse que o próximo talvez fosse o destinado a lhe dar uma chance.


— Você não está colaborando, Dulce! Precisa sorrir e manter as costas eretas e o queixo erguido.


— Eu faria isso se tivesse forças, mamãe. Só comi uma torrada e uma laranja desde que me levantei esta manhã. Estamos andando há horas pela cidade. Meus pés doem. Não podemos parar em algum lugar, descansar um pouco e almoçar?


— Mais tarde. Agora teremos uma outra entrevista.


— Mas eu estou exausta.


— Pare de reclamar. Como pode ser tão egoísta? Eu a salvei de um casamento desastroso e vendi minha casa para trazê-la a Nova York. Estou sacrificando minha vida por sua carreira e essa é o pagamento que eu recebo.


Dulce não disse o que estava pensando. Que a idéia de ela se tomar modelo partira de sua mãe assim como a decisão de vender a casa de Des Moines e se mudarem para Nova York. O casamento talvez tivesse dado certo se não fossem as constantes intromissões da mãe.


— Se você apressar o passo, talvez possamos chegar cinco minutos antes do horário marcado para a próxima entrevista. Isso lhe dará tempo para retocar a maquiagem. E, por favor, lembre-se de sorrir. Mais cedo ou mais tarde, alguém enxergará seu potencial.


O agente que finalmente a viu como uma modelo em potencial foi Morey Fletcher. Seu escritório não figurava entre os mais prestigiados, nem seu endereço era dos mais centrais. Seu nome constava entre os últimos da lista de Blanca. Ele não era bonito nem jovem, mas conseguiu ignorar o discurso da mãe e observar diretamente a garota ao lado dela. Ela o impressionou de imediato com seus olhos grandes e verdes.


— Sente-se, Srta. Saviñon.


Surpreendentemente à vontade pela primeira vez em uma entrevista, Dulce aceitou o oferecimento e tirou os sapatos. O homem sorriu e ela retribuiu o gesto. Dois dias depois, ele lhe deu um contrato para assinar.


Esse foi o começo.


Só de pensar nos meses que se seguiram, Dulce precisou se sentar na beirada da cama. Seus ombros se curvaram para frente e seu rosto ficou escondido mais uma vez entre as madeixas. Algum tempo depois, com um suspiro de cansaço, ela se levantou e vestiu uma camiseta velha para dormir. Foi, então, até a janela.


Às vezes, quando o silêncio era completo, Dulce conseguia ouvir as ondas quebrando sobre o golfo do México. Cigarras e grilos conduziam uma pequena orquestra implantada nos troncos e galhos das árvores. Esse som ainda a intrigava, passados seis meses. Nunca vivera no campo antes. Era tão diferente dos ruídos da cidade que conseguiam alcançar seu apartamento no trigésimo segundo andar do prédio onde morava e atrapalharem seu sono. A paz de seu novo quarto era algo inédito e reconfortante. Apesar da mobília simples e antiga, ela não o trocaria por seu lindo e luxuoso apartamento, decorado por profissionais.


Embora não estivesse se sentindo em paz naquela noite.


A insônia a perseguiu por horas. Por mais que tentasse dormir, não parava de se virar na cama. Sua mente insistia em focalizar o homem que viera morar temporariamente do outro lado do hall. Seu consolo era a certeza de não ter sido reconhecida.



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Autor(a): dullinylarebeldevondy

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  • anevondy Postado em 03/08/2012 - 21:04:26

    Amei!! *---*

  • anevondy Postado em 03/08/2012 - 21:04:26

    Amei!! *---*

  • anevondy Postado em 03/08/2012 - 21:04:25

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  • anevondy Postado em 03/08/2012 - 21:04:25

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  • anevondy Postado em 03/08/2012 - 21:04:25

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  • anevondy Postado em 03/08/2012 - 21:04:25

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  • anevondy Postado em 03/08/2012 - 21:04:25

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  • anevondy Postado em 03/08/2012 - 21:04:24

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  • anevondy Postado em 03/08/2012 - 21:04:24

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  • anevondy Postado em 03/08/2012 - 21:04:24

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